As inovações militares de Napoleão Bonaparte

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Retirada de Napoleão de Moscou, obra de Ernest Meissonier.

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Napoleão Bonaparte, apelidado de “Le Corse” ou “Le Petit Caporal”, nasceu em 15 de agosto de 1769 em Ajaccio, na Córsega, e morreu em 5 de maio de 1821 como prisioneiro em Santa Helena, uma ilha britânica isolada no Atlântico sul. Um dos personagens mais célebres da história do Ocidente, revolucionou a organização e o treinamento militar.


O sucesso de Napoleão Bonaparte é uma prova de seu extraordinário talento como general. Seus exércitos dominaram os campos de batalha da Europa durante vinte anos. Sua habilidade, liderança e estratégias de combate transformaram a maneira como as guerras eram travadas. Mas Napoleão não surgiu do vácuo. Teria ele sido realmente um inovador, ou soube aplicar melhor as técnicas que outros criaram?

Manobrabilidade

Napoleão confiou na capacidade de manobra de seus exércitos. Movendo-se com rapidez e flexibilidade, ele foi capaz de enfrentar seus adversários escolhendo as circunstâncias, preparando os franceses para o sucesso.

Isso foi em parte uma estratégia de dividir para conquistar. A movimentação rápida permitiu a Napoleão lutar contra forças inimigas uma de cada vez, ao invés de permitir que se unissem e usassem o peso dos números. Mesmo em sua derrota final, ele conseguiu evitar lutar contra prussianos e ingleses juntos até o final da Batalha de Waterloo, os momentos finais de sua campanha.

A forma pela qual os exércitos de Napoleão se moviam não era sem precedentes. Ele usou a mesma tecnologia e logística de seus predecessores, como Frederico, o Grande. Nesta área, as verdadeiras inovações viriam muito depois da queda de Napoleão, quando o uso cuidadoso das ferrovias transformou o processo de movimentar tropas e suprimentos.

No entanto, havia algo inovador nos exércitos de Napoleão que lhes permitia ser mais manobráveis, e isso era o uso de grandes corpos móveis.

Geralmente consistindo em 20.000 a 30.000 homens liderados por um dos prestigiosos marechais do império, esses corpos eram efetivamente pequenos exércitos em si mesmos. Devido a sua escala e liderança de alto nível, podiam realizar manobras estratégicas com velocidade e flexibilidade. Combinando o carré bataillon, no qual vários corpos marchavam separadamente, mas próximos o suficiente para se apoiarem, obtinham flexibilidade e concentração de força.


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Uso da iniciativa

Flexibilidade no planejamento foi fundamental para o sucesso de Napoleão. Isso era menos uma inovação e mais uma questão de habilidade pessoal. Ele entrava em batalha com um plano, que adaptava para enfrentar o inimigo. Isso permitia que ele fizesse o melhor uso possível das circunstâncias específicas que enfrentava. O ponto negativo dessa forma de reagir aos acontecimentos impedia que seus subordinados desenvolvessem grande iniciativa.

Artilharia

A experiência de Napoleão como artilheiro levou muitos analistas a se concentrar neste elemento. No entanto, a quantidade e a qualidade das armas em seus exércitos não eram muito diferentes do que havia antes, ou do que seus contemporâneos usavam. Com três canhões para cada mil soldados, ele implantou um volume de artilharia não muito maior do que o que se usava anteriormente. Embora tenha havido melhorias na tecnologia ao longo das guerras, o alcance dessas armas permaneceu limitado a cerca de meia milha.

Napoleão inovou ao concentrar o poder de fogo de suas armas. Ao invés de dispersá-los entre a infantaria, ele reunia armas em baterias substanciais que lhe permitiram alcançar a superioridade local em áreas do campo de batalha. A concentração de fogo foi a grande inovação da artilharia de Napoleão, e foi valiosa.

Colunas

A infantaria francesa lutava de forma diferente de seus pares. Reunindo-se em colunas, eles sacrificaram o poder de fogo da linha de frente por uma carga de choque que perfurava as finas linhas de fogo inimigas.

Esta inovação está associada a Napoleão graças ao sucesso com que ele a utilizou, mas não foi sua criação. Em vez disso, foi sugerido por seu antecessor Guibert. Napoleão implantou com eficácia uma tática desenvolvida por outra pessoa, e com isso suas tropas fizeram coisas que outros não conseguiam.

Escaramuçadores e tropas leves

A mudança mais significativa que Napoleão fez à mistura de tropas de seu exército foi um aumento nos escaramuçadores, incluindo infantaria leve, fuzileiros e granadeiros. A cavalaria, às vezes usada para cargas de choque, em outras ocasiões era desdobrada nesta função.


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Esses escaramuçadores permitiram a Napoleão alcançar suas vitórias mais notáveis, contra exércitos numericamente superiores. Primeiro, ele enviaria atacantes à frente para encontrar as posições inimigas e enfrentar a linha de frente adversária, mantendo a maioria de suas tropas atrás. O principal exército francês e suas reservas eram ocultados para que o inimigo não soubesse de onde eles viriam.

Depois de lançar um ataque frontal, ele lançava um ataque surpresa em um flanco usando as tropas que havia retido. À medida que o inimigo corresse para reforçar aquele flanco, seu centro seria enfraquecido, fazendo com que ele comprometesse suas reservas para o avanço final.

Artilharia, cavalaria e infantaria de linha desempenharam um papel nesses sucessos. Mas era a infantaria leve que dava o passo fundamental de atrair o inimigo para o combate enquanto a força principal era mantida oculta.

Inovador ou adaptador?

Napoleão foi inovador ou adaptador? A verdade é que ele era um pouco dos dois. Com base nas lições de homens como Frederico, o Grande e Guibert, ele criou um exército que era tática e estrategicamente flexível, de acordo com seu estilo de comando. Ele era um líder que tendia para as mais tropas leves, mas isso não era uma novidade per se. Ele usou artilharia semelhante à de seus colegas, mas a implantou com muito mais eficácia.

Sua capacidade de se adaptar e inovar diminuiu com o avanço de sua carreira. Seus oponentes aprenderam com ele, adotando elementos de sua forma de lutar e contra-atacar. Incapaz de desenvolver novas técnicas, ele recorreu a um clássico – cargas concentradas que dependiam da força bruta ao invés do pensamento tático. Tal abordagem custou muito à França em Aspern-Essling (1809) e Borodino (1812), e levaria a enormes sacrifícios em Waterloo.

Napoleão inicialmente foi adaptador, talentoso e inovador. O Napoleão posterior foi um homem preso à rotina, enfrentando oponentes que aprenderam com ele.

Do original publicado no War History Online.

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2 comentários

  1. Boa tarde,

    Talentoso, aprendeu estudando a teoria, ao aplicar a pratica fazia as devidas correções, adaptando-as a particularidade de cada momento.

    caso semelhante ao general alemão Walter Model (o Bombeiro de Hitler).

    Sem duvida nenhuma, Napoleão Bonaparte era um gênio tático-estratégico.

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