Perfil: Ebrahim Raisi, eleito presidente do Irã

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Ebrahim Raisi, eleito presidente do Irã (Foto: Atta Kenare/AFP).

Ebrahim Raisi, eleito presidente do Irã (Foto: Atta Kenare/AFP).

O atual chefe do Poder Judiciário iraniano, o conservador Ebrahim Raisi, foi eleito próximo presidente do Irã em um momento extremamente crítico para o país. Quem é Raisi e quais são suas ideias e posições?


Aos 60 anos, Raisi, que conta com amplo apoio dos conservadores de sua base, continuará como presidente da Suprema Corte até assumir o cargo de presidente atualmente ocupado pelo moderado Hassan Rouhani no início de agosto.

Como o líder supremo aiatolá Ali Khamenei, o líder usa um turbante preto, o que significa que ele é um sayyid – descendente do profeta Maomé. Raisi é conhecido como o provável sucessor de Khamenei, de 82 anos, quando este falecer.

Antes da revolução de 1979

Raisi nasceu em Mashhad, no nordeste do Irã, uma cidade importante e um centro religioso para os muçulmanos xiitas por abrigar o santuário do Imam Reza, o oitavo imã. Criado em uma família clerical, Raisi recebeu educação religiosa e começou a frequentar o seminário em Qom quando tinha 15 anos. Lá, estudou com vários personagens proeminentes, incluindo Khamenei.

Quando entrou no influente seminário em Qom, poucos anos antes da revolução de 1979 que transformou o país na atual República Islâmica, muitos iranianos estavam insatisfeitos com o governo de Mohammad Reza Shah Pahlevi, que acabou deposto.

Raisi supostamente participou de alguns dos eventos que forçaram o xá ao exílio e estabeleceu o novo estabelecimento clerical sob o líder supremo aiatolá Ruhollah Khomeini.

Depois da revolução

Após a revolução, Raisi ingressou no gabinete da promotoria em Masjed Soleyman, no sudoeste do Irã. Nos seis anos seguintes, ele aumentou sua experiência como promotor em várias outras jurisdições.

Um fato crucial ocorreu quando ele se mudou para a capital do Irã, Teerã, em 1985, depois de ser nomeado procurador adjunto. Organizações de direitos humanos afirmam que três anos depois, poucos meses após o fim da guerra Irã-Iraque, que durou oito anos, ele fez parte da chamada “comissão da morte”, que supervisionou o desaparecimento e execuções de milhares de prisioneiros políticos.


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Raisi será o primeiro presidente iraniano a ser alvo de sanções dos Estados Unidos, impostas em 2019, por seu suposto papel nas execuções em massa e por reprimir protestos públicos.

Raisi continuou a subir no sistema judicial do Irã após a ascensão de Khamenei à liderança suprema em 1989. Mais tarde, ocupou cargos como promotor de Teerã, chefiou a Organização de Inspeção Geral e serviu como vice-chefe de justiça até 2014, época em que ocorreram os protestos do Movimento Verde pró-democracia em 2009.

Em 2006, enquanto servia como vice-presidente da Suprema Corte, ele foi eleito para a Assembleia de Peritos, órgão encarregado de escolher o substituto do líder supremo em caso de sua morte, papel que Raisi ainda mantém.

Raisi foi promovido a procurador-geral do Irã em 2014 e permaneceu nessa posição até 2016, quando foi novamente promovido – embora desta vez não no sistema judicial – sendo nomeado pelo líder supremo como guardião do Astan-e Quds Razavi, um fundo de caridade que administra o santuário do Imam Reza e organizações afiliadas.

Nessa posição, Raisi comandou bilhões de dólares em ativos e criou laços com a elite religiosa e empresarial de Mashhad, a segunda maior cidade do Irã.

Raisi, que tem duas filhas, também é genro de Ahmad Alamolhoda, antigo líder das orações de sexta-feira de Mashhad, que se tornou conhecido por violentos discursos ultraconservadores e ideias altamente controversas.

Ambições presidenciais

Em 2017, Raisi concorreu à presidência pela primeira vez e se tornou o principal candidato contra Rouhani, um moderado que defendeu maior envolvimento com o Ocidente e o acordo nuclear do Irã de 2015 com potências mundiais que suspendeu as sanções multilaterais em troca de restrições ao programa nuclear do país.

Raisi e seu aliado Mohammad Bagher Ghalibaf, que em 2020 se tornou o presidente de um parlamento linha-dura em meio à baixa participação e ampla desqualificação de candidatos reformistas, perderam a eleição para Rouhani. Raisi, entretanto, obteve pouco menos de 16 milhões de votos ou 38% em uma eleição com 73% de comparecimento.


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Após um breve retiro, o líder supremo o nomeou em 2019 como presidente do tribunal. Nessa posição, ele tentou cimentar sua imagem de ferrenho oponente da corrupção. Realizou julgamentos públicos e processou figuras próximas ao governo e ao judiciário.

Nessa posição, Raisi também efetivamente deu o pontapé inicial de sua campanha presidencial, viajando para quase todas as 32 províncias do Irã. Nessas visitas, costumava anunciar que salvou uma grande fábrica da beira da falência, apresentando-se como campeão dos trabalhadores iranianos e impulsionando negócios locais sob as sanções dos EUA.

Raisi levou esse tema para sua campanha de 2021, na qual fez promessas limitadas, pois era evidente que nenhum dos outros candidatos representava um desafio muito sério à sua presidência em meio a uma situação econômica ruim, baixo comparecimento e ampla desqualificação de candidatos reformistas e moderados.

Durante seu tempo no judiciário, o aplicativo de mensagens Signal foi banido no início deste ano após um aumento na popularidade, assim como o aplicativo de bate-papo por voz Clubhouse quando se tornou extremamente popular no período que antecedeu as eleições. Todas as principais redes sociais e aplicativos de mensagens estão bloqueados no Irã, exceto o Instagram e o WhatsApp.

Economia e acordo nuclear

Pressionado por outro candidato, Raisi discutiu brevemente o Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA), como é conhecido o acordo nuclear que o ex-presidente dos EUA Donald Trump abandonou de forma unilateral em 2018.

Embora já tenha se oposto ao acordo, desta vez ele disse que o apoiaria como qualquer outro compromisso estatal, mas formará um governo “forte” que será capaz de conduzi-lo na “direção certa”.

Uma sexta rodada de negociações entre o Irã e as potências mundiais está em andamento em Viena para restaurar o acordo, que, se for bem-sucedido, levará ao levantamento das sanções dos EUA e à redução do programa nuclear do Irã, que agora está enriquecendo urânio em 63%, o nível mais alto já atingido pelo país.

Mesmo com a proximidade do prazo de 24 de junho de um acordo temporário com a Organização Internacional de Energia Atômica para manter as atividades de monitoramento no Irã, os negociadores disseram que a sexta rodada não será a final. Mas há esperanças de que o acordo possa ser retomado antes que Raisi assuma o cargo.


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Enquanto isso, a população de 83 milhões de habitantes do Irã sofre com inflação galopante e alto desemprego, enquanto o governo tem um déficit orçamentário considerável e enfrenta dificuldades com a pandemia covid-19 mais mortal do Oriente Médio.

Raisi prometeu combater a inflação, criar pelo menos um milhão de empregos por ano, construir novas moradias e conceder empréstimos especiais a compradores que se casarem pela primeira vez, além de inaugurar uma nova era de transparência financeira e combate à corrupção.

Hamed Mousavi, professor de ciência política da Universidade de Teerã, disse que a narrativa entre os conservadores é que a má administração do governo Rouhani levou à situação atual.

“Então, de acordo com essa narrativa, se essa má gestão for corrigida, a economia será corrigida, mas acho que muitos conservadores, pelo menos internamente, entendem a importância das sanções”, disse ele à rede Aljazeera.

“Acho que isso vai voltar à quanta flexibilidade Raisi vai mostrar nas negociações. Um ponto importante é quem ele irá nomear para as negociações nucleares.”

Uma possível escolha é o linha-dura Saeed Jalili, ex-negociador nuclear do presidente Mahmoud Ahmadinejad que foi um dos sete candidatos aprovados na corrida de 2021 e se retirou em favor de Raisi.

De acordo com Natasha Lindstaedt, pesquisadora da Universidade de Essex, os prováveis ​​efeitos da eleição de Raisi sobre os laços com os EUA são incertos. “Mas o tipo de retórica que o presidente iraniano pode emitir às vezes afeta a maneira como os EUA respondem”, disse ela à Aljazeera.

“Vejo Raisi de alguma forma como um retorno a Ahmadinejad, um presidente mais populista e autoritário e esse foi um período em que as relações com os EUA e o Irã eram realmente tensas”, disse ela.

Tradução e adaptação de original publicado pela Aljazeera.

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