O futuro do poder naval chinês

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O porta-aviões chinês Liaoning participa de um exercício militar no oeste do Oceano Pacífico em abril de 2023 (Reuters/Stringer).

O porta-aviões chinês Liaoning participa de um exercício militar no oeste do Oceano Pacífico em abril de 2023 (Reuters/Stringer).

Seis porta-aviões e a versão naval do caça Chengdu J-20: a importância dos NAe no futuro do poder naval chinês.


Até o início da Segunda Guerra Mundial (1939-45), as principais Marinhas do mundo acreditavam que os mares pertenciam aos grandes e pesados encouraçados, navios que haviam feito toda a diferença nas grandes batalhas navais da Primeira Guerra Mundial (1914-18), e por isso, países como Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Japão construíram encouraçados de deslocamento cada vez maior. Porém, as coisas mudaram muito desde então.

Nesse sentido, há de se destacar os encouraçados japoneses Yamato e Musashi, – os maiores da história –, navios de 263 m de comprimento, capazes de deslocar quase 72.000 t a plena carga e armados com nove canhões calibre 460 mm (os maiores canhões navais já instalados em um navio de guerra), em torres triplas (cada uma pesando incríveis 2.150 t). O tubo de cada canhão tinha 21 m de comprimento, e seus projéteis com cargas explosivas de uma tonelada podiam alcançar 42 km de distância.

No entanto, esses navios eram “dinossauros fadados à extinção”: mesmo equipados com quase 200 canhões e metralhadoras antiaéreos de vários calibres, sucumbiram a ataques aéreos de aeronaves embarcadas nos porta-aviões (navios-aeródromo – NAe) americanos. Apesar de alguns encouraçados terem continuado ativos na segunda metade do Século XX, a Segunda Guerra Mundial havia consolidado os porta-aviões como os novos soberanos dos mares.

Nesse mesmo compasso, os EUA, seguindo sua doutrina de manter uma forte presença militar em pontos remotos do planeta e usando sua grande experiência no uso de porta-aviões – adquirida ao longo da Segunda Guerra Mundial –, iniciou o desenvolvimento e a construção de embarcações deste tipo cada vez maiores, resultando, nos anos 1960, no USS Enterprise, o primeiro porta-aviões de propulsão nuclear da história. Esse abriu caminho para a gênese, nos anos 1970, da Classe “Nimitz”, composta por 10 super porta-aviões nucleares, cada um com deslocamento de quase 100.000 t e capacidade para operar até 90 aeronaves, entre helicópteros, aviões de alerta antecipado (AEW), antissubmarino, aeronaves de reabastecimento, de ataque e de caça.

Ademais, recentemente a Marinha dos Estados Unidos inaugurou uma nova classe de porta-aviões nucleares, a USS Gerald R. Ford, sensivelmente mais moderna e automatizada, desta forma reduzindo a tripulação de seis mil para quatro mil militares. Estes navios são equipados com catapultas eletromagnéticas (aposentando as antigas catapultas a vapor), bem como com sistemas eletrônicos e sensores imensamente mais avançados.


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Outrossim, outros países seguiram o exemplo da U.S. Navy, com destaque para o Reino Unido, que, apesar de não ter operado porta-aviões em anos anteriores, agiu com premência e já incorporou o HMS Prince of Wales, segundo porta-aviões da classe “Queen Elizabeth”. A França, assim como o Reino Unido, também investiu nessa área, sendo neste momento o único país, além dos EUA, a operar um porta-aviões nuclear, o Charles de Gaulle. A exemplo dos países anteriormente citados, a União Soviética também almejava a construção e a operação de porta-aviões nucleares; todavia, a crise econômica e o desmoronamento soviético deixaram a Rússia com apenas um exemplar, o Admiral Kuznetsov, de propulsão convencional com capacidade relativamente limitada para o lançamento de aviões, uma vez que não possui catapultas, ao contrário dos aludidos anteriormente. A Índia, uma potência cada vez mais relevante no cenário global, opera dois porta-aviões: o Vikramaditya, ex-Baku e ex-Admiral Gorshkov das Marinhas soviética e russa, e o Vikrant, de projeto e construção locais, comissionado em setembro de 2022 (ambos não têm catapulta, e utilizam rampa ski jump), havendo planos para a construção de um terceiro.

Porém, o país que mais desponta em uma verdadeira competição nesse segmento é a China, que vem se mostrando deveras interessada nesse tipo de navio. Em 1998, os chineses adquiriram o casco do Varyag, o segundo porta-aviões da classe soviética “Kuznetsov” (cuja construção não chegou a ser concluída pela URSS) e, a partir deste casco, construíram o Liaoning. Com a experiência adquirida, projetaram o Shandong (“Type 002”), o primeiro porta-aviões chinês construído “do zero” –, embora tenha tomado, como base, o projeto do Liaoning. Apesar da construção deste navio ter sido considerada um feito impressionante, ele não possui catapultas, sendo utilizada uma rampa ski jump, o que acarreta uma redução na carga útil das aeronaves, além de possuir propulsão convencional.

Nada obstante, a verdadeira revolução terá início em alguns anos, quando a China começar a construir o “Type 003”, o primeiro porta-aviões nuclear chinês, que, de acordo com algumas fontes, terá capacidades muito semelhantes às do USS Gerald R. Ford. Até a década de 40 do Século XXI, ou seja, daqui a aproximadamente 20 anos, os chineses pretendem ter seis porta-aviões: o Liaoning, o Shandong e o “Type 002” (todos de propulsão convencional, portanto com autonomia menor), e mais três da classe “Type 003”, com catapultas eletromagnéticas e propulsão nuclear, embarcando uma versão naval do Chengdu J-20 (o primeiro caça de 5ª geração chinês) ou do Shenyang J-31 (este de menor tamanho).

Caso esses planos se concretizem, a China será capaz de concentrar no Mar do Sul da China um poder aeronaval inigualável, potencializado também pelas ilhas militares artificiais que construíram na região, considerando que as mesmas podem atuar como autênticos porta-aviões e plataformas para o lançamento de mísseis antiaéreos e antinavio. Com todo esse poder de fogo, dentro de 20 ou no máximo 30 anos, o Mar do Sul da China será uma área de mar impenetrável, sendo acessível somente por quem a China permitir.

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1 comentário

  1. O plano chinês é muito bem estruturado para enfrentar um possível bloqueio naval dos EUA e seus aliados

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