As forças armadas chinesas cercaram Taiwan com navios, bombardeiros, helicópteros e caças, e houve foco especial em operações de guerra antissubmarina.
Depois da visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Estados Unidos, a Taiwan no último dia 2 de agosto, o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular da China (PLA, People’s Liberation Army) respondeu com exercícios militares conjuntos em torno da ilha a partir do mesmo dia. A agência de notícias Xinhua anunciou que seriam realizados exercícios com fogo real em seis áreas diferentes circundando a ilha em todas as direções.
A primeira fase dos exercícios conjuntos marítimos e aéreos ocorreu no espaço marítimo e aéreo ao norte, sudoeste e sudeste da ilha de Taiwan, com manobras de bloqueio conjunto, assalto marítimo, ataque terrestre e exercícios de combate aéreo. A segunda fase contou com exercícios de tiro real de artilharia de longo alcance no Estreito de Taiwan, seguidos por ataques com vários tipos de mísseis convencionais em diversas áreas a leste da ilha. Mais de 100 aviões e pelo menos 10 navios de combate cercaram a ilha em missões de bloqueio, reconhecimento e patrulha.
No último dia, bombardeiros e caças-bombardeiros realizaram exercícios de ataque de saturação com munições de precisão, com as aeronaves voando pelo Estreito de Taiwan de norte a sul e de sul a norte simultaneamente em missões de dissuasão ao redor de Taiwan. Embora estivesse previsto que as manobras terminassem no domingo 7 de agosto, na segunda-feira dia 8 a PLAN (People’s Liberation Army Navy, a Marinha chinesa) estendeu os exercícios e praticou guerra antissubmarina conjunta e operações de assalto marítimo.
Recentemente a China voltou a anunciar novos exercícios em resposta à visita de outra delegação americana à Taiwan, mas o foco deste artigo é no aspecto das manobras antissubmarinas. De acordo com uma matéria do Global Times, ligado ao governo chinês, publicada em 8 de agosto, a PLAN cercou Taiwan com navios de guerra e aeronaves de combate.
O jornal afirmou que “exercícios como esses não vão parar e devem se tornar rotina até a reunificação (de Taiwan)”, uma vez que “o continente chinês mostra sua determinação em impulsionar o processo de reunificação após a visita provocativa da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha”. Como é amplamente sabido, na visão de Pequim essa visita violou a soberania e a o princípio de “Uma China”.
O Global Times mencionou um vídeo da China Central Television mostrando o destroier Tipo 052C Changchun lançando helicópteros antissubmarinos Ka-28. As operações antissubmarinas pareciam ter sido o principal objetivo desses exercícios, e o jornal informou que uma aeronave Y-8 lançou várias sonobóias de “amplo alcance” para detecção de submarinos. Não está claro o quão precisas são essas sonobóias, mas de acordo com o jornal, o exercício antissubmarino foi bem-sucedido.
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“A aeronave de guerra antissubmarina Y-8 lançou sonobóias para detecção de amplo alcance, o helicóptero Ka-28 auxiliou na localização precisa e o destroier realizou uma busca completa. Depois de localizar o alvo, o navio realizou um ataque simulado e imediatamente lançou contramedidas de defesa”, relatou o Global Times.
A reportagem não confirmou se submarinos chineses participaram dos exercícios, mas a PLAN opera tanto modelos nucleares como convencionais. Além disso, de acordo com Zhang Junshe, analista da Academia de Pesquisa Naval do PLA citado pela reportagem, o grupo de porta-aviões que participou dos exercícios ao redor de Taiwan contava com pelo menos um submarino nuclear. Segundo a matéria, os exercícios mostraram que o PLA “pode detectar, localizar e atacar submarinos hostis e se defender de contra-ataques”, disse o especialista.
Taiwan opera apenas quatro submarinos de ataque diesel-elétricos, sendo dois da classe Hai Shih, transferidos da Marinha dos EUA em 1973, e dois da classe Chien Lung, fabricados na Holanda na década de 1980. Não obstante essas embarcações sejam objeto de atenção da Marinha chinesa na hipótese de a China iniciar uma operação militar para reunificação da ilha, são embarcações antigas que, em tese, deveriam oferecer uma preocupação menor para a PLAN, muito embora tenham passado por modernizações.
Portanto, a demonstração explícita do foco antissubmarino na extensão dos exercícios sugere que a maior preocupação chinesa seria com as embarcações muito mais capazes da Marinha dos EUA, a exemplo dos submarinos de ataque movidos a energia nuclear classe Virgínia e classe Seawolf.
Embora muitos detalhes relativos às localizações, objetivos e aspectos tecnológicos desses submarinos sejam classificados, são plataformas que contam com tecnologias destinadas a melhorar sua capacidade de navegação silenciosa e minimizar sua detecção. Além das capacidades de vigilância, esses submarinos dispõem de poder de fogo significativo por meio de torpedos guiados, mísseis de cruzeiro e drones armados, além da possibilidade de enviar equipes de operações especiais para ataques direcionados ou missões de reconhecimento.
A China obviamente monitora os submarinos americanos que navegam com frequência na área do Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China – em 2021 um deles, o USS Connecticut, sofreu um acidente ao navegar na região que alguns consideram suspeito. A PLAN tem ciência que, em caso de conflito, essas embarcações podem, ao menos em tese, representar uma vantagem significativa para os EUA. Portanto, o foco em exercícios antissubmarinos em águas próximas ou ao redor de Taiwan, Japão e Mar do Sul da China faz todo o sentido.
Referências
Fact sheet: Taiwan Submarine Capabilities. NTI, 22 de julho de 2013. Disponível em https://www.nti.org/analysis/articles/taiwan-submarine-capabilities/.
OSBORN, Kris. New Chinese Navy Drills Near Taiwan Focus on Submarine Hunting. The National Interest, 14 de agosto de 2022. Disponível em: https://nationalinterest.org/blog/buzz/new-chinese-navy-drills-near-taiwan-focus-submarine-hunting-204185.
XUANZUN, Liu. PLA extends “Taiwan encirclement” exercises with anti-submarine warfare, showcases unrivaled area denial capability; “drills will not stop until reunification”. Global Times, 8 de agosto de 2022. Disponível em: https://www.globaltimes.cn/page/202208/1272446.shtml.