Necessidade de Defesa Aérea: Parte 3, Peru

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Introdução

Este artigo continua com a análise sobre a necessidade ou não do Brasil investir em sistemas de defesa antiaérea de longo alcance através da avaliação não apenas dos riscos representados pelo potencial das forças aéreas dos países vizinhos, mas também do risco real de o Brasil entrar em conflito com um deles.

Esta abordagem considera as capacidades das forças aéreas vizinhas e estima qual seria seu alcance e potenciais alvos dentro de nosso território. Analisamos também aspectos econômicos e político/diplomáticos, traçando um panorama real dos riscos de conflito – e por conseguinte da real necessidade de um sistema de defesa aérea de longo alcance.

Procuramos ter em mente que, dado o custo dos citados sistemas, é fundamental avaliar os riscos reais que o país corre neste sentido para determinar a necessidade de priorizar recursos orçamentários para este fim em detrimento de outros – afinal, esta é a questão: numa realidade de recursos limitados, seria esta uma prioridade de investimentos?

Acesse aqui a 1ª Parte com a análise da Venezuela, e a 2ª Parte com a análise da Argentina.


Peru

A República do Peru é um país sul-americano banhado a oeste pelo Oceano Pacífico. O território peruano cobre 1.285.216 km² no oeste da América do Sul e tem população estimada em 33 milhões de habitantes (2017). Limita-se ao norte pelo Equador e Colômbia, a leste pelo Brasil e Bolívia e ao sul pelo Chile. Tem fronteira no Brasil com os estados do Amazonas e o Acre com extensão total de 2.995km.

Esquadrões de Combate

As forças armadas peruanas são bastante orientadas para a segurança interna, em operações contra guerrilha, narcotráfico e mineração ilegal. Suas forças armadas participam regularmente de treinamentos, missões da ONU e exercícios multinacionais. a exemplo da própria Cruzex 2018, em que participou com aeronaves Mirage 2000 e Cessna A-37 Dragonfly.


©2018 Albert Caballe Marimon
Cessna A-37B Dragonfly da FAP operando na Cruzex 2018 (Imagem: ©Caballé Fotografia)

Bases-Peru-Tabela
Principais esquadrões de combate da FAP (Scramble.nl)

A tabela acima inclui os esquadrões que operam as principais aeronaves de combate peruanas. As bases mais próximas do território brasileiro são a Base Aérea de Pucallpa e a Base Aérea de Puerto Maldonado, que são bases de apoio a operações e não operam esquadrões fixos, e a Base Aérea Coronel Francisco Secada Vignetta, em Iquitos, que opera um esquadrão de transporte do Grupo Aéreo de Transporte 42, o Escuadrón Transporte Aéreo Nacional de Selva 421.


Bases-Peru
Localização das bases aéreas da FAP – Fuerza Aérea del Peru (scramble.nl)

Potenciais alvos em território brasileiro

Neste estudo não consideramos os Mirage, uma vez que a FAP os opera principalmente na função de defesa aérea. As aeronaves de ataque da FAP são o MiG-29 (multimissão), os Su-25 e os A-37B. Para o alcance* estimado das aeronaves, foi considerado o seguinte:

  • MiG-29: 1.190km para para missões de ataque ao solo com carga de dois mísseis ar-terra, dois mísseis ar-ar de curto alcance e três tanques de combustível descartáveis. (Fonte: MiG Alley. O Military Factory informa 889km porém sem especificar nenhum outro parâmetro).
  • Su-25: 375km com 4.400kg de carga de combate e dois tanques externos (Fonte: Wikipedia, Military Factory, Air Force Technology).
  • Cessna A-37B Dragonfly: 740 km com 1.850kg de carga de combate (Fonte: Wikipedia; Military Factory; Military Machine. O Military Factory e Military Machine informam o mesmo alcance embora sem especificar carga ou perfil).

*Busquei considerar a informação de maior alcance possível porém considerando fontes que especificassem mais de um parâmetro, por exemplo, carga de combate ou perfil de missão. Assim, pode ter sido considerado um alcance menor entre as fontes consultadas, caso apresentasse mais parâmetros, visando tornar a consulta mais consistente.

Ainda para efeito desta análise, vou considerar o MiG-29, por apresentar maior alcance de combate em relação ao Su-25 e ao A-37B. Embora os MiG-29 peruanos operem a partir da base de Chiclayo, mais próxima do Oceano Pacífico, consideremos seu alcance partindo das bases aéreas de Pucallpa, Puerto Maldonado e Iquitos, mais próximas do território brasileiro.

A partir de Pucallpa, poderiam alcançar Rio Branco, capital do Acre, e Porto Velho, capital do estado de Rondônia. Já a partir de Puerto Maldonado ou Iquitos, iriam um pouco mais longe, alcançando parte do estado do Mato Grosso, porém ainda sem alcançar Manaus, por exemplo. O Peru não dispõe de capacidade REVO.


Range-MiG-29-Pucallpa
Raio de alcance do MiG-29 a partir da Base Aérea de Pucallpa

Range-MiG-29-PMaldonado
Raio de alcance do MiG-29 a partir da Base Aérea de Puerto Maldonado

Range-MiG-29-Iquitos
Raio de alcance do MiG-29 a partir da Base Aérea Cel. Francisco Secada Vignetta, em Iquitos

Considerações

Brasil e Peru mantém excelentes relações. Em 2016, foi assinado o Acordo de Ampliação Econômica-Comercial Brasil-Peru, que trata de temas como investimentos, serviços e compras governamentais. Nesse mesmo ano, o comércio entre os dois países foi da ordem de US$ 3 bilhões; os principais produtos exportados pelo Brasil foram tratores, chassis, óleos brutos de petróleo, barras de ferro e carrocerias de veículos.

Devido a grande extensão de fronteira, em 2009 foi criada a Comissão Vice-Ministerial de Integração Fronteiriça Brasil-Peru (CVIF) que trata de temas como controle fronteiriço integrado, transportes, saúde, meio-ambiente e questões indígenas. Outro tema de grande importância para ambos os países é o combate ao narcotráfico, desafio compartilhado por ambos os países.

Em coletiva à imprensa em outubro de 2018, Martín Vizcarra, presidente do Peru, ao cumprimentar Jair Bolsonaro pela eleição a presidência do Brasil, manifestou o desejo de seguir trabalhando com o país e inclusive, melhorar as relações bilaterais: “Temos relações muito boas com o Brasil e esperamos continuá-las, e inclusive melhorá-las, com a nova administração que foi eleita”, disse ele (Revista Isto É).

Desta forma, conclui-se que os riscos de ocorrer de um conflito armado entre Peru e Brasil é muito pequeno e não requer maior consideração neste momento.


Acesse aqui a 1ª Parte com a análise da Venezuela, e a 2ª Parte que analisa a Argentina.


Referências

Além das referidas ao longo do texto, as seguintes fontes foram utilizadas nesta análise:


 

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