O acordo econômico China-Irã e suas consequências no campo militar

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Aeronaves militares revisadas entregues à Força Aérea do Irã em 20 de fevereiro de 2020 (Foto: MEHR).

Aeronaves militares revisadas entregues à Força Aérea do Irã em 20 de fevereiro de 2020 (Foto: MEHR).

O acordo bilionário firmado entre a China e o Irã, e o consequente estreitamento dos laços entre os países, deverá abrir caminho para contratos de exportação de aeronaves chinesas ao país persa, além de oportunidades nos mercados de aviação militar do Oriente Médio.


No dia 3 de abril de 2021, a China e o Irã assinaram um extraordinário acordo de US$ 400 bilhões prevendo amplos investimentos chineses no país persa em diversas áreas (como bancos, ferrovias, portos, saúde, tecnologia da informação, telecomunicações, dentre outras) durante 25 anos, em troca de garantias em relação ao fornecimento de petróleo iraniano, através de uma sutil estratégia de se criar, no futuro, um padrão equivalente aos antigos petrodólares dos anos de 1970 e 1980.

O bilionário acordo também prevê uma ampla (e preocupante) cooperação militar entre os dois países, incluindo treinamentos e exercícios conjuntos, pesquisa e desenvolvimento de armas, compartilhamento de inteligência e aquisição de equipamentos e armamentos.

O plano persa de se tornar uma superpotência regional, interrompido (ou, no mínimo, adiado) pelo embargo econômico norte-americano, passa a ser, desta feita, viabilizado através do planejamento chinês de criar efetivos e potenciais adversários aos Estados Unidos, buscando (na atualidade, assim como procedido no passado) redirecionar as atenções de Washington para outros atores internacionais, permitindo à China continuar em seu projeto de dominância global sem maiores percalços.

Vale lembrar que, nas últimas décadas, o setor de defesa do Irã tem conseguido, gradativamente, se tornar autossuficiente, suplantando, deste modo, em grande parte, o embargo ocidental que impede a importação de armas e tecnologia pela potência persa.

Contudo, Teerã, apesar de todo o esforço empreendido para criar uma indústria militar plena e independente, não conseguiu superar sua incapacidade de produzir ou adquirir aviões de caça modernos. Não por outra razão, o país conta, em sua grande maioria, com aeronaves praticamente obsoletas de terceira e quarta gerações adquiridas dos Estados Unidos, como o F-4 D/E Phantom II (62 unidades contabilizadas em 2020) e o F-14 Tomcat (43 unidades contabilizadas em 2020), bem como com um pequeno número de caças soviéticos MiG-29 A Fulcrum (35 unidades contabilizadas em 2020).

Com essa parceria com os chineses, abrem-se, portanto, as portas para Teerã adquirir aeronaves mais modernas, reforçando sua força aérea de 313 aeronaves de combate (computadas em 2020).


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Os iranianos demonstram interesse pelo caça leve de quarta geração plus Chengdu J-10C Firebird (embora já tenham adquirido outros caças soviéticos), uma vez que este avião, por ser uma aeronave monomotora, possui um custo operacional muito menor do que os grandes caças russos como o Sukhoi Su-35 Flanker-E ou o Sukhoi Su-34 Fullback, além de beneficiar-se de mísseis avançados (considerados até mesmo superiores aos russos), bem como por possuir aviônicos extremamente atualizados que contam com o uso de radar de varredura ativa eletrônica (AESA). Ademais, o J-10C é produzido em uma escala muito maior que qualquer outro caça no mundo, com um incrível número de mais de 200 ingressando no serviço ativo desde 2018.

Não se sabe, todavia, se os chineses forneceriam seus equipamentos de ponta aos iranianos; porém, o governo chinês já sinalizou uma atitude favorável a tal fornecimento. Com isto, os iranianos poderiam ter acesso ao míssil ar-ar guiado por radar ativo PL-15, de longo alcance (cerca de 350 km) e que, segundo os chineses, possui um alcance muito maior que o de seus concorrentes, como o americano AIM-120 e o russo R-77, que têm um alcance estimado entre 100 e 120 km. Soma-se a isto o fato de que o PL-15 é o único míssil no mundo equipado com radares AESA, uma vez que os outros utilizam tecnologia anterior (PESA).

Apesar de pequeno, o caça chinês J-10C possui uma capacidade de carga de até 7.000 kg distribuídos entre 11 pontos de armamentos, o mesmo quantitativo do F-16, em sua versão mais moderna. O caça também se destaca pelo elevado teto de serviço, além de possuir um raio de combate de cerca de 1.500 km. Este alcance, porém, marcaria uma relativa inadequação deste caça para a projeção de força além das fronteiras nacionais em relação a aeronaves mais pesadas, como o McDonnell Douglas F-15 Eagle norte-americano ou o russo Su-34 Fullback.

Entretanto, devido à atual orientação defensiva da frota iraniana e à dependência de drones para a maioria das operações ofensivas, isto não deve ser visto com uma grande desvantagem. Somam-se a estes fatores o fato de o avião possuir um baixo custo de manutenção e operação, o que implicaria na redução das despesas operacionais com a substituição das grandes aeronaves anteriores.

O estreitamento dos laços econômicos entre Irã e China, neste sentido, abrirá caminho para um contrato de exportação do J-10C Firebird a preços muito compensadores em relação ao petróleo exportado. Tal cenário proporcionaria à China, em adição, uma oportunidade nos mercados de aviação militar do Oriente Médio, bem como possibilitaria meios de adquirir tecnologia, inclusive visando melhorar o projeto em um teatro de operações com tensões mais altas, até mesmo com possíveis encontros com aeronaves ocidentais.


LEGENDA:
MBT (Main Battle Tank): Tanque de Batalha Principal
IRBM (Intermediate-Range Ballistic Missile): Míssil Balístico de Alcance Intermediário
SRBM (Short-Range Ballistic Missile): Míssil Balístico de Curto Alcance
GLCM (Ground-Launched Cruise Missile): Míssil de Cruzeiro Lançado do Solo
SSK (Conventionally-Powered Attack Submarine): Submarino de Ataque com Alimentação Convencional
SSC (Coastal Submarine): Submarino Costeiro
SSW (Midget Submarine): Submarino Anão
FTR (Fighter): Avião de Combate
FGA (Fighter/Ground Attack): Avião de Combate de Ataque ao Solo
ATK (Attack/Ground Attack): Avião de Combate de Ataque ao Solo
ASW (Anti-Submarine Warfare): Avião de Combate de Guerra Antissubmarina

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