
Em 1825, o Reino Unido reconheceu a independência do Brasil, iniciando 200 anos de parceria estratégica; a relação evoluiu em áreas como política, economia, defesa e meio ambiente, baseada em valores comuns e foco no futuro.
Em 1825, há 200 anos, o Reino Unido tornou-se o primeiro país europeu a reconhecer oficialmente a independência do Brasil. Esse gesto, mais do que diplomático, foi estratégico. A mediação britânica entre Brasil e Portugal, que resultou no Tratado do Rio de Janeiro, consolidou a soberania brasileira e abriu caminho para uma relação bilateral que atravessa dois séculos.
Desde então, Brasil e Reino Unido construíram uma parceria marcada por cooperação política, econômica, militar, ambiental e cultural. Ao longo dos anos, essa relação evoluiu, adaptando-se aos desafios globais e às transformações internas de cada país, sem perder de vista os valores compartilhados de democracia, estabilidade institucional e desenvolvimento sustentável.
Antecedentes Históricos: O Reino Unido e a Formação do Estado Brasileiro
A parceria entre Brasil e Reino Unido antecede a independência formal de 1822. Durante o Congresso de Viena, realizado entre 1814 e 1815 para reorganizar a Europa após as Guerras Napoleônicas, a diplomacia britânica teve papel decisivo na redefinição do status político do Brasil.
Com a corte portuguesa instalada no Rio de Janeiro desde 1808, após a fuga de Dom João VI diante da invasão napoleônica, havia uma necessidade diplomática de legitimar essa nova configuração. O Reino Unido, então principal potência naval e comercial da Europa, apoiou a elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, oficializada em 1815.
Essa mudança permitiu que o Brasil deixasse de ser formalmente uma colônia e passasse a ter status de reino, o que facilitava sua participação nas negociações internacionais e legitimava a presença da corte portuguesa em território americano. A diplomacia britânica, liderada por Lord Castlereagh, foi fundamental para que essa nova configuração fosse aceita pelas demais potências europeias.
Esse episódio revela que o Reino Unido já atuava como parceiro estratégico do Brasil antes mesmo da independência, contribuindo para o reconhecimento internacional da importância geopolítica do território brasileiro e para a construção de sua autonomia política.
Cooperação no Campo Militar: Uma História Compartilhada
A presença britânica na formação das Forças Armadas brasileiras remonta à própria Guerra da Independência, quando o almirante Thomas Cochrane, escocês de nascimento, comandou a Marinha brasileira e foi decisivo na consolidação do controle sobre o território nacional. Desde então, a cooperação militar entre os dois países se intensificou e se diversificou.
Durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, Brasil e Reino Unido estiveram lado a lado, enfrentando ameaças globais e reafirmando seu compromisso com a liberdade e a paz. Atualmente, essa parceria se manifesta em diversas frentes.
A Marinha do Brasil mantém intercâmbio técnico com a Marinha Real Britânica, participa de feiras internacionais como a DSEI, em Londres, e recentemente adquiriu navios britânicos com transferência de tecnologia.

LIVRO RECOMENDADO:
Império: Como os britânicos fizeram o mundo moderno
• Niall Ferguson (Autor)
• Edição Português
• Kindle ou Capa comum
O Exército Brasileiro realiza Conferências Bilaterais de Estado-Maior com o Exército Britânico, como a VIII CBEM, que aprofunda a diplomacia militar e a cooperação em áreas como defesa cibernética, artilharia e doutrina. Em 2025, foi firmado um acordo para produção conjunta de obuseiros L119 no Brasil, com tecnologia da BAE Systems.
A Força Aérea Brasileira mantém uma Comissão Aeronáutica em Londres, responsável por facilitar intercâmbios técnicos, logísticos e industriais, além de apoiar projetos conjuntos no setor aeroespacial.
No mais alto nível de diálogo estratégico, Brasil e Reino Unido realizam as chamadas Reuniões 2+2, que reúnem os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores de ambos os países. Nessas reuniões são discutidos temas securitários sensíveis, trocadas informações de alto nível e alinhadas posições sobre desafios globais, demonstrando a maturidade e profundidade da parceria bilateral no campo da defesa.
Investimentos e Comércio: Uma Relação em Expansão
O Reino Unido é hoje o quinto maior investidor estrangeiro no Brasil em termos de estoque de Investimento Estrangeiro Direto (IED), com cerca de US$ 61,3 bilhões em 2023. No entanto, quando se considera o número de operações de fusões e aquisições, o Reino Unido ocupa a segunda posição entre os investidores internacionais, com 53 transações realizadas em 2023, atrás apenas dos Estados Unidos.
Entre 2015 e 2025, foram anunciados 138 projetos Greenfield e 52 fusões e aquisições de origem britânica, com destaque para os setores de energia, infraestrutura, bens de consumo e tecnologia. Em 2024, o comércio bilateral somou US$ 6,2 bilhões, com exportações brasileiras concentradas em ouro, soja, café e carnes. A parceria econômica foi reforçada em 2025 com a assinatura de memorandos de entendimento nas áreas de seguro de crédito à exportação, boas práticas regulatórias e inteligência artificial.
Cooperação Ambiental: Compromisso com o Futuro
A agenda ambiental tem ganhado centralidade na relação bilateral. Em 2023, o Reino Unido formalizou sua entrada no Fundo Amazônia, com um aporte de 80 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 500 milhões), seguido de uma doação adicional de 35 milhões de libras (R$ 215 milhões) anunciada durante a COP28. Esses recursos fortalecem a capacidade do Brasil de combater o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Além disso, o Reino Unido participa ativamente da Parceria para o Crescimento Verde e Inclusivo, firmada em 2023, que impulsiona a cooperação em áreas como florestas, agricultura sustentável, energia limpa e finanças verdes.
A expectativa é de que essa colaboração se aprofunde ainda mais durante a COP30, que será realizada em Belém, no coração da Amazônia. O evento representa uma oportunidade histórica para consolidar compromissos multilaterais e ampliar o financiamento climático. O Reino Unido já manifestou apoio à proposta brasileira de criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que visa remunerar países tropicais por manterem suas florestas em pé.
Visão de Futuro
Celebrar os 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Reino Unido é mais do que olhar para o passado. É reafirmar um compromisso com o futuro, baseado em confiança mútua, respeito às instituições e busca por prosperidade compartilhada.
Com iniciativas conjuntas em defesa, comércio, ciência, educação e sustentabilidade, os dois países estão preparados para enfrentar os desafios do século XXI e aprofundar ainda mais uma parceria que já se mostrou sólida, versátil e duradoura.
Que venham os próximos 200 anos.








