O apoio a mudanças de fronteiras com base apenas na superioridade militar pode potencialmente fazer com que muitos acordos enfrentem problemas.
A cúpula da União Europeia (UE), Armênia e Azerbaijão sobre a disputada região de Nagorno-Karabakh será realizada em Bruxelas em meados de dezembro. A região, durante 44 dias, foi o território da Guerra do Karabakh, na qual o Azerbaijão obteve vitórias sobre a Armênia, em uma guerra que a mídia azerbaijana chama de “vitória patriótica”. Confrontos também ocorreram entre os dois países nos dias 15 a 16 de novembro, os mais sangrentos após a guerra. Após isso, os líderes da Rússia, Armênia e República do Azerbaijão, respectivamente Vladimir Putin, Nikol Pashinyan e Ilham Aliyev, se reuniram em Sochi na sexta-feira, 26 de novembro.
Embora as negociações e os resultados detalhados da reunião não tenham sido divulgados, analistas políticos apontam para um acordo alcançado entre as duas partes sobre as novas fronteiras e o vêem como um prelúdio para o retorno à calma no Cáucaso.
O Yeni Musavat, jornal relacionado ao governo do Azerbaijão, além da análise das posições da França e de seu presidente, Emmanuel Macron, sobre a Armênia, afirmou recentemente que Charles Michel, o presidente francês do Conselho da UE, não poderá tomar nenhuma decisão exceto reconhecer as novas fronteiras. Também foi noticiado que Nikol Pashinyan concordou em abrir o Corredor Zangezur, uma demanda da Rússia e do Azerbaijão durante a cúpula. A Armênia, que não foi apoiada pela Rússia, seu aliado de longa data, ficou sozinha na guerra e na busca de seus interesses.
A confissão de Nikol Pashinyan em uma reunião online, de que o mundo estava cansado de suas queixas, deixou claro e mostrou que a Armênia está sozinha e não é capaz de insistir em suas posições sozinha, mesmo que essas posições sejam corretas.
Agora, o apoio da Rússia ao acordo tripartite de Sochi e o silêncio do Irã sobre o mesmo acordo podem abrir caminho para mudanças fundamentais na demarcação da região. É claro que este acordo, embora sirva aos interesses da Rússia em outras negociações com o Azerbaijão, pode levar à limitação do acesso do Irã à estratégica região do Cáucaso e à União Europeia.
Enquanto isso, a aparente alegria do principal líder apoiador do Azerbaijão, a Turquia, não pode ser simplesmente ignorada. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, apesar dos graves problemas econômicos internos, ainda persegue a nova política do AKP chamada “Doutrina de Profundidade Estratégica” e acredita que a Turquia deve operar além de suas fronteiras.
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Em entrevista ao canal Haber 7, ele disse que foi informado por Ilham Aliyev que os problemas de construção de estradas e ferrovias ao longo do rio Araz foram resolvidos durante a reunião de Sochi.
Se a UE, em seu jogo diplomático e usando a atraente expressão “paz no Cáucaso”, vai aceitar as alterações nas fronteiras em benefício da Rússia, do Azerbaijão e mesmo da Turquia, ou se decidirá insistir nas fronteiras oficiais, começará a ficar claro nas próximas semanas.
A UE deve considerar que, se apoiar uma mudança de fronteiras com base na superioridade militar e citando “fronteiras históricas”, sem considerar a opinião dos habitantes de cada região, possivelmente muitos outros países e acordos recentes poderiam enfrentar novos problemas. Ela não deve esquecer que alguns países e fronteiras são novos, e alguns acordos podem não atender às vontades e interesses dessas nações.