A viagem de Macron à Rússia e depois à Ucrânia, que parece ter ocorrido sem coordenação com a União Europeia, deixando alguns aliados da França insatisfeitos, traz algumas reflexões interessantes.
A recepção relativamente fria a Macron em sua chegada a Moscou, e a maneira como ele se encontrou com Putin, foram dignas de nota. Devido ao diálogo dos dois lados, não houve motivo para um tradutor se sentar à mesa, e uma máquina de tradução foi usada.
1. Putin sentou-se energicamente à grande mesa do Kremlin, mostrando a Macron que um soldado russo que não recua nem um pouco contra o Ocidente.
O líder russo sentou-se longe de Macron e mostrou a grande distância da Rússia do Ocidente, bem como, em sua própria linguagem corporal, enfatizando claramente que a Rússia não teme a guerra que pode ocorrer a menos que a OTAN se retire da Europa Oriental.
2. Putin falou ao Ocidente durante cerca de quatro minutos, e Macron falou apenas dois minutos e 37 segundos. Talvez Putin quisesse ditar sua superioridade na conversação.
3. Putin, enquanto falou, olhou pouco para o rosto de Macron, mostrando que o Ocidente não se distingue em nada.
4. Putin sentou-se de forma relaxada, mas Macron puxou sua cadeira para frente, talvez para compensar sua estatura[1], ou minimizar seu desconforto. A expressão cabisbaixa sugere incômodo.
A reunião transmitiu uma mensagem clara, apesar da França parecer viver no passado, acreditando que o mundo ainda precisa de sua presença efetiva – do Líbano ao Mali, e até mesmo na América Latina –, como se fosse uma espécie de “gendarme global”. Uma imagem que já não corresponde à realidade e tem raízes no Gaullismo[2].
[1] Putin tem cerca de 1,70m, e Macron cerca de 1,75m de altura.
[2] Ideologia política francesa baseada nas ideias e princípios nacionalistas do general Charles de Gaulle.