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Maj Guerra Por Major João Paulo Diniz Guerra*

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Ondas de paraquedistas sobre a Holanda durante operações do 1º Exército Aerotransportado Aliado, em setembro de 1944 (Foto: US Army/Domínio Público).

Os setenta e cinco anos da Operação Market Garden, uma derrota valorosa que apagou o fracasso estratégico


Há 75 anos, na frente ocidental da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ocorria a maior operação militar com lançamento de paraquedistas da história, que pretendia abrir caminho para a conquista de Berlim pelas Forças Aliadas e pôr fim à guerra antes do Natal de 1944.

Às 09h00 da manhã de 17 de setembro de 1944, sob um tempo esplêndido e favorável a uma operação aeroterrestre, decolavam de 24 aeródromos na Inglaterra mais de cinco mil aviões e planadores, convergindo sobre zonas de aterragem e de lançamento de paraquedistas na Holanda, lançando mais de dezesseis mil paraquedistas e vinte mil militares aerotransportados, totalizando, aproximadamente, trinta e seis mil militares. Era o início da Operação Market Garden do marechal-de-campo Bernard Law Montgomery, herói inglês que comandou o 8º Exército Britânico (conhecidos como “Ratos do Deserto”) na Campanha do Norte da África, responsável por fazer recuar o general alemão Erwin Rommel, obrigando-o a retirar-se do Egito após a Segunda Batalha de El Alamein.

O marechal “Monty”, como era conhecido, havia participado da Operação Overlord, comandando o 21º Grupo de Exércitos Britânico no desembarque da Normandia, 6 de junho de 1944. Após as conquistas iniciais da ofensiva aliada no norte da França, a Força Expedicionária Aliada (frente ocidental) tinha como comandante supremo o general Dwight David Eisenhower (EUA) e estava organizada da seguinte maneira:


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Situação das forças aliadas após o desembarque da Normandia e concepção da operação Market Garden

No início do mês de setembro de 1944, o 21º Grupo de Exércitos Britânico do marechal Montgomery encontrava-se com o 1º Exército Canadense avançando pelo litoral norte da França, travando batalhas contra as forças alemãs nas cidades de Bologna, Calais e Dunquerque; enquanto que o 2º Exército Britânico se encontrava mais ao centro, avançando a leste da linha Antuérpia – Bruxelas e alcançando a fronteira da Bélgica com a Holanda; o 12º Grupo de Exércitos Americano era a força amiga de sul, pressionando os alemães na sua fronteira leste até a linha de defesa Siegfried com a missão de conquistar as regiões das cidades alemãs de Colônia e Bonn, enquanto que o 15º Grupo de Exércitos conduzia as operações militares no Mediterrâneo. A esta última força, pertencia o 5º Exército Americano, ao qual era subordinada a Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutou na 2ª Guerra Mundial.

A situação das forças aliadas não era das melhores, pois estavam com sérias dificuldades de reabastecimento que permitisse o seu avanço, uma vez que todo o ressuprimento era oriundo da Inglaterra por mar, via pequenos portos abertos na Normandia. A ofensiva aérea aliada havia destruído quase todas as linhas férreas na França e reduzido as opções de estradas que poderiam ser utilizadas para o suporte logístico. Além disso, apesar do exército alemão ter perdido 40 divisões na ofensiva de 6 de junho, de um total de 50 e seguir em retirada para suas fronteiras, suas forças militares ainda resistiam na linha Siegfried e na região dos Países Baixos. Hitler enviou reforços militares para a frente ocidental e determinou que o porto da Antuérpia fosse defendido, custe o que custar, pois sabia que os aliados dependeriam daquele porto para prover o ressuprimento adequado.

Entre agosto e setembro de 1944, o comandante supremo Eisenhower analisara dezenove planos de ataque para pôr fim ao maior conflito mundial da história, mas decidiu pelo plano apresentado, em 10 de setembro, pelo marechal Montgomery. O plano era ousado, ambicioso e surpreendeu a todos comandantes aliados, pois Monty era reconhecido por sua prudência na guerra. Entretanto, o emprego do fundamento das operações ofensivas da iniciativa, o princípio de guerra da surpresa e o propósito do plano em pôr fim ao conflito antes do Natal de 1944 foram decisivos.

O plano foi subdividido em duas operações, sendo uma aerotransportada, denominada de “Operação Market” e a outra, uma operação terrestre, denominada de “Garden”. A execução simultânea das duas ficou conhecida como “Operação Market Garden”, prevista para ocorrer em 17 de setembro de 1944, sob o comando do marechal Montgomery, que recebeu o 1º Corpo Aerotransportado Britânico do 1º Exército Aerotransportado Aliado, sob comando do general-de-exército Frederick Arthur Montague “Boy” Browning (UK). Assim ficou organizado o 21º Grupo de Exércitos Britânico:


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Missão da Operação Market Garden

A Operação Market tinha como missão realizar um assalto aeroterrestre, a partir de 14h00 de 17 de setembro de 1944, partindo de território inglês, para conquistar cinco cabeças-de-ponte aérea no território holandês, a fim de garantir a segurança e a passagem das forças aliadas terrestres realizada pelo 2º Exército Britânico, do 21º Grupo de Exércitos, através da rodovia Einhoven-Arnhem, Club Route (100 km). Para isso empregaria a 101ª Divisão Aerotransportada Americana para conquistar as cabeças-de-ponte aérea nas regiões de Son e Veghel, a 82ª Divisão Aerotransportada Americana para conquistar as cabeças-de-ponte aérea sobre o rio Maas na região de Grave e rio Reno na região de Nijmegen e a 1ª Divisão Aerotransportada Britânica, reforçada pela 1ª Brigada Paraquedista Polonesa, para conquistar a cabeça-de-ponte aérea sobre o rio Baixo Reno na região da cidade de Arnhem.


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Plano da Operação Market Garden (Duncan Jackson/CC BY-SA 4.0)

Devido à escassez de aeronaves, os paraquedistas seriam lançados em três escalões de assalto, sendo o segundo em 18 de setembro e o terceiro no dia 19 de setembro. As viagens previstas para o dia D eram consideradas suficientes para transportar o QG avançado da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica, três regimentos de paraquedistas das 82ª e 101ª Divisões americanas e a 1ª Brigada Aeroterrestre Britânica (três batalhões mais um regimento de artilharia) da 1ª Divisão Britânica. No decorrer do segundo dia, D+1, os efetivos restantes da divisão britânica seriam lançados, bem como elementos da 82ª e 101ª. Durante o dia D+2 os poloneses e os remanescentes das 82ª e 101ª tocariam terra. No decorrer do dia seguinte previra-se lançar os efetivos que, por diversos motivos, não tivessem sido lançados nos dias anteriores, se os houvesse. Seria um eventual dia D+3.

Já a Operação Garden incumbia ao 2º Exército Britânico, do 21º Grupo de Exércitos, a missão de avançar pelo eixo Wessel-Arnhem, em aproveitamento do êxito, para realizar a junção com as tropas aerotransportadas do 1º Corpo Aerotransportado Aliado, em 48 horas, devendo conquistar e manter a região de Arnhem e ficar em condições de prosseguir para leste para conquistar a região industrial alemã do vale do Ruhr, desbordando a linha Siegfried. Para isso, o 2º Exército Britânico empregaria, ao centro, o 30º Corpo de Exército na vanguarda, realizando o ataque principal (composto por duas divisões de infantaria, uma divisão blindada, mais uma brigada blindada), a comando do general-de-exército Brian Horrocks (UK), enquanto que o 12º Corpo de Exército Britânico se desdobraria a norte com a missão de proteger o flanco esquerdo e o 8º Corpo de Exército Britânico a sul com a missão de proteger o flanco direito. A força amiga vizinha ao 21º Grupo de Exército era o 1º Exército dos Estados Unidos, do 12º Grupo de Exércitos Americano protegendo o flanco direito do 2º Exército Britânico. Mais a sul, estava o 3º Exército dos Estados Unidos, a comando do general-de-exército George S. Patton para conquistar uma cabeça-de-ponte aérea sobre o rio Mosella. O 30º Corpo de Exército deveria lançar a Divisão Blindada das Guardas (UK) para a área de Eindhoven e a 11ª Divisão Blindada para a área de Turnhout-Tilburg. Enquanto isso, o 1º Exército Canadense tinha a missão de realizar ações ofensivas ao longo da costa, neutralizando as forças alemãs no estuário de Scheldt e abrindo o porto de Antuérpia, a fim de permitir o fluxo de ressuprimento vindo da Grã-Bretanha.

A intenção do marechal Montgomery era estabelecer cabeças-de-ponte aérea sobre os rios Mosa-Maas-Veghel-Waal (Reno)-Baixo Reno, os quais formavam um grande obstáculo para que as tropas aliadas atingissem o território da Alemanha propriamente dito. Tudo com a finalidade de permitir o avanço das Forças Aliadas para o leste e ocupar o vale do Ruhr antes do Natal de 1944 e forçar a rendição do Exército Alemão, pondo fim às hostilidades da 2ª Guerra Mundial no continente europeu. Ao final das operações da Market Garden, se pretendia que as forças alemãs remanescentes estivessem neutralizadas no território da Holanda e sem condições de continuar na guerra, além da região de Arnhem de posse das Forças Aliadas e com a população civil holandesa livre do Nazismo.

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O plano do marechal Montgomery atendia três condições julgadas primordiais pelo Comandante Supremo, general Eisenhower: realizaria uma ação ofensiva pelo flanco mais fraco dos alemães, evitando a linha Siegfried; atacaria o inimigo pela área de operações considerada menos provável por Hitler e seus generais, pois os mesmos acreditavam que o ataque principal seria conduzido pelo 3º Exército dos Estados Unidos, a comando do general-de-exército Patton; e as tropas aerotransportadas poderiam operar em condições mais favoráveis, em relação às bases na Grã-Bretanha.

Presença de tropas alemãs na região

A resistência holandesa passava informes aos aliados, referentes às forças alemãs no oeste, calculando os efetivos em dez divisões, sendo quatro divisões blindadas. Pouco antes ao ataque do 1º Corpo Aerotransportado Britânico, o general-de-exército Browning acreditava que os efetivos alemães em território holandês era de apenas algumas unidades de infantaria de 2ª classe e um total de tanques que oscilava entre cinquenta e cem. Entretanto, outros informes chegaram aos serviços de inteligência dando conta que duas divisões blindadas alemãs dirigiam-se para a Holanda, mencionando-se Eindhoven e Nijmegen como seus destinos finais. Pouco depois soube-se que as mencionadas divisões eram a 9ª Divisão Panzer SS Hohenstaufen e a 10ª Divisão Panzer SS Frundsberg, provavelmente reequipadas com novos carros de combate. Em setembro de 1944, Hitler havia readmitido ao serviço ativo o marechal-de-campo Von Rundstedt, designando-o Comandante-Chefe da frente oeste. O marechal Rundstedt foi responsável pelo chamado “o milagre do oeste”, pois conseguiu reorganizar o sistema de defesa alemão e recuperou a estrutura de comando e controle da Wehrmacht. Além disso, o marechal-de-campo Walter Model assumiu o comando do Grupo de Exércitos “B”, o qual conduziu as operações militares de defesa contra as forças aliadas na operação Market Garden com extrema liderança.

Fatores de risco

Toda operação militar ambiciosa envolve riscos, entretanto, os riscos em torno da operação Market Garden eram muito grandes. Naquela época, os sistemas de vigilância e reconhecimento eram mais simples se comparados aos drones e imagens de satélites atuais. A inteligência do 1º Exército Aerotransportado Aliado dava conta que a cidade de Arnhem estava fortemente defendida pela defesa antiaérea alemã, equipada com canhões de 88 mm, o que colocaria em risco as aeronaves, impossibilitando o lançamento da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica próximo à cidade. O terreno ao sul do rio Baixo Reno era arenoso, por isso impossibilitaria o pouso dos planadores, obrigando o lançamento da tropa britânica 13 km a oeste de Arnhem e a norte do rio Baixo Reno.

Entre a zona de desembarque/lançamento da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica e a ponte de Arnhem, os militares teriam que passar pela cidade de Oosterbeek. Entretanto, não se deram conta que nesta cidade se encontrava o QG do marechal Model e o 2º Corpo Panzer SS, do general Bittrich, composto por duas divisões panzer SS (a 9ª e a 10ª), as quais estavam em Zona de Reunião para reorganização e haviam acabado de receber novas viaturas blindadas.

Os informes que chegaram da resistência holandesa foram ignorados pelo comando dos aliados. Além disso, outro risco que envolvia a operação Market Garden era que não havia aeronaves suficientes para lançar todas as tropas paraquedistas de uma só vez, sendo necessário que um primeiro escalão de assalto fosse lançado em 17 de setembro, o segundo no dia 18 e a última leva no dia 19 de setembro. Essa situação deixava as forças aerotransportadas à mercê das condições climáticas, pois poderia atrasar o lançamento do 2º e do 3º escalão de assalto. O general polonês Sosobanski estava previsto no último escalão de assalto e foi um dos principais críticos aos planos da Operação Market Garden.

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Outro problema que envolvia a operação era o terreno dos Países Baixos. Planícies alagadas e uma imensa rede de rios e canais dificultavam a progressão de tropas de qualquer natureza, canalizando os movimentos terrestres pelas pontes. A estrada Club Route que seria utilizada pelo 30º Corpo de Exército Britânico, ligando Eindhoven a Arnhem, era estreita com apenas duas faixas. Todas as vezes que o escalão de reconhecimento sofria ataques pelos flancos, carros blindados destruídos bloqueavam a passagem da coluna de marcha, exigindo que viaturas de engenharia cerrassem à frente para liberar a passagem.

Durante a operação, foi comum a formação de congestionamentos de blindados com até 16 km, tornando-os alvos fáceis para as armas anticarro de uma brigada paraquedista alemã, localizada nos seus flancos, por isso a rodovia ficou conhecida pelos aliados como “estrada do inferno”. A rapidez no avanço do 30º Corpo de Exército por essa estrada era vital para o sucesso da Operação Market Garden, principalmente porque se sabia que as tropas paraquedistas tinham capacidade limitada para manter as cabeças-de-ponte aérea com seus próprios meios. O próprio general Browning, ao tomar conhecimento dos planos, disse a célebre frase ao marechal Montgomery: “Eu acho que nós vamos para uma ponte longe demais”, ao se referir à ponte de Arnhem. Essa frase inspirou o título do best seller “Uma ponte longe demais”, de Cornelius Ryan e o filme de mesmo nome em 1977, contando a história da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica em Arnhem.

Desenrolar da Operação Market Garden

Na noite do dia 16 de setembro e na manhã seguinte, mais de 4 mil toneladas de bombas foram lançadas pela RAF e pela Força Aérea do Exército Americano contra as defesas antiaéreas e posições defensivas alemãs, como preparação para o lançamento das tropas paraquedistas. Às 09h00 do dia 17, o primeiro escalão de assalto das tropas da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica e da 82ª Divisão Americana seguiram pela rota aérea norte, enquanto que as tropas da 101ª Divisão Americana seguiram pela rota sul para atingirem seus objetivos. Nos céus da Europa se formou uma nuvem de aviões como nunca visto na história. Foi uma grande demonstração de força, pois a nuvem de aviões tinha uma dimensão de 140 km de extensão e 4 km de largura. Por onde passava, a população civil se enchia de esperança que esta ofensiva colocaria fim à guerra.

O lançamento de paraquedistas ocorreu sem grandes problemas, com pouca interferência da defesa antiaérea alemã nas zonas de lançamento e de pouso, balizadas pelos precursores paraquedistas da 1ª Companhia de Paraquedistas Independente.

As três divisões aerotransportadas ocuparam e estabeleceram a segurança na zona de lançamento para garantir a chegada de ressuprimento aéreo e o lançamento dos demais escalões de assalto nos dias seguintes.

A operação Garden teve início logo após a confirmação do lançamento dos paraquedistas, por volta de 14h00, com o 30º Corpo Britânico iniciando seu deslocamento a partir da ponte “Joe” após uma concentração de fogo de artilharia em direção a Eindhoven. Os 8º e 12º Corpos Britânicos também iniciaram seus deslocamentos pelos flancos. Já nas primeiras horas de marcha e mesmo com o apoio de fogo, a Divisão de Guardas, testa do 30º Corpo, sofreu sérios ataques de canhões 88 mm antiaéreos, utilizados como armas anticarro com muita eficiência. Nesse momento, já era possível confirmar as previsões de que o movimento pela “estrada do inferno” não seria tão fácil e rápido como se pretendia.


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“Onde está a maldita ponte?” – sofrendo com problemas de comunicação, as tropas pediram instruções e outras informações aos habitantes locais (Imagem: Mega Hobby)

A zona de lançamento das tropas da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica estava localizada a apenas 3 km de distância do QG do general Model em Oosterbeek, o qual determinou que a 10ª Divisão Panzer SS, a comando do general Ludwig, se deslocasse para a região de Nijmegen, a fim de defender a região, e que a 9ª Divisão Panzer SS permanecesse na região de Arnhem, juntamente com as demais divisões de infantaria. Os militares britânicos foram recebidos pela população holandesa com festa e vinho, pois consideravam que sua chegada faria os alemães recuar e por fim à guerra. Mas não foi isso o que aconteceu e o otimismo da população contagiou os soldados britânicos, causando atrasos no deslocamento para chegar à cabeça-de-ponte aérea de Arnhem. Um oficial alemão encontrou todo o plano de operações da Market Garden dentro de um avião caído e entregou-o ao general Model, retirando o fator surpresa das ações subsequentes do marechal Montgomery. Apenas o 2º Batalhão Paraquedista Britânico, a comando do coronel John Frost, chegou à margem norte da ponte aérea de Arnhem, enfrentando dura resistência alemã, inclusive contra blindados. Eles ocuparam a margem norte da ponte aérea, mas não conseguiram conquistar a margem sul que permanecia com tropas blindadas alemãs defendendo-a fortemente.

As comunicações entre as tropas britânicas falharam, deixando a 1ª Divisão incomunicável com seus batalhões e com o comando do 21º Grupo de Exércitos Britânicos. O general Roy, comandante da 1ª Brigada Aerotransportada, montou seu posto de comando no Hotel Hartenstein, onde antes estava o general alemão Model, e começou a receber intensos contra-ataques das forças alemãs, impossibilitando o envio de reforços para a ponte aérea de Arnhem e, ainda, perdeu a posse da zona de lançamentos.

A 101ª Divisão Aerotransportada Americana também não encontrou grandes problemas no lançamento e reorganização das tropas, mas quando estavam apenas a 25 metros de conquistar a cabeça-de-ponte aérea na região de Son, os alemães destruíram a ponte sobre o canal. Como possuíam limitados meios de engenharia para travessia do canal, precisaram aguardar a chegada do 30º Corpo de Exército Britânico para que uma portada fosse lançada. Isso só ocorreu na noite de 17 de setembro e a preparação dessa portada de 150 m durou toda a madrugada e a manhã do dia seguinte. Somando-se o atraso do deslocamento das tropas blindadas, já havia um atraso superior a 24 horas.

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Por sua vez, a 82ª Divisão Aerotransportada Americana conquistou a cabeça-de-ponte aérea sobre o rio Maas na região de Grave, mas encontrou forte resistência da 10ª Divisão Panzer SS na região de Nijmegen, sobre o rio Reno (Waal). Sozinhos contra blindados, não seria possível conquistar o objetivo e também não possuíam meios orgânicos para realizar uma transposição do curso d’água. Precisavam aguardar a chegada do 30º Corpo Britânico. O general Model havia determinado que a região de Nijmegen fosse mantida a todo custo e que a ponte não fosse destruída para garantir uma passagem tática para futuros contra-ataques alemães.

No segundo dia de operação, a situação não melhorou. O 2º Batalhão Paraquedista do coronel Frost continuava isolado a norte da ponte de Arnhem, com muitos mortos e feridos, pouca munição e alimentos e disparando seus últimos rojões anticarro contra os ataques de blindados. Os generais Roy, Comandante da 1ª Divisão Aerotransportada e Lathbury, comandante da 1ª Brigada Paraquedista, tentaram reconhecer a situação em Arnhem pessoalmente, já que as comunicações estavam mudas, mas acabaram encurralados dentro de uma casa cercada por soldados e tanques alemães durante todo o dia, deixando as tropas, temporariamente, sem comando.

Ao final do dia, Monty esperava que o 30º Corpo Britânico estivesse realizando a junção em Arnhem, mas o máximo que aconteceu foi a testa ter ultrapassado a região de Son e estacionado poucos km, à noite, mais à frente, pois eram mais de 25 mil viaturas passando por uma simples portada. Enquanto isso, o general Gavin da 82ª Divisão Aerotransportada estava impaciente aguardando o apoio para vencer a resistência inimiga em Nijmegen.

O escalão de paraquedistas previsto para chegar na manhã de 18 de setembro atrasou seis horas devido ao mau tempo na Inglaterra. No fim da tarde, a brigada aerotransportada britânica que defendia as zonas de lançamento a norte do rio Baixo Reno teve que retrair e perdeu a região para os alemães. Como estavam sem comunicação com os aviões, o ressuprimento lançado pelo ar na ZL estava sendo capturado pelos alemães, piorando ainda mais a situação dos ingleses.

No 3º dia, 19 de setembro, as condições climáticas pioraram, impossibilitando o apoio aéreo e o lançamento do 3º escalão de assalto, incluindo a brigada aerotransportada polonesa na região de Arnhem. Finalmente, o 30º Corpo de Exército alcançou a 82ª Divisão Aerotransportada, mas as viaturas com os botes só chegaram na manhã seguinte, atrasando ainda mais a transposição do curso d’água. Nesse dia, dos 500 militares do 2º Batalhão do coronel Frost, restavam vivos apenas 150, quase todos gravemente feridos, incluindo o comandante.


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Prisioneiros de guerra britânicos em Arnhem, setembro de 1944 (Foto: German Federal Archives/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0)

Recusaram rendição pela manhã e resistiram bravamente até à noite na esperança de receberem reforços da divisão aerotransportada britânica ou a junção do 30º Corpo. Nada aconteceu e o coronel Frost, para garantir a vida dos feridos, se rendeu ao general Model. Foram capturados e os feridos conduzidos a um hospital alemão.


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Plano da Operação Berlim, resgate da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica (Imagem: Uma ponte Longe Demais, Cornelius Ryan, Biblioteca do Exército)

Apenas no 4º dia, 20 de setembro, a 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA recebeu os botes e tiveram que realizar uma transposição de curso d’água em plena luz do dia. Houve muitos mortos nesta ação, mas devido ao heroísmo dos militares norte-americanos e ao apoio de fogo dos blindados britânicos, a ponte de Nijmegen foi, finalmente, conquistada.

O general Ludwig, ao perceber que perderia a ponte, mesmo contrariando o general Model, tentou destruí-la, mas o acionamento das cargas explosivas falhou. Dessa forma, o 30º Corpo de Exército conseguiu se reorganizar e, ao final da noite, estavam a 16 km de Arnhem e ainda sob muita pressão dos contra-ataques alemães. O general Roy, em Arnhem, determinou o retraimento de suas forças para um bolsão em Oosterbeek.

Estavam em situação crítica, sem munição, sem comida, sem reforços e com muitos feridos. A brigada polonesa, finalmente, foi lançada ao sul do rio Baixo Reno, mas a região estava repleta de tropas alemãs que atiraram ainda quando estavam pairando no ar com seus paraquedas. Muitos poloneses foram mortos covardemente. Os remanescentes da brigada do general Sosobanski conseguiram se reorganizar e receberam um mensageiro inglês que atravessou o rio nadando. O general Roy enviou uma mensagem pedindo apoio para resgate. Os poloneses tentaram atravessar o rio em pequenos botes infláveis, mas a primeira tentativa daquela noite fracassou devido ao fogo alemão.

A perda da ponte de Arnhem permitiu que a 9ª Divisão Panzer SS reforçasse a 10ª Divisão, atrasando ainda mais a progressão do 30º Corpo pela “estrada do inferno”. Nos dias 21 e 22 de setembro, a brigada polonesa conseguiu enviar 35 militares em botes para iniciar o resgate da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica. Os primeiros feridos foram resgatados e os mais graves foram aceitos pelo general Model para que fossem evacuados para o hospital alemão.

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Uma Ponte Longe Demais

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  • Richard Attenborough (Diretor)
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A essa altura, o comandante supremo, general Eisenhower, já havia admitido o fracasso da operação Market Garden e emitiu uma Ordem Fragmentária, denominada de Operação Berlim, com o objetivo de garantir a manutenção do bolsão até Nijmegen, região conquistada, além do resgate dos remanescentes da 1ª Divisão Britânica em Arnhem. A divisão blindada, testa do 30º Corpo de Exército, alcançou arredores de Arnhem em 24 de setembro e pôde apoiar o resgate da divisão aerotransportada britânica, o que só foi concluído no dia 25 de setembro. De quase dez mil militares britânicos, apenas 2.163 homens foram resgatados. Os demais haviam sido mortos ou foram capturados pelos alemães. Os paraquedistas ingleses mantiveram sua posição bravamente por mais de oito jornadas sem apoio aéreo, sem ressuprimento e sem reforços.

Posteriormente, o general Bradley, dos EUA, disse à respeito da situação da 1ª Divisão Aerotransportada Britânica: “Há uma qualidade nos britânicos diante da adversidade que exprime tudo que existe de mais nobre no valor inglês e, como consequência disso, o valor cobre de tal modo a derrota que a lenda heroica fica na recordação muito depois da derrota ter sido esquecida. Arnhem passou a fazer parte dessa tradição britânica. Monty tinha sido rechaçado já bem perto do objetivo, porém a derrota foi tão valorosa que o fracasso estratégico passou despercebido”.

As perdas humanas da operação

No total, as baixas britânicas foram de 7.212 homens mortos, feridos e desaparecidos. Os americanos da 82ª, por sua vez, tinham perdido 1.432 combatentes e a 101ª, 2.110 militares. As cidades de Nijmegen e de Arnhem foram praticamente destruídas e com elas a vida de milhares de civis holandeses.


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Major Allison Digby Tatham-Warter, conhecido por ir à batalha com um guarda-chuva. Conta-se que ele teria desativado um blindado alemão atingindo os olhos do motorista empurrando o guarda-chuva pela fenda de observação (Imagem: Steam.com).

As baixas sofridas pelos poloneses chegavam a 378. Entre os pilotos dos planadores americanos foram registradas 122 baixas; as mortes referentes aos pilotos dos aviões de transporte, tanto americanos quanto britânicos, subiam a 596. A operação tinha custado, no total, 11.850 baixas, incluindo-se tropas aerotransportadas e aviadores. Isso foi mais que o dobro de baixas se comparado com as baixas do Dia D na Normandia.

Conclusão e ensinamentos colhidos

Todos os riscos levantados antes da operação se confirmaram, mas superaram as expectativas dos comandantes. O marechal Montgomery disse, posteriormente, que 90% da operação foi um sucesso, mas que reconhecia o fracasso final. Uma única derrota que marcou a vida do grande líder inglês que só havia conhecido vitórias em toda sua carreira. Os 10% que não deram certo ele atribuiu às condições climáticas que impossibilitaram a chegada dos reforços previstos, à falta de apoio de fogo aéreo e à incrível reação alemã. Além disso, houve as falhas nas comunicações. Monty admitia tristemente que o caminho fácil tinha uma armadilha oculta.

Cabe ressaltar que a derrota aliada em muito se deve às habilidades e liderança das forças alemãs. Suas ações ofensivas, mesmo na defensiva, com constantes contra-ataques foram determinantes. Além disso, houve o fator sorte por terem encontrado os planos da Operação Market Garden e por estarem com o corpo panzer SS estacionado na área de operações.

Muitos estudiosos dessa operação também atribuem o fracasso à concepção inicial do plano. Citam que foi um erro a decisão de dividir o escalão de assalto em três levas, mas isso era impositivo dado à escassez de aeronaves. Outro erro julgado foi a supervalorização da defesa antiaérea alemã em Arnhem, obrigando a zona de lançamento estar a 13 km de distância do seu objetivo. A demora na reorganização e deslocamento para a ponte de Arnhem permitiu que o general Model agisse rapidamente e enviasse reforços para Nijmegen e preparasse os contra-ataques nas cidades. Outro erro foi a escolha da “estrada do inferno” como principal eixo de aproximação, pois era de pista simples o que, somado à subestimação das forças alemãs na região, atrasou a junção das tropas blindadas com as cabeças-de-ponte aérea dos paraquedistas.

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Como ensinamentos, ficaram a demonstração de força, os exemplos de coragem e bravura das tropas paraquedistas. Além disso, os processos de planejamento de operações militares foram aprimorados para que não se repetissem os mesmos erros no futuro. Se fez necessário um maior estudo das possibilidades de ação das forças inimigas, da análise do seu dispositivo e valor. Da mesma forma, os efeitos do terreno e das condições meteorológicas sobre as operações militares são determinantes como fator da decisão. Se a linha de ação apresentada pelo marechal Montgomery fosse confrontada com essas situações, talvez algumas medidas adicionais poderiam ter sido planejadas como condutas, ou até mesmo, alterado o plano de operações.

A doutrina militar de operações aeroterrestres foi aperfeiçoada, fruto dos ensinamentos colhidos na Operação Market Garden. Principalmente quanto ao estudo do inimigo próximo das zonas de lançamento, a necessidade de aumentar o poder de fogo anticarro e de artilharia e dos meios de engenharia para a conquista e manutenção da cabeça-de-ponte aérea. Os meios de comunicações foram adequados para permitir a interoperabilidade com os meios aéreos. Foram estabelecidas condições mínimas e desejáveis para se desencadear uma operação aeroterrestre, principalmente quanto à possibilidade de realização da junção com forças amigas ou possibilidade de exfiltração, preferencialmente no prazo de 72 horas, e à existência de condições meteorológicas minimamente favoráveis.

Os generais Eisenhower, Montgomery, Bradley e Patton concluíram que uma ação decisiva para por fim à guerra exigiria uma ação conjunta que envolvesse todos os grupos de exército aliados na frente ocidental e não apenas um grupo, como foi a Operação Market Garden. De qualquer maneira, o avanço do 21º Grupo de Exércitos Britânico até Nijmegen atraiu grandes esforços das reservas alemãs, tirando pressão sobre a frente dos grupos de exércitos americanos, assim como possibilitou a conquista do importante porto de Antuérpia, o que foi fundamental para a chegada do suprimento que possibilitou a vitória dos aliados em 1945.

Por fim, recordar os feitos da Operação Market Garden é reconhecer o valoroso espírito combativo do paraquedista militar que na guerra não hesitou em combater mesmo em uma ponte longe demais na última vitória da Wehrmacht.


*João Paulo Diniz Guerra é Major de Infantaria e incorporou-se ao Exército em 1998 na EsPCEx em Campinas/SP. Foi declarado Aspirante-a-Oficial da arma de Infantaria em 2002 pela AMAN. Cursou a EsAO em 2011 e possui os seguintes cursos: Básico Paraquedista; Mestre de Saltos; Básico de Inteligência; Aperfeiçoamento de Oficiais; Pós-Graduação em Criptografia e Segurança em Redes pela UFF; Mestrado em Operações Militares. Fez o Curso Avançado de Infantaria na República do Peru. Foi instrutor do Curso de Infantaria da EsAO e CPOR/PA; comandou a Cia de Comando da 10ª Região Militar em Fortaleza. Atualmente é aluno do Curso de Comando e Estado-Maior na ECEME.


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5 comentários

  1. Agradeço por dar a oportunidade da divulgação deste tema. Assim, mantemos viva a memória daqueles que lutaram e deram a vida pela democracia e liberdade.

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