Cúpula suíça: um fracasso salpicado de falsidades

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participa de uma entrevista coletiva como parte da cúpula de paz na Ucrânia em Bürgenstock, Suíça, sábado, 15 de junho de 2024 (Laurent Cipriani/AP).

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participa de uma entrevista coletiva como parte da cúpula de paz na Ucrânia em Bürgenstock, Suíça, sábado, 15 de junho de 2024 (Laurent Cipriani/AP).

A Cúpula de Paz na Ucrânia não gerou quaisquer conquistas e nem produzirá nenhum fruto decisivo, parecendo-se mais com miniférias de luxo dos participantes pagas pelos contribuintes dos seus respectivos países.


Enfim, ocorreu a amplamente divulgada Cúpula de Paz na Ucrânia, que ocorreu no suntuoso complexo de Bürgenstock, na Suíça.

Durante vários meses, esta conferência foi preparada por fatores de poder poderosos e influentes que usam a população ucraniana apenas como vetor para cumprir seus próprios objetivos. Seus arquitetos fabricaram expectativas e alimentaram, no campo da informação global, prováveis ​​contextos subsequentes que, para falar claramente, foram apenas uma venda de ilusões” (veja em https://noticiasbravas.com/entrevistas/fracaso-de-la-cumbre-sobre-la-paz-de-ucrania).

Digamos desde já que a China nem sequer esteve presente e que Estados importantes como Índia, México, Arábia Saudita, África do Sul, Tailândia e Emirados Árabes Unidos não assinaram o documento final, que afirma que a base de qualquer futuro acordo de paz entre Ucrânia e Rússia para acabar com a guerra, deve preservar a “integridade territorial” da Ucrânia.

Vício de origem

Esta cúpula, desde os primeiros momentos da sua idealização, foi falha na origem e esvaziada de conteúdo realista, pois não teve motivações justas, nem procurava alcançar uma paz real e verdadeira. Daí que a “fórmula prometida” foi um “encanto” desprovido de realismo, bom senso e prudência.

Se supunha que seria um espetáculo do mundo contra a Rússia e que conseguiria transformá-la em um Estado pária, obviamente sem ser convidada, mas em vez disso se transformou na necessidade de comentar a proposta de negociação lançada um dia antes por Vladimir Putin, o pária. Ali, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse: “Não foi uma negociação de paz porque Putin não leva a sério o fim da guerra. Ele insiste na capitulação. Insiste na transferência do território ucraniano, mesmo do território que não é ocupado por ele hoje”. Von der Leyen continua: “Ele insiste em desarmar a Ucrânia, deixando-a vulnerável a futuras agressões. Nenhum país jamais aceitaria estas condições ultrajantes.

Recordamos que o líder russo disse: “As tropas ucranianas devem se retirar completamente das regiões da República Popular de Donetsk, da República Popular de Lugansk, de Kherson e de Zaporizhzhia.” Putin também estabeleceu uma segunda condição fundamental para acabar com a guerra: a Ucrânia deve rejeitar as ambições de aderir à OTAN. “Assim que Kiev disser que está disposta a fazer isso e começar a retirar as tropas e desistir oficialmente de seus planos de aderir à OTAN, iremos imediatamente – literalmente naquele momento – cessar fogo e iniciar conversações.

A China já tinha comunicado oficialmente que a suposta conferência de paz seria inútil sem a presença e participação da Rússia e, em suma, não passa de um golpe publicitário.

Mas o presidente ucraniano Zelensky, obviamente o maestro dessa manipulação midiática, saiu-se com a seguinte cobertura: “Os países que ainda não assinaram o documento final ainda poderão fazê-lo, uma vez que é ‘aberto’… Vamos mostrar ao mundo que a Carta das Nações Unidas pode recuperar a sua plena eficácia.

Enquanto isso, no teatro de operações, as forças ucranianas tentaram atacar as tropas russas na região de Kharkov. As forças de Kiev tinham que dar resultados antes do início da “comédia suíça” que seria apresentada no palco de Lucerna, mas como era de esperar, esta manobra militar não terminou bem e as forças russas rechaçaram a tentativa.

Em suma: “esta cúpula não gerou quaisquer conquistas, nem produzirá resultados decisivos. O fracasso é admitido, comentado e analisado nos EUA e em outros países. Hoje, a fobia e a beligerância em relação à Rússia não são cartas vitoriosas. Não garantem viabilidade de sucesso. Claro que muitos participantes, patrocinadores e parceiros de Kiev, juntamente com suas respectivas equipes, puderam desfrutar de miniférias de luxo, cujo custo, sem dúvida, foi pago pelos contribuintes dos seus países, que, na maioria, obviamente, atravessam sérias dificuldades econômicas, enquanto os responsáveis ​​pela administração política de seus respectivos Estados desfrutavam dos prazeres oferecidos em Bürgenstock.” (Veja mais em: https://noticiasbravas.com/entrevistas/fracaso-de-la-cumbre-sobre-la-paz-de-ucrania).

Consequentemente, este acontecimento na Suíça confirmou todas as previsões racionais que haviam sido feitas sobre sua pouca ou nenhuma relação com o problema que motivou sua convocação.


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Outra cena do mesmo show

Nas palavras de Aleksandr Vucic, presidente da Sérvia, que em uma longa entrevista ao jornal suíço Die Weltwoche traçou sua visão de um futuro que considera bastante sombrio: “A Sérvia está se preparando para uma possível guerra entre o Ocidente e a Rússia que poderá começar a qualquer momento… até mesmo em três ou quatro meses.

Vucic, em declarações ao histórico jornal conservador suíço, soou um alarme que parece decididamente discordante em comparação com os tons descontraídos, típicos de uma exibição de cinema ou de um destino de férias ao estilo italiano, da recente cúpula do G7 em Apúlia, em que “os grandes problemas do mundo” (opulento) foram discutidos. “Somos um país livre (Sérvia) que luta pela paz”, sublinha Vucic, acrescentando que acredita ser claro que a Rússia e o Ocidente já não procuram um acordo diplomático.

Em conclusão, vamos rever os últimos dias: primeiro o G7 e a divisão entre o Ocidente (rico) e o resto do mundo na Conferência de Paz Suíça sobre a Ucrânia deixaram claro quão pouco os líderes euroatlânticos desejam negociar com Vladimir Putin. Mas, ao mesmo tempo, a “proposta” da Rússia à Ucrânia para pôr fim ao conflito também configura a rendição de uma das partes em uma guerra que Moscou (ainda) não venceu no terreno como única saída para Kiev. Isto cria um claro curto-circuito no qual, explica Vucic: “todo mundo só fala de guerra, ninguém fala de paz.” Na verdade, “paz é uma palavra proibida. O que se diz sobre a Ucrânia é que a guerra deve ser vencida”, mais ou menos diretamente, “para garantir a paz futura. Mas ninguém diz o que é paz.” Nem na Rússia e nem no Ocidente.

O chefe de Estado de Belgrado foi explícito e realista: quase um rio transbordando. “Você não pode negociar sem o outro lado na mesa”, observa Vucic, “e isso não está acontecendo”. Note-se como “o Ocidente acredita que pode facilmente derrotar Putin e desgastá-lo na Ucrânia”.

A receita do desastre

A Ucrânia, para Vucic, enfraqueceu a Rússia “mas certamente não o suficiente para derrotar e derrubar Putin”. Todos na Europa, segundo Vucic, “… são heróis. Mas ninguém diz às pessoas que seguir este caminho terá um alto preço”. Daí sai uma advertência clara: “Qualquer atitude belicista deve acabar: estamos cada vez mais perto do abismo.

“Ninguém pode se dar ao luxo de perder”

Para Vucic, o fato de “ninguém poder se dar ao luxo de perder” cria problemas e torna legítimo pensar que “estamos perto de um verdadeiro desastre”. Certamente colocando na mesa e desafiando com uma visão realista esta guerra longa e sem restrições, o chefe de Estado sérvio, reafirmando que não tem intenção de sacrificar “nem um único homem” neste processo, confirmou a linha de clara neutralidade da Sérvia, país cuja proximidade histórica com a Rússia devido à herança comum eslava e ortodoxa é conhecida.

A Sérvia recusou-se a aplicar sanções a Moscou mas, ao mesmo tempo, enviou ajuda humanitária à Ucrânia, defendeu o princípio da integridade territorial do país invadido e expandiu suas políticas de rearmamento para o Ocidente através da compra de aviões de combate franceses. Também proibiu seus cidadãos de se juntarem a milícias ucranianas e grupos como o russo Wagner. Uma linha de clara neutralidade que torna o apelo do líder de Belgrado ainda mais profundo, interessante e, em certo sentido, alarmante.

Uma atitude que parece muito distante do contexto jovial do G7, em que tais alarmes foram recebidos e analisados ​​como se viessem de outra dimensão ou de um mundo paralelo. Mas nos próximos meses a realidade terá que ser levada em conta, se for realmente tão alarmante como Vucic a descreve.

Repetimos, de acordo com nossa análise: estas cúpulas não geraram quaisquer conquistas, nem produzirão frutos decisivos. O fracasso é admitido, comentado e analisado nos EUA e em outros países.

Lições para nossos pampas: A atuação internacional da Argentina se baseia em uma longa tradição de política externa, que oferece vários exemplos do papel positivo do país nas relações internacionais. Entre outros casos, destacamos a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao então ministro dos Negócios Estrangeiros, Carlos Saavedra Lamas, principal mediador no processo de negociação que culminou no fim da chamada “Guerra do Chaco”. A neutralidade em conflitos onde nossa soberania e interesse nacional não estão em jogo deve ser o rumo a seguir.


Publicado no La Prensa.

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