Observatório diplomático: Por que o Ocidente interrompeu um processo de paz na Ucrânia?

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Joe Biden (Jim Watson/AFP), Volodymyr Zelensky (Sergei Supinsky/AFP) e Vladimir Putin (Sasha Mordovets/Getty Images).

Por Connor Echols*

Joe Biden (Jim Watson/AFP), Volodymyr Zelensky (Sergei Supinsky/AFP) e Vladimir Putin (Sasha Mordovets/Getty Images).

Um artigo recente da Foreign Affairs revelou que Kiev e Moscou tinham um acordo provisório para acabar com a guerra em abril.


A Rússia e a Ucrânia chegaram a um acordo provisório para encerrar a guerra em abril, segundo um artigo recente da Foreign Affairs. “Os negociadores russos e ucranianos pareciam ter concordado provisoriamente com os contornos de um acordo provisório negociado”, escreveram Fiona Hill e Angela Stent. “A Rússia se retiraria para sua posição de 23 de fevereiro, quando controlava parte da região de Donbass e toda a Crimeia e, em troca, a Ucrânia prometeria não buscar a adesão à OTAN e, ao invés disso, receber garantias de segurança de vários países.”

A notícia destaca o impacto dos esforços do ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson para interromper as negociações, como observou o jornalista Branko Marcetic no Twitter. A decisão de adiar o acordo coincidiu com a visita de Johnson a Kiev em abril, durante a qual ele pediu ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky que interrompesse as negociações com a Rússia por duas razões principais: não se podia negociar com Putin e o Ocidente não estava pronto para o fim da guerra.

A aparente revelação levanta algumas questões-chave: por que os líderes ocidentais queriam impedir Kiev de assinar um acordo aparentemente bom com Moscou? Eles consideram o conflito uma guerra por procuração com a Rússia? E, mais importante, o que seria necessário para voltar a um acordo?

Por enquanto, podemos apenas especular sobre as respostas para as duas primeiras perguntas. A terceira talvez não seja menos desafiadora, especialmente considerando o fato de que tanto a Ucrânia quanto a Rússia (pelo menos publicamente) endureceram significativamente suas posições de negociação nos últimos meses. Mas há algumas pistas que podem nos ajudar a respondê-la.

Um caminho possível de volta a um acordo de paz é aproveitar o acordo de grãos de julho, no qual Kiev e Moscou concordaram em reiniciar as exportações de trigo dos portos do Mar Negro da Ucrânia. O acordo manteve-se forte apesar das contínuas hostilidades, permitindo que mais de um milhão de toneladas métricas de grãos entrassem no mercado mundial até agora. Este acordo mostra que cada lado está pelo menos interessado em reduzir o impacto global da guerra.


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A outra opção é mais complexa, mas não menos importante. Ainda ontem, uma equipe de inspetores internacionais chegou à usina nuclear de Zaporizhzhya, controlada pela Rússia, que foi ameaçada por bombardeios nas proximidades nas últimas semanas. A visita, que permitirá aos especialistas garantir que a fábrica se mantém em condições de segurança, é fruto de intensas conversações, apoiadas pela pressão da comunidade internacional. Nesse caso, tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão sinalizando seu compromisso de evitar uma catástrofe nuclear.

Em outras palavras, Kiev e Moscou mostraram que querem mitigar os efeitos secundários do conflito e estão dispostos a negociar com o inimigo para fazê-lo. Mas, enquanto esta guerra se arrastar, as pessoas ao redor do mundo continuarão a sofrer, e o espectro de um evento catastrófico – seja por meio de um ataque errôneo em uma usina ou uma escalada descontrolada para uma guerra nuclear – continuará a pairar. É hora de a Rússia, a Ucrânia e o Ocidente reconhecerem que só há uma maneira de acabar com esses riscos: deponham as armas e venham para a mesa de negociações.

Outras notícias diplomáticas relacionadas à guerra na Ucrânia

• A União Europeia deve suspender um acordo de visto com a Rússia, o que tornará mais difícil (e mais caro) para turistas russos visitarem países do bloco, segundo a Reuters. A decisão é um compromisso entre os membros da UE que querem proibir todos os viajantes russos de entrar no Espaço Schengen e outros que consideram tal medida contraproducente. Em uma declaração conjunta, a França e a Alemanha explicaram sua oposição a uma proibição total: “Avisamos contra restrições de longo alcance em nossa política de vistos, a fim de evitar alimentar a narrativa russa e desencadear reações não intencionais em torno dos efeitos da bandeira e/ou distanciamento gerações futuras.”

• A Rússia bloqueou um acordo da ONU destinado a reforçar o tratado de não proliferação nuclear (TNP), citando preocupações sobre cláusulas relacionadas à situação na usina nuclear de Zaporizhzhya, segundo o The Guardian. A medida destaca o efeito negativo que a invasão da Rússia teve nos esforços de não proliferação nos últimos meses. Mas, como Shannon Bugos argumentou no Responsible Statecraft, Washington ainda deveria fazer tudo ao seu alcance para trabalhar com Moscou para reduzir os estoques nucleares de cada país. “A estrutura para um acordo de controle de armas EUA-Rússia não é perfeita e exigirá concessões de Washington e Moscou”, escreveu Bugos. “[Mas] isso faz parte da barganha do controle de armas, e os benefícios, como o não uso de armas nucleares na guerra desde 1945, superaram consistentemente os custos percebidos”.

• Na quinta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron deu um resumo detalhado de sua posição em relação à guerra na Ucrânia, segundo a AP. Macron argumentou que a Europa “deve se preparar para uma longa guerra” para colocar a Ucrânia na melhor posição possível para as negociações. Ele também defendeu sua decisão de continuar conversando com Putin, argumentando que “devemos fazer tudo para tornar possível uma paz negociada”.

Notícias do Departamento de Estado dos EUA

• Em uma coletiva de imprensa na terça-feira, o porta-voz Vedant Patel respondeu às preocupações de que as transferências de armas dos EUA para a Ucrânia tenham reduzido os estoques de armas do Pentágono a níveis “desconfortavelmente baixos”. “Os Estados Unidos estão ao lado do povo da Ucrânia há 31 anos e continuaremos firmemente ao lado deles enquanto defendem sua liberdade e independência”, disse Patel. “Vamos continuar com a Ucrânia pelo tempo que for necessário.”


Publicado no Responsible Statecraft.


*Connor Echols é repórter na Responsible Statecraft. Foi editor associado da Nonzero Foundation, onde co-escrevia um boletim semanal de política externa. É bacharel pela Northwestern University, onde estudou jornalismo e Estudos do Oriente Médio e Norte da África, e concluiu recentemente uma bolsa de estudos no Centro de Estudos Árabes no Exterior em Amã, Jordânia.

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2 comentários

  1. Respondendo objetivamente a pergunta titulo: Pq o Ocidente teve um esforço gigantesco para montar uma armadilha nos pés de Putin; armadilha que Putin PISOU COM GOSTO.

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