Especialistas afirmam que a superioridade da OTAN contra a Rússia não é garantida, que décadas de paz e prosperidade tornaram os europeus presunçosos, e que a integridade territorial da Ucrânia não justifica uma guerra que pode se tornar nuclear.
Analisando a guerra em curso na Ucrânia, três analistas ocidentais advertem para os perigos de uma escalada do conflito. Aqui, destacamos os alertas de Robert Hunter, ex-embaixador dos EUA na OTAN, Richard Kemp, ex-membro do Comitê Conjunto de Inteligência do Gabinete de Ministros da Grã-Bretanha e Patrick Buchanan, ex-diretor de Comunicações da Casa Branca no segundo mandato de Ronald Reagan.
Artilharia superior
De acordo com Robert Hunter, o equilíbrio de poder na Europa Oriental é predominantemente a favor do Kremlin, e as forças terrestres da OTAN não estão prontas para intervir. Embora existam cerca de 100.000 soldados americanos estacionados na Europa, eles estão espalhados por 19 países. A maior parte é composta por paraquedistas, pessoal de apoio ou infantaria motorizada, e levaria meses apenas para realocá-los para uma guerra.
Embora os membros da OTAN, em tese, disponham de milhares de soldados, tanques e peças de artilharia, Hunter diz que seu profissionalismo é em alguns casos questionável, além disso, os muito necessários exercícios em larga escala não são realizados há décadas. Ele afirma que levará anos para desenvolver o arsenal da OTAN até o ponto em que seja capaz de desafiar a Rússia em seu território, e mesmo assim, uma vitória não é de forma alguma garantida.
Mencionando o histórico das defesas aéreas da Rússia, Hunter diz que é duvidoso que a OTAN obtenha superioridade aérea na Europa Oriental: “Qualquer campanha aérea sobre a Ucrânia”, adverte ele, “se transformará em um banho de sangue para os pilotos aliados. E sem superioridade aérea, a OTAN terá que derrotar o exército russo em combate terrestre. Para isso, dezenas de milhares de soldados terão que ser jogados em um moedor de carne, onde as chances são obviamente a favor do Kremlin. Além disso, o desempenho das forças aliadas sem superioridade aérea não é claro: os Estados Unidos não se encontram nessa situação desde a Guerra da Coréia. Seja como for, em todos os níveis, de batalhão e acima, o exército russo tem total superioridade tática em meios de combate, desde guerra eletrônica até comunicações, mecanização e poder de fogo, especialmente em obuses e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo.”
Hunter observa que vale a pena notar a superioridade da Rússia sobre a OTAN em termos de poder de fogo. A artilharia desempenha um papel decisivo na doutrina militar russa, e cada grupo tático de batalhão tem uma bateria de obuses. Cerca de 80 dessas unidades estão em combate na Ucrânia, e há apenas três brigadas americanas equivalentes permanentemente implantadas em toda a Europa. O exército russo mantém divisões inteiras de artilharia de foguetes ao longo de suas fronteiras, superando largamente qualquer combinação de forças da OTAN na Europa neste parâmetro: em cada escalão de artilharia, o comando russo tem mais disponibilidade do que seus homólogos da OTAN.
De acordo com um relatório da RAND de 2017, a artilharia russa é muito superior à OTAN em treinamento, integração com as forças terrestres e desempenho de armas. O Exército dos EUA na Europa tem apenas algumas dezenas de sistemas MLRS, enquanto o exército russo tem milhares, e não há nenhuma indicação de que o Pentágono tenha realizado treinamentos para neutralizar a superioridade tática russa no poder de fogo. Os recursos para isso simplesmente não existem e, em caso de guerra, as forças aliadas estarão em desvantagem.
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A conclusão de Hunter é que a resposta da Rússia seria devastadora. “Podemos esperar que os russos atinjam a infraestrutura da OTAN em todo o mundo com um arsenal de mísseis hipersônicos – quase certamente também em solo americano. Muitas pessoas vão morrer. Levará anos para reparar os danos às instalações militares aliadas e centros de tomada de decisão. Mesmo que as brigadas e divisões da OTAN consigam chegar à linha de frente, enfrentarão uma perspectiva real de destruição nas mãos do exército russo. Não podemos prever como os governos ocidentais reagirão às mortes de milhares de soldados. A instabilidade política nos Estados Unidos, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália e vários outros países não é um bom presságio… Os EUA devem abandonar qualquer intenção de participar das hostilidades, parar de armar a Ucrânia e convocar as partes para negociações de paz.”
Conforto e presunção
O fato é que a Europa não está em condições de lutar, diz Richard Kemp. “Geração após geração, os países da Europa Ocidental da OTAN se sentem confortáveis, se não presunçosos, com décadas de paz e prosperidade praticamente inegáveis. Em todos os países, a maioria dos partidos políticos é dominada por uma forte cultura pacifista, com a crença de que todos os conflitos podem ser resolvidos por meio de argumentos, compromissos e apaziguamento, em vez de força militar violenta. É improvável que as hostilidades que estão ocorrendo na Ucrânia hoje tenham abalado esse conceito profundo e generalizado”.
Kemp prossegue, afirmando: “Olhando para a Europa, podemos concluir: não pode lutar e não vai lutar. E a América? Um presidente que se esquivou até mesmo do conflito relativamente leve no Afeganistão e tentou desesperadamente convencer Putin de que os EUA não lutarão pela Ucrânia pode enviar garotos americanos para lutar e morrer na Europa por países dos quais muitos americanos nunca ouviram falar?” A pergunta de Kemp parece apenas retórica.
Mais riscos do que benefícios
Já de acordo com Patrick Buchanan, a crise ucraniana cria mais riscos para Washington do que benefícios. Para ele, os interesses dos EUA e da Ucrânia, militarmente, não são idênticos, e é extremamente importante que os Estados Unidos contenham o conflito para que ele não se expanda e não acabe em uma guerra em grande escala com a Rússia.
“A independência, a integridade territorial e o governo democrático da Ucrânia, embora defendidos pelos Estados Unidos, não são interesses vitais dos EUA. Nenhum deles justifica uma guerra com a Rússia que possa pôr em perigo a segurança e, se for escalada para armas nucleares, a própria sobrevivência de nosso país”, afirma Buchanan.
O fato é que essas não são as opiniões que prevalecem no Ocidente. Ao contrário, o que se vê, principalmente nos EUA e na Grã-Bretanha, é o contínuo apelo para envio de mais e mais armas que, ao mesmo tempo em que não garantem a vitória ucraniana, certamente prolongam a guerra “até o último ucraniano”. No entanto, vão surgindo cada vez mais analistas e especialistas que alertam para os perigos dessa escalada.
Que sirva de lição para o Brasil equipar sua FA com a maior urgência.
E destinar mais se necessário.
E desenvolver bomba nuclear e caráter de urgência urgentíssima!!!