As “contribuições militares” da OTAN para a Ucrânia

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O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo (dir.), e a ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder (esq.), posam com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em frente a um F-16 no aeroporto militar de Melsbroek, em Bruxelas, 28 de maio (Virginia Mayo/Associated Press).

O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo (dir.), e a ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder (esq.), posam com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em frente a um F-16 no aeroporto militar de Melsbroek, em Bruxelas, 28 de maio (Virginia Mayo/Associated Press).

O momento em que Kiev chegar a possuir uma grande frota aérea equipada com aeronaves ocidentais será tarde demais.


Fazendo uma avaliação profissional e analisando a informação disponível sobre os recursos humanos, materiais e meios militares russos, podemos “inferir” o que a Ucrânia precisa e quais são as fraquezas objetivas deste Estado, considerado nesta guerra longa e irrestrita, como a linha da frente do flanco oriental da OTAN. Assim, e de acordo com nossa análise profissional (sem preconceitos), acreditamos que as possibilidades da Ucrânia de vencer a guerra contra a Rússia não podem ser avaliadas de forma particularmente otimista.

Desde o início elogiamos o heroísmo das Forças Armadas da Ucrânia e a prontidão e empenho de seus soldados. Destacamos também a seriedade e a experiência das forças russas, que demonstraram grande capacidade de adaptação e resiliência.

Em nossas análises, alertamos para a entrega ineficaz de enorme quantidade de meios militares e ajuda financeira à Ucrânia, pelo eixo Atlântico. Alertamos também para a falta de ajuda à Ucrânia, nas entregas sucessivas, em fases, tais como: tanques sim, mas não aviões. Depois aviões sim, mas não mísseis, e etc. Isso produz um impedimento ao uso adequado do poderio militar. Por outro lado, vemos que a Rússia está de fato preparada para a guerra, tendo mudado para uma economia de guerra e motivado soldados que estão prontos a lutar pelo seu país.

Um exemplo atual: com o F-16 e agora com o Mirage 2000, a OTAN vai armar a Ucrânia nos céus, mas os problemas persistem.

O “escudo” aéreo ocidental sobre a Ucrânia começa a ser fortalecido (será tarde demais?), pelo menos na intenção. Mas resta saber quando poderá estar plenamente operacional e em que medida poderá contribuir para frear uma ofensiva russa cada vez mais exaustiva no conflito que persiste no Leste Europeu há quase dois anos e meio.

Na cúpula realizada no âmbito das comemorações do 80º aniversário dos desembarques na Normandia, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recebeu do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, a promessa de receber caças Mirage 2000 de Paris antes do final do ano.

O caça Mirage 2000 é atualmente um recurso secundário na Força Aérea Francesa comparado ao Rafale mais moderno. Apenas um esquadrão, implantado no departamento de Haut-Seine, voa hoje com esta aeronave, que entrou em operação na década de 1980 e está destinada a ser aposentada em 2029.

Paris poderia dar a Kiev equipamentos operacionais, alguns dos quais também são destacados no Djibuti para operações de proteção aérea para o pequeno país do Chifre da África, ou entregar à Ucrânia os que atualmente pertencem ao Catar e que Doha vem tentando vender há algum tempo.


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Mudança de ritmo

O Le Monde sublinha a importância de uma mudança de ritmo promovida por Macron, que se insere na estratégia do presidente para aumentar o nível de dissuasão em relação à Rússia, não apenas no apoio à Ucrânia, mas também para melhorar sua posição relativa no quadro de uma Europa onde, após as iminentes eleições da comunidade europeia, a França terá que lutar para decidir os altos cargos na União, o verdadeiro trunfo de Paris: a supremacia militar em um Velho Continente inserido em um contexto global caótico.

O Mirage 2000 se juntará ao F-16. A intenção é que, depois do treinamento dos pilotos ucranianos em solo francês, o Mirage 2000 possa aparecer operacional nos céus do teatro de operações em cinco ou seis meses. Mas há um longo caminho entre a teoria e a prática.

O caso do F-16 confirma isso. “Em maio de 2023, o presidente Joe Biden deu luz verde aos pedidos de outros países para enviar seus próprios F-16, mas os desafios logísticos atrasaram repetidamente o treinamento”, recorda o jornal Politico. “Para complicar ainda mais o esforço, foram necessários meses para que os países ocidentais concordassem em enviar seus aviões para a Ucrânia”.

Atualmente, recorda o jornal norte-americano, “Dinamarca, Noruega, Holanda e Bélgica planejam enviar mais de 60 aviões F-16 de fabricação americana para Kiev neste verão”, meses após a previsão inicial de princípios de 2024.

Devemos também notar que estas aeronaves, para os Estados Unidos, não desempenharão papel decisivo no campo de batalha. Principalmente pelos problemas de formação que estão ocorrendo, do Texas à Dinamarca, devido aos “gargalos” decorrentes da reduzida capacidade de formação das bases aéreas dos países doadores. Entretanto, os Estados Unidos preferem se concentrar no fornecimento de componentes para o F-16 em teatros críticos como Taiwan, ou em angariar fundos para seu sistema industrial, por exemplo, vendendo lotes destes versáteis aviões de combate à Turquia, Argentina e outros países, em vez de se concentrar inteiramente em transferi-los para Kiev.

Para Kiev, a chegada do Mirage poderá compensar o revés sofrido pelo “atraso” dos F-16, dos quais até aqui estão garantidos apenas 24 unidades da Holanda, e o abrandamento semelhante no pedido feito à Suécia de caças Gripen. Estocolmo aprovou 16 pacotes de ajuda militar para a Ucrânia, antes e depois de sua adesão à OTAN, mas ainda não está convencida a desistir de seu valioso recurso aéreo.

Macron ganharia pontos se conseguisse superar as limitações operacionais apresentadas pelo F-16 (que poderiam surgir na França), incluindo tudo, desde o obstáculo linguístico na comunicação entre treinador e piloto até ao desafio de integrar o treinamento a um planejamento militar completo. Mas entre hoje e o final do ano, mesmo que os F-16 sejam superados pelos Mirage 2000, muita coisa pode mudar no terreno na Ucrânia e não é certo que esses aviões consigam contribuir muito ou impedir a iminente ofensiva de verão. Diante de uma estrutura militar russa adequada em termos antiaéreos, será decisivo garantir que a Ucrânia tenha maior cobertura aérea para a defesa ou possíveis contraofensivas.

As novas contribuições atacarão em solo russo?

Os aviões de combate teriam um papel de projeção diferente no apoio ao objetivo, garantido por vários países da OTAN, de proporcionar a Kiev a possibilidade de atacar alvos em solo russo, desde que sejam militarmente legítimos. Para Kiev, seriam úteis sistemas de mísseis de diferentes tipos, incluindo os Storm Shadows fornecidos pelo Reino Unido, Canadá e, aparentemente, em breve também pela Itália, que até aqui tem sido hesitante em relação a ataques transfronteiriços.

Mas podemos inferir com segurança que estamos muito longe da ideia de que novas contribuições aéreas possam ser armas-chave para equilibrar a guerra a favor de Kiev, dada a estratégia de desgaste e a ampla predisposição russa para gerir novas entregas de armas a longo prazo. Dificilmente veremos uma grande frota aérea ucraniana equipada com aeronaves ocidentais, digna desse nome, antes de 2025. Será esse momento tarde demais?


Publicado no La Prensa.

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