A diplomacia do Brasil deve adotar uma postura pragmática e priorizar interesses do país acima de posturas ideológicas; isso não significa abandonar sua tradição de não alinhamento, mas adotar uma abordagem que evite alienar potenciais parceiros-chave.
A gigante aeroespacial brasileira, Embraer, sofreu recentemente um revés significativo, perdendo um contrato de US$ 2,7 bilhões para fornecer 40 jatos comerciais à LOT Polish Airlines, que optou pelos Airbus A220, da França, com opção para mais 84 aeronaves. A decisão, anunciada durante o Paris Air Show (16 a 22 de junho de 2025), não foi apenas uma transação comercial, mas um reflexo claro de como a geopolítica pode minar os interesses econômicos do Brasil. O alinhamento da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com atores globais controversos, particularmente Rússia e China, lançou uma sombra sobre a capacidade do Brasil de garantir negócios internacionais de alto valor, com a Embraer arcando com as consequências.
O Peso Geopolítico da Diplomacia de Lula
Desde o início de seu terceiro mandato, em 2023, o presidente Lula tem adotado uma política externa marcada por alinhamentos ideológicos que levantaram questionamentos nas capitais ocidentais. Sua visita a Moscou em maio de 2025 para participar das celebrações do Dia da Vitória da Rússia ao lado de Vladimir Putin, juntamente com sua postura neutra sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, prejudicou a credibilidade do Brasil entre membros da OTAN, como a Polônia. O governo polonês, forte apoiador da Ucrânia e aliado-chave da OTAN, parece ter levado isso em consideração ao favorecer a Airbus, uma empresa europeia, em detrimento da Embraer.
O contrato com a LOT não foi perdido por motivos técnicos ou financeiros. A proposta da Embraer era, segundo relatos, competitiva, podendo economizar “milhões de euros”, conforme afirmou a própria empresa. No entanto, como insinuou o CEO da LOT, Michal Fijol, durante o Paris Air Show, a Airbus “queria mais”. Essa observação sutil, conforme reportado pela Bloomberg Línea, aponta para considerações políticas mais profundas. O alinhamento da Polônia com a União Europeia e sua sensibilidade à agressão russa tornaram uma parceria com o Brasil menos atraente, dado o aparente alinhamento de Lula com Putin e sua visita ao presidente chinês Xi Jinping em Pequim logo após Moscou.
Derrota da Embraer, Alerta para o Brasil
As implicações dessa derrota vão além da Embraer. Como principal exportadora de produtos de alta tecnologia do Brasil, a Embraer é um pilar da economia nacional, gerando empregos, divisas e inovação tecnológica. Perder um contrato dessa magnitude – potencialmente expansível para incluir dezenas de outras aeronaves – representa uma oportunidade perdida de fortalecer a posição global do Brasil no setor aeroespacial. Além disso, a decisão pode sinalizar a outros mercados da UE que considerações geopolíticas podem superar méritos técnicos ao negociar com empresas brasileiras.
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Esse revés não se limita à aviação comercial. A divisão militar da Embraer também sofreu um golpe na Polônia, onde o governo escolheu o C295 da Airbus ao invés do cargueiro C-390 Millennium para a modernização de sua frota militar. Apesar das vantagens técnicas do C-390, como maior capacidade de carga e versatilidade, a Polônia priorizou a continuidade com sua frota Airbus existente e o alinhamento com fornecedores europeus. A decisão destaca como a política externa de Lula, em especial sua recusa em condenar inequivocamente as ações da Rússia na Ucrânia, pode estar afastando parceiros-chave nos mercados de defesa e aeroespacial.
Um Ponto Positivo em Meio aos Desafios
Apesar desses contratempos, a Embraer permanece uma potência global. Durante o mesmo Paris Air Show, a empresa garantiu um contrato de US$ 3,6 bilhões com a SkyWest Airlines para 60 jatos E175, com opção para mais 50. Esse acordo demonstra a resiliência e competitividade da Embraer, mesmo diante de ventos geopolíticos contrários. No entanto, o contraste entre o sucesso com a SkyWest e o fracasso com a LOT destaca o impacto desigual da política externa do Brasil em sua empresa carro-chefe. Embora a Embraer consiga fechar negócios em mercados menos sensíveis geopoliticamente, como a América do Norte, o crescente alinhamento da Europa com a OTAN e a UE apresenta um cenário mais desafiador.
O Caminho a Seguir
A perda do contrato com a LOT serve como um alerta para a liderança do Brasil. A política externa de Lula, movida por laços ideológicos, arrisca isolar o Brasil de mercados estratégicos em um momento em que a polarização global exige alianças claras. Para que a Embraer mantenha sua vantagem na Europa e além, o Brasil deve recalibrar sua diplomacia para priorizar interesses econômicos acima de posturas ideológicas. Isso não significa abandonar sua tradição de não alinhamento, mas adotar uma abordagem mais pragmática que evite alienar parceiros-chave como a Polônia.
Com Lula de olho em uma possível candidatura à reeleição em 2026, o governo precisa reconhecer que sua política externa tem consequências econômicas tangíveis. A derrota da Embraer na Polônia é um lembrete de que, em um mundo polarizado, erros diplomáticos podem custar bilhões e enfraquecer os campeões industriais do Brasil. Para proteger seus interesses econômicos, o Brasil deve equilibrar suas parcerias globais com um compromisso claro com os valores e preocupações de segurança de seus parceiros comerciais. Só assim empresas como a Embraer poderão capitalizar plenamente sua excelência técnica e reputação global.