Por Albert Caballé Marimón* |
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Na manhã de hoje uma barragem de foguetes atingiu Camp Taji, localizado vinte quilômetros ao norte de Bagdá, pela segunda vez nesta semana. A base abriga soldados norte-americanos e de outras nacionalidades integrantes da coalizão que opera no Iraque. No primeiro ataque, na última quarta-feira, foram mortos três militares, dois americanos e uma britânica.
As forças armadas iraquianas informaram que os ataques de hoje deixaram um saldo de seis mortos e diversos membros da força aérea iraquiana feridos. Entre os mortos estariam cinco membros das forças de segurança do Iraque e um civil. No entanto ainda não há informações precisas. Estimativas iniciais indicam que foram usados 33 foguetes.
O ataque de hoje representa uma escalada nas tensões entre os Estados Unidos e o Irã. Ontem, sexta-feira, os americanos realizaram ataques aéreos a depósitos de armas que teriam sido usados por membros do Kataib Hezbollah, grupo de milícias apoiado pelo Irã que se acredita ser o responsável pelo ataque de quarta-feira.
Entrevista do comandante do CENTCOM
Ontem o general Kenneth Franklin “Frank” McKenzie (US Marines), chefe do US CENTCOM (United States Central Command, Comando Central dos Estados Unidos), em entrevista no Pentágono, disse que a retaliação dos EUA foi bem-sucedida e que é um sinal de que os EUA não vão tolerar ataques de proxies do Irã. No entanto, acrescentou que “a ameaça de Teerã permanece muito alta” e que “as tensões realmente não diminuíram”.
Ele informou que os ataques foram realizados por aeronaves tripuladas e que todas retornaram às bases com segurança, mas não detalhou que tipo de armamento foi empregado e qual era o ponto de origem das aeronaves.
Militares iraquianos condenaram os ataques dos EUA, dizendo que esta ação unilateral viola a soberania do país. McKenzie disse que autoridades dos EUA consultaram os iraquianos após o ataque a Camp Taji na quarta-feira e que eles sabiam que uma resposta estava sendo preparada. Afirmou ainda que os alvos atingidos são claramente bases terroristas e que “provavelmente não é uma boa ideia posicionar-se com o Kataib Hezbollah após um ataque que matou americanos e membros da coalizão”.
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Questionado sobre o fato do ataque de quarta-feira ter ocorrido no que seria o 63º aniversário de Qassem Soleimani, McKenzie reconheceu a data mas não a atribuiu como motivo do ataque. Afirmou também não ter informações sobre um comandante da IRGC supostamente morto no ataque de sexta-feira.
Forças americanas na região
O general McKenzie confirmou que sistemas de defesa aérea Patriot estão sendo reposicionados no Iraque, e que sua implantação exigirá centenas de tropas adicionais para administrar e manter o sistema. Os Patriot também se tornarão alvo das milícias e precisarão de proteção, assim como as tropas; isso por sua vez requer mais tropas e mais tecnologia.
McKenzie observou que, sendo um sistema de defesa contra aeronaves e mísseis balísticos e de cruzeiro, o Patriot não protege contra foguetes de 107 mm como os lançados contra Camp Taji, e que sistemas de defesa contra esse tipo de foguetes e morteiros também serão enviados ao Iraque. McKenzie referiu-se, possivelmente, ao Centurion, uma variante terrestre do Phalanx CIWS (Close-in Weapon System, sistema de armas de curta distância) que compõe o C-RAM (Counter Rocket, Artillery, and Mortar), um sistema de defesa de curto alcance contra foguetes, artilharia e morteiros.
McKenzie informou também que o Secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, autorizou a permanência de dois porta-aviões na região, e acrescentou que “nós vamos mantê-los lá por algum tempo”. Este seria um sinal claro para o Irã, que acredita-se estar por trás dos ataques, de que os Estados Unidos estão prontos para atacar com força e rapidez caso seja necessário.
Esta é a primeira vez, desde 2012, em que dois strike groups americanos operam ao mesmo tempo no Oriente Médio. Trata-se dos grupos de ataque dos porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower e USS Harry S. Truman. Além deles, o USS Bataan e seu grupo também estão operando na área. O Bataan é um LHD (Landing Helicopter Dock, porta-helicópteros de assalto anfíbio).
Composição dos grupos
Toda essa movimentação de tropas e equipamentos mostra um realinhamento de forças que pode estar refletindo uma intensificação de esforços americanos em dissuadir o Irã.
Os dois grupos de ataque, mais o USS Bataan, representam uma força considerável. O USS Harry S. Truman, com a Carrier Air Wing 1 (Ala Aérea 1), é acompanhado pelo cruzador classe Ticonderoga USS Normandy e pelos destróieres classe Arleigh Burke USS Lassen, Farragut e Forrest Sherman.
O USS Dwight D. Eisenhower, transportando a Carrier Air Wing 3 (Ala Aérea 3), é acompanhado pelos cruzadores USS Vella Gulf e San Jacinto e pelos destróieres USS Stout, James E. Williams e Truxtun; esse grupo é acompanhado também pela fragata Iver Huitfeldt (F361), da Real Marinha Dinamarquesa.
O Amphibious Ready Group (Grupo Anfíbio de Prontidão) do USS Bataan, atualmente navegando ao norte do Mar Arábico, tem a bordo a 26ª MEU (Marine Expeditionary Unit, Unidade Expedicionária dos Marines), composta por cerca de 2.500 fuzileiros. O grupo inclui o navio de transporte anfíbio USS New York, capaz de transportar uma força de desembarque de mais de 600 homens que opera helicópteros e aeronaves MV-22 Osprey, e o navio de desembarque USS Oak Hill, que pode transportar um destacamento de 400 fuzileiros. Além disso, o Bataan opera jatos Harrier e helicópteros de ataque Super-Cobra.
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Sumarizando, os EUA tem hoje na região dois porta-aviões, três cruzadores, seis destróieres, um porta-helicópteros e dois navios de desembarque de tropas. Não é pouca coisa. Considerando apenas a quantidade de aeronaves de ataque e mísseis Tomahawk à disposição dessa força, trata-se de um poderio formidável.
Na entrevista de ontem, McKenzie afirmou que não descartaria outras ações e que os EUA continuariam a avaliar a situação. Disse que há uma variedade de outros alvos que os Estados Unidos podem atacar, mas que ainda não o fizeram por tentar equilibrar “restrição” com uma “tentativa de enviar uma mensagem forte o suficiente”. Ele afirmou que “se não der certo, temos muito mais lugares onde podemos trabalhar”, e que está confiante de que os EUA farão isso.
Os ataques a Taji desta manhã sugerem que “não deu certo”. E a aglomeração de forças americanas na região parece indicar que a escalada vai continuar. Mas como sempre, em se tratando de Oriente Médio tudo pode acontecer, inclusive nada. Resta acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
Com informações da Al Jazeera, Deutsche Welle, South Front, Al-Monitor, The Hill, Breaking Defense, USNI News e Daily Mail.
*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador da revista Tecnologia & Defesa e do Canal Arte da Guerra, onde, entre outras atividades, mantém uma resenha semanal de filmes e documentários militares. Entre suas atividades, já proferiu palestras para os cadetes da Academia da Força Aérea. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.
Excelente matéria! Parabéns!
Muito obrigado, forte abraço!
Excelente análise ,aprendi muito!!!
Obrigado Paulo, grato por nos acompanhar! Um abraço!
Paremos pra pensar o que seria desse mundao se nao existisse uma nacao como os EUA pra reservar e guardar a ordem das coisas (pelo menos pela otica ocidental) ?! Belo trabalho de pesquisa Sr. Albert.
Muito obrigado Ricardo. Grato pelo comentário! Forte abraço!