Por Cel. Claudio Moreira Bento* |
Em artigo bastante pertinente, o coronel da reserva Claudio Moreira Bento, Presidente da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil, discorre sobre a importância da História Militar, trazendo diversos exemplos da própria história.
Este é o título do artigo do civil professor Jay Luvas em A Defesa Nacional nº 771, de 1996, traduzido de A Evolução da Guerra Moderna, Julho 1990, da ECEME dos EUA, lembrando que antes do advento da bomba atômica e outros avanços na Ciência da Guerra, militares que haviam atingido as culminâncias da profissão soldado defenderam o valor e utilidade da História Militar, pelo que o autor conclui, reafirmando o valor e utilidade da mesma, no limiar do 3o milênio, independente do avanço tecnológico.
Cita o General Mac Arthur “com biblioteca de quatro mil títulos que nunca deixou de ter um exemplo histórico em apoio a seus pontos de vista”.
O General Eisenhower “que gastou horas e horas ouvindo seu mestre sobre o que poderia aprender na História Militar”.
O General Marshall “que com seus colegas na ECEME dos EUA reconstituíram a Guerra de Secessão, com apoio em partes de combate e relatórios”.
O General Patton “que em 1943 leu obra sobre a conquista da Sicília nove séculos antes, para meditar sobre pontos comuns”.
Enfim, oficiais admiravelmente versados em História Militar. Cita os presidentes Roosevelt, “estudioso de História Naval” e Truman, “que reconheceu dever a História dos EUA valiosas lições”.
Reafirma o pragmatismo, ou aspecto prático da profissão soldado, voltada para colher na História Militar lições, em especial as aplicáveis como modelos de tática e estratégia, ou para ilustrar pontos da Doutrina Militar ou para incutir Virtudes Militares ou a valorização do Patrimônio Cultural – a Herança Militar.
LIVRO RECOMENDADO:
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Destaca a recuperação da História Militar no ensino em West Point para uma posição lógica, pois havia sido vítima da Guerra do Vietnam e seu prestígio havia sido abalado, em função de seu estudo superficial.
Alerta para os que julgam falácias, como atribuir-se o êxito de Frederico à ordem oblíqua, quando Napoleão concluiu que o êxito se deveu a Frederico. Julga um desserviço à História Militar relacioná-la com princípios militares, citando Jomini, que chefiou a Seção de História de Napoleão, de quem a FAHIMTB discorda, pois foi a História Militar que terminou por levantar certos princípios que, observados ou não, contribuíam para a vitória ou derrota e que são chamados Princípios de Guerra (Objetivo, Massa, Economia de Meios, Surpresa, Segurança, Manobra, Simplicidade).
Princípios de Guerra que terão validade até nas previsíveis Guerras nas Estrelas ou espaciais. O autor reafirma a validade do conselho de Napoleão ao seu filho no leito de morte: “leia e medite sobre as campanhas dos grandes capitães, pois é a única maneira de aprender a Arte da Guerra”.
Refere que Frederico e Napoleão endossariam Liddell Hart de que a História Militar é também um catálogo de erros e que se constitui dever deles tirar-se proveito. Conclui que todos os grandes capitães tiveram em comum a leitura de História Militar e que Napoleão lamentou leituras desnecessárias por falta de um guia para as de maior proveito, sem perda de tempo com leituras não válidas.
Sobre o ensino de História Militar defende que o instrutor deve ministrar, mas não explicar – o que se assemelharia a dar peixes para os pobres, ao invés de dar-lhes anzóis e ensinar-lhes a pescar –, e indicar-lhes os rios ou lagos mais piscosos que seriam os bons livros de História Militar. Ou em outras palavras do autor “o instrutor de História Militar, ensinar os alunos a se ensinarem”.
O artigo é leitura relevante, mas aumenta a importância da História Militar dada pelo Estado-Maior do Exército em manual de nossa autoria Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro de 1978, reeditado em 1999 e em sua Diretriz para Atividades do Exército no Campo da História Militar baixada em 7 de outubro de 1977 pela Portaria 061-EME que o citado manual publica às p.215-220.
Conclui-se que a exploração conveniente e necessária da História Militar depende de livros. E hoje pensa a FAHIMTB que se dispõe de poucos livros de História Militar Terrestre Crítica do Brasil para se ler e se meditar, lembrando a situação encontrada no início do século pelo General Augusto Tasso Fragoso como encarregado no Estado-Maior do Exército de escrever sobre a História do Exército Brasileiro.
“Quase nada, para não dizer nada, existe publicado entre nós sobre a História do Exército Brasileiro”.
Em 1922, sob a égide e estímulo da Missão Militar Francesa, ele produziu A Batalha do Passo do Rosário.
Assista ao Vídeo 861 do Canal Arte da Guerra: |
Em 1937, o ministro Marechal Eurico Gaspar Dutra aprovou a recriação da BIBLIEx que por cerca de vinte anos estimulou vocações de historiadores militares, categoria a caminho da extinção. E como será realimentada a cadeia de ensino de História das Forças Terrestres Brasileiras?
Acresce que está desaparecendo o hábito da leitura! Esta é a meditação que o artigo em tela nos conduz. Como ler se não temos livros e os historiadores são categoria em extinção por falta de estímulo, e o pouco que se produz de História Militar do Brasil não é lido?
Eis a questão desafiadora, recordando esta afirmação do Marechal Ferdinand Foch, que saiu da Escola Superior de Guerra da França, onde ministrava História Militar Crítica à luz dos Fundamentos da Ciência e Arte Militar.
“Para alimentar o Cérebro de um Exército na Paz, para melhor prepará-lo para a eventualidade de uma guerra, não existe livro mais fecundo em lições e meditações do que o livro de História Militar”.
O Cérebro de um Exército é uma minoria de seu efetivo encarregada de formular e atualizar a Doutrina a ser estudada e executada. O Corpo do Exército é a sua esmagadora maioria.
A FAHIMTB, ao longo de 23 anos, tem publicado vários livros e informativos sobre História do Exército, onde se destacam como livros da História Militar:
- Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro;
- Brasil Lutas contra invasões, ameaças e pressões externas 1500-1945;
- Brasil Lutas Internas 1500-1916 e
- Brasil, pensadores militares terrestres.
Todos disponíveis para download no site da FAHIMTB em www.ahimtb.org.br.
LIVRO RECOMENDADO:
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Acabamos de assistir conferência do vice-presidente da República, no exercício interino da Presidência da República, Gen Ex Antonio Hamilton Martins Mourão, para um público muito seleto em Porto Alegre, e divulgado pelo YouTube a qual causou, causa e causará grande e positivo impacto.
Nela, o Gen Mourão faz uma análise geopolítica crítica mundial, na qual situa o Brasil neste complexo contexto. O Gen Mourão foi declarado Aspirante a Oficial da Arma de Artilharia em 1975 – Turma Sesquicentenário da Independência.
E foi aluno de fundamentos de História Militar Crítica ministrada por instrutores de História Militar, com o Curso de Estado-Maior, equipe substituída em 1978 por equipe de instrutores de História Militar, a qual integrei em 1978-1980.
Equipes que seguiam orientação do então General Humberto de Alencar Castello Branco, ou do Ensino de História Militar ser crítico, como gerador de Sabedoria Militar, ao invés de descritivo, gerador de Conhecimento Militar. E concluo que o Gen Mourão fez muito bom uso do que seus instrutores de História Militar “lhe ensinaram a se ensinar!”.
Abordamos a vida e obra do Gen Mourão, como comandante do Comando Militar do Sul na 2ª edição de nosso livro História do Comando Militar do Sul, às p. 255/261. Obra publicada pelo Gen Ex Edson Leal Pujol em parceria com o historiador militar Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis.
Em realidade a citada conferência do General Mourão causou grande impacto. Conferir é obra de acessá-la no YouTube.
Concluindo, a História Militar tem grande utilidade e é o que a sua magistral conferência comprova! Confira!!! FAHIMTB: www.ahimtb.org.br.
*Claudio Moreira Bento, Coronel da Reserva do Exército Brasileiro, é presidente e fundador da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil.
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“Princípios de Guerra que terão validade até nas previsíveis Guerras nas Estrelas ou espaciais. O autor reafirma a validade do conselho de Napoleão ao seu filho no leito de morte: “leia e medite sobre as campanhas dos grandes capitães, pois é a única maneira de aprender a Arte da Guerra”.”
Falando nisso, eu traduzi o artigo em quatro partes do Coronel Goya sobre a arte da guerra no romance Tropas Estelares, do Rober Heinlein.
Não é só a história militar, padecemos de um mal, talvez impulsionado pelas tecnologias, de poucos realmente buscarem a fundo as informações, tirarem tempo para ler, degustar, analisar, realizar deduções, o processo de codificação de decodificação que ocorre no processo leitura/aquisição.
Exatamente, tudo tem se tornado muito superficial. É preciso resgatar o hábito de ler bons livros. Grato por comentar, forte abraço!