Por Cristiano Oliveira Leal* |
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A monarquia portuguesa, graças ao prestígio obtido junto ao papado devido à sua participação na Reconquista da península ibérica aos mouros, conseguiu vincular as ordens religiosas à Coroa, garantindo assim que os seus recursos se tornassem disponíveis para o financiamento da expansão marítima.
As ordens religiosas, em especial a Ordem de Cristo, tiveram grande influência no processo de expansão ultramarina português, financiando e dando ímpeto ao empreendimento. Isso aconteceu graças ao prestígio adquirido junto ao papa de Roma pela monarquia portuguesa durante o processo de reconquista da península ibérica, inserindo o projeto de expansão marítima dentro do espírito cruzadístico do combate aos muçulmanos, tornando possível o uso justificado de recursos da igreja e das ordens.
O projeto de uma Marinha Real Portuguesa teve início durante o reinado de D. Diniz (1279-1325) e teve continuidade com os seus sucessores, tendo como objetivo a defesa da costa portuguesa dos ataques dos piratas mouros, em especial os de Granada. Argumentando que os custos com a defesa e combate aos mouros era elevado, D. Diniz, que era respeitado pela igreja por seu papel durante a Reconquista, conseguiu junto ao papa Clemente V recursos financeiros provenientes da dízima (imposto sobre os rendimentos eclesiásticos destinados a uma nova Cruzada), sendo estes investidos no fortalecimento da marinha.
Com a extinção dos Templários, o papa Clemente desejava transferir os recursos dessa ordem para os Hospitalários, algo que D. Diniz via como uma ameaça à soberania portuguesa, porque ocorreria uma concentração de grande parte do território português sob controle dos Hospitalários que, na época, eram subordinados ao grão-comendador da Hispânia que residia em Castela ou em poder do Papa em Avignon, sob influência do rei francês Filipe IV, o Belo. Dessa forma, D. Diniz iniciou negociações com a Santa Sé para que a coroa portuguesa mantivesse o controle dos bens dos antigos Templários em território luso, nascendo assim a Ordem de Cristo.
LIVRO RECOMENDADO:
A Expansão Marítima Portuguesa e a Tomada de Ceuta (1415)
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Durante o reinado de D. João I (1383-1433), antigo mestre da Ordem de Aviz, houve a conquista de Ceuta, liderada pelo seu filho D. Henrique (1393-1460), marcando o início da expansão portuguesa na África. D. João sempre procurou salientar o aspecto cruzadístico dessa expansão, a fim de proteger e justificar sua conquista e, consequentemente, o fortalecimento de Portugal contra qualquer monarca que visse com receio tal empreendimento.
Usando de sua influência, D. João consegui junto a Santa Sé a nomeação de D. Henrique como mestre da Ordem de Cristo, em 1420. A partir de então, a escolha do mestre da ordem passa a ser feita pelo rei português e confirmada pelo papa, atrelando o controle da ordem à monarquia portuguesa.
Com a coroação de D. João III, em 1522, que na época já era mestre da Ordem de Cristo, todos os demais reis passaram a serem mestres da ordem; até que, em 1551, o papa o Papa Júlio III uniu oficialmente os mestrados das Ordens de Santiago, de Avis e de Cristo à coroa portuguesa, garantindo que os recursos dessas ordens estivessem disponíveis para o financiamento da expansão marítima portuguesa.
Bibliografia
BALLARINI, Helmo Magno. A Ordem de Cristo no contexto de uma economia de mercês. Critérios de provimento de cargos e ofícios nos séculos XVII e XVIII: o caso da capitania do Espírito Santo. 2016. Dissertação de Mestrado em História – Universidade Federal do Espírito Santo, ES. Disponível em: http://repositorio.ufes.br/jspui/handle/10/9258.
SALLES, Bruno. A Administração do Infante D. Henrique na Ordem de Cristo e os inícios da expansão marítima portuguesa no século XV. Revista Tempo de Reconquista nº 4, 2008. Disponível em: http://revistatempodeconquista.com.br/documents/RTC4/BRUNOSALLES.pdf.
*Cristiano Oliveira Leal é aficionado em história e aviação militar desde a infância, iniciando suas primeiras pesquisas ainda na adolescência. Após o serviço militar no 2º Regimento de Cavalaria Mecanizada, cursou graduação em História na Unisinos, período em que passou a estudar Teoria Militar e estagiou durante um ano no Museu Militar do Comando Militar do Sul. Realizou pesquisas em alguns dos principais museus militares britânicos, em especial os da Royal Air Force. É titulado Especialista em História Militar pela Unisul.
Ótimo texto, Cristiano Oliveira parabéns. Um dos pontos históricos que eu mais me orgulho, é o fato da Ordem dos Templários não ter caído nas mãos de Filipe IV , o Belo. Assim como, o apoio de Portugal para a continuidade da existência da Ordem. Toda via, vemos o contraste de liderança, pois a França utilizou covardemente e para fins próprios os Templários, e acabaram por serem arruinados por essa atitude. Em contraponto a isso, Portugal fortaleceu sua aliança com a Ordem, e assim foi agraciado com a expansão de seu império, além de mais prosperidades.
João Victor, muito obrigado! Vou repassar seu comentário ao Cristiano. Grato por nos acompanhar, um forte abraço!
Muito obrigado pelo comentário João Victor. Originalmente esse ensaio foi feito como atividade durante minha pós graduação (por isso é curto) e, assim como você, também achei interessante a forma e as manobras feitas pela coroa portuguesa para ter acesso aos cofres eclesiásticos, principalmente dos Templários, para financiar a expansão do império.
E nossos irmãos “portugas”…. Desde e sempre dando um jeitinho. Até o Papa enrolaram para a sua causa!
Esquecendo o parágrafo acima, os portugueses foram extremamente inteligentes e enxergaram uma oportunidade única de financiarem suas atividades expansionistas, via navegação marítima (alcançando excelência nisso) ,alargando horizontes e territórios para um pais de área e recursos naturais tão pequenos, tornando-se um império gigante. Pena que os descendestes destes mesmos portugueses não foram competentes e viram o seu império escorrer entre os dedos das mãos. Faz parte.
No mais, parabéns ao autor. Qualquer artigo, bem redigido, não interessa quantas laudas, é sempre bem vindo. Obrigado.
Abraços a todos que ajudam a disseminar a boa semente do Velho (e bom) General.
Já vi pessoas dizendo “pena que os holandeses não ficaram por aqui”, e lembro do Suriname, por exemplo. Acho que tivemos sorte de ser colonizados pelos portugueses. Forte abraço, José!
Os nossos irmãos Brazukas esquecem que são filhos dos irmãos portugas . Um Abraço ao Jose Wammes