O acordo secreto da OTAN

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Su-25 da Força Aérea ucraniana (Defence View).

Por Nikolay Petrov*

Su-25 da Força Aérea ucraniana (Defence View).

Os aliados de Kiev retiveram o fornecimento de armas pesadas para a Ucrânia, estabelecendo certas “linhas vermelhas” por temor de uma retaliação russa.


Ao prometer ao regime de Kiev, com grande alarde, seu total apoio na guerra contra a Rússia, os parceiros ocidentais, de fato, enganaram-no durante muito tempo. Como o jornal alemão Die Zeit noticiou dias atrás, seguido por outros meios de comunicação europeus, os países da OTAN fizeram um pacto secreto entre si em março passado para recusarem a fornecer à Ucrânia certos sistemas de armas, incluindo tanques e aviões. E fizeram isso por medo da Rússia.

Sim, eles forneceram e continuam fornecendo armas para Kiev, mas tiveram o cuidado de fazê-lo sem cruzar certas linhas. Os aliados da Ucrânia acharam que isso reduziria o risco de um confronto militar direto entre a OTAN e a Rússia, acreditando que o Kremlin poderia ver o fornecimento de tanques e caças ocidentais como o início de uma guerra e retaliar.

A existência desse acordo na OTAN foi indiretamente confirmada pelo presidente francês Emmanuel Macron, que disse em março que existe uma fronteira que permite que os países não façam parte de um conflito. Esta fronteira é definida por todos os aliados da OTAN, o que explica por que nenhum deles até agora forneceu caças para Kiev.

Segundo o SPD[1], a decisão foi tomada em uma reunião informal em Berlim. “O comitê de defesa foi informado sobre isso em meados de maio”, disse Wolfgang Helmich, porta-voz do SPD para a política de Defesa, à agência de notícias alemã DPA. E Johann Wadeful, vice-presidente da CDU[2], criticou o governo federal por não mencionar o conluio durante a consulta ao Bundestag[3].

Segundo os diplomatas, eles continuam mantendo o acordo informal porque, caso contrário, teriam que temer não contar com o apoio total dos aliados no caso de uma resposta russa.

Berlim prometeu entregar dois tipos de armas pesadas à Ucrânia: blindados Gepard e 2.000 obuses. A Ucrânia também pede à Alemanha que forneça BMPs[4] Marder. A empresa de armamentos Rheinmetall se ofereceu para fornecer exemplos de segunda mão de ambos os modelos. No entanto, essas entregas ainda não começaram.

“A razão é simples”, explica o jornal italiano Giornale para explicar o acordo. “É um pagamento pelo equilíbrio necessário que a aliança deve manter entre seu apoio a Kiev e a necessidade de não transformar um conflito ‘local’ em uma guerra mundial.”

Os temores da OTAN (além das declarações belicosas de seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, sobre o deslocamento de tropas para o leste ou o envio de armas letais para a Ucrânia) são, segundo o jornal, que “Moscou pode considerar tanques e aviões de combate como uma declaração de guerra de fato”. E assim, ressalta o Giornale, o Kremlin poderia tomar medidas de retaliação que rapidamente transformariam essa guerra em algo maior. Portanto, a Polônia não enviou o MiG-29 em março como prometido. E ninguém enviou ainda tanques de estilo ocidental. Este é um acordo “informal”, já que as armas são fornecidas por países individuais, não diretamente pela aliança.

Pela mesma razão – temendo uma reação russa – Israel se recusou a fornecer à Ucrânia mísseis antitanque Spike. Segundo o portal Axios, esses mísseis são produzidos na Alemanha com tecnologia israelense. De acordo com os termos do licenciamento, Israel deve aprovar a transferência dos mísseis para terceiros. Quinze dias atrás, o diretor-geral do Ministério da Defesa de Israel, Amir Eshel, reuniu-se em Washington com o subsecretário de Defesa dos EUA, Colin Kalem, que lhe perguntou se Israel concordaria em fornecer mísseis Spike para a Ucrânia. O diretor-geral do ministério israelense respondeu negativamente.

Ele explicou que Israel estava disposto a enviar à Ucrânia apenas material militar não letal. De acordo com a Axios, um alto funcionário israelense disse que Israel temia que, se soldados russos fossem mortos com armas israelenses, a Rússia em troca “prejudicaria os interesses de segurança de Israel na Síria”.


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Provavelmente não é uma coincidência que a notícia do acordo secreto tenha surgido na mídia depois da libertação de Mariupol e da vergonhosa rendição dos neonazistas na Azovstal, do início da rendição em massa dos militares ucranianos e do sucesso do exército russo no Donbass.

A derrota das FSU[5] está se tornando cada vez mais evidente e os europeus começam a mudar de posição, deixando claro mais uma vez que, embora apoiem Kiev, não querem arriscar um confronto militar direto com a Rússia por este motivo.

Aparentemente, essas revelações da mídia europeia não agradaram aos Estados Unidos, que logo se apressaram em negá-las indiretamente. A publicação americana Foreign Policy (FP) noticiou imediatamente que, de fato, algum país desconhecido da OTAN já havia entregado seus aviões de ataque Su-25 de fabricação soviética para a Ucrânia. Um correspondente da FP visitou o centro de coordenação internacional na base militar americana Patch Barracks em Stuttgart, Alemanha.

“Uma equipe de campo da Europa Oriental associada ao Comando Europeu tem ajudado a desmantelar jatos Su-25 e helicópteros Mi-17 de fabricação soviética para que possam ser enviados à Ucrânia”, disse um alto oficial militar britânico ao jornalista americano. Diz-se que as aeronaves já estão em uma instalação militar ucraniana.

O número exato de aeronaves de ataque Su-25 transferidos para a Ucrânia não foi divulgado, mas sabe-se que algumas foram transferidas pela Bulgária e outras enviadas pela Eslováquia. No total, até 12 desses caças poderiam ter sido entregues à Ucrânia.

Deve-se notar que as aeronaves foram transportadas por terra para ocultar sua implantação subsequente.

É a primeira vez até hoje que a OTAN transferiu aviões de guerra para a Ucrânia. Além disso, haveria um risco bastante alto de que caças MiG-29 também fossem entregues à Ucrânia no futuro, já que negociações semelhantes já ocorreram entre países europeus e os Estados Unidos.

De fato, os países da OTAN já ultrapassaram a “linha vermelha”, que eles próprios tinham previamente traçado, segundo a publicação da edição americana. Por exemplo, há obuses de longo alcance dos EUA na Ucrânia.

O representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzia, disse que o exército ucraniano estava usando obuses dos EUA para bombardear cidades pacíficas no Donbass.

Que tipo de “linha vermelha” é essa quando os Estados Unidos recentemente destinaram enormes somas de dinheiro – mais de US$ 40 bilhões – para apoiar a Ucrânia? Instrutores americanos, britânicos, canadenses e de outros membros da OTAN estão presentes na Ucrânia há muito tempo, para não mencionar os “voluntários” que lutam ao lado das forças armadas ucranianas. Ao mesmo tempo, a OTAN tenta continuar sua guerra contra a Rússia usando principalmente os ucranianos, enquanto eles próprios têm medo de arriscar um confronto direto com a Rússia.

Publicado no jornal online Século.

*Nikolay Petrov é professor e chefe do Laboratório de Metodologia de Avaliação do Desenvolvimento Regional da Escola Superior de Economia de Moscou. Foi acadêmico residente no Carnegie Moscow Center e dirige o Centro de Pesquisa Político-Geográfica. Petrov é colunista da agência de informação RBC, membro do Programa de Novas Abordagens para Pesquisa e Segurança na Eurásia, membro do Conselho Consultivo Científico do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais e membro dos conselhos científicos de diversas entidades. Foi consultor do parlamento russo e da presidência russa. Petrov é autor ou editor de inúmeras publicações analisando o regime político da Rússia, a transformação pós-soviética, o desenvolvimento socioeconômico e político das regiões da Rússia, democratização, federalismo e eleições, entre outros tópicos.


Notas

[1] Partido Social-Democrata da Alemanha.

[2] Partido União Democrata-Cristã da Alemanha.

[3] Parlamento alemão.

[4] BMP: do russo “Boyevaya Mashina Pekhoty”, ou Veículo de Combate de Infantaria.

[5] Forças Armadas Ucranianas.

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