Por Albert Caballé Marimón* |
A Guerra das Falklands/Malvinas, travada entre 2 de abril e 14 de junho de 1982, ocorreu após a invasão das ilhas por forças argentinas. Ao final da guerra o Reino Unido recuperou a soberania sobre o arquipélago e a vitória ajudou o governo conservador de Margaret Thatcher a vencer as eleições de 1983; por outro lado, na Argentina, a derrota acelerou a queda da junta militar que governava o país desde 1976 e o retorno de um regime democrático.
O domínio do ar é um elemento fundamental nas guerras atuais, e nas Malvinas isso não foi diferente. Ambos os lados esperavam obter superioridade aérea para conduzir suas operações, e empregaram um bom número de aeronaves.
Neste artigo procuramos oferecer um breve perfil das principais aeronaves de asa fixa utilizadas por cada lado, salientando que a superioridade aérea não é uma questão decidida simplesmente pelo equipamento utilizado, mas que depende de um conjunto que inclui estratégia, liderança, logística, treinamento e diversos outros fatores.
Aeronaves Argentinas
Douglas A-4 Skyhawk
O Douglas A-4 Skyhawk é um avião de ataque subsônico desenvolvido para a Marinha e o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA no início dos anos 1950. Foi projetado e produzido pela então Douglas Aircraft Company e, mais tarde, pela McDonnell Douglas.
Durante a Guerra das Malvinas a Argentina empregou 47 Skyhawk. Armado com bombas não guiadas e sem autodefesa eletrônica ou de mísseis, eles afundaram os navios de combate HMS Coventry, Antelope e Ardent e infligiram danos aos navios de apoio RFA Sir Galahad e Sir Tristan e as embarcações de combate HMS Glasgow, Argonaut e Broadsword.
No total os argentinos perderam 22 Skyhawk, incluindo perdas para os caças britânicos Harriers, para mísseis lançados por navios, mísseis lançados no solo e fogo antiaéreo (incluindo um para “fogo amigo”) e três por acidentes.
LIVRO RECOMENDADO:
Argentina’s Tactical Aircraft Employment in the Falkland Islands War
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Dassault Super Étendard
Desenvolvido para a marinha francesa, a aeronave de ataque Dassault-Bréguet Super Étendard voou pela primeira vez em outubro de 1974 e entrou em serviço em junho de 1978.
Em 1979, a Aviação Naval Argentina encomendou quatorze Super Étendard; entre agosto e novembro de 1981, cinco deles (juntamente com cinco mísseis Exocet) foram entregues. Essa aeronave desempenhou um papel fundamental no conflito das Malvinas.
No dia 4 de maio de 1982, dois Super Étendard atacaram o destroier britânico HMS Sheffield com mísseis Exocet, afundando-o. Dias depois, em 25 de maio, outros dois Super Étendard atingiram, novamente com os mísseis Exocet, o navio mercante SS Atlantic Conveyor, que transportava helicópteros e suprimentos. Aparentemente os mísseis teriam sido lançados contra o HMS Ambuscade, mas os chaff lançados como medida defensiva os teriam desviado para o Conveyor.
IA-58 Pucará
O IA-58 Pucará é uma aeronave argentina de ataque ao solo e contra-insurgência, fabricada pela FMA (Fábrica Militar de Aviones). É um bimotor turboélice de asa baixa capaz de operar a em pistas pouco preparadas.
Na Guerra das Malvinas, a Argentina dispunha de cerca de sessenta unidades. Uma de suas poucas aeronaves capaz de operar nos aeródromos das ilhas, vários Pucará foram desdobrados ali. Muitos foram transferidos para Comodoro Rivadavia, sede da FAS (Fuerza Aérea Sur, a Força Aérea Sul), onde estavam mais próximos do teatro de operações caso fosse necessário reforçar as ilhas, e foram usados para realizar a vigilância costeira.
Eram armados com bombas não guiadas, pods de foguetes de 2,75 polegadas ou uma metralhadora de 7,62 mm. Os Pucará operavam no aeroporto de Stanley e em dois pequenos aeródromos de grama em Goose Green (Pradera del Ganso) e Pebble Island (Isla Borbón), sendo usados em missões reconhecimento e ataque leve. Diversos deles foram perdidos ou capturados na guerra.
Veja um perfil do Pucará no Vídeo 853 do CANAL ARTE DA GUERRA
IAI Dagger
O IAI (Israel Aircraft Industries) Nesher foi a versão israelense do caça francês multifunção Dassault Mirage 5. Aposentado da IAF (Israeli Air Force, a Força Aérea Israelense), várias unidades foram reformadas para exportação para a Argentina, onde operou com o nome Dagger (“Adaga”). A FAA (Fuerza Aérea Argentina) chegou a operar um total de 35 destes caças.
Nas Malvinas, os Dagger foram desdobrados na Base Aeronaval de Río Grande e em Puerto San Julián. Apesar da falta de capacidade de reabastecimento aéreo e da distância considerável do teatro de operações, os Dagger realizaram 153 missões contra alvos terrestres e navais. Foi responsável por danificar vários navios, incluindo HMS Antrim, Brilliant, Broadsword, Ardent, Arrow e Plymouth. No total, onze Dagger foram perdidos em combate.
Dassault Mirage III
O Dassault Mirage III é um caça interceptador supersônico desenvolvido e fabricado pela francesa Dassault Aviation. Monomotor, foi o primeiro avião de combate da Europa Ocidental a exceder Mach 2 em voo horizontal. A Argentina adquiriu 21 unidades que operou sob a designação de Mirage IIIEA.
Sua capacidade foi muito prejudicada nas Malvinas pela falta de uma sonda de reabastecimento aéreo. Mesmo equipados com dois tanques de extras de 2.000 litros de combustível, os Mirage argentinos (assim como os Dagger) tinham que voar até o limite absoluto de seu alcance para chegar aos alvos na frota britânica. Geralmente eram enviados como escolta nas missões de ataque dos A-4 Skyhawk, mas devido à questão do combustível eles não podiam ficar mais do que cinco minutos na área de combate. Eram armados com um míssil Matra R530 ou dois Matra Magic 1. Um par de Mirage entrou em combate uma única vez, um deles tendo sido abatido por um míssil AIM-9L Sidewinder lançado por um Harrier e o outro destruído por “fogo amigo” ao tentar pousar na pista de Stanley quase sem combustível.
Como resultado das operações Black Buck, vários Mirage foram mantidos em prontidão contra potenciais ataques dos bombardeiros britânicos Vulcan contra alvos no continente, especialmente Buenos Aires.
Aeronaves Britânicas
Harrier GR.Mk.3
Desenvolvido na década de 1960, o Hawker Siddeley Harrier foi o primeiro avião de combate capaz de decolagem e aterrissagem verticais bem-sucedido. A RAF (Royal Air Force, a Real Força Aérea britânica) empregou as variantes GR.1 e GR.3 a partir do final dos anos 1960.
Nas Malvinas, dez Harrier GR.3 do Esquadrão Nº 1 operaram no porta-aviões HMS Hermes. Como o GR.3 não era um caça naval, precisou ser modificado antes da partida da força-tarefa. Foram instalados sistemas de orientação inercial para aterrissagem em porta-aviões, transponders para guia-los de volta aos navios em operações noturnas e aplicados vedantes especiais contra a corrosão.
O Harrier GR.3 atuou em missões de apoio aéreo aproximado às forças terrestres e ataque ao solo, principalmente contra o aeródromo de Stanley. Foram perdidos quatro GR.3s por acidentes ou falhas mecânicas. Eles realizaram mais de 2.000 missões durante o conflito, o equivalente a seis missões por dia por aeronave.
LIVRO RECOMENDADO:
Sea Harrier FRS 1 vs Mirage III/Dagger: South Atlantic 1982
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Sea Harrier FRS Mk.1
O British Aerospace Sea Harrier, caça naval a jato subsônico de decolagem e pouso verticais, entrou em serviço na Marinha Real em abril de 1980. Seu papel era a defesa aérea dos grupos tarefa dos porta-aviões britânicos.
Nas Malvinas, operou a partir dos porta-aviões HMS Invincible e Hermes, provendo defesa aérea e, como papel secundário, ataque ao solo (o Harrier GR3 da RAF era o principal vetor de ataque ao solo). Os 28 Sea Harriers desdobrados no conflito abateram vinte aeronaves argentinas em combates ar-ar. Um total de seis foram perdidos devido a fogo inimigo, acidentes ou falhas mecânicas.
Vulcan B.Mk.2
O Vulcan foi um bombardeiro estratégico de grande altitude com asas em delta operado pela RAF de 1956 a 1984. Foi o mais bem sucedido da chamada família de “V-Bombers” britânicos; durante o projeto, foram produzidas várias unidades de escala reduzida para testar e refinar os princípios de design da asa delta.
Durante a Guerra das Malvinas os Vulcan realizaram as operações Black Buck, uma série missões de ataque terrestre de longo alcance contra o aeroporto de Stanley a partir da Ilha Ascenção, num complexo esquema de reabastecimento em voo realizado pelos Victor (outra aeronave da família “V”). Percorrendo uma distância de quase 13.000 km ida e volta, foram missões com dezesseis horas de duração, as mais longas operações de bombardeio na história até então.
*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.
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Admiráveis máquinas voadoras, as quais fizeram história, não somente no conflito do Atlântico Sul, mas em outros mundo afora.
Exatamente! Forte abraço, Sinclair!
Albert, o que você pensa sobre uma possível aquisição de caças Harrier pela Marinha do Brasil? É algo remoto?
Deve ter lotes usados de alguns países, mas eu penso que, ainda que tenham sido excelentes a seu tempo, já são aviões muito antigos. Os que ainda estão por aí já devem estar chegando no limite da vida útil. Forte abraço!