Respostas de Putin à questões geopolíticas

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Foto: Sergei Savostyanov/Tass.

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A “Linha Direta” de quarta-feira com Vladimir Putin durou quase quatro horas. No evento anual de perguntas e respostas, o presidente da Rússia respondeu a 70 questões enviadas pela população do país por vários canais de comunicação. Este foi o 19ª evento desse tipo.


De acordo com o canal de televisão Rossiya-24, foram recebidas um total de 2.290.967 perguntas, a maioria sobre problemas internos da Rússia e a pandemia do coronavírus, mas houve diversas perguntas sobre a política externa do país.

A seguir, um sumário das principais questões geopolíticas.

Incidente com navio britânico na Crimeia: provocação

Sobre o incidente com o contratorpedeiro HMS Defender ao largo da Crimeia, Putin afirmou que “Mesmo se tivéssemos afundado aquele navio, ainda seria difícil imaginar que isso colocaria o mundo à beira da Terceira Guerra Mundial”.

No entanto, foi uma provocação clara, disse Putin: “Esta é, claro, uma provocação, que é absolutamente clara. O que esses provocadores queriam mostrar e que objetivos buscavam alcançar? Em primeiro lugar, ela [a provocação] foi abrangente e não foi encenada apenas pelos ingleses, mas também pelos americanos, porque o navio de guerra britânico se aventurou em nossas águas territoriais à tarde, enquanto no início da manhã, às 07h30, um avião de reconhecimento estratégico dos EUA decolou de um aeródromo da OTAN na Grécia, de Creta, creio. Recebemos um relatório sobre isso. Vimos e observamos claramente”, disse o líder russo.

Ele afirmou que a intrusão do navio britânico nas águas territoriais da Rússia no Mar Negro tinha objetivos de reconhecimento. “Era óbvio que o contratorpedeiro se intrometeu perseguindo objetivos militares, tentando descobrir, com a ajuda de um avião de reconhecimento, quais poderiam ser as contramedidas de nossas forças armadas a esse tipo de provocação, para ver quais instalações são ativadas, onde estão localizadas e como funcionam. Nós vimos e sabíamos disso, então divulgamos apenas as informações que consideramos apropriadas”, disse Putin.

“Possivelmente, eu contei um segredo, peço minhas desculpas aos militares”, ele acrescentou.

Relações com os EUA

Putin expressou esperança de que as relações russo-americanas voltem ao normal: “Espero que a compreensão de que o mundo está mudando – e neste mundo em mudança haverá um repensar das prioridades e interesses de cada um –, leve ao fato de que a ordem mundial se tornará mais favorável, e nossas relações, inclusive com os Estados Unidos, vão voltar ao normal”, disse ele.

Ele observou, entretanto, que Washington está tentando preservar seu monopólio, apesar das mudanças dramáticas no mundo. “O mundo está mudando dramaticamente. E nossos parceiros nos Estados Unidos, por um lado, entendem isso, e é por isso que ocorreu a reunião de Genebra [com o presidente dos EUA, Joe Biden]. Por outro lado, eles buscam preservar sua posição de monopólio a qualquer custo”, observou o líder russo. Daí as ameaças e “mais comportamentos destrutivos envolvendo exercícios, provocações e sanções”, ele acrescentou.

“O período de um mundo unipolar acabou. E você deve partir do fato de que o mundo está mudando e está mudando muito rapidamente”, disse Putin. Ele citou a própria Rússia como exemplo, pois está se desenvolvendo apesar de todos os obstáculos criados pelo Ocidente.


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Resposta às sanções

“Quaisquer que sejam as sanções usadas contra a Rússia, por mais que tentem nos assustar, a Rússia está se desenvolvendo do mesmo jeito e sua soberania econômica está aumentando. A capacidade de defesa atingiu um nível muito alto e ultrapassou muitos países do mundo em muitos parâmetros. Também superou os Estados Unidos em alguns parâmetros”, enfatizou ele.

Putin afirmou que a Rússia responderá assimetricamente às sanções, sem comprometer seus próprios interesses. “Não pretendemos e não tomaremos medidas retaliatórias que prejudiquem nossos próprios interesses. Por exemplo, os americanos ainda voam para o espaço em nossos motores. Nossos motores de foguete ainda são amplamente usados ​​para fazer as espaçonaves americanas irem para o espaço. Temos fornecido por décadas. Devemos encerrar a produção de titânio exclusivamente para nós mesmos? Se eles cruzarem qualquer fronteira, encontraremos formas assimétricas de resposta que são bastante sensíveis para nossos parceiros”, disse ele.

Putin expressou a esperança de que a atitude dos Estados Unidos não só em relação à Rússia, mas também em relação a outros parceiros, mude. “A propósito, seus parceiros e aliados tradicionais, vocês acham que eles estão contentes por estarem falando com eles como se seus sentimentos estivessem feridos? Ninguém gosta disso”, ele acrescentou.

Putin afirmou que a economia russa se adaptou às pressões de sanções do Ocidente, e que as sanções até contribuíram para o desenvolvimento de uma série de indústrias: “Esses chamados programas de substituição, substituição de importação, substituição de equipamentos importados, criou um bom impulso no desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia que tem beneficiado a produção. Não vou nem falar da agricultura, que deu um salto tão grande que nem poderíamos imaginar em anos anteriores”.

Segundo ele, as restrições financeiras impostas pelo Ocidente fizeram com que a dívida do Estado e do setor comercial russo diminuísse. “Há outras coisas positivas: o fortalecimento do sistema de pagamentos Mir e, em geral, de todo o sistema financeiro. O fato de estarem tentando nos assustar ou impor um mercado secundário aos nossos títulos e empréstimos do governo, tem aspectos positivos. A dívida total, não só a estatal, que já era baixa em nosso país, mas também a do setor comercial, encolheu. Em geral, isso também tem certos bônus, aspectos positivos”, disse Putin.

Nagorno-Karabakh

Putin disse que nenhuma das partes envolvidas na crise de Nagorno-Karabakh deseja que ela se intensifique. “A Rússia desempenhou um certo papel na resolução da crise gravíssima [em Nagorno-Karabakh]. E ninguém quer que ela se desenvolva mais, nem o Azerbaijão nem a Armênia, e menos ainda os residentes de Nagorno-Karabakh”, disse ele.

“Se todos vivermos em paz e de forma amigável, criaremos condições para melhorar a vida das pessoas, não apenas na esfera da segurança, mas também nas condições atuais. Refiro-me à existência normal das famílias, ao desenvolvimento econômico e social, de que as pessoas que vivem em Karabakh precisam urgentemente. É impossível viver sempre preocupado com a retomada de um conflito armado, nós entendemos isso perfeitamente. Os líderes da Armênia e do Azerbaijão também sabem disso”, disse Putin.


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Ele observou, no entanto, que a região tem muitos problemas. “Existem questões relacionadas com a restauração da infraestrutura normal, e demarcação de fronteiras, para que as obras relevantes possam ser realizadas na fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão, especialmente em lugares que nunca tiveram uma fronteira estatal e só tinham linhas administrativas”, explicou Putin.

O líder russo sublinhou que o processo com o objetivo de abordar estas questões já está em andamento com um grupo trilateral especial (Rússia, Azerbaijão, Armênia) estabelecido para tal. “Faremos todo o possível para restabelecer as relações normais na região. Os moradores de Nagorno-Karabakh devem certamente se beneficiar disso. Quero acreditar que assim será, apesar de todas as dificuldades que se acumulam há décadas”, frisou ele.

Ucrânia

A Rússia considera a atual liderança ucraniana hostil, mas não os ucranianos. “Não considero o povo ucraniano hostil”, disse Putin. “No entanto, a atual liderança da Ucrânia é claramente hostil, ao contrário de seu povo.”

Ele disse ainda que acredita que ucranianos e russos são um só povo. “Vou escrever um artigo analítico especial e espero que as pessoas na Rússia e na Ucrânia se familiarizem com ele.” Sobre uma possível reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ele afirmou que “Ele [Zelensky] colocou a Ucrânia sob administração externa”, disse Putin. “O que será discutido então?”

“No entanto, não me recuso a fazer essas reuniões. É preciso entender primeiro o que vai ser discutido”, disse ele. Na Ucrânia, os defensores de relações normais com a Rússia são “cortados pela raiz”. “Alguns são mandados para a prisão, outros colocados em prisão domiciliar ou mortos nas ruas. Qual é o sentido de me encontrar com Zelensky?”

Sobre o projeto de lei ucraniano sobre “povos nativos”, Putin disse que é incompreensível. “Veja, o povo russo viveu lá desde o início dos tempos e agora está sendo declarado não nativo”, disse ele. “Sabe, isso é comparável, do ponto de vista das consequências, ao uso de algum tipo de arma de destruição em massa”.

A respeito da exploração militar da Ucrânia, Putin disse: “Estou preocupado com outra coisa mais fundamental, a saber, que a exploração militar do território ucraniano esteja começando a se desenvolver”, enfatizou Putin.

Tropas ocidentais perto da fronteira russa

“Veja, primeiro, houve uma grande confusão sobre os exercícios que estávamos realizando perto da fronteira ucraniana. Eu dei instruções ao Ministério da Defesa para reduzi-los gradualmente e puxar as tropas de volta, se alguém os achasse preocupantes”, disse Putin. “Mas ao invés de reagir positivamente, o que eles fizeram? Apareceram nas nossas fronteiras.”

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