Por Albert Caballé Marimón |
No último mês de abril publiquei aqui um artigo sobre as empresas de “agressores terceirizados”. Nele comentei sobre a desativação, em 2014, do 65º Esquadrão Agressor da USAF, na Base Aérea Nellis, em Nevada. O esquadrão, que operava os F-15 Eagle, foi desativado por questões orçamentárias e acabou substituído por um contrato com a empresa Draken International; de acordo com o comunicado da USAF na época, três ou quatro surtidas da Draken tinham o mesmo custo de uma única surtida dos F-15 operados pelo 65º.
O artigo também mencionava os requerimentos, tanto da USAF como da US Navy, com relação à necessidade de aeronaves de ponta para simular determinadas ameaças mais complexas, e que, apesar das empresas de terceirização não possuírem aeronaves mais avançadas, alguns executivos dessas empresas declaravam que esperavam que upgrades em aviônicos cobrissem pelo menos parte dessas necessidades; além disso, aviões tão avançados não eram necessários para todos os tipos de treinamento.
Pois bem, a USAF emitiu um comunicado informando que está reativando o 65º Esquadrão Agressor e movendo 11 unidades do caça F-35A Lightning II para a Base Aérea Nellis, em Nevada, como parte de uma iniciativa mais ampla de aprimorar o treinamento dos pilotos usando caças de quinta geração.
A reativação é resultado de ações do General Mike Holmes, comandante do Comando de Combate Aéreo (ACC, Air Combat Command). Como responsável pelo ACC, o General Holmes é responsável por organizar, treinar, equipar e manter as forças prontas para o combate; portanto, tem enorme interesse em que seus pilotos tenham o melhor treinamento possível. Seguindo esta linha de pensamento, Holmes recomendou implementar melhorias no treinamento e desenvolvimento de táticas de combate de quinta geração e apoio aéreo aproximado, incluindo caças F-35 como complemento às aeronaves de quarta geração atualmente em uso.
Serão transferidos nove F-35A da Base Aérea de Eglin, na Flórida, que não tinham capacidade de combate, para o novo esquadrão. Segundo a Secretária da USAF, Heather Wilson, isto permitirá reaproveitar aeronaves F-35 de produção mais antiga sem necessariamente atualiza-los para a última versão. A transferência de aeronaves de Eglin para Nellis irá acontecer quando chegarem novas aeronaves para substituição. A previsão é que isso comece a acontecer no início de 2022.
Além disso, dois F-35A da Base Aérea Edwards, na Califórnia, serão transferidos para Nellis e incorporados ao 24º Esquadrão de Apoio Aéreo Tático. O 24º TASS (Tactical Air Support Squadron) opera F-16 Fighting Falcon cuja principal função é o treinamento de apoio aéreo. Portanto a incorporação dos F-35A irá aprimorar o treinamento em suporte aéreo aproximado.
A Base Aérea Nellis já abrigava o 65º quando ele foi desativado; ela é especialmente adequada para atender aos requisitos desse tipo de missão, pois além de já hospedar exercícios de combate aéreo de grande porte, abriga ainda a U.S. Air Force Weapons School e a Weapons Instructor Courses, além de um esquadrão de teste e avaliação e um grupo de integração de apoio aéreo aproximado.
Uma pergunta que pode ser feita, é o que acontece com a Draken, que hoje é contratada para fazer o papel de esquadrão agressor em Nellis? Não encontrei ainda nenhuma informação específica sobre isso, mas aparentemente as atividades podem ser complementares.
Já foi mencionado que aviões tão avançados não são necessários em todos os tipos de treinamento; portanto a USAF pode estar criando uma combinação de agressores de baixa, média e alta capacidade, cobrindo uma ampla gama de necessidades de treinamento. Por exemplo, as situações de baixa e média complexidade continuariam a cargo de empresas contratadas, com custo mais competitivo, e as situações de alta complexidade seriam operadas diretamente pela USAF com os F-35.
A capacidade do F-35 de manipular sua própria assinatura de radar pode ser uma grande vantagem no treinamento, dando aos pilotos uma experiência realista. Além disso, seus sistemas e software são extremamente avançados, e podem ser utilizados para simular as capacidades de aeronaves adversárias. Ele pode receber refletores de radar adaptados para replicar a assinatura de aeronaves inimigas.
Por ser uma aeronave de extrema complexidade, o F-35 será capaz de proporcionar treinamento de altíssimo nível, simulando diversas situações que seriam impossíveis para uma aeronave de quarta geração. É uma aeronave cara e com custo de operação elevado, portanto esse movimento aponta a preocupação da USAF com o treinamento e a capacitação de seus pilotos – e com os desafios que pode vir a enfrentar no futuro.
Leia também:
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*Imagem de capa: Pilotos do 4º Esquadrão de Caça da 388ª Esquadrilha de Caças preparam-se para decolar na Base Aérea de Nellis, Nevada, 31 de janeiro de 2019 (Foto: R. Nial Bradshaw/USAF)
RECOMENDADOS PELO VELHO GENERAL
The USAF Weapons School at Nellis Air Force Base Nevada
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F-35 Lightning II Illustrated (The Illustrated Series of Military Aircraft)
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The F-35 Lightning II: From Concept to Cockpit
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Ótimo artigo!!
Muito obrigado, Givanildo!
Achei interessante a informação dos F35 “antigos” e a falta de capacidade e combate.
O Pragmatismo militar e o “constante” aproveitamento dos recursos físicos e humanos são quase uma regra universal nos dias de hoje.
Obrigado pelo jornalismo de 1ª linha!
E o F-35 vai aos poucos se consolidando. Agradeço pelo comentário!
Os artigos do velho general são excelente ?????.
Muito obrigado, Enoque! Grato por nos acompanhar!
Suor economiza sangue…