Trump-Putin: Um telefonema que pode mudar o jogo da paz na Ucrânia

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

Por Giuseppe Gagliano*

Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

O telefonema entre Putin e Trump sinaliza uma possível abertura diplomática, com a Rússia disposta a negociar um tratado de paz com a Ucrânia, promovendo um cauteloso otimismo em meio à guerra.


A conversa telefônica de mais de duas horas entre Vladimir Putin e Donald Trump, ocorrida em 19 de maio de 2025, marca um potencial ponto de virada no conflito ucraniano. Essa troca discreta, mas significativa, parece abrir uma brecha no muro de desconfiança que separa Moscou das chancelarias ocidentais. Pela primeira vez em muito tempo, a Rússia disse que está pronta para considerar seriamente negociações para um tratado de paz com a Ucrânia. Enquanto a guerra continua, esta nova situação diplomática, confirmada por declarações oficiais transmitidas pela agência Tass, suscita uma esperança cautelosa, mas real.

Vislumbre de esperança em um conflito sem fim

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, as perspectivas de paz muitas vezes parecem ilusórias. As negociações, quando ocorreram, foram dificultadas por posições irreconciliáveis: Kiev exigiu a retirada completa das forças russas e garantias de segurança, enquanto Moscou manteve suas reivindicações territoriais e acusações contra a OTAN. No entanto, desenvolvimentos recentes, iniciados pelas discussões de 15 de maio entre as delegações ucraniana e russa, reacenderam um otimismo comedido. O telefonema entre Trump e Putin reforça essa dinâmica, estabelecendo as bases para um possível memorando para elaborar um futuro tratado de paz.

De acordo com declarações atribuídas a Putin, a Rússia estaria pronta para colaborar com a Ucrânia para definir “posições claras” sobre pontos cruciais: o cronograma para um possível acordo, as condições para um cessar-fogo temporário e os princípios fundamentais para uma resolução duradoura do conflito. Essas observações, embora cautelosas, contrastam com o tom intransigente que há muito tempo domina a retórica do Kremlin. Eles demonstram uma disposição, se não de capitular, pelo menos de se envolver em um processo diplomático estruturado.

Um balé diplomático com vários atores

Essa troca entre Trump e Putin não ocorreu no vácuo. Faz parte de uma intensa atividade diplomática orquestrada por Washington e seus aliados. Nos últimos dias, Trump realizou inúmeras consultas com líderes europeus – Keir Starmer, Friedrich Merz, Donald Tusk, Emmanuel Macron e, recentemente, Giorgia Meloni – bem como com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. O objetivo: alinhar posições transatlânticas em apoio à Ucrânia enquanto explora a possibilidade de um cessar-fogo de 30 dias, uma proposta que poderia servir como prelúdio para negociações mais aprofundadas.

Ao mesmo tempo, o Vaticano desempenhou um papel discreto, mas influente, como mediador. Durante a missa inaugural do pontificado de Leão XIV em Roma, o Papa Prevost recebeu Zelensky e o vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, reiterando a oferta do Vaticano de facilitar o diálogo. Reuniões bilaterais, principalmente entre Zelensky e Vance, bem como com o primeiro-ministro canadense Mark Carney, atual presidente do G7, também ajudaram a estabelecer as bases para uma “ofensiva de paz” concertada.


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Problemas de um diálogo de alto risco

A ligação entre Trump e Putin levanta duas questões centrais: um verdadeiro processo de negociação pode começar? E, se sim, que lugar será dado aos mediadores internacionais? Quanto ao primeiro ponto, os sinais são encorajadores, embora ainda seja necessária cautela. Diferentemente de suas conversas anteriores, que muitas vezes eram super dimensionadas pela mídia, essa ligação ocorreu com relativa discrição, talvez um sinal de um desejo de priorizar a substância em detrimento do espetáculo.

Quanto ao segundo ponto, Putin parece aberto ao diálogo direto com a Ucrânia, mas as condições que ele estabelecerá para levar as negociações adiante ainda não estão claras. O presidente russo respondeu, à sua maneira, ao apelo do Papa Leão XIV, que pediu aos beligerantes que “olhassem uns aos outros nos olhos”. Resta saber se esse impulso se traduzirá em uma genuína disposição de chegar a um acordo ou se será uma manobra tática para ganhar tempo.

Além da Ucrânia: uma nova Ordem Mundial em jogo

Além do conflito ucraniano, a conversa entre Trump e Putin revela uma ambição mais ampla: “eliminar as causas raiz” da crise entre Washington e Moscou. Essa disputa, que vai muito além da Ucrânia, abrange grandes questões geopolíticas: a corrida armamentista, a gestão dos arsenais nucleares, rivalidades energéticas, esferas de influência no Oriente Médio, as relações de Moscou com Pequim e o impacto das guerras híbridas. Desde o rompimento de 2014, marcado pela anexação da Crimeia, a desconfiança entre as duas potências continua a crescer, alimentada por sanções, provocações e retórica beligerante.

Para Trump e Putin, os riscos são altos: alcançar um modus vivendi que estabilize não apenas a Ucrânia, mas também as relações russo-americanas. Isso exigirá tempo, paciência e controle inabalável dos nervos, em um contexto onde as pressões internas e externas são consideráveis. Europeus, ucranianos e outros atores internacionais estarão observando atentamente para ver como ambos os líderes priorizam a diplomacia em vez de posturas de confronto.

Em conclusão, o telefonema entre Trump e Putin, embora longe de ser uma garantia de paz, constitui um passo em direção a um horizonte menos sombrio. Se a diplomacia conseguir superar a lógica da guerra, esse diálogo poderá marcar o início de uma nova era, não apenas para a Ucrânia, mas para todas as relações internacionais. Desde que, é claro, os protagonistas saibam demonstrar a sabedoria e a perseverança necessárias para transformar palavras em ações.


Publicado no Le Diplomate.Media.

*Giuseppe Gagliano é presidente do Centro Studi Strategici Carlo de Cristoforis, em Como, Itália. É membro do comitê internacional de assessores científicos do Centre Français de Recherche sur le Renseignement (Cf2R).

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