Traduzido* por Albert Caballé Marimón |
*Por Matthew Gaskill, historiador, publicado originalmente no War History Online em 13 de novembro de 2018. Republicado no Velho General com permissão.
Todos sabemos que a Segunda Guerra Mundial foi uma guerra realmente global no sentido de que as batalhas foram travadas em muitos dos continentes e oceanos do mundo.
Em outro sentido, a guerra foi global porque muitas nações se alinharam com um dos lados. Obviamente, muitos mais se alinharam com os Aliados, por razões políticas, bem como razões de afinidade e história.
No entanto, as nações do Hemisfério Ocidental que não tinham lado, se alinharam com os Aliados. Existem várias razões para isso. A crença é um fator importante, mas a economia era muito mais. Por exemplo, consideremos os benefícios econômicos de se aliar-se aos Estados Unidos.
Você pode se perguntar se alguma das nações da América Latina que declarou guerra (e a maioria delas o fez) contribuiu para o esforço de guerra por qualquer meio além de fornecer matérias-primas. A Nicarágua forneceu homens? E o México? Peru? Chile? Algum deles?
A resposta é não, com uma exceção: o Brasil contribuiu com um considerável contingente de soldados que lutaram na Itália no final do conflito. Um desses brasileiros foi Max Wolf. Não se poderia inventar um nome mais alemão. De fato, Max Wolf era descendente de austro-alemães pelo lado do pai.
Seu pai, envolvido na indústria do café, migrou para o Brasil na virada do século. O pai de sua mãe era coronel do Exército Brasileiro. Wolf parecia o tipo ariano que Hitler idolatrava: alto, loiro e de olhos azuis.
Wolf era o chamado “Teuto-Brasileiro”. Embora a América do Sul tenha se tornado um local para onde muitos nazistas escaparam após a guerra, a verdade é que a América Latina, especialmente o Brasil, abrigou muitas pessoas de descendência alemã e austríaca antes da Segunda Guerra Mundial.
Como muitos nos EUA sabem, há mais pessoas de ascendência irlandesa nos Estados Unidos do que na Irlanda. Bem, o mesmo vale para pessoas de ascendência alemã, e nem todos os emigrantes da Alemanha se estabeleceram na América do Norte.
A América do Sul, rica em recursos e barata, chamou a atenção de muitos deles. Estima-se que o Brasil tivesse uma população de cerca de um milhão de pessoas de descendência alemã antes da Segunda Guerra Mundial.
Como nos Estados Unidos, as comunidades alemãs na América Latina tinham opiniões divididas sobre Hitler e o regime nazista. Muitas dessas pessoas, ou seus antepassados, haviam fugido do militarismo alemão e prussiano nos anos da unificação no final dos 1800 e muitos mais vieram pela mesma razão antes da Primeira Guerra Mundial.
No entanto, um grande número veio principalmente por razões econômicas. Naquela época, a Alemanha (como hoje) era uma nação densamente povoada e relativamente pequena, onde, para muitos, as oportunidades eram limitadas.
Seu ganha-pão podia estar na América do Sul, mas seus corações ainda estavam na Alemanha. Muitos alemães na América Latina e no Brasil professavam admiração e lealdade a Hitler. Algumas dessas famílias enviaram seus filhos para lutar por Hitler, embora, por uma série de razões, o número total seja desconhecido.
Wolf foi um dos muitos alemães que odiavam Hitler e tudo o que ele representava. Quando chegou o momento decisivo, ele e pouco mais de 25 mil compatriotas se juntaram à FEB, a Força Expedicionária Brasileira.
Wolf era um dos poucos homens que tinham alguma experiência militar. Ele tinha sido um policial militar que lutou contra as forças anti-governamentais na Revolução de 1932 tendo sido foi gravemente ferido. Ele era um dos poucos “velhos” da unidade, e os homens mais jovens olhavam para ele como uma figura paterna.
Quando boatos chegaram a Hitler de que o Brasil iria enviar uma divisão de homens para lutar contra ele, conta-se que ele teria zombado: “A chance de o Brasil mandar tropas para lutar é a mesma de uma cobra fumar um cachimbo.” O apelido da unidade brasileira era agora oficial: “As Cobras Fumantes”.
Chegando à Itália no miserável mês de dezembro de 1944, o Sargento Wolf, estava entre os milhares de brasileiros encarregados de tomar Monte Castello. A montanha está localizada a cerca de 56 quilômetros a sudoeste de Bolonha e era um dos principais marcos das fortificações alemãs no norte da Itália, pouco antes de a península se alargar no extremo norte.
Como muitas novas tropas, quando os brasileiros chegaram pela primeira vez, estavam ansiosos, mas despreparados. Apesar da falta de experiência, eles foram lançados na batalha muito rapidamente.
Escalando a colina, eles entraram em combate contra experientes soldados alemães e começaram a atirar descontroladamente, muitas vezes em nada. Claro que isso trouxe uma barragem de fogo alemão sobre eles, a posição da montanha sendo o local de uma grande posição de artilharia alemã.
Um dos homens que os mantinha unidos era Wolf. Ele se ofereceu para levar munição da retaguarda para as unidades da frente de combate, e levava os mortos e feridos de volta das linhas de frente. Esse tipo de coisa se tornaria uma ocorrência regular para ele enquanto seus homens lentamente aprendiam a combater nas semanas seguintes.
Wolf e seu pelotão frequentemente avançavam em missões especiais, emboscando as patrulhas alemãs e fazendo reconhecimento. Ele logo ficou conhecido como o “Rei dos Patrulheiros” por suas ações, particularmente uma vez, quando seu comandante pediu voluntários para recuperar o corpo de um capitão brasileiro morto. O corpo desse oficial estava sendo usado como isca por atiradores alemães, que disparavam em qualquer um que se aproximasse do oficial morto.
Certa noite, Wolf liderou uma pequena unidade para recuperar com sucesso o corpo do oficial. Como a unidade de Wolf lutou sob o comando do V Corpo de Exército Americano, ele recebeu uma Estrela de Prata pelas ações que executou em março de 1945.
Em outra ocasião, treze brasileiros entraram num campo minado alemão durante uma operação noturna e desencadearam a reação em cadeia das minas. Os treze homens morreram. Além disso, linhas telefônicas que iam da linha de frente ao comando na retaguarda foram cortadas.
Wolf e três de seus homens se ofereceram para recuperar os mortos e reparar as linhas de comunicação. Muitos acreditavam que eles não voltariam, mas eles cumpriram os dois objetivos.
A última foto conhecida de Wolf mostra-o com um grupo de seus homens escolhidos a dedo. Todos estão em pé, armados com metralhadoras Thompson. Pouco depois que a foto foi tirada, Wolff e seus homens foram enviados em patrulha perto da cidade de Montese, 64 quilômetros a sudeste de Bolonha.
Ao cruzarem um campo aberto com Wolf na liderança, uma metralhadora alemã abriu fogo, atingindo o sargento brasileiro e matando-o instantaneamente. Como isto ocorreu após semanas de uma brutal campanha de inverno nas montanhas, alguns dizem que Wolf desejou a morte.
No entanto, ele foi lembrado por seus homens como um líder de grande coragem que colocava as vidas de seus homens antes da sua.
Foto de capa: Soldados brasileiros no Dia da Independência do Brasil na Itália em 1944 (Autor não identificado / The War History Online).
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