AGNI-V, o míssil intercontinental da Índia

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Míssil balístico Agni-V da Índia no desfile do 65º Dia da República em Nova Délhi, em 26 de janeiro de 2013 (Pallava Bagla/Corbis/Getty Images).

Míssil balístico Agni-V da Índia no desfile do 65º Dia da República em Nova Délhi, em 26 de janeiro de 2013 (Pallava Bagla/Corbis/Getty Images).

Com o desenvolvimento do AGNI-V, a Índia se coloca lado a lado com as grandes potências na área de mísseis balísticos intercontinentais.


No início do século XXI já se apresentava bastante evidente, para a Índia, que o crescimento militar da China acabaria inevitavelmente por se chocar com seus interesses geopolíticos, regionais e mesmo globais. O rápido e agressivo expansionismo chinês no Pacífico, mais especificamente no Mar do Sul da China (MSC), representa, segunda a ótica de Nova Délhi, uma efetiva ameaça diretamente à Índia e à Região do Oceano Indico (ROI), que serve como porta de entrada para o Pacífico e para os países do Golfo Pérsico, bem como para a Costa Leste Africana.

Foi exatamente neste contexto que as Forças Armadas da Índia pensaram em projetar (e ter à disposição) um meio adequado de dissuasão, através do programa de Mísseis Balísticos (lançados a partir de bases ou veículos terrestres) AGNI. Os primeiros três modelos, conhecidos como AGNI I, II e III, com alcances entre os 700 e os três mil quilômetros, serviram como plataforma de teste, resultando, em novembro de 2011, no primeiro teste bem-sucedido do AGNI-IV, que quebrou a barreira dos três mil e quinhentos quilômetros de alcance.

Em um esforço concentrado, já no ano seguinte de 2012, a Índia testou uma variação modernizada desse míssil, batizado de AGNI-V, que, de acordo com fontes oficiais indianas, tem um alcance de mais de cinco mil quilômetros, o que o classifica como um Míssil Balístico Intercontinental (ICBM, Inter-continental Ballistic Missile), apesar de fontes não-oficiais chinesas afirmarem que o seu verdadeiro alcance é ainda maior, situando-se na faixa dos oito mil quilômetros de distância, informação, todavia, não confirmada por autoridades indianas.

Trata-se de um míssil de grande dimensão, dotado de três estágios, com peso total superior a 50 toneladas e um comprimento de quase 18 metros. O artefato é capaz de transportar uma carga útil de mais de uma tonelada e meia, por intermédio de uma trajetória balística que o conduz através de um voo suborbital, alcançando uma velocidade final de reentrada atmosférica equivalente a 24 vezes a velocidade do som.

Por se tratar de um míssil com o motor-foguete de combustível sólido, possui reconhecida capacidade de permanecer anos inteiros em estado de prontidão, podendo ser lançado em questão de minutos.


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O primeiro teste (bem-sucedido) desse míssil ocorreu em abril de 2012, com a área alvo localizada a mais de cinco mil quilômetros, tendo sido a mesma atingida com sucesso e relativa precisão. Entre 2013 e 2018 seguiram-se outros cinco testes dos quais apenas um resultou em fracasso, sendo que, no dia 3 de junho de 2018, a Índia realizou um último teste, no qual, de acordo com fontes daquele país, o AGNI-V atingiu um nível excepcional de precisão.

Não foram dados detalhes mais apurados, mas os indianos informaram que o míssil viajou por mais de cinco mil quilômetros, atingindo o alvo como a precisão (CEP, Circular Error Probability) de menos de 10 metros, um nível de acurácia realmente impressionante, equiparável apenas aos mísseis mais avançados de países como os Estados Unidos da América, Federação Russa, República Popular da China, República Francesa e o Reino Unido, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e reconhecidas potências militares mundiais.

O próximo passo da Índia é desenvolver uma versão do AGNI-V capaz de ser lançada a partir de submarinos (SLBM), – o míssil K-6, com alcance superior a 6.000km –, uma vez que a versão atual pode ser lançada apenas a partir de plataformas terrestres fixas ou móveis (ICBM). Como pode transportar uma carga útil de mais de uma tonelada e meia, também será capaz de lançar múltiplas ogivas independentes, as chamadas MIRVs (Multiple Independent Reentry Vehicle, Veículo de Reentrada Independente Múltipla), em uma composição entre duas e 12 ogivas nucleares que podem ser “desprendidas” quando o míssil está iniciando a sua fase de reentrada atmosférica, com cada ogiva podendo atingir um alvo diferente.

Muito embora a Índia ainda não domine essa tecnologia em sua plenitude (continuando a desenvolver um estágio anterior, ou seja, as ogivas múltiplas não-independentes – MRV, Multiple/Missile Reentry Vehicle, Veículo de Reentrada Múltipla/Míssil), seu futuro domínio é apenas uma questão de tempo.

Em muitos aspectos, é cediço concluir que com o AGNI-V, os indianos se colocam lado a lado com as outras grandes potências mundiais na área dos mísseis balísticos intercontinentais, passando a ostentar um importante vetor dissuasivo, dentro da doutrina militar da deterrência estratégica (Teoria da Intimidação).


Diagrama 1: mísseis SLBMs indianos.

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