Por Reis Friede*
Em 2015, ao se completar 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, restou, como sempre, oportuno relembrar as barbáries perpetradas pela aventura doentia e insana de ADOLF HITLER, durante as décadas de 1930 e 1940, o que, aliás, jamais pode, sob qualquer ótica, ser esquecido, independentemente do transcurso temporal cada vez maior entre os dias atuais e àquela emblemática fase histórica da humanidade.
Porém, mais uma vez, ficou claro, em face dos acontecimentos daquele ano, que poucos se recordam das, igualmente, indigitáveis atrocidades cometidas por JOSEF STALIN, fato lamentavelmente constatado pela homenagem que, alguns brasileiros, ousaram rogar a este ditador, responsável pela morte de mais de 20 milhões de seres humanos, agraciando-o com o nome de um logradouro público na cidade do Rio de Janeiro.
Assista ao Vídeo 193 do Canal ARTE DA GUERRA – Análise: Stalin Comandante Militar / Erros & Acertos
O georgiano STALIN, que cultivava o culto da personalidade como arma ideológica, foi o responsável pela fome de caráter genocidário durante o início dos anos 1930, e, especificamente no ano de 1934, na Ucrânia (Holodomor ou “Holocausto Ucraniano”), bem como pela deportação em massa de grupos minoritários para campos de trabalhos forçados na Sibéria ou, alternativamente, em alguma das repúblicas soviéticas asiáticas, embrião dos vários problemas étnicos hoje enfrentados naquela vasta região do globo.
Entretanto, mesmo com todo esse histórico terrível, um movimento esquerdista na cidade do Rio de Janeiro denominado, “As Brigadas Populares”, realizou ao arrepio de uma mínima consideração para com as milhares de vítimas do stalinismo, uma homenagem ao sanguinário líder soviético para lembrar, em 2015, os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial: colaram um adesivo em que se lia “Avenida Marechal JOSEF STALIN” sobre a placa do logradouro da Rua Santa Luzia, tradicional via do centro da cidade próxima das Avenidas CHURCHILL e FRANKLIN ROOSEVELT, estes sim vencedores da Segunda Grande Guerra Mundial, em prol dos ideais da democracia liberal e, portanto, verdadeiros merecedores desta honraria.
Tal homenagem, a que parte da imprensa, à época, rotulou como uma “brincadeira”, apenas demonstra a absoluta (e imperdoável) falta de conhecimento histórico da maior parte do nosso povo (em especial, de nossa juventude), bem como da ausência de uma consciência de responsabilidade maior sobre os destinos da humanidade.
Assista ao Vídeo 194 do Canal ARTE DA GUERRA – Segunda Parte: Stalin Comandante Militar
Isso não quer dizer que se possa, de nenhuma forma, diminuir a sinérgica condenação às barbáries cometidas por ADOLF HITLER, – que exterminou quase sete milhões de seres humanos (entre os quais, números ao redor de seis milhões de judeus, 220.000 ciganos e 15.000 homossexuais) sem qualquer justificativa (se é que é possível forjar qualquer justificativa plausível para se matar seres humanos) –, mas revela, por seu turno, que o mesmo tratamento deve ser conferido a STALIN, que massacrou 20 milhões de pessoas (e não se trata aqui de uma “macabra” competição de quem matou, por simples crueldade, mais seres humanos, mas, sobretudo, de condenar veementemente estes sombrios capítulos da história), conscientizando as atuais e futuras gerações, tornando tais fatos vivos, na memória coletiva, para que jamais possam vir a se repetir.
A história, não obstante conferir várias leituras e diferentes interpretações, não pode, todavia ser falseada quanto aos comprovados fatos ocorridos, sendo certo, neste diapasão analítico completo absurdo que ainda possam existir pessoas, – mormente, jovens estudantes e acadêmicos dos mais elevados graus –, que imaginam continuar a viver nos tempos da Guerra Fria (1947-91), lutando, por exemplo, contra a uma suposta “dominação imperialista” da América Latina pelos Estados Unidos.
Esses indivíduos que, ao que tudo indica, ainda não viraram a página (ou sequer mudaram o calendário do século passado), devem urgentemente se atualizar (estudando, inclusive com o uso da farta documentação da antiga URSS que se tornou pública recentemente) para perceber que o mundo atualmente “tem vários tons de cinza, entre o branco e o preto”. Eles deveriam somar seu âmago combativo na luta que realmente importa no momento: a luta pela defesa (intransigente) dos direitos humanos, que andam tão ameaçados por novos desafios, como o radicalismo religioso (fundamentalismo), seja ele de cunho judaico-cristão ou islâmico, algo que começa seriamente a despontar como o principal problema a ser enfrentado neste século, a exemplo da criação do famigerado “Estado Islâmico”, no contexto que se convencionou denominar de “Novas Guerras”.
*O Desembargador Reis Friede é Presidente do Tribunal Regional Federal da Segunda Região (biênio 2019/21), professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e professor Honoris Causa da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica. É autor do livro Ciência Política e Teoria Geral do Estado. E-mail: reisfriede@hotmail.com
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Excelente análise do autor. Obrigado pelos ótimos textos desse site! Continuem sempre!
Eu é que agradeço por acompanhar, muito obrigado!