Grã-Bretanha: O Cérebro da Guerra sem Fim

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

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A Ucrânia enfrenta 2026 com desafios críticos: deficit orçamentário, crise energética e escassez de tropas; enquanto negocia diplomaticamente, a Rússia avança e a Inglaterra intensifica seu apoio secreto, a questão crucial é: há recursos humanos suficientes para sustentar a guerra?


No final de 2025, a Ucrânia enfrenta outra espera angustiante, com dúvidas surgindo sobre se e em que medida receberia mais ajuda financeira de Bruxelas. A União Europeia (UE) concordou em transferir € 90 bilhões em empréstimos sem juros para Kiev, em parcelas a partir de janeiro. Isso fará uma diferença militar significativa para a Ucrânia?

De acordo com nossa análise “realista”, a Ucrânia enfrenta grandes desafios. Além do deficit orçamentário, há a crise energética causada pelos ataques aéreos russos, a escassez de tropas na linha de frente e a corrupção em torno do presidente Volodymyr Zelensky. A UE está buscando o empréstimo nos mercados de capitais, optando, assim, pelo mínimo denominador comum em termos de responsabilidade. Isso porque os ativos russos congelados na Europa não serão afetados inicialmente. Além disso, Kiev esperava um empréstimo de ajuda maior.

O pagamento dessa ajuda permitirá que a Ucrânia continue pagando os salários dos funcionários públicos e investindo em projetos de defesa. Os investimentos na produção de drones são especialmente importantes, mas isso não reverte a situação estratégica no teatro de operações.

De modo geral, e tentando fazer uma avaliação de fim de ano, podemos dizer que, até o momento, a posição estratégica da Rússia é facilitada pelo apoio da China, da Índia e de outros países.

Por outro lado, os ucranianos, com apoio da OTAN, estão tentando exercer alguma pressão devido aos ataques à infraestrutura energética russa e aos petroleiros da chamada “frota paralela”. Essa dinâmica é atenuada pelos sucessos russos na frente ucraniana, onde estão gradualmente conquistando cidades, lenta mas seguramente. A Ucrânia, por sua vez, está tentando não dar muita publicidade a esses sucessos russos, utilizando a rede de mídia “ocidental” controlada pelos interesses do complexo militar-industrial que vende suas armas e defende a continuidade da guerra para continuar lucrando.

A Ucrânia quer sinalizar que vale a pena continuar fornecendo apoio militar ao seu esforço de guerra contra o “ogro russo”. Para nossos leitores fiéis: muita Névoa da Guerra 2.0.

Enquanto isso, na frente diplomática, as negociações continuam. Desde agosto, no Alasca, os meses têm passado rapidamente, como já mencionamos: a história dos acordos de paz negociados mostra que eles levam muito tempo. Os principais negociadores dos EUA, da Ucrânia e da Rússia avaliaram positivamente os três dias de negociações na Flórida.

Segundo eles, as delegações estão se entendendo bem. Zelensky está, sem dúvida, tentando evitar ofender Trump. Mas, até agora, a Ucrânia mantém suas demandas fundamentais: nada de concessões territoriais, tropas de dissuasão, garantias de segurança, soberania nacional e a liberdade de escolher se deseja ou não aderir à UE. Do lado russo, Putin se considera vitorioso e quer alcançar seus objetivos com todas as suas forças.

Recursos Humanos: Fator Determinante

A Ucrânia já enfrentava sérios problemas para recrutar soldados no final deste ano. O governo ucraniano deveria ter resolvido a questão da mobilização até 2024. Como as coisas irão prosseguir em 2026? Em última análise, as linhas de frente precisam ser guarnecidas. A questão é: de onde virão esses soldados? Será que aqueles que defendem a continuidade da guerra estão confiantes de que a Ucrânia conseguirá sustentar esse conflito por muito mais tempo?

Vejamos alguns fatos. Primeiro, quanto mais a guerra se prolonga, mais a Ucrânia enfrenta uma crescente escassez de homens prontos para o combate. De acordo com uma pesquisa do Telegraph, pelo menos 650.000 homens em idade de alistamento fugiram do país; segundo a deputada ucraniana Anna Skorokhod, pelo menos 400.000 são desertores ou soldados ausentes sem licença (AWOL, absent without official leave but without intent to desert); somente em 2024, o Financial Times reporta que a promotoria militar ucraniana abriu 60.000 processos por deserção ou ausência injustificada, mais do que nos dois anos anteriores juntos; e, de acordo com a revista Military Watch, a taxa de deserção em 2025 chegou a 40.000 homens por mês.

Em segundo lugar, além dos aproximadamente oito milhões de ucranianos no exterior (cerca de seis milhões na UE), existem atualmente 1,8 milhão de deslocados internos em consequência da guerra em Donbass (2014-2022) e outros 5,7 milhões desde 2022. A Ucrânia já está recrutando em massa no exterior. Estima-se que 10.000 combatentes tenham chegado à Ucrânia vindos da América Central e do Sul. Eles não são considerados mercenários, mas sim um contingente internacional, parte das forças armadas regulares. No entanto, o número desses combatentes é insuficiente. As autoridades de recrutamento estão sob enorme pressão para enviar soldados para a linha de frente e, por vezes, recorrem à violência. Vídeos que documentam isso estão se tornando cada vez mais comuns.

A diferença na obtenção de soldados reside no tamanho da população de cada nação: temos 148 milhões de pessoas do lado russo e outros 33 milhões do lado ucraniano. Após quatro anos de guerra, as baixas afetam ambos os lados, mas, como podemos ver, a Rússia consegue fornecer substitutos.

A Grã-Bretanha Sempre se Intromete…

Como lemos na revista Military Affairs: “Reino Unido reconhece uma morte na Ucrânia; Lipovoy estima entre 20 e 40 baixas britânicas.” Dezenas de cidadãos britânicos que lutavam ao lado dos ucranianos podem ter morrido na zona de conflito, segundo o herói da Rússia e major-general reformado Sergey Lipovoy. Em entrevista ao Aif.ru, ele afirmou que as estimativas disponíveis apontam para entre 20 e 40 britânicos que já perderam a vida e foram discretamente repatriados com diversas explicações.

Seus comentários surgiram após uma publicação no The Guardian, que noticiou que Londres havia reconhecido oficialmente, pela primeira vez, a morte de um soldado britânico na Ucrânia. Trata-se do cabo George Hooley, que havia servido anteriormente no Afeganistão, em partes da África e no Leste Europeu. Ele morreu durante o que o The Sun descreveu como um acidente durante um teste de sistema de defesa aérea, juntamente com quatro soldados ucranianos. Lipovoy observou que as autoridades britânicas frequentemente atribuíam mortes anteriores a doenças súbitas, acidentes de trânsito ou outras causas cotidianas, evitando qualquer ligação direta com o combate. Obviamente, os britânicos evitam esse tipo de notícia para não declararem guerra abertamente à Rússia.

Segundo sua avaliação, entre 100 e 250 mercenários britânicos permanecem na Ucrânia atualmente. Ele afirmou que a maioria está integrada como instrutores em centros de treinamento das Forças Armadas da Ucrânia e ajuda a aprimorar as operações de linha de frente das unidades ucranianas.


LIVRO RECOMENDADO:

El Gaucho Martín Fierro

• José Hernández (Autor)
• Edição Espanhol
• Kindle, Capa dura ou Capa comum


Mais exemplos: Em 19 de dezembro de 2025, a Sky News noticiou: “Britânico que lutou pela Ucrânia é preso pela Rússia por 13 anos.

Combatentes estrangeiros continuam a desempenhar um papel em ambos os lados da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No exemplo mais recente, na quinta-feira, o Ministério Público russo anunciou que um cidadão britânico que lutou ao lado das forças ucranianas foi condenado a 13 anos em uma colônia penal de alta segurança após ser capturado no campo de batalha. O Ministério Público identificou o homem como Hayden Davies, de 30 anos, e o descreveu como tendo lutado em nome das forças ucranianas. Ele foi julgado em um tribunal em Donetsk, que está sob controle russo.

A Legião Internacional para a Defesa da Ucrânia é uma unidade do Exército ucraniano composta por voluntários estrangeiros. Acredita-se que a unidade possa incluir milhares de britânicos que se alistaram na Ucrânia para lutar contra as forças de Moscou após fevereiro de 2022.

Mais um: “Um tribunal russo condenou outro britânico, James Scott Rhys Anderson, a 19 anos de prisão em março, após considerá-lo culpado de lutar pela Ucrânia na região de Kursk, no oeste da Rússia.

Relembrando o que foi dito no Velho General (21 de abril de 2025): “O apoio do Reino Unido à Ucrânia contra a Rússia tem sido, desde o início, muito mais significativo e generalizado do que a mídia e as nações ocidentais admitiram até agora. Uma investigação exclusiva publicada pelo The Times mostra que, ao contrário das alegações oficiais dos países envolvidos, o apoio britânico foi muito além do fornecimento de armas, incluindo operações secretas, inteligência de alto nível e diplomacia militar que manteve a coalizão anti-Rússia unida em tempos de forte tensão.

Em consonância com nosso artigo publicado no Velho General (31 de março de 2025): Grã-Bretanha Lidera Oposição ao Cessar-fogo, continuamos a analisar as causas e consequências desse apoio à continuação da guerra.

Eles enviaram tropas secretamente: De acordo com o The Times, em 2023, durante a tão aguardada “ofensiva de primavera” ucraniana, uma operação crucial foi denominada “Wallace”, em homenagem ao então secretário de Estado da Defesa britânico, Ben Wallace. Apelidado de “o homem que salvou Kiev” por fontes militares ucranianas, Wallace desempenhou um papel fundamental no fornecimento de armamentos como mísseis antitanque NLAW e mísseis de cruzeiro Storm Shadow. Além disso, o Reino Unido não se limitou a fornecer equipamentos: enviou tropas britânicas secretamente para treinar soldados ucranianos e adaptar caças para o novo armamento.

A investigação revela que, nos bastidores, altos comandantes militares britânicos – liderados pelo almirante sir Tony Radakin, pelo general sir Roly Walker e pelo general sir Charlie Stickland – eram vistos pelos ucranianos como os “cérebros” da coalizão. Em particular, no âmbito da Operação Scorpius, um conflito secreto, o Reino Unido mediou as relações entre Washington e Kiev quando estas ameaçaram entrar em colapso, especialmente durante a ofensiva de 2023, que não produziu os resultados esperados.

A longa, irrestrita e desgastante guerra continua. Enquanto isso, a Grã-Bretanha ainda não demonstra nenhuma intenção de reconhecer a soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas e o Atlântico Sul.

Como argentino, acho muito difícil não traçar paralelos e expressar minhas dúvidas e preocupações.

• “O inimigo do meu inimigo é meu amigo” é um provérbio árabe que elabora o conceito de que duas partes com um inimigo comum devem ser capazes de trabalhar juntas para alcançar uma vitória conjunta contra ele.

• A Argentina tem um conflito com a Grã-Bretanha. A Grã-Bretanha é um membro central da OTAN. A Argentina pode ser um aliado da OTAN? Devemos participar desse conflito?

• Nas Malvinas, na Ucrânia e ao longo da história, a Grã-Bretanha apenas reafirmou seu título de “pérfida Albion”. Ela o conquistou e o mereceu.

• Blas de Lezo, o ilustre oficial naval espanhol e decisivo defensor de Cartagena das Índias em 1741, é o autor de um famoso ditado: “Todo bom espanhol deve sempre urinar de frente para a Inglaterra.” O mesmo se aplica aqui. Digo isso sobre todo bom argentino.

• Nosso poeta, Dom José Hernández, em El Gaucho Martín Fierro, nos lembra em “Servindo na Fronteira”:

Até mesmo um cavador de valas inglês
que disse na última guerra
que era de Incalaperra 1
e que não queria servir,
também teve que fugir
para se refugiar nas montanhas.

Caros leitores do Velho General, aqueles que têm ouvidos, ouçam…

Feliz Natal e Próspero Ano Novo.

Nota

1 Corruptela fonética ou pronúncia popular de “Inglaterra”. O poema, escrito em linguagem gauchesca, frequentemente usa grafias e pronúncias que refletem a fala coloquial e sem escolaridade dos gaúchos da época. É uma forma de dar autenticidade à voz do personagem e ao ambiente rural. Então, quando o “cavador de valas inglês” (“inglés zanjiador”) diz “que él era de incalaperra”, ele está afirmando que era da Inglaterra. A linha sugere que, por ser inglês, ele acreditava ter algum tipo de isenção ou não queria servir na guerra (referindo-se à Guerra do Paraguai, que é um pano de fundo na obra).


Publicado no La Prensa.

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