Tensões nas fronteiras, atividades marítimas e medidas de contenção da pandemia, além de expansão e modernização, pressionaram o orçamento das forças armadas chinesas. A atuação dos Estados Unidos também teria contribuído para as despesas maiores.
A China aumentou as despesas militares em 2020, refletindo um aumento global nos gastos com defesa apesar da pandemia do coronavírus, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI, Stockholm International Peace Research Institute), um think tank de análises de conflitos armados, despesas militares e comércio de armas com sede em Estocolmo.
De acordo com o relatório divulgado no último dia 26 de abril, a China gastou cerca de US$ 252 bilhões com suas forças armadas em 2020, o que representa um aumento de 1,9% sobre o ano anterior. A alta é inferior ao aumento global de 2,6%, mas 41% maior do que o orçamento que havia sido anunciado pelo Ministério das Finanças chinês no ano passado.
Globalmente, os gastos com defesa totalizaram US$ 1,981 trilhão, sendo que os cinco países que encabeçam a lista (Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Grã-Bretanha) respondem por 62% do total mundial.
De acordo com Nan Tian, pesquisador sênior do SIPRI, o crescimento econômico acabou absorvendo o aumento das despesas militares chinesas. Segundo ele, a China destacou-se como o único país da lista de “maiores gastadores” a não aumentar o peso das despesas militares sobre o PIB em 2020, apesar do aumento efetivo dos gastos.
A economia da China cresceu 2,3% em 2020, sendo a única grande economia a crescer no ano passado. De acordo com as informações do SIPRI, este foi o 26º ano consecutivo em que a China aumentou as despesas com suas forças armadas.
Tian acredita que o crescimento contínuo dos gastos da China se deve em parte a seus planos de modernização e expansão militar de longo prazo, o que estaria de acordo com a meta declarada de alcançar outras potências militares importantes.
Ele disse que, de acordo com fontes militares chinesas, uma parte dos gastos de 2020 foi para o controle da pandemia, especialmente na cidade de Wuhan. De acordo com essa fonte, os departamentos médicos e de logística do Exército de Libertação Popular forneceram assistência a Wuhan e outras cidades na província de Hubei, portanto os recursos militares foram transferidos para operações não tradicionais. Como resultado, alguns treinamentos militares programados acabaram sendo adiados ou mesmo cancelados.
Já para Zhou Chenming, analista do think tank Yuan Wang, com sede em Pequim, o PLA teve despesas mais altas na fronteira com a Índia e nos mares do Leste e do Sul da China. De acordo com ele, o país aumentou o envio de armas e tropas para a fronteira com a Índia no Himalaia, o que teria exigido a construção de estradas e novos quartéis.
Ele acrescenta ainda que, como a pandemia ainda não terminou, as medidas e os equipamentos empregados na prevenção e controle da pandemia seguem ativos e exigindo despesas. O aumento das atividades e patrulhas marítimas nos mares do Leste e do Sul da China também contribuíram para o acréscimo nas despesas.
Antony Wong Tong, presidente da Associação Militar Internacional de Macau, afirma que o PLA aumentou suas despesas com pesquisas de armas antibiológicas e apoio logístico para operações militares.
De acordo com ele, a Força Aérea do PLA implantou um número sem precedentes de surtidas de helicópteros e aviões de transporte na campanha de combate à pandemia, ao mesmo tempo em que a modernização militar não foi interrompida.
Song Zhongping, comentarista baseado em Hong Kong e autor de livros militares, disse que fatores externos, tais como a pressão dos Estados Unidos, estão entre os principais fatores do contínuo crescimento dos gastos militares de Pequim.
Segundo ele, entre as razões estariam a interferência dos EUA nas questões de Taiwan, Hong Kong e Xinjiang, além das Operações de Liberdade de Navegação conduzidas pela marinha americana no Mar do Sul da China. As disputas territoriais sobre as ilhas Diaoyu (ou Senkaku para os japoneses) entre a China e o Japão também então entre os fatores.
Despesas dos EUA
As despesas militares dos Estados Unidos aumentaram 4,4%, chegando a um total de US$ 778 bilhões em 2020, o que equivale a 39% do total global. De acordo com Alexandra Marksteiner, analista do SIPRI, o aumento das despesas dos EUA deve-se, em primeiro lugar, a investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e, em segundo, a projetos de longo prazo, tais como a modernização do arsenal nuclear americano.
De acordo com ela, esse aumento reflete as crescentes preocupações americanas com as ameaças percebidas em seus principais concorrentes estratégicos, como a Rússia e a própria China. Além disso, o governo Trump teria feito um esforço para reforçar as forças armadas do país, que o presidente considerava esgotadas.