A Elevação do Rio Grande e a importância do mar para o futuro do Brasil

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A fragata Independência da Marinha do Brasil e, ao longe, o RV Maria S. Merian, um dos mais modernos navios de pesquisa da Alemanha (Marinha do Brasil).

A fragata Independência da Marinha do Brasil e, ao longe, o RV Maria S. Merian, um dos mais modernos navios de pesquisa da Alemanha (Marinha do Brasil).

A área onde se encontrava o navio de pesquisas alemão expulso pela Marinha do Brasil em abril passado é riquíssima em preciosos recursos minerais.


A Marinha do Brasil teve que expulsar um navio alemão que “espionava” águas brasileiras, de acordo com informações da própria Força. O episódio ocorreu em abril, mas ao ser questionado sobre o fato em uma comissão na Câmara em 17 de maio de 2023, o comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Marcos Sampaio Olsen, classificou o flagrante como um exemplo de ameaça.

“Um navio realizar pesquisas em águas jurisdicionais brasileiras é perfeitamente possível desde que faça o protocolo próprio e seja autorizado, isso no caso do navio em questão não foi observado”, disse Olsen durante a audiência da Comissão das Relações Exteriores e Defesa Nacional na Câmara dos Deputados.

O local onde o navio foi encontrado é conhecido como Elevação do Rio Grande (ERG) que fica acerca de 1.300 km e 1.500 km dos litorais do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, respectivamente, possui 150.000 km2 e tem se revelado como um grande potencial de pesquisa e de exploração econômica, pois conforme dados obtidos por expedições científicas marinhas possui substanciais reservas de cobalto, níquel, molibdênio, platina e titânio, bem como terras raras, telúrio, selênio, neodímio, índio, gálio, nióbio e tântalo, matérias-primas que são utilizadas nas novas tecnologias, como: computadores, smartphones, cerâmicas avançadas, carros elétricos, micro-ondas, fibra óptica, lasers, mísseis e satélites.

Assim, certos estudiosos estão chamando a ERG de “Pré-Sal da Mineração”. Devido à proximidade com a região do Pré-Sal alguns pesquisadores acreditam que pode haver reservas de petróleo e gás, como continuidade daquela área.

O Brasil, se conseguir explorar a ERG, poderá se tornar um ator relevante como um dos principais mercados fornecedores dessa “commodity do futuro”, sendo uma alternativa e um competidor direto com a China. O Brasil possui tecnologia e experiência em exploração petrolífera em águas profundas, o que poderá no futuro possibilitar o desenvolvimento da mineração submarina. Com isso, o país poderá competir na indústria automobilística de veículos elétricos, inclusive na produção de baterias de grandes capacidades, o que poderá dinamizar a nossa indústria e contribuir para a diminuição da emissão de gases poluentes.

A China, França, Alemanha e Rússia vêm desenvolvendo atividades de pesquisa na região da ERG. É importante saber que Inglaterra, Rússia, Noruega, França, China, Alemanha, Japão e Coreia do Sul estão se preparando para realizar mineração submarina em águas profundas.

Alguns países tentam reciclar os minerais de terras raras para diminuir sua dependência da China.


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Nesse cenário, desde 2009, a Marinha do Brasil e a Companhia de Pesquisa de Recursos Naturais (CPRM), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia que possui funções de Serviço Geológico do Brasil, começaram a realizar pesquisas nessa região com a finalidade de subsidiar uma proposta à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (AIFM) sobre o direito de exploração mineral na Elevação do Rio Grande, o que foi aprovado em 2014. O empreendimento também contou com a participação dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Meio Ambiente e das Relações Exteriores.

Em dezembro de 2018, o governo brasileiro pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) para ampliar a plataforma continental a fim de incluir a ERG, o que foi ratificado e nos deu o direito exclusivo de pesquisa exploratória das crostas ferromanganesíferas por 15 anos, com posterior apresentação dos resultados à AIFM. Sendo assim, a inclusão da ERG na submissão brasileira deu ao Brasil o direito de exercer sua soberania sobre essa região, antes dos limites serem aprovados como definitivos.

Atualmente ainda não existe um contrato vigente concedido pela AIFM para a exploração efetiva dos fundos marinhos em alto-mar, com retirada de recursos. As normas para isso estão sendo elaboradas pelos países-membros da organização, daí a importância de termos garantido a exclusividade da pesquisa na ERG.

Alguns pontos de alerta quanto a soberania brasileira na ESG e a possível exploração comercial da área:

  • A preocupante situação atual dos meios de dissuasão da Marinha do Brasil pode impossibilitar a manutenção e proteção desta área tão importante para o país;
  • Há vários artigos acadêmicos subsidiados por Estados com interesses comerciais e geopolíticos na ERG, com o intuito de questionar a legitimidade brasileira na exclusividade de pesquisa e futura exploração comercial;
  • ONGs realizam campanhas contra a exploração comercial dos fundos marinhos;
  • Não existe uma legislação brasileira que forneça segurança jurídica para a futura exploração submarina dos recursos da ERG.

É necessário o início imediato do debate sobre os pontos citados para mais uma vez não ficarmos parados diante de nossas próprias riquezas e necessidades, sendo o eterno “país do futuro”.

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