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Memorial de Columbine (Hart Van Denburg/CPR News).

Por Valmor Saraiva Racorti e Adriano Enrico Ratti de Andrade*

Memorial de Columbine (Hart Van Denburg/CPR News).

Um estudo das etapas que levam a atos de extrema violência em ataques escolares e uma proposta para o necessário trabalho de prevenção.


Esta análise deseja apresentar, com base em estudos realizados entre 1966 a 2020, nos Estados Unidos, em seis etapas, os passos que levam a atos de extrema violência em ataques escolares que, infelizmente, vêm crescendo no Brasil. Um dos pontos fortes é a prevenção por meio da atenção a reclamações básicas dos alunos que são ou julgam ser vítimas de preconceitos sociais ou passam por problemas de relacionamento amoroso capaz de desencadear o caminho para a violência.

Ainda que haja entre os autores de ataques pessoas com transtornos mentais, estes nem sempre são os protagonistas da ação violenta. Daí a importância de ações preventivas que ajudarão a minorar, mas nem sempre impedir a ação, pois devemos contar com a liberdade humana como fator surpresa. Isso, no entanto, não deve ser um fator de desestímulo em nossas ações preventivas capazes de preservar vidas.

Introdução

Este artigo deseja ser um modelo que visa identificar as etapas que uma pessoa percorre ao se aproximar de um plano de violência direcionada. O termo “violência direcionada”, por sua vez, abrange atos violentos direcionados à fonte percebida da queixa. Não se refere a simples brigas entre alunos no refeitório ou bullying nos corredores. Em vez disso, envolve a internalização da justificação para um ataque planejado, pesquisado e direcionado à fonte da queixa. Em situações extremas, o indivíduo pode até considerar a violência extrema como resposta racional a uma questão primordialmente pessoal.

A violência direcionada à comunidade escolar é um fenômeno alarmante e preocupante, que tem um impacto devastador tanto para as vítimas quanto para a sociedade como um todo. Com efeito, ataques perpetrados dentro do ambiente escolar deixam marcas profundas e sequelas duradouras em todos os envolvidos, desde os estudantes e professores até os pais e comunidades locais. Esses eventos traumáticos não apenas abalam a sensação de segurança e confiança dentro das escolas, mas também geram consequências psicológicas, sociais e emocionais que reverberam muito além do ambiente escolar imediato.

Os ataques nas escolas exigem uma análise detalhada e estratégias eficazes para a prevenção do ato e mitigação das consequências. Nesse contexto, o conceito de “caminho para a violência”, desenvolvido por Calhoun e Weston, em 2003, surge como uma estrutura útil para os profissionais de inteligência protetora, permitindo-lhes entender, identificar e detectar comportamentos associados a um ataque intencional ou direcionado. Esse modelo enfatiza a necessidade de compreender as etapas e atividades que os atacantes percorrem antes de realizar o ataque, possibilitando, assim, a identificação de vulnerabilidades de seus planos e a consequente tomada de medidas preventivas.

Em essência, a avaliação de ameaças não tem o propósito de prender, suspender, expulsar ou tomar medidas legais contra alguém. O verdadeiro objetivo da avaliação de ameaças é interromper o processo pelo qual uma pessoa está avançando no caminho da violência e redirecioná-la para um desfecho diferente por meio de intervenções e apoio positivos. Em determinados casos, um aluno pode ter se envolvido em comportamentos que poderiam justificar uma suspensão, mas a equipe de suporte acredita que esses comportamentos podem evoluir para um evento desencadeador que levaria o aluno à violência.

De acordo com uma análise realizada pelo serviço secreto dos EUA sobre violência escolar direcionada, os agressores envolvidos em 41 ataques contra escolas K-12 [1], de 2008 a 2017, apresentaram uma variedade de fatores motivacionais. Não foi possível identificar um perfil específico do aluno atacante, nem um padrão quanto ao tipo de escola visada. Os atacantes frequentemente manifestavam sintomas psicológicos, comportamentais ou de desenvolvimento, além de demonstrarem interesse em tópicos violentos. Um ponto relevante é que a maioria dos invasores experimentou estressores sociais relativos a seus relacionamentos com colegas e/ou parceiros românticos, bem como enfrentou dificuldades na vida doméstica. Além disso, muitos foram vítimas de bullying, observado por outras pessoas. O estudo enfatizou a importância de se prestar atenção aos comportamentos preocupantes desses indivíduos, que muitas vezes comunicavam suas intenções de realizar ataques antes de agirem.

[1] Designação norte-americana para o intervalo, em anos, abrangido pelo Ensino Primário e o Ensino Secundário na educação dos Estados Unidos.

Por meio do próprio caminho da violência, torna-se possível antecipar as ações dos atacantes, promovendo uma resposta mais rápida e efetiva a fim de proteger a comunidade escolar. Além disso, amplia a compreensão sobre os indicadores e os comportamentos exibidos pelos potenciais autores antes de cometerem um ataque, o que é, sem dúvida, muito salutar para os interventores.


FIGURA 1: As etapas da preparação até a realização de um ataque (Calhoun and Weston, 2003).

O modelo gráfico visto na FIGURA 1 propõe que as pessoas “não apenas atacam” ou realizam atos de violência direcionada de forma impulsiva, mas que os ataques são o resultado de um processo discernível que pode ser dividido em seis etapas distintas, conforme veremos no capítulo seguinte.

Caminho da violência

Queixa: desvendando os gritos que precedem a violência em ataques escolares

De acordo com este modelo, a primeira etapa do caminho que leva a um ataque começa com uma queixa. De que tipo? Algumas são de natureza pessoal, como bullying na escola ou rejeição romântica. Outras podem ser de natureza mais geral, como a narrativa da supremacia branca, ou seja, de que os brancos estão sendo substituídos por imigrantes, ou, então, a narrativa jihadista de que o Islã está sendo atacado por “judeus e cruzados”, como ocorre em parte dos ataques nos Estados Unidos.

Em muitos casos, os atacantes adotam narrativas gerais, como ideologias extremistas, tornando-as pessoais e intensificando, assim, suas queixas, que podem ter origem em problemas pessoais que se agravam e acabam se fundindo com narrativas fantasiosas mais amplas.

As queixas podem ser exibidas de vários modos: por fala hostil, sarcástica ou amarga dirigida aos supostos inimigos abrangidos pela pessoa, conhecidos como grupo externo (embora frequentemente haja vários erros), piadas, esboços e desenhos inapropriados, escritos e outros meios de expressão.

Os tipos de livros lidos, sites visitados, canais de mídia social e feeds em que participam também podem refletir essa reclamação. Olhares duros e outras expressões corporais não verbais e comportamentos agressivos dirigidos a membros do(s) grupo(s) externo(s) também podem indicar uma queixa. A pessoa que está reclamando, além disso, pode tentar recrutar outras pessoas que considera membros de seu “grupo interno” para fazê-las abraçar a sua ideologia. Essas tentativas de recrutamento podem ser abertas ou sutis, dependendo do indivíduo e da narrativa fantasiosa em foco.

Em casos envolvendo sujeitos instáveis as queixas podem ser aparentemente irracionais ou delirantes. Por exemplo, uma crença de que outra pessoa ou organização está controlando a mente do(a) ofendido(a) ou que a ele(a) é o “verdadeiro parceiro ou cônjuge” de uma celebridade.

Um exemplo claro de ataque em escola, que teve indícios de reclamação anterior, ocorreu na cidade de Suzano-SP em março de 2019. Nesse caso, dois ex-alunos, um jovem de 17 e outro de 25 anos, planejaram e executaram um ataque violento em uma escola pública.


FIGURA 2: Homenagem às vítimas do massacre da escola de Suzano (Brasil de Fato).

Os atacantes, no caso, compartilhavam uma narrativa de ódio, e clamores de, um dia, realizar um ataque com o objetivo de causar medo e terror. Segundo informações da investigação, os dois indivíduos eram admiradores de atentados em massa ocorridos em outros países e manifestavam interesse em realizar algo semelhante. Antes do dia do ataque, os agressores deram sinais de que algo grave estava sendo planejado, como postagens com teor violento e ameaçador nas redes sociais e registros de discussões sobre seus planos com outros usuários online.

No dia do ataque, eles adentraram à escola armados com revólveres, machados e artefatos explosivos improvisados, causando a mortes de estudantes e funcionários da escola, além de lesões em outras pessoas. Após a ação violenta, os agressores tiraram suas próprias vidas no mesmo local do crime quando da chegada dos policiais.

Esse evento trágico é um exemplo claro de como reclamações de teor violento podem evoluir para atos reais de violência direcionada. A análise do caminho para essa violência, neste caso, mostra como a mera reclamação inicial pode levar a uma progressão de ideias e comportamentos cada vez mais violentos, culminando em um ataque efetivo à escola.

Cogitação ou Ideação Violenta: a construção obscura dos atos de violência

A segunda etapa é a ideação violenta, na qual a pessoa começa a nutrir pensamentos de ferir ou matar a pessoa contra a qual ela tem uma queixa, ou seja, membros do(s) grupo(s) externo(s). Essa etapa representa um momento crítico, pois é quando as reclamações de violência podem evoluir para um planejamento mais concreto, para uma ação real. Com o passar do tempo, as queixas podem evoluir para fantasias violentas, como “gostaria de machucar as pessoas que me rejeitaram” ou “não mereço ser tratado assim e eles pagarão por isso”.

Por exemplo, um indivíduo que adota ideologias extremistas pode desenvolver fantasias violentas direcionadas a grupos étnicos. Inicialmente suas ideias podem ser apenas baseadas em sentimentos de inferioridade ou medo da “invasão cultural”. Com o tempo, essas fantasias podem se tornar mais extremas, envolvendo pensamentos de violência e vingança contra membros desses grupos étnicos.


FIGURA 3: Monumento em homenagem às vítimas do massacre do Realengo (Diário do Rio).

Um exemplo de ideação violenta que culminou em um ataque em escola, no Brasil, ocorreu no Rio de Janeiro-RJ em abril de 2011. Nesse incidente trágico, um ex-aluno da escola, de 23 anos, invadiu o colégio armado com dois revólveres e uma pistola. Ele atirou contra alunos e funcionários, deixando 12 estudantes mortos e vários outros feridos.

O atacante, que era ex-aluno da escola, demonstrava sinais de ideação violenta e apresentava histórico de comportamento problemático e isolamento social. Ele expressava ideias perturbadoras e fantasias violentas, inclusive através de um diário em que deixou registrado o desejo de realizar um massacre na referida escola.

Antes do ataque, o autor chegou a entrar em contato com uma emissora de televisão local, explicando suas motivações e declarando seu desejo de se vingar de pessoas que ele acreditava terem sido responsáveis por seu isolamento e sofrimento durante os anos em que frequentou o colégio.

Esse ataque chocou a nação e trouxe à tona questões cruciais sobre prevenção da violência nas escolas. O caso destacou a importância de identificar precocemente os sinais de alerta e a necessidade de se estar atento à reação comportamental para lidar com indivíduos que apresentem ideação violenta ou que possam estar passando por problemas de saúde mental.

Planejamento: criação de planos concretos em ataques escolares

A terceira etapa no caminho da violência é o planejamento, um estágio crítico em que os indivíduos que desenvolvem ideação violenta começam a transformar suas fantasias em planos concretos para a realização de um ataque. Durante essa etapa, a intensidade das emoções negativas e a sensação de isolamento podem levar tais indivíduos a buscar uma resposta violenta como forma de aliviar suas frustrações ou expressar sua raiva contra a pessoa ou grupo contra o qual eles têm queixas.

Este estágio do processo envolve a reflexão sobre quem, quando e como cometer um ato violento em resposta a uma queixa. Os agressores pesquisam alvos e táticas específicas, resultando em um planejamento mais concreto e detalhado do ataque.

Um exemplo trágico de planejamento em um ataque em escola, no Brasil, ocorreu em Janaúba-MG, em outubro de 2017. Nessa ocorrência devastadora, o vigilante de uma creche, de 50 anos, cometeu um ato de extrema violência. O atacante nutria ódio e ressentimento em relação à instituição em que trabalhava, assim como aos colegas e às crianças da creche. Alimentado por fantasias de vingança, ele passou semanas planejando um ataque incendiário.

O plano do ataque envolvia atear fogo no local, causando um incêndio que vitimasse várias pessoas. Ele adquiriu álcool e jogou-o em seu próprio corpo e nos corpos das crianças presentes na creche, antes de incendiar todo o ambiente. O ataque resultou em várias mortes, incluindo a do próprio agressor, que foi impedido por colegas de trabalho e outras pessoas de continuar com sua ação. A tragédia deixou uma profunda marca na comunidade local e no país, chamando a atenção para a importância da prevenção a ataques violentos em ambientes educacionais.

Esse triste exemplo destaca, uma vez mais, a necessidade de identificar sinais de alerta e comportamentos preocupantes, mesmo em locais onde não se espera que ocorram ataques violentos. A prevenção da violência requer ações proativas em todos os níveis da sociedade, incluindo a conscientização sobre saúde mental, a promoção de ambientes de apoio e o fortalecimento das redes de ajuda social para indivíduos em situações de vulnerabilidade emocional.


FIGURA 4: Destruição causada pelo massacre de Janaúba (G1).

Preparação: reunindo os elementos para o ataque

A quarta etapa no caminho para a violência é a fase de Preparação. Nesse estágio, o atacante começa a reunir os recursos necessários para executar o planejamento do ataque. Essa fase é crucial, pois representa o momento em que a ideia de violência se materializa em ações concretas, aumentando significativamente o risco de um ataque real.

Um exemplo prático de um possível ataque a uma escola, levando em conta as ideias apresentadas, pode ser ilustrado da seguinte forma: Na fase de preparação, o atacante inicia meticulosamente seus planos. Ele começa a pesquisar e coletar informações sobre várias escolas de sua região, buscando identificar possíveis alvos onde possa encontrar jovens do sexo oposto, alimentando sua ideia de vingança contra a sociedade e potenciais objetos de desejo. Procura por pontos fracos na segurança dessas escolas, tais como falhas no sistema de controle de acesso, rotinas previsíveis de alunos e funcionários ou áreas mal vigiadas que lhe permitam maior mobilidade durante o ataque.

Simultaneamente, o autor começa a adquirir os recursos necessários para executar o ataque. Busca obter armas e explosivos clandestinamente, usando canais ilegais ou mercado negro para não levantar suspeitas. Além disso, pode adquirir conhecimento sobre a fabricação de bombas caseiras e outras técnicas de ataque através da internet ou comunidades extremistas online, onde compartilha suas ideias e encontra apoio para seus planos.

Nesta fase de preparação, o atacante também pode iniciar uma vigilância cuidadosa das escolas-alvo, observando os movimentos de alunos e funcionários, estudando rotas de fuga e identificando possíveis pontos de ataque. Ele pode fazer anotações detalhadas em um diário ou caderno, onde registra seus pensamentos, planos e possíveis estratégias, alimentando seu sentimento de poder e de controle sobre a situação.

Essa fase de preparação é crítica, pois é o momento em que o autor está reunindo os elementos necessários para efetivar o seu ataque. É também uma oportunidade crucial para a detecção precoce e intervenção por parte das autoridades e equipes de segurança escolar. Se sinais de atividades suspeitas forem identificados, como aquisição de armas ilegais, comportamento obsessivo em relação às escolas ou acesso a conteúdos extremistas online, ações podem ser tomadas para interromper o plano antes que o ataque se concretize.

Um exemplo da fase de preparação do caminho para a violência no ataque ocorrido em Realengo, reforça a importância de estar atento aos sinais de alerta e à fase de preparação do caminho para a violência. Nesse caso, o autor, um ex-aluno da escola, começou a se preparar para o ataque de forma cuidadosa e meticulosa. Ele adquiriu armas de fogo, incluindo dois revólveres e uma pistola, e praticou o manuseio para obter precisão por meio do uso dessas armas. Além disso, também buscou informações sobre o funcionamento e a fabricação de explosivos caseiros.

Antes do dia do ataque, o autor planejou cuidadosamente a invasão da escola e o momento exato em que realizaria sua ação. Ele estudou a rotina da instituição, identificou os locais onde teria maior acesso às vítimas e buscou identificar pontos fracos na segurança do colégio para facilitar sua entrada e minimizar a possibilidade de ser detido antes de concretizá-lo. Além disso, registrou suas motivações e ideias violentas em um diário, deixando claro que o seu objetivo era causar o maior dano possível.

Ele expressava seu ódio e desejo de vingança contra pessoas que ele acreditava terem sido responsáveis por seu sofrimento e isolamento durante seus anos de estudo naquela escola.

Esse exemplo reforça a importância de estarmos atentos aos sinais de alerta e à fase de preparação do caminho para a violência. Identificar comportamentos suspeitos, buscar ajuda de profissionais capacitados e estabelecer canais eficazes de denúncia, são ações cruciais para prevenir atos de violência em escolas e outras comunidades. A colaboração entre educadores, profissionais de saúde mental, agentes de segurança pública e a própria sociedade em geral é fundamental para detectar e intervir precocemente em situações de risco, garantindo assim a segurança e o bem-estar de todos.

Falhas de segurança: análise, observação e monitoramento dos possíveis alvos

A quinta etapa no caminho para a violência é a fase de Análise e Observação. Nessa etapa, o atacante continua a monitorar de perto possíveis alvos e a reunir informações sobre seus comportamentos, rotinas e vulnerabilidades. Essa fase é crucial, pois permite ao agressor identificar o momento mais propício para executar o ataque e maximizar o impacto de suas ações.

Nesse estágio, o indivíduo busca ativamente por fragilidades que facilitem a realização do ataque. Isso pode envolver identificar locais para a ação, planejar a entrada e a saída após a conclusão do ato violento, e, até mesmo, conduzir uma vigilância final. Além disso, o(s) invasor(es) pode(m) aproveitar essa fase para testar os planos elaborados.

Consideremos um exemplo fictício de um possível ataque em uma escola: Na fase de Análise e Observação, um jovem estudante, que vinha planejando um ataque a sua escola, passa a observar de perto seus colegas e professores. Ele presta atenção aos grupos sociais existentes na escola, identificando aqueles que considerava “inimigos” ou responsáveis por seu sofrimento e isolamento.

O atacante também analisa as rotinas diárias dos possíveis alvos. Mapeia os horários de chegada e saída dos estudantes, identifica os locais onde costumam se reunir durante os intervalos e estuda suas atividades extracurriculares. Além disso, ele observa os pontos fracos na segurança da escola, como áreas pouco vigiadas ou falhas no sistema de controle de acesso.

Durante a fase de Análise e Observação, o atacante também prossegue acessando fóruns extremistas online e comunidades virtuais, onde encontra apoio e validação para suas ideias violentas. Ele compartilha informações com outros membros dessas comunidades e busca conselhos sobre como aprimorar seus planos.

Um exemplo real de como a fase de Análise e Observação pode ser evidente em um ataque à uma escola ocorreu em Parkland, na Flórida (EUA), em fevereiro de 2018. O atirador, um ex-aluno da própria unidade escolar, passou meses monitorando e analisando a escola que pretendia atacar.

Ele observou a rotina dos alunos e professores, estudou o layout do prédio e identificou pontos de acesso estratégicos. Além disso, compartilhou suas ideias e intenções violentas em posts em redes sociais e em fóruns online extremistas. Durante a fase de Análise e Observação, o atirador também adquiriu armas de fogo legalmente, o que não levantou suspeitas significativas na época.

Ele continuou a manter um perfil discreto e planejou o ataque meticulosamente, escolhendo o dia em que a escola estaria, ao mesmo tempo, mais movimentada e vulnerável.


FIGURA 5: Homenagem às vítimas do ataque de Parkland (G1).

Essa fase de monitoramento e análise permitiu ao atirador identificar os momentos ideais para executar suas ações, resultando em um ataque devastador que causou a morte de 17 pessoas e ferimentos em muitas outras.

Ataque ou Implementação

Na etapa final da teoria do caminho da violência, também conhecida como Fase de Implementação, o indivíduo avança para a execução do plano e realiza o ataque violento. Nesse ponto crucial, todas as etapas anteriores do caminho se amalgamam, culminando em uma manifestação violenta. A fase de Implementação é o momento em que as ideias, planejamentos e preparações convergem para uma ação violenta concreta.

É nessa fase que o indivíduo coloca em prática o que concebeu durante as etapas anteriores. As queixas, ressentimentos ou sentimentos de desespero podem ganhar maior intensidade, impulsionando a tomada de medidas violentas como forma de resposta.

Para designar de forma correta o fato, adotamos o termo ataque ativo que se trata de um incidente crítico dinâmico em que um ou mais indivíduos, ativamente motivados a matar indiscriminadamente o maior número possível de pessoas em determinado local, podendo fazer uso de quaisquer meios à sua disposição. (RACORTI; ANDRADE, 2023).

O conceito acima compreende os principais núcleos de sentido do modus operandi dos atacantes:

  • Motivação ativa: refere-se à atitude volitiva do atacante de buscar a produção de vítimas ativamente no local escolhido pelo ataque, não se limitando apenas às pessoas com as quais se depara;
  • Semi-aleatoriedade: o atacante não possui queixas individuais contra as pessoas que ataca, elas são selecionadas de forma coletiva, pois se encaixam no grupo que ele selecionou como alvo por entender serem os responsáveis por suas queixas;
  • Alto impacto: o atacante pretende vitimar o maior número possível de pessoas, e não encerrará o ataque por vontade própria até que atinja seu objetivo ou seja impedido.

Considerando-se a doutrina de gestão de incidentes, na etapa de ataque as medidas de prevenção não têm sentido, devendo ser adotadas medidas de mitigação de impacto e resposta rápida.

Como medidas de redução de impacto podemos citar o protocolo fugir, esconder e lutar recomendado pelo Departamento de Segurança Doméstica dos EUA:

  • Fugir: Se houver um caminho de fuga acessível, tente fugir do local. A melhor forma de se proteger é não estar no local do ataque;
  • Esconder: Não sendo possível fugir, ache um lugar para se esconder onde seja menos provável que o atirador ativo o encontre. Para impedir que um atirador ativo entre no seu esconderijo, tranque a porta e a bloqueie com móveis pesados;
  • Lutar: Como último recurso, e somente diante do risco de morte iminente, tente atrapalhar ou neutralizar o atirador ativo atacando-o com a maior agressividade possível ou jogando objetos e improvisando armas (DEPARTMENT OF HOMELAND SECURITY, 2008).

Os ataques tendem a possuir extrema compressão de tempo, conforme estudo de Blair e Schweit (2014) que analisou os incidentes críticos de ataque ativo havidos nos EUA de 2000 a 2013 e, após determinar os casos (63) em que a sua duração pôde ser apurada, verificou que 44 (69,8%) se encerraram em cinco minutos ou menos, sendo que destes, 23 terminaram em dois minutos ou menos.

Não obstante a sua duração, os ataques possuem alta letalidade, por isso a ordem de prioridade dos policiais primeiros interventores, quando da realização das medidas de resposta ao evento, é:

  • Neutralizar de forma urgente a ação homicida;
  • Promover socorro às vítimas.

Ensina Andrade (2023) que neutralizar de forma urgente a ação homicida, consiste no ato do policial primeiro interventor localizar o ponto exato do causador do evento e cessar a sua ação o mais rápido possível. Isto pode incluir seu confinamento em um local onde sua capacidade ofensiva seja reduzida (por não ter acesso a vítimas) ou a sua neutralização com o uso da força (letal ou não).

Em seguida, tendo sido neutralizada a ação homicida e verificando-se que os policiais não foram feridos, pode-se então passar para a fase de socorro às vítimas. Tais prioridades não podem ser invertidas, pois não é possível socorrer vítimas com uma velocidade maior que o atacante as produz.

Abordagem preventiva baseada na análise comportamental e avaliação de riscos

A teoria do caminho da violência fornece insights cruciais para entender os fatores que podem levar a atos de extrema violência, como ataques em escolas e outras tragédias. Embora muitos desses ataques estejam associados a grupos extremistas ou indivíduos com ideologias violentas, é importante destacar que alguns casos também envolvem problemas de doença mental.

Estudo de Shahid e Duzor (2021), que abrangeu o período entre 1966 e fevereiro de 2020, analisou casos de ataques em massa nos Estados Unidos envolvendo ataques de homicídio múltiplo, nos quais quatro ou mais vítimas foram assassinadas. Dois terços dos atiradores em massa tinham um histórico de problemas de doença mental, com taxas mais altas do que 50% da população em geral, o que atende aos critérios para uma doença mental em algum momento de suas vidas. O relatório também constatou que 25% dos atiradores tinham um transtorno de humor, como depressão ou transtorno bipolar, enquanto 27% apresentavam distúrbios de pensamento, como esquizofrenia e psicose, sendo este último número significativamente maior que o da população em geral. Além disso, 23% dos atiradores em massa estavam tomando medicação psiquiátrica.

É importante notar, no entanto, que Peterson e Densley (2022) alertam para a necessidade de cautela ao tirar conclusões sobre a relação direta entre doença mental e comportamento violento, enfatizando que outras circunstâncias e fatores podem estar contribuindo para tais resultados.

No Brasil, não existem estudos específicos referentes aos ataques ativos com a mesma abrangência e detalhamento do estudo realizado por Peterson e Densley (2022), que analisou casos de ataques de homicídio múltiplo entre 1966 e fevereiro de 2020. A falta de dados e pesquisas aprofundadas sobre esse tema torna importante a busca por informações e análises de outros países para entender os fatores associados a tais eventos e elaborar estratégias de prevenção e intervenção eficazes também em âmbito nacional. É necessário incentivar o desenvolvimento de estudos e pesquisas no Brasil para melhor compreender e abordar essa questão, buscando soluções adaptadas à realidade do país.


LIVRO RECOMENDADO:

Sistema de Gerenciamento de Incidentes e Crises

• Wanderley Mascarenhas de Souza, Márcio Santiago Higashi Couto, Valmor Saraiva Racorti e Paulo Augusto Aguilar (Autores)
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A já mencionada fase de reclamação pode ser especialmente relevante nesses casos. Indivíduos que enfrentam problemas de doença mental talvez abriguem fantasias perturbadoras e pensamentos violentos, muitas vezes impulsionados por seus próprios sentimentos de desespero, raiva ou isolamento. Essas reclamações podem evoluir para ideação violenta e, em alguns casos, levar a um ataque impulsivo e não planejado.

É importante destacar ainda que a maioria das pessoas com problemas de doença mental não representa perigo para os outros. No entanto, a falta de acesso a tratamentos adequados, o estigma social associado à doença mental e a falta de compreensão sobre a importância do apoio e cuidado podem contribuir para situações extremas como essa.

Abordagem multidisciplinar

Uma abordagem multidisciplinar é fundamental para prevenir atos de violência relacionados a problemas de doença mental. Profissionais de saúde mental, educadores, autoridades e membros da comunidade devem unir esforços para identificar e apoiar indivíduos em risco, oferecendo tratamento adequado e promovendo um ambiente de compreensão e aceitação.

Essa equipe receberá informações a respeito de comportamentos que podem representar ameaças a comunidade escolar e desenvolverá estratégias de atuação para mitigar esses riscos. Podem ser formadas dentro de cada escola, ou envolvendo membros de várias escolas com uma área de abrangência maior. A equipe deve se reunir não apenas quando chegar ao seu conhecimento uma situação preocupante, mas também deve se reunir regularmente.

Estudos demonstram que podem existir barreiras para a realização dessa tarefa, tais como acreditar que determinada situação é de responsabilidade somente de outro órgão, ou deixar de compartilhar informações relevantes dentro da rede de atenção. (FBI, 2019, p. 9).

Todas as pessoas que frequentam o ambiente podem e devem auxiliar a rede de atenção, convertendo-se em peças-chave para a prevenção de ataques ativos. Essas pessoas podem consistir em alunos, amigos, familiares, funcionários, prestadores de serviço, ou simplesmente um pedestre que visualiza algo.

Estudos demonstram que essas pessoas são fundamentais na etapa de prevenção, pois em 81% dos casos de ataques escolares ocorridos nos EUA, o atacante alertou previamente ao menos uma pessoa sobre o ataque, enquanto em 59% dos casos ao menos duas outras pessoas tiveram alguma informação sobre o evento antes de sua realização. (VOSSEKUIL ET AL, 2004, p. 25).

O maior problema reside no fato de que a pessoa que toma ciência de uma informação relevante pode não fazer ideia de sua importância, muitas vezes por não ter presenciado os citados comportamentos preocupantes do atacante em potencial.

Canais de denúncia de comportamentos inadequados

A comunicação das informações relevantes à equipe multidisciplinar é parte essencial da prevenção, e por isso devem ser estabelecidos canais de comunicação e denúncias de fácil utilização, e que permitam que a informação chegue até as pessoas com responsabilidade e autoridade para atuar.

Para que esse mecanismo de informação efetivamente funcione, as escolas devem promover um ambiente de responsabilidade compartilhada através das seguintes ações (FBI, 2019, p. 14):

  • Implantação de um programa de prevenção à violência;
  • Estabelecimento de canais de denúncia fáceis de utilizar;
  • Criação de políticas internas que encorajem a denúncia de comportamentos preocupantes;
  • Providenciar instrução aos funcionários e professores.

Todas as pessoas da comunidade escolar devem ter acesso aos canais de comunicação, com a certeza de que a informação chegará àqueles com autoridade para atuar e os dados serão tratados de forma profissional e discreta.

Contudo, para que as pessoas possam reportar comportamentos inadequados, devem ser orientadas sobre quais são os sinais de alerta externo de tais comportamentos. Sua observação pode representar oportunidades para atuação precoce e tais comportamentos podem consistir em, mas não limitados, a:

  • Comportamento impulsivo ou colérico;
  • Ausência de asseio pessoal;
  • Dificuldade de relacionamento interpessoal;
  • Verbalização de intenções violentas;
  • Saúde mental comprometida;
  • Ameaças e confrontos;
  • Abuso de substâncias;
  • Interesse repentino por violência; e
  • Ideação suicida. (SILVER; SIMMONS; CRAUN, 2018, p. 18-19).

Tais comportamentos dizem respeito às mudanças nos padrões de comportamento do indivíduo, que pode ser uma evidência de risco crescente ou acelerado. Eles não podem prever a violência, mas são úteis para auxiliar na avaliação de riscos, fornecendo subsídios sobre em que fase do caminho da violência o indivíduo possa estar.

Análise de risco

A análise de risco é uma atividade complexa. Uma grande quantidade de tempo e estudo é necessária para se desenvolver proficiência. Ela se inicia quando uma ameaça é relatada, devendo ser avaliada levando-se em consideração seu conteúdo, contexto e circunstâncias. Estudos demonstram que na maioria das situações não há qualquer correlação entre uma ameaça direta e um subsequente ato de violência (MELOY; SHERIDAN; HOFFMAN, 2008).

Uma hipótese para explicar tal fenômeno pode se dar pelo fato de que, para uma pessoa que efetivamente pretende cometer um ataque, realizar um ameaça direta pode ser contraproducente, pois isso desencadeia toda uma sequência de eventos como investigação, medidas de reforço de segurança e vigilância, etc. Algumas questões podem auxiliar no processo de análise de risco que uma ameaça oferece:

  • Há relação entre quem realizou a ameaça e quem a recebeu?
  • O método de envio da ameaça sugere proximidade entre o ameaçador e o ameaçado?
  • Quantas ameaças foram feitas?
  • Há um prazo para o acontecimento dos fatos narrados na ameaça?
  • Há significado nas datas ou locais informados na ameaça?
  • O plano detalhado na ameaça é factível, dado o que se sabe do ameaçador?
  • Quais os detalhes conhecidos a respeito da animosidade contra o alvo?

Contudo, deve ser feito o alerta de que não há um perfil demográfico de agressor; qualquer indivíduo tem potencial para se envolver em violência. As equipes de gerenciamento de ameaças devem trabalhar adotando uma abordagem estruturada e baseada em evidências como:

  • O que compõe a pessoa como um todo, incluindo seus comportamentos e características;
  • Qualquer direção de interesse em pessoas, lugares ou questões demonstradas pela pessoa em questão;
  • O contexto da situação, incluindo uma reclamação, fatores ambientais e contextuais, ou perdas recentes ou antecipadas;
  • O ambiente, incluindo a cultura organizacional e o ambiente físico.

A totalidade das circunstâncias versus pontos singulares de avaliação conduzirá o nível final de preocupação mantida por uma equipe de gerenciamento de ameaças. Julgamento humano aplicado a cada fator caso a caso é o único método endossado de avaliação de ameaças de violência.


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Mamba Negra: Combate ao Novo Cangaço

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Ter senso de urgência e saber quando aplicá-lo são habilidades importantes para os gerentes de ameaças da equipe multidisciplinar. A distinção deve ser feita entre os casos que requerem resposta emergencial e aqueles que não. Isso envolverá a capacidade de determinar se um caso em particular justifica um baixo nível de preocupação para risco de violência direcionada, um alto nível de preocupação ou algo intermediário.

Os estressores ou fatores de risco desempenham papel significativo, pois podem amplificar as motivações originais do agressor ou aumentar sua disposição de recorrer à violência como uma solução para essas questões. São realidades existentes sobre a pessoa em questão, e já estão presentes no momento da avaliação de risco, contribuindo para que o atacante em potencial acredite que o uso de violência é justificado e aceitável.

Esses estressores ou fatores de risco podem variar amplamente, e cada caso pode ser único em relação aos elementos que levam à concretização da violência. Podem envolver experiências traumáticas passadas, situações de conflito interpessoal, sensação de injustiça, rejeição social, entre outros elementos que contribuem para a deterioração emocional e psicológica do indivíduo, senão vejamos:

  • Histórico de violência: o melhor indicador de violência futura geralmente é o envolvimento em violência passada;
  • Abuso de substâncias: pode causar ilusões de megalomania, paranoia, irritabilidade e agressividade;
  • Distúrbios ou desordem de personalidade: paranoia, narcisismo, psicopatia, tendências antissociais significativas, ou manifestações de raiva significativas e contínuas;
  • Doença mental grave: depressão profunda, transtorno bipolar, esquizofrenia ou outros transtornos psicóticos;
  • Histórico suicida: os pensamentos suicidas refletem a esperança perdida e podem ser acompanhados pela aceitação das consequências por se comportar de forma violenta;
  • Armas: os ataques com armas de fogo são mais letais, porém as armas brancas são mais acessíveis;
  • Histórico de perseguição, assédio, ameaça ou comportamento ameaçador: pode indicar baixa empatia, desrespeito geral por regras e desafio à autoridade;
  • Dinâmica familiar negativa: uma família insalubre pode aumentar o risco, pois caso haja endosso de violência no âmbito doméstico, a forma como a pessoa em questão enxerga a violência pode ser afetada;
  • Isolamento: viver em isolamento social priva a pessoa de suporte emocional para enfrentar as dificuldades da vida;
  • Instabilidade: instabilidade financeira, profissional, familiar ou social pode interferir com a habilidade da pessoa se sentir emocionalmente segura.

No entanto, é importante destacar que nem todos os que enfrentam estressores ou adversidades recorrem à violência como resposta. A violência extrema é um comportamento excepcional e, na maioria dos casos, resultado de uma complexa interação de fatores individuais e sociais. Os atacantes, contudo, constituem uma parcela da população que falharam em lidar de forma adequada e razoável com estressores em suas vidas.

Nem todos os que experimentam estresse ou têm problemas de saúde mental se tornam violentos, assim como nem todos os atos violentos podem ser previstos com precisão matemática. Seu elemento surpresa é a imprevisível liberdade humana.

Conclusão

A teoria do caminho da violência mostra-se uma ferramenta valiosa para compreender os complexos fatores que levam a atos violentos, como os trágicos ataques em escolas e outras instituições. As etapas do caminho da violência, desde a reclamação até a ideação violenta, passando pelo planejamento, preparação, análise e observação e, finalmente, o ataque em si, oferecem uma estrutura para identificar potenciais agressores e tomar medidas preventivas antes que a violência aconteça.

É crucial reconhecer que, embora muitos ataques estejam associados a grupos extremistas ou ideologias violentas, problemas de saúde mental também podem desempenhar um papel significativo no desencadeamento dessas tragédias. Portanto, uma abordagem multidisciplinar é fundamental para abordar essa complexa questão. Recapitulemos, pois, tudo o que foi apresentado neste artigo.

A primeira etapa, a Reclamação, muitas vezes envolve sentimentos de desespero, raiva ou isolamento. Nesse estágio, a atenção da comunidade é de extrema importância. Ao criar um ambiente acolhedor e solidário, podemos ajudar a identificar indivíduos em risco e oferecer suporte psicológico adequado, buscando evitar que as fantasias evoluam para ideação violenta.

A segunda etapa, a Ideação Violenta, requer a participação ativa de profissionais de saúde mental. A detecção precoce de ideações violentas e o acesso a tratamento adequado podem ser essenciais para prevenir que essas ideias se transformem em planos concretos de ataque.

A terceira etapa, o Planejamento, exige que a comunidade e as autoridades de segurança trabalhem juntas. O monitoramento de comportamentos suspeitos, a identificação de sinais de planejamento e a intervenção oportuna são vitais para evitar que os agressores obtenham os recursos necessários para executar seus planos.

A quarta etapa, a Preparação, demanda uma análise cuidadosa dos ambientes escolares e comunitários. A colaboração entre educadores, profissionais de saúde mental e a comunidade em geral é essencial para garantir a segurança de todos os envolvidos.

A fase de Análise e Observação requer uma avaliação constante dos sinais de alerta e comportamentos preocupantes. Uma rede de apoio sólida, que inclua cuidados de saúde mental e canais efetivos de denúncia, é crucial para detectar ameaças iminentes e intervir antes que a violência ocorra.

Ao abordar a teoria do caminho da violência com uma perspectiva multidisciplinar, podemos criar uma rede de segurança mais forte para prevenir a violência em nossa sociedade. É essencial que educadores, profissionais de saúde mental, agentes de segurança pública, autoridades e a comunidade estejam unidos nos esforços para proteger o bem-estar e a segurança de todos.

Devemos superar estigmas e promover uma cultura de empatia e compreensão em relação aos problemas de saúde mental. Ao fazer isso, podemos ajudar a identificar indivíduos em risco e oferecer o suporte necessário para evitar que se sintam impelidos a cometer atos violentos.

É fundamental observar que alguns indivíduos podem passar apenas pelos estágios iniciais e experimentar variações em sua trajetória ao longo do tempo, sem nunca chegar a realizar um ataque.

Compartilhar informações sobre o “caminho para a violência” ajudam a identificar, perceber ou aprender sobre comportamentos consistentes com algumas dessas etapas.

Em última análise, a prevenção da violência é uma tarefa coletiva que requer esforços contínuos e coordenados. Ao adotar uma abordagem multidisciplinar, com base na teoria do caminho da violência e na atenção da comunidade e autoridades, podemos trabalhar juntos para criar um ambiente mais seguro e proteger a todos da devastação causada pela violência em nossas escolas e sociedade.

A prevenção é a chave para construir um futuro mais seguro e pacífico para todos.

Referências

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*Valmor Saraiva Racorti é coronel da PMESP e instrutor pela Universidade do Texas/Programa ALERRT. Comandou o Batalhão de Operações Especiais, que compreende o GATE e o COE. Realizou o Curso Preparatório de Formação de Oficiais em 1990-1991. Graduado em Direito pela UNISUL, é bacharel, mestre e doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança “Cel PM Nelson Freire Terra”. Foi comandante de Pelotão ROTA no 1º BPChq de 1994 a 2006, Chefe Operações do COPOM em 2006, Oficial de Segurança e Ajudante de Ordens do Governador do Estado de 2007 a 2014, Comandante de Companhia ROTA no 1º BPChq de 2014 a 2016 e Comandante do GATE de 2016 a 2019. Já atuou em mais de 500 incidentes críticos.

*Adriano Enrico Ratti de Andrade é capitão da PMESP, instrutor pela Universidade do Texas/Programa ALERRT e instrutor de Tiro Defensivo na Preservação da Vida “Método Giraldi” desde 2006. É bacharel em Direito pela UNIBAN e especialista em Direito Público pela UNAR, bacharel e mestrando em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Possui formação em Negociação de Crises com Reféns pela PMESP, Segurança Multidimensional em Fronteiras pela USP e Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao Crime Organizado pela UFSC. Foi comandante de força patrulha e força tática nos batalhões em que serviu de 2004 a 2016 e chefe de seção de investigação na Corregedoria de 2016 a 2018. Desde 2018 desempenha as funções de comandante de companhia e coordenador operacional interino no 44º Batalhão de Polícia Militar do Interior.


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