Se o Duque de Caxias não fosse Brasileiro

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Por Robinson Farinazzo*

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Duque de Caxias e seu brasão heráldico (Montagem a partir de imagens do Exército Brasileiro e do Archivo Nobiliarchico Brasileiro/Wikipedia).

“Se um herói militar do porte do Duque de Caxias tivesse nascido nos Estados Unidos, ele não receberia este título de nobreza por ser aquele país uma República, mas os americanos fariam dezenas de filmes em sua homenagem.”

(José Antonio F. Casal)


Nos meses finais do ano da graça de 1866, as condições eram adversas para as tropas do Brasil envolvidas em operações militares na Guerra do Paraguai. Em que pesem alguns sucessos táticos iniciais, a Marinha e o Exército brasileiros sofreram uma acachapante derrota em Curupaiti, e o componente terrestre nacional sofria com doenças, treinamento deficiente e problemas de logística. Foi este o quadro que o Marechal Luis Alves de Lima e Silva (que entraria para a História como Duque de Caxias), nos seus provectos 63 anos, encontrou no dia 18 de novembro daquele ano, quando assumiu o comando da campanha.

Na atividade militar de qualquer país, à ninguém é oferecida uma missão de responsabilidade se você não tiver experiência prévia comprovadamente bem sucedida. E Caxias tinha, além da tarimba, um talento excepcional para o comando de tropas, já demonstrado em décadas de combates na Bahia, Maranhão, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai.

Sob sua batuta, o Exército Brasileiro que voltaria à ofensiva dali a oito meses, já seria outra corporação, mais saudável, melhor treinado, bem abastecido e soberbamente comandado.

E, sobretudo, vitorioso como tudo o que o Duque fez em sua vida a serviço do Brasil.


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Luís Alves de Lima e Silva, então Marquês (posteriormente Duque) de Caxias (Ilustração de Sébastien Auguste Sisson/Wikimedia Commons/Domínio Público).

A obra de uma vida pública não pode ser avaliada de maneira serena no espaço temporal de meses ou anos, pois é trabalho que exige décadas ou séculos de madura reflexão. Tentativas houve de algumas correntes de historiadores em comparar Caxias a Napoleão Bonaparte, mas este autor as considera imprecisas, preferindo emular seus feitos aos do Príncipe russo Grigori Potemkim (pela capacidade de garantir o império da Czarina Catarina II – A Grande) e a sua personalidade a do General (e, posteriormente, Presidente) americano Dwight Eisenhower (dado seu modo conciliador e habilidade política).


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Pedro II (levantando o chapéu) segue seus dois ajudantes de campo, um deles Caxias (ao centro); essa cena teria ocorrido durante o Cerco de Uruguaiana no começo da Guerra do Paraguai (Imagem provavelmente de Heinrich Fleiuss/Wikimedia Commons/Domínio Público).

Caxias foi um homem que pautou o interesse público nacional como meta e filosofia de vida. Sua existência foi toda dedicada ao Imperador, empregando suas energias a manter íntegro o País que ele tanto amou, defendendo-o dos invasores externos e das dissensões internas. Talvez ele tenha percebido, melhor do que ninguém, que para um País recém-formado como era o caso do Brasil, estar sob a égide de um poder central era a única garantia de não se fragmentar como ocorreu com as ex-colônias espanholas no resto do continente. Ele não garantiu apenas um Império: legou-nos unidade e um projeto de convivência de dimensões semi-continentais que perdura até os dias de hoje.

Não fosse sua atuação nas revoltas da Balaiada (1838-41), Revolução Liberal (1842) e Guerra dos Farrapos (1835-45), o Brasil seria uma país menor e, provavelmente, menos seguro. E em todos esses conflitos, seu maior mérito foi ser bem sucedido em oferecer uma paz aos vencidos que qualquer arquiteto de impérios julgaria impraticável.

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Na juventude de Caxias, a Monarquia era o certo possível para o Brasil. Mas o Império envelheceu com ele, e morreu pouco depois que ele se foi.

Foi um brasileiro notável, que se destacou muito além da profissão das armas, seja como político, administrador ou humanista.

Este texto visa, também, deixar no ar a seguinte pergunta: Quando vamos nos conscientizar que temos pleno e legítimo direito a admirarmos as coisas acertadas que nossos antecessores fizeram?

Oxalá nosso futuro não repita nossas tragédias, mas também não é demais pedir que continue a emular nossos acertos, pois eles são muitos e precisamos conhecê-los.

E o Duque de Caxias, sem dúvidas, foi um de nossos maiores acertos.


*Robinson Farinazzo é Capitão de Fragata (FN) RM1, expert em tecnologia aeronáutica e articulista de Defesa. Com mais de trinta anos de carreira militar, extensa experiência de campo e formação superior em Administração de Empresas, é Editor do Canal Arte da Guerra. E-mail: robinsonfarinazzo@gmail.com


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