Por Albert Caballé Marimón |
Em junho de 1967, o SAC (Strategic Air Command, Comando Aéreo Estratégico) da USAF (United States Air Force, Força Aérea dos Estados Unidos) emitiu uma solicitação para uma aeronave de reabastecimento avançada para complementar a frota de KC-135. Embora o KC-135 fosse ideal para apoiar missões de bombardeio, era considerado inadequado para dar apoio a uma força mais abrangente de aeronaves de ataque, resgate, defesa aérea e transporte. Embora a solicitação tenha sido aprovada pelo comando da USAF, o projeto não avançou na época, talvez devido à Guerra do Vietnã.
Em 1970, um estudo sobre apoio de aeronaves de reabastecimento sugeriu que a adaptação de um avião com fuselagem mais larga seria uma solução mais econômica. Foram feitos alguns testes em 1971 e 1972 e, pouco tempo depois, durante a Guerra do Yom Kippur em outubro de 1973, o apoio dos Estados Unidos a Israel demonstrou a necessidade de reabastecimento aéreo para esquadrões de transporte.
Em dezembro de 1973, o SAC reemitiu o requerimento, agora denominado ATCA (Advanced Tanker Cargo Aircraft, Aeronave Avançada de Reabastecimento e Carga, em tradução livre). O Comando de Transporte Aéreo Militar e o Comando Aéreo Tático concordaram que a nova aeronave deveria ser primariamente um reabastecedor, com capacidade de ampliação para transporte aéreo. Duas empresas responderam à solicitação: a Boeing baseou sua proposta no 747, enquanto a McDonnell Douglas baseou a sua no KC-10.
A aeronave baseada no 747, designada KC-33, tinha capacidade superior ao KC-10. Derivado de uma proposta da Boeing dos anos 1960 para uma aeronave de transporte que acabou perdendo para o Lockheed C-5A Galaxy, o 747 podia carregar 100.000 libras de combustível a mais do que o KC-10 e tinha quase o dobro da capacidade de carga. A porta de carga frontal, no nariz do 747, também seria uma vantagem. Mas o KC-33 teria um custo de operação significativamente maior, e além disso, o KC-10 operava em pistas mais curtas. Esses pontos acabaram sendo decisivos para a USAF, e em 19 de dezembro de 1977, o KC-10 foi selecionado.
Assista ao Vídeo 625 do CANAL ARTE DA GUERRA: Boeing 747 Reabastecedor: o avião existe e só a Força Aérea Iraniana tem
No entanto, mesmo tendo perdido a concorrência da USAF, a Boeing conseguiu vender duas aeronaves para para o Irã. O Xá Rehza Pahlevi as comprou para transporte, num pacote com dez 747. Nessa época, a então IIAF (Imperial Iranian Air Force, Força Aérea Imperial Iraniana) havia feito pedidos de centenas de caças Phantom F-4, e concluiu que o 747 poderia ser um excelente reabastecedor para essa frota.
Mais aeronaves teriam sido pedidas pelo Irã, mas apenas duas foram entregues antes da queda do Xá e da consequente mudança de governo. Uma delas foi perdida num acidente e, atualmente, o KC-747 remanescente ainda opera na atual IRIAF (Islamic Republic of Iran Air Force, Força Aérea da República Islâmica do Irã).
O KC-747 iraniano trabalha com um operador com visão direta a partir de uma janela traseira na fuselagem, ao invés de uma carenagem saliente como a utilizada pelo KC-135. A Boeing executou a conversão para o Irã na expectativa de conseguir outros clientes, e gerou um pacote completo de documentação padrão de produção; no entanto, nenhum cliente se interessou.
Acredita-se que o reabastecedor iraniano seja o único Boeing 747 da série -100 ainda em operação. Na última semana de novembro de 2018, na 9ª edição do Iran International Air Show (o Kish Air Show), empresas iranianas e estrangeiras apresentaram seus produtos e tecnologias. Embora seja um evento eminentemente do setor civil, houveram exibições de jatos militares da IRIAF e da Guarda Revolucionária Islâmica. O evento proporcionou a oportunidade única de ver não apenas o KC-747, mas também algumas aeronaves iranianas da mesma época ainda em operação.
Assista ao vídeo com imagens da época do projeto, mostrando o KC-747 em operação reabastecendo um B-52 e um SR-71:
*Imagem de capa: O Boeing KC-747 iraniano voando em formação com as aeronaves de combate F-14A Tomcat, F-4E Phantom e MiG-29 (Foto: Abedin Taherkenareh/EPA/Landov)
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É pena que sou foram entregues duas aeronaves. Fato muito curioso, não sabia dá existência desse avião na força iraniana.
Pois é, parece que o Xá Reza Pahlevi compraria mais aeronaves do tipo, mas sua queda acabou prejudicando a iniciativa. Muito obrigado por comentar!
A IRIAF é hoje o que era a USN em 1980. Phantom e Tomcat. Dois caças icônicos. Pena que os últimos só voem lá.
A IRIAF é bastante competente, uma força aérea que não deve ser subestimada. Obrigado por comentar!
Pois é, o Iran… Quem diria já foi um parceiro e tanto da USA, mas pudera, era contraponto ao Iraque. Mas, a teocracia veio com tudo e consumiu o governo. Lá se vão mais de 30 anos.
No oriente médio, nunca se sabe! Aguardemos…
Excelente artigo!!!!
Muito obrigado pelo comentário!