Em junho, a Suíça planeja realizar uma conferência de paz sobre a Guerra da Ucrânia, que já é mãe de outras guerras.
A Ucrânia está sob pressão crescente, a Rússia está confiante no desgaste e aparentemente prepara uma grande ofensiva. A situação é grave, afirmam vários especialistas militares. Atualmente, a Rússia tem maior poder de combate relativo contra a Ucrânia. Portanto, a Ucrânia está tentando contrapor os ataques através da movimentação de reservas. Mas faltam suprimentos.
Nesta fase das operações, em que a Rússia está claramente na ofensiva, as Forças Armadas ucranianas estão sob pressão em vários setores da frente. Seu maior problema: a falta de ajuda militar, especialmente de munições. O chefe do Exército de Kiev, Oleksandr Syrskyi, fala da superioridade da artilharia russa de 6:1. Os soldados ucranianos, por outro lado, lutam com “poucas ou nenhuma armas e munições”.
Ao mesmo tempo, há muitos sinais de que a Rússia está preparando uma nova ofensiva: fala-se em mobilizar mais 300 mil soldados. “A situação é muito grave”, afirmam vários especialistas como Douglas McGregor dos Estados Unidos, o ex-senador e coronel Richard Black, o coronel espanhol Pedro Baños e outros. Além disso, isto fica claro nas declarações dos próprios responsáveis ucranianos. O presidente Volodymyr Zelensky disse que se a situação dos recursos não melhorasse significativamente a favor da Ucrânia, suas tropas seriam efetivamente forçadas a se retirar. O ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, também observou que são necessários mais sistemas Patriot para conter os ataques aéreos russos.
Combate intensos
A Rússia está tentando fazer progressos em diversas áreas. Há intensos combates com as Forças Armadas ucranianas a oeste de Avdeevka. A situação também é semelhante em Bakhmut e espera-se em breve uma ofensiva na área de Kupyansk, porque os russos reuniram ali forças importantes.
“Os russos têm agora pouco mais de 500 mil homens destacados”, ou seja, duas vezes e meia mais soldados do que quando invadiram a Ucrânia em fevereiro de 2022. A Rússia pode mobilizar mais 300 mil soldados. Isto dará aos russos “muito mais forças para partirem para a ofensiva”.
Como já dissemos, devemos considerar que existem três níveis diferentes de abordagem.
Em nível tático e técnico de combate, a Rússia tenta atacar com formações de unidades mecanizadas. Em nível operacional, a Rússia ataca em diferentes pontos ao longo da frente de 1.200 quilômetros para forçar a Ucrânia a “esgotar suas preciosas reservas”. E em nível estratégico, tanto a Rússia como a Ucrânia tentaram adicionar reservas.
De acordo com nossas informações, sabemos que a Ucrânia está ficando cada vez mais para trás. No campo de batalha podemos ver os métodos clássicos de ataque das forças armadas russas: a primeira onda é usada principalmente para forçar os ucranianos a abrir fogo a partir de suas posições. Isto é observado pelos drones russos. Em uma segunda fase, o fogo é direcionado para estas posições identificadas. E, em terceira fase, as unidades de manobra russas atacariam. Assim, os russos conseguiram “avançar” metro a metro.
Devemos considerar que o chamado período de lama, nesta região, começa na transição do final do verão para o outono/inverno e depois na transição do inverno para a primavera ou verão; o terreno dificulta as manobras, pois a lama faz com que tudo atole.
Esta fase pode ser esperada agora. Quando o terreno secar novamente, podemos esperar que os movimentos ofensivos recomecem.
Portanto, uma ofensiva russa poderá chegar no final da primavera ou no verão. Isto certamente iniciará uma nova fase desta guerra. Segundo alguns meios de comunicação ocidentais, embora haja indignação pela falta de entrega de armas, a ideia de combater o mal como parte do mundo livre prevalece (ainda) na Ucrânia.
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Ofensiva iminente
A demografia fala alto. Como sabemos, já existe um desequilíbrio significativo no número de “potenciais de defesa” disponíveis, ou recursos humanos. De um lado temos a Rússia com quase 150 milhões de habitantes e por outro a Ucrânia, com 45 milhões de habitantes, dos quais parte significativa já fugiu ou esteve na guerra, alguns vítimas irrecuperáveis. A Ucrânia está tentando mobilizar mais soldados e a idade de recrutamento foi reduzida de 27 para 25 anos. E já há vozes que se perguntam por que razão as mulheres jovens também não podem ser mobilizadas.
Recrutados
O dilema é que estes soldados precisam de armas e equipamentos. A Ucrânia está atualmente tentando formar brigadas para se preparar para um possível contra-ataque. Algumas destas brigadas já não podem ser totalmente equipadas por falta de material e equipamento, pelo que são puramente brigadas de infantaria, soldados de infantaria. Isso mostra o quão precária é a situação.
Por outro lado, a Rússia aumenta a produção de munições e equipamento militar. Apesar das sanções, a Federação Russa conseguiu restabelecer a produção de armas, escreve o jornal alemão Die Welt. Atualmente, a Rússia produz 30 drones Shahed por dia, enquanto até o final de 2024 esse número poderá aumentar para 87. Além disso, Moscou produz mensalmente cerca de 100 mísseis de curto alcance e até 130 mísseis de longo alcance com alcance de 350 km. Em 2023, a Federação Russa produziu dois milhões de projéteis de calibre 152 mm e 122 mm, e este ano planejou produzir 2,1 milhões de projéteis de artilharia. Note-se que as reservas deverão ser suficientes para o Kremlin resistir a mais 2-3 anos de hostilidades na Ucrânia.
Declarações de Macron
A decisão expressa pelas autoridades francesas de enviar tropas francesas para a Ucrânia para apoiar o regime de Zelensky evidencia o estado de tensão alcançado, uma vez que se trata de uma intervenção de crucial importância. Mas isso é possível? Há alguma indicação de viabilidade?
Inicialmente, segundo nossas análises, há dúvidas até entre as Forças Armadas francesas. Por exemplo, o general reformado André Coustou, figura respeitada do Exército francês, intervém para avaliar o estado atual da França sob o presidente Emmanuel Macron. Enquanto o mundo mantém os olhos em conflitos como a guerra na Ucrânia, envolvendo atores importantes como a Rússia e a OTAN, a situação interna na França levanta questões cruciais sobre a legitimidade e a direção de seu governo. Mas há também outras declarações públicas, como outra entrevista com o general francês Jean-Bernard Pinatel, que dá uma lição de realismo competente, o que não parece bom para Macron. Em ambos os casos fica demonstrada a impossibilidade material e moral de apoiar a Ucrânia com tropas e mais material.
Pode haver paz?
Nos últimos dias, chamaram nossa atenção duas notícias que passaram por estes pampas como se nada tivesse acontecido. Vejamos: Sergey Lavrov falou sobre a guerra russo-ucraniana com seu colega chinês. Uma reunião entre os ministros das Relações Exteriores da Federação Russa e da China, Lavrov e Wang Yi, ocorreu em Pequim, e um dos principais temas da reunião foi a guerra russo-ucraniana. Wang Yi disse que a China apoia a convocação de uma conferência de paz sobre a Ucrânia com a participação igualitária de todas as partes e a discussão de todos os planos de paz (TASS).
E no dia 8 de abril soube-se que a Suíça planeja realizar uma conferência de paz sobre a Ucrânia em junho. Note-se que participarão no evento entre 80 e 100 países do chamado Sul Global (Índia, China, Brasil, México, países africanos).
Reflexões
Hoje ninguém escapa ao problema global em que o mundo é cada vez mais assolado por guerras e tensões geopolíticas. As grandes potências estão em atrito entre si. Hoje a guerra envolve absolutamente tudo. É um conceito diferente do antigo pensamento de guerra total que atingiu o auge entre 1943 e 1945. A guerra total era colocar todo o esforço de uma nação ao serviço da guerra.
O conceito atual de guerra implica que mesmo coisas que nada têm a ver com a guerra começaram a se envolver em conflitos. A atual grande e irrestrita guerra está sendo travada no eixo que vai do Mar Báltico ao Mar Negro, o principal teatro de operações entre a Alemanha de Hitler e a URSS de Stalin. Nada resta desses regimes, mas a luta geopolítica permanece: uma luta entre o Leste da Eurásia e a Europa Ocidental, satélite dos Estados Unidos.
Tentamos seguir os novos caminhos de uma guerra que já é mãe de outras guerras: elas já existem na Ásia Menor, na África e no Oriente Médio, e há outras prestes a explodir em várias regiões. Procuramos explicar isso em nossos artigos semanais, com absoluta objetividade e profissionalismo.
Publicado no La Prensa.