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Membros da Legião Estrangeira Francesa preparam-se para uma patrulha em um posto avançado francês em Bambari, em Ouaka, na República Centro-Africana, em 20 de agosto de 2014 (Édouard Élias/Getty Images).

Membros da Legião Estrangeira Francesa preparam-se para uma patrulha em um posto avançado francês em Bambari, em Ouaka, na República Centro-Africana, em 20 de agosto de 2014 (Édouard Élias/Getty Images).

A ideia de estrangeiros lutando na Ucrânia pode parecer uma grande novidade para alguns, mas o conceito de “legião estrangeira” já tem quase 200 anos.


Embora impondo sanções à Rússia e enviando armas para a Ucrânia, ao menos por enquanto os Estados Unidos e seus aliados da OTAN dizem que não vão enviar tropas ao país. No entanto, muitos não-ucranianos estão lutando pela Ucrânia seja por razões ideológicas, pessoais ou políticas.

Aproveitando esse apoio, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky criou a Legião Internacional de Defesa da Ucrânia. Embora pareça haver uma tendência na imprensa de dar a isso ares de novidade, a ideia de estrangeiros lutando nas forças armadas de um país não é nova. O conceito de “legião estrangeira”, uma força militar composta por cidadãos de países estrangeiros, tem mais de 190 anos.

O modelo francês

A Légion Étrangère, a Legião Estrangeira francesa, criada em 1831 com a missão principal de combater nas guerras coloniais francesas, é a mais famosa. Desde então, se envolveu em conflitos na Europa, na África, nas Américas e na Ásia. Nos últimos anos, a Légion esteve no Afeganistão e na região do Sahel, na África. Como em muitos países os cidadãos que juram lealdade a uma nação estrangeira podem perder sua cidadania, a Legião Estrangeira francesa mitiga esse risco exigindo que os legionários jurem lealdade à própria Legião, e não à França.

Dada a sua vocação expedicionária, os legionários estão sempre entre as primeiras tropas francesas enviadas a regiões conflituosas. Ainda assim, todos os anos voluntários vão à França para se alistar. Alguns querem lutar em um conflito específico; para outros, ingressar na Legião Estrangeira francesa significa começar uma nova vida, já que um legionário pode solicitar a cidadania francesa após três anos de serviço. Além disso, um ferido em combate é considerado français par le sang versé (francês por sangue derramado), e pode solicitar cidadania francesa.

Mas esse romantismo tem um lado sombrio. A Legião Estrangeira francesa muitas vezes atuou como ferramenta de conquista e ocupação colonial, como é mostrado, por exemplo, no filme A Batalha de Argel, sobre a independência da Argélia.

Além da França

Outros países seguiram o modelo francês. A Espanha fundou a Legião Estrangeira espanhola em 1920 para lutar em suas campanhas coloniais, na época a Guerra do Rife, no Marrocos. Durante a Guerra Civil Espanhola, voluntários estrangeiros lutaram em ambos os lados: a Legião Estrangeira espanhola apoiou Francisco Franco e as forças republicanas organizaram as Brigadas Internacionais, que contaram com mais de 35.000 voluntários de diversas nacionalidades.


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Combatentes estrangeiros desempenharam papéis significativos em muitos outros conflitos. Nacionais de diversos países lutaram na Guerra de Independência Americana, e durante a Revolução Russa, tropas não russas ajudaram a formar o recém-nascido Exército Vermelho. Na Guerra da Independência de Israel, os veteranos da Segunda Guerra Mundial se mostraram tão indispensáveis ​​que David Ben-Gurion se referiu a eles como “a contribuição mais importante da diáspora para a sobrevivência do Estado”.

Alguns países permitem que estrangeiros se alistem mesmo sem ter uma legião estrangeira per se. Cidadãos da União Europeia podem entrar para as Forças de Defesa Irlandesas; indivíduos da Commonwealth são aceitos no Exército Britânico; e naturais das Ilhas Marshall, da Micronésia e de Palau podem se alistar nas forças armadas americanas, além de estrangeiros com green card.

Como na França, servir em forças armadas estrangeiras pode ajudar em processos de naturalização. Membros não americanos das forças armadas dos EUA, por exemplo, podem se inscrever para obter cidadania depois de um ano de serviço. E, aparentemente, os estrangeiros que estão servindo nas forças armadas da Ucrânia serão elegíveis para cidadania ucraniana em algum momento no futuro.

Riscos

Algumas semanas atrás, dois britânicos e um marroquino capturados pelas tropas russas na Ucrânia foram condenados à morte. Em junho, dois cidadãos americanos que lutavam pela Ucrânia foram capturados pelas forças russas e é possível que enfrentem o mesmo destino.

A Rússia argumenta que os combatentes estrangeiros capturados são mercenários e, portanto, não são protegidos pela Convenção de Genebra. Ironicamente, a partir de 2015 a Rússia passou a aceitar o alistamento de não russos em suas forças armadas, oferecendo elegibilidade de cidadania após cinco anos de serviço. Mais recentemente, o presidente Vladimir Putin falou abertamente sobre seu apoio a estrangeiros que se voluntariam para lutar contra a Ucrânia.

A verdade é que voluntários estrangeiros em ambos os lados do conflito em breve poderão pagar o preço derradeiro – se ainda não o fizeram.

Adaptado de The Conversation.

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1 comentário

  1. A expressão “guerra de independência” é um ótimo eufemismo para a conquista colonial da Palestina pela entidade sionista.

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