Por Afonso Cavalcanti Araújo e Felipe Pereira Barbosa*
Apesar de Samuel Huntington não ter previsto um conflito armado, sua teoria do choque de civilizações se corrobora na Ucrânia, que se configura em uma linha de fratura entre as civilizações ortodoxa e ocidental.
Introdução
Samuel P. Huntington, eminente pensador político norte-americano, publicou em 1996 a sua tese: O Choque de Civilizações e a Recomposição da Nova Ordem Mundial. Seu trabalho contestou a tese do Fim da História, de Francis Fukuyama, na qual indicava um período de consenso causado pela vitória da democracia liberal sobre o comunismo, durante a Guerra Fria.
O professor Huntington discordou da tese de Fukuyama, argumentando que os próximos conflitos não se dariam por fatores ideológicos ou econômicos, mas culturais ou, no sentido mais amplo, civilizacionais. Nesse contexto, cinco anos antes, em 1991, a Ucrânia tornou-se independente, erigida das cinzas da outrora poderosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Alguns conflitos na década de 1990 pareciam corroborar a teoria, como os ocorridos na ex-Iugoslávia. Nessa ocasião, houve um enfrentamento entre sérvios ortodoxos contra bósnios muçulmanos e croatas católicos. Passados cerca de 25 anos, entretanto, o choque de civilizações ainda é uma teoria geopolítica capaz de explicar os acontecimentos? A própria noção de civilização parece ser um termo polissêmico, não se configurando um consenso.
Após três décadas de independência do governo de Kiev, a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, deixando incrédulas muitas lideranças ocidentais, que não concebiam mais conflitos no seu grau máximo de violência com a mobilização de todo o Poder Nacional, com predominância da expressão militar. Dessa maneira, a guerra russo-ucraniana expôs novamente ao mundo o relacionamento do componente militar com a população civil em operações militares de alta intensidade.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo de opinião é analisar a guerra russo-ucraniana, com o enfoque na dimensão humana do ambiente operacional do conflito, tendo por base a teoria do choque de civilizações de Huntington, e as influências de seus antecessores no campo de estudo das civilizações.
Antecedentes
A região onde hoje se localiza a Ucrânia é marcada, em grande parte, pela presença da estepe, imenso corredor natural que interliga a Ásia à Europa. Esses caminhos foram percorridos por muitos povos e federações, vindos do Leste, ao longo da história: tribos indo-europeias, citas, hunos, pechenegues, quipechaques ou cumanos e mongóis da Horda Dourada (PHILLIPS, 1968). Além disso, a sua privilegiada posição debruçada sobre o mar Negro é conhecida dos ocidentais desde o estabelecimento de colônias gregas no século VI a. C.
As expedições de navegadores de origem escandinava, a partir do século IX, e a sua mistura com as tribos eslavas nativas, moldaram a cultura de grande parte dos atuais habitantes da Ucrânia, Rússia e Belarus. Eles penetraram, através dos rios Don e Volga, até o mar Negro e Cáspio (FERNÁNDEZ-ARMESTO, 2009, p. 78), em busca de escravos e outros saques (FRANKOPAN, 2019, p. 141).
Foi a Confederação de Kiev e suas derivações, junto com a conversão ao cristianismo ortodoxo, a unidade político-cultural formadora da civilização eslavo-ortodoxa (TOYNBEE, 1964), muito embora essa aliança entre os povos que compunham os rus tenha sido instável e com muita rivalidade interna, especialmente entre chefes de clã, postulantes ao título de Grande Príncipe de Kiev (Figura 1).
Em 1240, os mongóis da Horda Dourada invadiram o território e subjugaram a Rússia (FRANKOPAN, 2019, p. 190). Seguiu-se um período em que os rus de Kiev se tornaram vassalos tributários dos cãs (governantes). O território da atual Ucrânia foi conquistado pelos poloneses no século XIV, com exceção da Crimeia e do extremo leste. Esse período de junção com a Polônia, e posteriormente com a Lituânia, fez com que muitos dos povos eslavos sofressem um processo de ocidentalização (McNEILL, 1972, p. 306), conversão ao catolicismo e introdução de termos poloneses em seu idioma (Figura 2).
Figura 2: Europa Oriental em 1453 (https://www.timemaps.com/history/russia-1453ad/).
Por outro lado, os rus que se mantiveram vassalos dos mongóis, ou tártaros, começaram a se reunir em torno da liderança do príncipe de Moscou. Sob o comando de Ivã III, os russos vencem os mongóis na batalha do rio Ugra, em 1480. A partir desse evento, vão reconquistando dos tártaros suas terras, aproveitando o esfacelamento da Horda Dourada (McNeill, 1972, p. 302) em diversos canatos, como Astrakhan, Kazan e, o último a ser conquistado, o Canato da Crimeia (Fig. 3).
Figura 3: Expansão russa entre 1667 e 1812 (https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2015/03/09/maps-how-ukraine-became-ukraine/).
No final do século XVIII, o território ucraniano, antes pertencente à Polônia, foi dividido entre o Império Austro-Húngaro (parte ocidental) e o Império Russo (parte oriental). Um dos motivos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi o pan-eslavismo, a união de todos os povos eslavos sob uma única autoridade. Com o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, o Império Austro-Húngaro foi derrotado e dissolvido, e o Império Russo sofreu um processo revolucionário em 1917, criando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Nesse contexto, a Ucrânia foi formalmente independente entre 1918 e 1922, quando foi anexada oficialmente pelo governo de Moscou.
Dessa forma, pode-se evidenciar que houve uma cultura surgida na Idade Média, da mistura entre povos eslavos e desbravadores nórdicos, conhecida como a cultura dos rus. Essa cultura se desenvolveu, na “periferia da Civilização Clássica” (QUIGLEY, 1961, p.100), em duas vertentes, podendo ser chamadas de russa e ucraniana (que sofreu maior influência polonesa).
Cabe, neste momento, realizar um estudo sobre os autores que se debruçaram em definir uma noção ou conceito sobre “civilização”, influenciando os estudos de Samuel Huntington.
O estudo das civilizações
Huntington elenca como o cerne de seu trabalho que a “cultura e as identidades culturais – que, em nível mais amplo, são as identidades das civilizações – estão moldando os padrões de coesão, desintegração e conflito no mundo pós-Guerra Fria (HUNTINGTON, 1996, p. 18). A civilização, para o autor, seria a última instância cultural em que um grupo de cidadãos se reconhece. Para tal, é necessário analisar as definições de civilização dos diversos autores.
Com o objetivo de fundamentar seus estudos, Huntington parte do paradigma civilizacional para realizar suas análises, apoiando-se em pensadores que o antecederam, como Oswald Spengler, Phillip Bagby, Arnold Toynbee, Caroll Quigley, William McNeill e Pitirim Sorokin. Esses autores legaram vários postulados sobre o estudo comparativo das civilizações, suas definições e estágios.
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Spengler (1973, p. 47) define uma civilização como uma consequência orgânico-lógica de uma cultura. Para o autor, uma civilização é “o destino inevitável de uma cultura”. Povos, segundo Spengler, são “unidades espirituais”, em vez de unidades linguísticas ou políticas. Dessa forma, dentro de uma mesma civilização, há povos com muitas diferenças, porém, “sempre que um povo estranho à respectiva cultura aparecer no horizonte, despertará em toda parte um poderoso sentimento de afinidade psíquica” (SPENGLER, 1973, p. 291).
Para Toynbee (1964, p. 10), uma civilização representa “a unidade inteligível do estudo da história”, um meio-termo entre o estado nacional e a humanidade como um todo. As civilizações possuem os seguintes estágios: gênese, desenvolvimento, colapso e desintegração. Nesse sentido, compõem uma unidade nos estágios de gênese, desenvolvimento e colapso, deixando a unidade em uma fase denominada desintegração (TOYNBEE, 1964, p. 585). Para o autor, houve um contato espacial entre a civilização ocidental e a ortodoxa, com o predomínio da primeira sobre as populações russas dos territórios controlados pela Polônia e Lituânia, culminando em um “conflito irreprimível entre Moscou e o Ocidente sobre a obediência de […] ucranianos segregados de seus companheiros cristãos ortodoxos russos do Leste” […] (TOYNBEE, 1964, p. 590).
Quigley (1963, p. 98), por sua vez, define sete estágios para uma civilização, a saber: mistura, gestação, expansão, conflito, império universal, decadência e invasão. O estágio 5, império universal, ocorre quando é evidenciado um domínio político de um Estado sobre toda a civilização. Nesse sentido, Quigley retoma a ideia de Toynbee de Estado Universal. O último apontou o Império Russo como o Estado Universal ortodoxo, ao passo que o primeiro identifica a Rússia como futuro Império Universal da Civilização Ortodoxa (QUIGLEY, 1963, p. 107).
McNeill (1972, p. 7) afirma que as civilizações são
sociedades excepcionalmente maciças que entrelaçam as vidas de milhões de pessoas num estilo de vida frouxo e, no entanto, coeso, através de centenas e até milhares de quilômetros durante períodos de tempos que são muito longos […].
A teoria do choque de civilizações constatou a existência de grandes unidades culturais, as civilizações. Atualmente, podem ser identificadas a ocidental, a ortodoxa, a islâmica, a sínica ou confucionista, a hindu, a latino-americana e outras possíveis, como a africana e a japonesa (figura 4).
Huntington identifica os conceitos de “Estado-núcleo” e “linha de fratura”. O primeiro se refere ao principal Estado de uma civilização, ao passo que o segundo se refere a uma região de transição entre duas civilizações distintas. As guerras se dariam, em um nível global, pela competição entre Estados-núcleos, enquanto no nível regional, nas linhas de fratura (HUNTINGTON, 1996, p. 260).
Dessa maneira, o território ucraniano, na teoria do choque de civilizações, pode ser considerado uma linha de fratura entre duas civilizações: a ortodoxa, cujo Estado-núcleo é a Rússia, e a ocidental, cujo Estado-núcleo é materializado pelos Estados Unidos da América.
Em 1996, Huntington visualizava como pouco provável um conflito envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Para o autor, era mais provável uma secessão de seu território, segundo a linha de fratura. Nesse último caso, poderia, inclusive, haver a anexação de sua parte oriental pela Federação Russa (HUNTINGTON, 1996, p. 209).
Nesse sentido, pode ser identificado um conflito anterior à guerra de 2022, envolvendo o governo ucraniano e forças separatistas das províncias de Lugansk e Donetsk.
Atualidades
O colapso da União Soviética em 1991, após as reformas de Gorbachev, foi seguido pela independência de 15 repúblicas. Uma delas, a Ucrânia, consolidou-se, ao longo do século XXI, como uma grande exportadora de cereais, em especial do trigo cultivado no fértil solo de tchernozion, metais, ouro, carvão e hidrocarbonetos. Cerca de 78% da população se identifica com a Igreja Ortodoxa, tanto da jurisdição russa quanto da ucraniana. Aliás, a Igreja Ortodoxa Russa ainda é uma forte fonte de influência de Moscou no país (Figura 5).
O idioma é outro fator de influência russa. O ucraniano, apesar de ser a única língua oficial, é o idioma preferido de comunicação de cerca de 53% da população. Já o idioma russo, sobretudo nas regiões mais orientais, tem a preferência de cerca de 45% da população. Ademais, o ucraniano ainda é utilizado em sua forma cirílica, mesmo que modificada, em vez de sua forma latinizada. Fica demonstrado, portanto, que a Ucrânia ainda possui muitos laços culturais compartilhados com a Rússia (Figura 6).
Figura 6: Porcentagem da população que identifica o russo como seu idioma nativo, Censo 2001 (https://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/files/2014/01/ukraine610-1.jpg).
Após a dissolução da URSS, a Rússia perdeu, em um primeiro momento, seu status de potência, sobretudo no governo de Boris Ieltsin. A ascensão de Vladimir Putin, em 2008, e uma reordenação geopolítica interna conduziram a Rússia a um renascimento militar e econômico, bem como à crescente projeção de poder em suas ex-repúblicas, no Oriente Médio e na Ásia Central. Cabe destacar a parceria estratégica com a China e a dependência europeia de seu gás natural (MARSHALL, 2018, p. 40).
Recentemente, a Ucrânia viu a aproximação com a União Europeia, e mesmo com a OTAN, como uma opção possível. A primeira tentativa de diminuição da influência russa se deu em 2004, na Revolução Laranja, e a eleição de um candidato mais simpatizante da aproximação com a Europa, Viktor Yushchenko. Nessa ocasião, houve a polarização entre Yushchenko, candidato pró-Europa, e Yanukovych, candidato pró-Rússia (Figura 7).
Figura 7: Resultado das eleições presidenciais ucranianas, por província, 2004 (https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2013/12/09/this-one-map-helps-explain-ukraines-protests/)
Em 2014, houve nova onda de protestos, a Revolução Maidan, contra a suspensão dos acordos para entrada na União Europeia. Assim, os manifestantes ucranianos conseguiram depor o presidente Viktor Yanukovych e a sua política de aproximação com a Rússia. Os russos, em contrapartida, anexaram a Crimeia e iniciaram o suporte aos separatistas da região ucraniana de Donbass, a bacia do rio Don. As principais províncias (oblast) da região de Donbass são Donetsk e Lugansk.
Nesse contexto, fica evidente que a Ucrânia é um país dividido culturalmente. O Oeste tem o Ocidente como força de atração, enquanto o Leste ainda possui muitas amarraduras com a Rússia. Diante dessa constatação, é possível verificar como russos e ucranianos usaram essa questão cultural para a mobilização da população.
Assuntos civis no conflito
A doutrina militar brasileira define assuntos civis como uma série de atividades, do nível estratégico até o nível tático, referentes ao relacionamento do componente militar com as autoridades civis e a população da área do teatro de operações onde ocorre o conflito armado. Os objetivos dessas atividades visam a possibilitar à sociedade civil o desempenho de suas atividades regulares durante o conflito, além de conquistar a manutenção do apoio da população e de suas lideranças (BRASIL, 2021, p. 2-1).
A doutrina norte-americana diz que o apoio da população pode oferecer recursos e informações para as operações. Os assuntos civis podem ser positivos na “busca das ações diplomáticas para atingir os objetivos da política externa”. Em contrapartida, uma população hostil ameaça as operações e, muitas das vezes, enfraquece a opinião pública e os objetivos políticos (US ARMY, 2014, p. 1-1).
Nesse contexto, percebe-se que a Rússia e a Ucrânia desencadeiam uma série de relações institucionais referentes à temática em território ucraniano, particularmente no que tange à mobilização de pessoal, ao trato com refugiados e deslocados, assuntos de governo e cooperação civil-militar (CIMIC).
A principal questão relacionada aos assuntos civis diz respeito aos refugiados e deslocados da Ucrânia, especialmente com o estabelecimento de corredores humanitários, a partir da segunda semana do conflito.
Após os bombardeios russos às cidades ucranianas, que atingiram a população civil e geraram graves danos colaterais, a Rússia concordou com um cessar-fogo com a abertura de corredores humanitários, a maioria deles na direção oeste.
Para a definição dessa saída de civis das zonas de conflito, a Ucrânia concentrou seus esforços no nível político e estratégico na busca de apoio internacional, para finalmente coordenar diretamente com a Rússia.
No que tange aos assuntos de governo, os estabelecimentos administrativos das regiões ucranianas invadidas foram, em sua maioria, desmobilizados devido à campanha militar. Em consequência, possibilitou a atuação russa nas Repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, em apoio às forças separatistas nas atividades governamentais, como serviços públicos e atividades psicossociais, demonstrando aceitação da presença militar das tropas de Putin, que estão na região desde 2014.
No que se refere à cooperação civil-militar (CIMIC), existem registros, na rede mundial de computadores, de tropas russas executando ajuda humanitária aos civis ucranianos, com a distribuição de alimentos e fornecimento de apoio médico.
Figura 9: Tropas russas distribuindo alimentos à população civil da Ucrânia (https://twitter.com/HugoBor73884636/status/1499784850169024515).
Tendo em vista a origem compartilhada nos históricos rus de Kiev, percebe-se que a arquitetura de assuntos civis, desenvolvida pelas tropas russas e ucranianas, está alinhada com as diretrizes estabelecidas pelos respectivos líderes de governo.
Destaca-se que o líder russo, Vladimir Putin, definiu a contenda como uma “operação militar especial” com o objetivo de “desmilitarizar” e “desnazificar” a região, frente à expansão da influência ocidental da OTAN na Eurásia. Segundo a narrativa russa, “não existe uma Ucrânia, é uma ficção criada pelos soviéticos. O ucraniano é um dialeto russo, russos e ucranianos são um só povo” (FARAGO, 2022).
Dessa forma, a operação militar segue o alinhamento político que fundamenta a alegação de “um só povo” entre as nações historicamente originada dos rus (russos, ucranianos e bielorrussos), ou, em sentido mais amplo, “uma só civilização”.
Conclusão
Meira Mattos, um dos maiores geopolíticos brasileiros, em seu livro Geopolítica e Modernidade, já dava especial importância aos aspectos históricos e culturais, ao afirmar que a geopolítica é
um ramo da ciência política que se formou pela interação dinâmica de três ramos de conhecimento: geografia (espaço físico), a política (aplicação do poder à arte de governar) e a história (experiência humana). (MATTOS, 2011, p. 151)
Na invasão da Federação Russa à Ucrânia, ao lado dos russos lutam ucranianos de nascimento (especialmente das províncias de Donetsk e Lugansk) e a República de Belarus (ou Bielorrússia). A Ucrânia, por sua vez, é apoiada pelos países que compõem o Ocidente e, mais especificamente, pela OTAN e União Europeia, constituindo-se em uma possível “guerra por procuração”.
Dessa forma, apesar de não ter enxergado o conflito armado, corrobora-se a formulação de Samuel Huntington na teoria do choque de civilizações, na qual a Ucrânia se configuraria em uma linha de fratura entre as civilizações ortodoxa e ocidental, cujo resultado pode ser a fragmentação ucraniana ou, ainda, a anexação pela Rússia de parte de seu território.
Ademais, é visível a estratégia russa de captar o apoio de parcela da população ucraniana que se identifica com a cultura russa, evocando as ideias de “um mesmo povo” e “uma mesma civilização”. Essas ideias se baseiam em uma herança histórica compartilhada que remete aos rus de Kiev.
Por fim, fruto da análise em tela, é lícito inferir que o estudo das civilizações de Huntington, e daqueles que o antecederam, continua pertinente e atual. Além disso, este artigo alertou para a importância das considerações civis, especialmente no que tange aos aspectos culturais, como um campo de estudo de suma importância às ciências militares, particularmente aos estudos da paz e da guerra, pela capacidade de influenciar decisivamente o espaço de batalha.
Publicado na revista A Defesa Nacional vol. 849, 3º quadrimestre de 2022.
*Afonso Cavalcanti Araújo é tenente-coronel de infantaria do Exército Brasileiro. Possui os cursos Básico e Intermediário de Inteligência da Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx) e o Curso de Segurança do Sinal – Cat. B do Centro de Instrução de Guerra Eletrônica (CIGE). Pós-Graduado em Inteligência Estratégica pela AVM Faculdade Integrada, atualmente realiza o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
*Felipe Pereira Barbosa é tenente-coronel de cavalaria do Exército Brasileiro. Especialista em História Militar pela UNISUL, atualmente realiza o Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM) da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
Referências
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BRASIL. Exército. Comando de Operações Terrestres. Assuntos Civis. EB70-MC-10.251. 1. ed. Brasília, DF: Comando de Operações Terrestres, 2021.
ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA. Estudos militares conjuntos: conflito Rússia-Ucrânia, possíveis ensinamentos para o emprego conjunto das Forças Armadas. Rio de Janeiro: Escola Superior de Guerra, 2022.
FARAGO, Jason. The War in Ukraine is The True Culture War. The New York Times: 15 de julho de 2022. Disponível em: https://www.nytimes.com/2022/07/15/arts/design/ukraine-war-culture-art-history.html.
FERGUSON, Niall. Civilização: Ocidente X Oriente. São Paulo: Ed. Planeta, 2012.
FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe. Os Desbravadores: Uma História Mundial da Exploração da Terra. São Paulo: Ed. Cia das Letras, 2009.
FRANKOPAN, Peter. O Coração do Mundo – Uma Nova História Universal a Partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente. São Paulo: Ed. Planeta, 2019.
HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 1996.
JOHNSON, Paul. Tempos Modernos: O Mundo dos Anos 20 aos 80. Rio de Janeiro: Ed. BIBLIEX, 1994.
MARSHALL, Tim. Prisioneiros da Geografia. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2018.
MATTOS, Carlos de Meira. Geopolítica. V.III. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.
McNEILL, William. História Universal – Um Estudo Comparado das Civilizações. Porto Alegre: Ed. Globo, 1972.
PHILLIPS, E.D. Os Povos Nómadas das Estepes. Ed. Verbo, 1968.
QUIGLEY, Carroll. A Evolução das Civilizações. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961.
SPENGLER, Oswald. A Decadência do Ocidente. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1973.
TOYNBEE, Arnold. Um Estudo de História. Lisboa: Ed. Ulisseia, 1964.
US ARMY. FM 3-57 Civil Affairs Operations. Headquarters. Department of the Army. Washington, DC: 18 de abril de 2014.
Excelente artigo e principalmente esclarecedor aos que desconhecem a história da formação destes povos e atuais países. As condições geopolíticas são frutos de ações anteriores, que devem ser consideradas, inclusive a malfadada doação da Crimeia à Ucrânia feita por Kruschev. A Crimeia foi conquistada pelo Império Russo no século XVIII através de das armas, e no século XX entregue como gesto de boa vontade dos bolchequives russos à Ucrânia. Parabéns pelo do texto, muito qualificado.
Joel, muito obrigado pelo comentário e pelo feedback. Forte abraço e um excelente 2023!
Albert.