A coordenação entre a Rússia e a China desempenha um papel estabilizador nos assuntos globais em meio à crescente turbulência política e ao aumento do potencial de conflitos, disse o presidente russo, Vladimir Putin, durante uma videoconferência com o líder chinês Xi Jinping na segunda-feira.
O líder russo observou que, nos últimos 20 anos, os dois países aumentaram significativamente sua interação em política externa – um dos principais componentes da parceria estratégica.
“Em meio à crescente turbulência geopolítica, ao colapso dos acordos de controle de armas e ao crescente potencial de conflito em várias partes do mundo, a coordenação russo-chinesa desempenha um papel estabilizador nos assuntos globais”, ressaltou Putin.
Ele explicou que estava se referindo a questões urgentes da agenda internacional como o assentamento na Península Coreana, na Síria, no Afeganistão e a restauração do Acordo Nuclear com o Irã.
O presidente russo também mencionou outros aspectos da cooperação bilateral. “Trabalhamos ativamente na plataforma da Organização de Cooperação de Xangai, que, aliás, também comemora 20 anos neste ano. Facilitamos o estabelecimento da ordem mundial policêntrica a partir da posição do BRICS”, enumerou.
Putin observou que uma declaração conjunta dos líderes da Rússia e da China foi preparada para o aniversário do Tratado de Boa Vizinhança, Amizade e Cooperação. Esta declaração “reflete o papel único deste instrumento no estabelecimento do modelo moderno das relações russo-chinesas e sua importância para o estabelecimento de uma ordem internacional mais justa”, disse Putin, acrescentando que a declaração também estipula que o Tratado será prorrogado automaticamente por cinco anos em 2022.
Questões territoriais
Putin enfatizou que é importante que Rússia e China não tenham reivindicações territoriais uma contra a outra e que tal reconhecimento seja baseado em uma base jurídica sólida. Ele disse ainda que o Tratado Russo-Chinês de Boa Vizinhança, Amizade e Cooperação, assinado há 20 anos, determinou em grande parte a condição atual das relações bilaterais.
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“É importante que se afirme a ausência de reivindicações territoriais mútuas e a determinação dos dois países em fazer da fronteira comum um cinturão de paz e amizade eternas. Fizemos muito por isso, inclusive o trabalho na fronteira. Nós trabalhamos nisso há anos. Nós e nossas equipes alcançamos o resultado desejado, adequado para a China e para a Rússia”, disse Putin.
O tratado de amizade, ele enfatizou, incorporou antigas tradições históricas de vizinhança entre os povos dos dois países.
“Estão consagrados neste documento acordos fundamentais como o apoio mútuo na proteção da unidade do estado e integridade territorial, a promessa de não ser o primeiro a usar armas nucleares e de não mirar mísseis estratégicos uns contra os outros – tais acordos são muito significativos no mundo moderno – e respeito pelo direito soberano de escolher um sistema social e forma de desenvolvimento, e não interferência nos assuntos internos”, disse Putin.
Ele disse que, caso um dos países enfrente uma ameaça, a Rússia e a China entrarão em contato imediatamente para consultas.
Putin disse que estava muito feliz em ver e conversar com seu homólogo chinês. “A situação nada fácil do coronavírus não permite que nos encontremos pessoalmente, mas continuamos trabalhando – nossos colegas, você e eu – e mantemos contato”, disse Putin.
Diálogo intensificado
Putin afirmou que as relações russo-chinesas estão no auge, e os laços entre os dois Estados servem como exemplo de cooperação intergovernamental no século XXI.
“Atualmente, seguindo a letra e o espírito do tratado [de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável], conseguimos trazer as relações russo-chinesas a um patamar sem precedentes, convertendo-as em exemplo de cooperação intergovernamental no século XXI “, disse ele.
De acordo com o líder russo, os países criaram um mecanismo único de coordenação bilateral multinível, que inclui contatos regulares entre líderes e chefes de governo, cinco comissões intergovernamentais em nível de vice-primeiros-ministros, diálogos entre parlamentos e organizações regionais. “Tudo isso ajuda a resolver quaisquer problemas que surjam na cooperação entre os dois lados e a planejar nosso trabalho futuro”, disse o presidente russo.
Aniversário do PCCh
“Gostaria de aproveitar esta oportunidade para parabenizá-los […] por outra data importante – o 100º aniversário da criação do Partido Comunista da China”, acrescentou o líder russo. “A China cumpre este aniversário com novas conquistas, tanto no desenvolvimento social e econômico do país, quanto no cenário internacional”.
Putin observou que, no passado, a União Soviética “apoiou ativamente os comunistas chineses em sua luta revolucionária”, e proporcionou ajuda significativa no desenvolvimento do Estado durante os primeiros anos da nova China. A Rússia preserva a memória das páginas gloriosas da história comum, destacou.
“Foi criado um museu em Moscou, dedicado ao VI Congresso do PCC, que aconteceu aqui em 1928. A pedido de nossos colegas chineses, nossa agência de arquivo preparou uma seleção de material, ligado ao período de emergência do movimento comunista na China”, disse Putin.
Os laços entre as partes são uma parte importante de todo o complexo das relações bilaterais, acredita o presidente russo. “Espero que o aprofundamento do diálogo com o PCC facilite um fortalecimento ainda mais profundo da cooperação, do entendimento mútuo e da confiança entre nossos países”, concluiu.
Tratado de Amizade e Cooperação Rússia-China
O tratado foi concluído em 16 de julho de 2001, por Vladimir Putin e pelo então líder chinês Jiang Zemin. No tratado, as duas partes declararam a intenção de construir relações com base em uma parceria estratégica igualitária, de acordo com normas universalmente reconhecidas do direito internacional e princípios de respeito mútuo pela soberania, integridade territorial, não agressão, não ingerência em assuntos internos, igualdade, benefício mútuo e coexistência pacífica uns com os outros.
Os signatários manifestaram-se em prol do desenvolvimento da cooperação política, comercial, econômica, técnico-militar e humanitária e da luta contra o terrorismo, o separatismo, o extremismo e o crime organizado.
Fonte: Tass.