A viagem do general De Gaulle ao Brasil em 1964

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O presidente da França, Charles de Gaulle, e o presidente do Brasil, Castello Branco, em encontro em 1964 durante a viagem do francês ao Brasil (Acervo Estadão).

O presidente da França, Charles de Gaulle, e o presidente do Brasil, Castello Branco, em encontro em 1964 durante a viagem do francês ao Brasil (Acervo Estadão).

Depois da eleição do marechal Castelo Branco em 1964, o general De Gaulle enviou felicitações; dois meses depois, o marechal reforçou um convite para a vinda do general ao Brasil, e nesse momento já estava decidido: o general iria ao Brasil [1].


“Je suis heureux d’accepter l’invitation de votre Excellence et qu’il me sera particulièrement agréable de me rendre au Brésil en visite officielle à l’occasion du voyage que j’envisage d’accomplier cette année en Amérique Latine” (Fico feliz em aceitar o convite de Vossa Excelência e devo dizer que me será particularmente agradável ir ao Brasil em visita oficial na ocasião da viagem que ensejo realizar na América Latina neste ano), escrevia o general De Gaulle ao presidente João Goulart no dia 17 de janeiro de 1964 [2].

Agora não haveria mais volta.

Nada nem ninguém demoveriam o general da decisão de vir ao Brasil.

A necessidade de sua presença no Brasil remontaria aos tempos da resistência, da France Libre, do Comitê De Gaulle no Rio de Janeiro. Mas desde seu retorno à vida pública em 1958, essa visita foi se afirmando como um imperativo de sua diplomacia de influência. Mesmo o Brasil tendo pouco a ofertar. Mesmo a América do Sul sendo um continente “lointain”. Mesmo com os Estados Unidos ofuscando a presença de qualquer país europeu na região.

O objetivo era “parler à tout le monde” para continuar contando e pesando no mundo. A estratégia era forjar uma “troisième force”, uma terceira via, uma possibilidade para além do conflito Leste-Oeste. A tática envolvia se fazer presente, capitalizar o prestígio, promover “la grandeur”.

Mesmo nos momentos mais inglórios da dita “guerra das lagostas”, em que a França chegou a chamar seu embaixador no Brasil de volta a Paris, o general jamais cortara em absoluto a possibilidade de diálogo com a presidência brasileira.

No dia 10 de setembro de 1963, por exemplo, quando das fortes inundações no estado do Paraná, o general enviaria um imediato telegrama ao presidente João Goulart colocando o estado francês à disposição para a superação da rude “catastrophe qui vient d’éprouver cruellement le peuple brésilien[3]. Em outra mensagem ao presidente brasileiro ele reiteraria que “le Brésil, dès sa naissance, s’est trouvé naturellement aux côtes de la France[4].

Essa formulação – que em outros registros daria a impressão de mera gentileza protocolar da retórica diplomática – possuía dimensão genuína quando vinda do general. Um dos fatores decisivos da prática presidencial que o general estava criando era o reconhecimento da força e da legitimidade do máximo mandatário da nação.

O presidente da república, na concepção do general, deveria estar acima dos partidos, dos ministérios e dos interesses partidários. Seria ele a escolher o primeiro-ministro e os demais ministros. Seria ele a comandar a defesa nacional e a política externa do país. Seria ele a encarnar a sorte de seu povo. A excepcionalidade histórica do general lhe permitia – ou lhe permitiu até 1965, quando quase fora batido nas eleições presidenciais contra o candidato François Mitterrand, ou até 1968, quando estudantes e grevistas colocaram em questão o seu legado – agir plenamente nesse sentido. De 1958 a 1965, ele encarnaria a nação e o estado quase sem competição. Adiante a usura do poder e os segredos internos da sociedade francesa, entre eles a obsessão por rupturas, modificariam a densidade de sua grandeur. Mas sua visita ao Brasil e às Américas ocorreria no auge de sua presidência.

No dia 9 de janeiro de 1964, o presidente João Goulart escreveria ao general De Gaulle afirmando que “o governo brasileiro, atendendo a um indeclinável de fidelidade aos vínculos históricos que unem os dois países tem a honra de convidar vossa Excelência para visitar o Brasil por ocasião de sua anunciada viagem à Amérique Latine[5]. Esse convite do presidente Goulart reforçava os de seus antecessores. O presidente Juscelino Kubitschek havia insistido várias vezes com André Malraux para convencer o general a atravessar o Atlântico no sentido Brasil. Para a inauguração de Brasília, no dia 21 de abril de 1960, o convidado de honra era o general que acabou enviando André Malraux [6]. De Brasília a São Paulo ao Rio de Janeiro esse poeta francês tornado ministro estava virando habitué. A Maison de France no Rio de Janeiro e Alianças Francesas em Brasília e São Paulo chegavam a disputar sua presença. Intelectuais e políticos brasileiros como Augusto Frederico Schmidt e Horácio Lafer tinham se tornado seus interlocutores privilegiados. Sem contar o próprio presidente Juscelino Kubitschek, que tivera diversos tête-à-tête na esperança de um dia ter com o general. Esse encontro acabaria jamais ocorrendo em sua presidência. No exílio em Paris, após ter os direitos cassados pelo regime instaurado no Brasil em abril de 1964, ele escreveria que “Mon séjour chez vous a renforcé ma conviction : le Brésil et la France sont engagés dans le même combat pour la liberté et la dignité.

Cet idéal commun forme la base de l’amitié fervente qui unit nos deux peuples.” (Meus dias em seu país reforçaram a minha convicção: o Brasil e a França estão engajados no mesmo combate pela liberdade e pela dignidade. Esse ideal comum forma a base da amizade fervente que une nossos povos) [7]. O presidente Juscelino Kubitschek preferiria, claramente, dizer essas palavras ao general pessoalmente.


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Quando da eleição do presidente Jânio Quadros, o general consultaria o seu homem das Américas, André Malraux, para saber da procedência desse novo mandatário do Brasil. Essa consulta não era sem interesse. Uma das primeiras ações do presidente Jânio Quadros fora justamente enviar a Paris o já notório Roberto Campos para falar com o general em seu nome.

O destino econômico dos dois países era incerto naqueles idos de 1960-1961. E continuaria adiante. Mas desde o início se queria, desde a parte do presidente brasileiro, estreitar relações com o mandatário francês [8].

Os informes de André Malraux faziam saber ao general que o presidente Jânio Quadros tinha afeição pelos regimes de Cuba e Moscou, mesmo tendo recebido apoio eleitoral de certa “direita paulista”. Também indicavam que ele e seu novo governo entendiam o conflito franco-argelino que tanto afligia a presidência do general [9]. A difícil transição da presidência Jânio Quadros para a João Goulart foi correntemente informada ao Élysée pelo enviado do general em Brasília, o embaixador Jacques Baeyens. No dia 10 de março de 1963, pelo contencioso das lagostas, o embaixador Baeyens retornara à França ficando os negócios franceses no Brasil a cargo do cônsul francês no Rio de Janeiro Édouard de la Chauvinière até a chegada, em meados de 1964, do novo embaixador, Pierre Sebilleau [10].

Quando, em março de 1964, do Comício da Central do presidente João Goulart, da Marcha da Família com Deus pela Liberdade de dona Leonor de Barros, da revolta dos marinheiros e do evento no Clube do Automóvel – 13, 19, 24 e 30 de março respectivamente –, o general De Gaulle cumpria sua viagem oficial ao México, 15-19 de março, e sua visita a Guadalupe, Guiana e Martinica, 20-23 de março. Mas seria de Paris que ele acompanharia a movimentação do Mourão Filho, o discurso de Rubens Paiva em defesa do presidente João Goulart e a manifestação do senador Auro de Moura Andrade declarando “vaga a presidência da república” e “acéfala” a nação. Após a eleição do marechal Castelo Branco à presidência brasileira no dia 10 de abril de 1964, o general De Gaulle enviaria felicitações. Três dias depois do pleito, no dia 13 de abril, ele faria saber ao novo mandatário do Brasil que a França acompanhava com atenção o que se passava nos trópicos. Dois dias depois, no dia 15 de abril, o marechal Castelo Branco agradeceria ao general e enfatizaria o fato de ter sido eleito com aval do Congresso Nacional [11]. Dois meses depois, em fins de junho, o marechal reforçaria o convite para a vinda do general ao Brasil. Mas por esse momento tudo já estava completamente decidido e preparado. O general partiria, sim, ao Brasil [12].

No dia 4 de junho de 1964, o general De Gaulle diria ao seu primeiro-ministro, Michel Debré, que gostaria de “visiter l’Amérique latine tout entière, et je voudrais le faire cette année. Je sens qu’il est bom que je le fasse, et au-delà de cette année, je ne puis plus répondre de moi-même ni d’ailleurs de rien du tout” (desejo visitar a América Latina inteira neste ano. É importante que eu o faça pois depois deste ano eu não posso nada garantir) [13].

De junho a setembro desse ano o Élysée, o Quai d’Orsay e as embaixadas e consulados franceses espalhados pelos 10 países que seriam visitados aportaram imensa quantidade de informação sobre a realidade latino-americana vista pelos franceses e as contradições brasileiras foram exploradas à exaustão. Toda a classe política e intelectual fora descrita com precisão. Todos os ministros passados e presentes. Todos os debates. Todas as questões de sociedade. Todas as dificuldades da relação bilateral. Fazia questão de assinalar que homens do novo regime, os militares em sua maioria, haviam sido formados na França. Que alguns deles estariam dispostos a evitar uma relação “trop fort avec les États-Unis[14]. Lembrava que o marechal Castelo Branco havia sido convidado a “suivre les cours de l’école supérieure de guerre française” de outubro de 1936 a outubro de 1938. Que havia comendas da Legião de Honra e da Croix de Guerre francesas. Enfatizava que seus principais assessores – Luis Vianna Filho, Vasco Leitão e Roberto Campos – eram perfeitamente francófonos [15]. Indicava que o Brasil dispunha de uma população “jeune” composta por 77.5 milhões de pessoas sendo 53% menores de 20 anos e apenas 5% com mais de 60 anos. Que os ativos no país não passavam de 24 milhões. Sendo 60% trabalhando na agricultura, 14% na indústria e 22% em carreiras públicas. Que o peso da escravidão se fazia sentir na qualidade “melangée” da população com 33 milhões de brancos, 15 milhões de mestiços e 6.6 milhões de negros. Mas que “la tendance générale de la population est au ‘blanchiment’” e que “il n’y a pas au Brésil de problème racial[16]. Considerava que o Exército brasileiro só não era maior que o cubano e que havia sido fundamental na constituição da lei, da Constituição e da ordem depois da “Révolution” de 1º de abril em que tomaram o lugar de “políticos amadores e insuficientes”. E que “Le Brésil ne pourra être sauvé qu’après l’extirpation de la vie politique de la corruption dont les racines prolongent dans le passé jusqu’aux origines du « getulisme »” (O Brasil só poderá ser salvo após se extirpar da vida política toda a corrupção cujas raízes remontam ao getulismo) [17]. Enfatizava que o grosso dessa população era rural e ignorava completamente questões políticas com exceção a alguns moradores de grandes cidades. Que apenas “la classe moyenne et le prolétariat ont pris, depuis 30 ans, conscience de la force qu’il représentaient en face des hiérarchies traditionnelles et leurs voix ont pris une importance croissante dans la vie de la nation[18]. Mas que, mesmo assim, os contrastes regionais eram imensos. Que 22 milhões de brasileiros viviam mal nos 1.500.000 km2 que agrupava Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Que o presidente Juscelino Kubitschek havia chamado a atenção ao problema e o presidente João Goulart tinha avançado muito na questão – ambos com o apoio da competência técnica do Monsieur Celso Furtado, “parfois três engagés politiquement” – mas os problemas eram perenes [19]. Acentuava que a relação franco-brasileira era muitíssimo antiga, mas que a geração que chegara à fase adulta após 1945 no Brasil dispunha de maior sensibilidade e valorização à “l’efficacité de la civilisation technique” e passara a ver a França como “un pays du passé[20], e também por conta disso a língua francesa, desde 1963, deixara de ser obrigatória nos colégios, ficando a cargo dos diretores a escolha do ensino do francês ou do inglês [21]. Notificava que a situação financeira ia muito mal e que a tônica dos encontros deveria recair sobre a cooperação nuclear tendo como discussão acessória a venda dos 40 helicópteros Alouette III ao estado brasileiro e de 25 locomotivas elétricas e 85 diesel-elétricas ao estado de São Paulo [22]. No plano de cooperação deveria sugerir a mudança da fase técnico-científica – de intercâmbios para formação de especialistas – para a fase técnico-industrial – de venda maciça de material assim como a exploração de novas áreas suscetíveis de se encontrar urânio como Tucano e Jacobina, na Bahia, Buíque, em Pernambuco, e Araxá, em Minas Gerais. No plano comercial era preciso dar mais apoio e guarida às empresas BRACOREP, fabricante dos helicópteros, e da ALSTHOM, fabricante das locomotivas [23].

Essas eram as impressões e recomendações gerais ao general. Mas o general e sua certaine idée de si mesmo e de sua missão à frente do país diria novamente ao seu primeiro-ministro Michel Debré: “Je vais en Amérique latine sans programme diplomatique bien précis, mais en quelque sorte instinctivement. Peut-être est-ce important. Peut-être est-ce le moment” (Irei à América Latina sem programa diplomático preciso. Vou apenas com a intuição. Talvez seja importante. Talvez seja o momento).


Notas

[1] Uma versão ampliada deste artigo foi publicada em SILVA, Daniel Afonso da. A presença do general (ou notícias da visita do presidente Charles de Gaulle ao Brasil em outubro de 1964). Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 8, n. 19, pp. 307-337. set./dez. 2016. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180308192016307/6363.

[2] Lettre du général de Gaulle. 17 janvier 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[3] Lettre du général de Gaulle. 10 septembre 1963. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[4] Lettre du général de Gaulle. 17 janvier 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[5] Carta do presidente João Goulart. 9 de janeiro de 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[6] Carta do presidente Juscelino Kubitschek. 21 de abril de 1960. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[7] Carta do presidente Juscelino Kubitschek. 3 de outubro de 1965. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[8] Entretiens. Note de André Malraux sur le voyage de Janio Quadros. Paris, 4/11/1960. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[9] Id., Ibid.

[10] Liste chronologique des ambassadeurs, envoyés extraordinaires, Ministres plénipotentiaires et chargés d’affaires de france à l’étranger depuis 1945. Paris : Quai d’Orsay, 2015.

[11] Letrre du général De Gaulle. 13 avril 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729. Carta do marechal Castello Branco. 15 de abril de 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729. Carta do ministro Vasco Leitão. 15 de abril de 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[12] Carta do marechal Castelo Branco. 30 de junho de 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729. Letrre du général De Gaulle. 3 de agosto de 1964. Correspondence. (1958-1969). Brésil – Septennat du Général de Gaulle. Archives Nationales de France, AG/5(1)/729.

[13] Charles de GAULLE – Lettres, notes et carnets, janvier 1964-juin 1966. Paris : Plon, 1987. pp. 88.

[14] Note diplomatique. Juillet 1964. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[15] Listes de membres du gouvernement. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[16] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil 3. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[17] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil 5. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[18] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil 13. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[19] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[20] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[21] Note diplomatique. Juillet 1964. Bloc Brésil 9. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[22] Note au sujet de la situation actuelle des relations franco-brésiliennes. 15 septembre 1964. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

[23] Note au sujet du développement de la coopération franco-brésilienne dans le domaine nucléaire à l’ocasion de la visite du Général de Gaulle. 4 septembre 1964. Direction des affaires politiques Amériques. Notes diplomatiques du Grand Voyage du Général De Gaulle en Amérique latine. Archives Nationales de France, AG/5(1)/126.

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