Incidentes dinâmicos, como os que envolvem Atiradores Ativos ou Ataques Múltiplos e Ataques Coordenados, se caracterizam pela movimentação dos agressores em busca de vítimas e alvos, e demandam um sistema de gerenciamento também dinâmico.
Em 7 de julho passado, três assaltantes perpetraram uma tentativa de roubo a uma loja de celulares no centro de Angra dos Reis-RJ. Com a chegada da polícia, dois deles se entregaram e um terceiro saiu da loja com uma mulher como refém.
O assaltante caminhou com a vítima subjugada sob a mira de sua arma por cerca de 200 m seguido pelos policiais militares, que cercaram a área. À certa altura do trajeto, um policial civil, que passava pelo local, aproveitou um momento de distração do assaltante e disparou contra ele, liberando a refém, que não ficou ferida. A Polícia Militar informou que o criminoso baleado foi levado a um hospital, mas não resistiu ao ferimento e morreu. Ele portava uma pistola calibre 9 mm que foi apreendida.
Em artigo produzido em coautoria com colegas da Força para o Mestrado em Ciências Policiais no Centro de Altos Estudos de Segurança da PMESP, ajudamos a entender tecnicamente esta ocorrência, e os motivos pelos quais a atuação policial foi correta.
O acerto da ação explica-se pela Teoria do Caos e Efeito Borboleta em Incidentes Dinâmicos. O espaço de tempo entre o início do incidente até a efetiva conquista das medidas iniciais de contenção é chamado de Caos ou Cenário Caótico. Nesse período, o incidente caracteriza-se pela chamada “sensibilidade às condições iniciais”, cuja causalidade amplia a probabilidade de resultados possíveis. Portanto, os Incidentes Dinâmicos são regidos pela Teoria do Caos e pelo chamado Efeito Borboleta.
Em regra, a primeira tática a ser conquistada em um incidente é a contenção e, na sequência, o isolamento, ações típicas de sistemas estáticos, que visam reduzir as estratégias e táticas que possam ser empregadas pelo perpetrador, de forma a propiciar o emprego de POP (Procedimento Operacional Padrão) e Planos de Contingência específicos para tratamento de incidentes confinados, trazendo maior eficiência e mitigando os riscos da atividade policial.
Outro exemplo de Incidente Crítico Dinâmico foi uma ocorrência com refém em 27 de maio de 1997, na Rodovia Dom Pedro em Campinas-SP, findada por ação do Grupo de Ações Táticas de Campinas – ATAC da PMESP. As características do caso, com o risco oferecido pela passagem de caminhões e veículos em alta velocidade, além da baixíssima luminosidade do período noturno, com ausência de iluminação na via, dificultavam a contenção. Assim, antes que fosse possível conquistar a contenção, um policial militar percebeu e aproveitou uma “janela de oportunidade” para incapacitar o perpetrador e libertar a refém.
LIVRO RECOMENDADO
Sistema de Gerenciamento de Incidentes e Crises
- Wanderley Mascarenhas de Souza, Márcio Santiago Higashi Couto, Valmor Saraiva Racorti e Paulo Augusto Aguilar (Autores)
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No sentido do escalonamento em gravidade desses eventos, Atiradores e/ou Agressores Ativos, que buscam suas vítimas também são tipos de Incidentes Dinâmicos, como por exemplo, os ataques ocorridos nas escolas localizadas em Suzano-SP, em 13 de março de 2019, e em Saudades-SC, em 4 de maio de 2021. O termo Agressor Ativo é utilizado porque em muitos casos os ataques ocorrem por meio diverso do uso de armas de fogo, como armas brancas, veículos e aeronaves.
São exemplos de Agressores Ativos os Incidentes Dinâmicos ocorridos na cidade francesa de Nice, em 14 de julho de 2016, realizado por meio de Ataque Veicular (atropelamento) e em 29 de outubro de 2020, na Basílica Notre Dame, em Paris, utilizando-se uma faca.
Profissionais de contraterrorismo costumam fazer referência a esses Incidentes Dinâmicos Ampliados como ocorrências ao estilo Paris/Mumbai, dadas as características dos ataques terroristas múltiplos e coordenados ocorridos em 13 de novembro de 2015, na capital francesa, e em 26 de novembro de 2008, em Bombaim. A forma de resposta a esses incidentes dinâmicos escalonados, inclusive quando protagonizados por organizações criminosas, como por exemplo, os múltiplos ataques ocorridos na cidade de São Paulo em 2006 e os de Manaus neste ano, dá-se por meio de Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) chamados de Capacidade de Resposta Contraterrorista Frente a Múltiplos Ataques. Maiores detalhes podem ser encontrados no artigo Capacidade de resposta contraterrorista frente a múltiplos ataques, publicado no Velho General.
A Strategy of a Thousand Cuts, Estratégia de Mil Cortes, utilizada pela Al-Qaeda e Daesh, em 11/10 ao convocar seus seguidores, explica que: “[…] realizar ataques simples, calculando que um grande número de pequenos ataques em longo prazo teria o mesmo efeito que grandes ataques em menor número.” (DONGEN, 2017)[1]. Sugerem como armas facas e veículos.
O artigo completo, Atualização de procedimentos adotados na PMESP na doutrina de Gerenciamento de Crises, Modelo Estático, para o Modelo Dinâmico de Gestão de Crises, de autoria dos Majores PM Paulo Augusto Aguilar, Marco Antonio da Silva Rodrigues, Osvaldo José da Silva Júnior e Djair Silva Souza, orientados pelo Coronel Adriano Giovaninni, pode ser lido e baixado na íntegra no Velho General.
[1] VAN DONGEN, T. The Fate of the Perpetrator in the Jihadist Modus Operandi: Suicide Attacks and Non-Suicide Attacks in the West, 2004-2017. Terrorism and Counter-Terrorism Studies, p. 2004–2017, 2017.
Excelente artigo Major Paulo Aguilar e Velho General.
Fica evidente o quanto a Polícia e nossa sociedade devem se preparar para este cenário onde encontramos Atiradores Ativos, Ataques Múltiplos e Ataques Coordenados.
É importante e bem vindo o investimento em equipamentos e acessórios, mas também não podemos nos esquecer de investir na capacitação, treinamento e benchmarking (troca de experiência) com diferentes organizações, estados e países para nos aperfeiçoarmos no âmbito estratégico, tático e operacional, buscando sempre flexibilidade e dinamismo.
Obrigado!
Obrigado Paulo!
INTEGRAÇÃO, exatamente, principalmente! a NFPA 3000 (Active Shooter/Hostile Event Response – ASHER – Program) e o NIMS pescrevem: 1) Participação de toda a comunidade, 2) Comando Unificado (com outros órgãos e pessoas), 3) Resposta Integrada. A Integração deve ocorrer também com o Setor Privado (setor de segurança provada, saúde etc…), ONGs e a Sociedade (quinta hélice da inovação).