A frota de cinco submarinos israelenses classe Dolphin, com um sexto em construção, é envolta em sigilo e especulações. Movidas a motores diesel-elétricos e com tripulação básica de 30 militares, alguns analistas sugerem que essas embarcações são capazes de lançar mísseis nucleares – que Israel não nega e nem confirma possuir.
Quando os combates eclodiram em Gaza no mês passado e os foguetes choveram sobre Israel, os tripulantes que operavam o submarino INS Leviatã da Marinha de Israel não sabiam de quase nada. Submersos para um exercício, eles receberam apenas retransmissões de breves boletins para não se distraírem em sua missão.
“Somos clandestinos por definição e, até certo ponto, isolados no mar. Nosso desempenho depende de nosso foco”, segundo um oficial a bordo do Leviatã durante uma missão de treinamento.
Há muita especulação envolvendo a frota de cinco submarinos israelenses classe Dolphin, cada um custando (estima-se) cerca de US$ 500 milhões. Um sexto está encomendado à ThyssenKrupp, o fabricante alemão.
O INS Leviatã – nome do mítico monstro marinho do Antigo Testamento –, foi lançado ao mar em 1992 e colocado em serviço em 1999. É um submarino da classe Dolphin I, com tripulação formada por seis oficiais e 24 marinheiros, podendo transportar outros 10 (pessoal em treinamento, forças especiais, mergulhadores etc.). Tem propulsão diesel-elétrica, mede 57 metros de comprimento, desloca até 1.760 toneladas submerso e tem velocidade máxima de 20 nós quando submerso. Possui quatro tubos de torpedo de 650 mm e seis de 533 mm, e transporta um total combinado de até 16 torpedos e mísseis de cruzeiro Popeye Turbo. Pode ser armado também com mísseis antinavio UGM-84 Harpoon.
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Os mísseis Popeye Turbo, que os americanos chamam de AGM-142 Have Nap, têm alcance estimado de pelo menos 1.500 km, e muitos analistas acreditam que podem ser equipados com uma ogiva nuclear de 200 quilotons.
Com cerca de um terço do tamanho dos gigantes movidos a energia nuclear dos Estados Unidos ou da Rússia, os classe Dolphin são projetados principalmente para patrulhar a costa do Mediterrâneo. No entanto, atuam também no enfrentamento do arqui-inimigo Irã; pelo menos um deles já foi visto no Mar Vermelho, onde vários navios iranianos foram sabotados.
A bordo
Girando o periscópio para espiar os navios de carga na superfície, o capitão ordenou um mergulho mais profundo e um ataque simulado. Um visor da sala de controle mostrou os tubos do torpedo do Leviatã como “inundados” ou prontos para o lançamento.
O piso se inclinou, a equipe da sala de controle se apoiou pela inclinação. Alguns metros abaixo, o Leviatã mudou de diesel para energia elétrica. Para preservar o silêncio resultante, os tripulantes transmitiam ordens de alvos e disparos em murmúrios, reforçados por toques de dedo nas costas dos camaradas. Um alto-falante emitiu o sinal do sonar do torpedo: como o som de um grilo, subindo em urgência e depois caindo em silêncio quando o alvo foi “afundado”.
Em seu porto de origem, Haifa, um hangar fortificado protege os classe Dolphin de ataques de foguetes ou olhares hostis. Espera-se que as tripulações embarquem em prazo extremamente curto, disse um oficial.
As refeições, como em outras partes das forças armadas de Israel, é kosher. Isso se traduz em utensílios de cozinha separados para carne e laticínios, o que, no Leviatã, resultou no armazenamento de talheres nos corredores.
As orações precedem as refeições do sábado, com suco de uva ao invés de vinho. A água do mar purificada permite banhos regulares e lavagem das mãos. Uma bicicleta ergométrica, jogos de tabuleiro e vídeos ajudam a tripulação a passar o (pouco) tempo de folga.
As acomodações apertadas significam que os submarinistas fazem rodízio de três para uma cama. Todos usam o primeiro nome, exceto o capitão e o primeiro oficial.
Os Dolphin estão entre um punhado de unidades militares israelenses cujo pessoal deve perder qualquer outra cidadania que possua, uma precaução contra a pressão de espionagem para potências estrangeiras.
Quase não há “compartimentação” durante as missões. A tripulação é informada dos planos secretos para criar um senso de causa comum, segundo um oficial.
Se for verdadeira a possibilidade de ser armado com mísseis nucleares, o Leviatã, e os demais classe Dolphin, serviriam como plataformas de “segundo ataque”, um dissuasor. “Seria muito mais difícil ter certeza de destruir submarinos submersos”, disse Norman Friedman, um analista do U.S. Naval Institute dos EUA. “Se Israel implantasse um míssil lançado por submarino, eu apostaria meu dinheiro em um míssil de cruzeiro.”
Israel, que não confirma e nem nega possuir armas nucleares, visa impedir o Irã de obter tais armas. O Irã, por seu lado, diz que seus projetos nucleares são pacíficos. E clama pela morte de Israel.
Traduzido e adaptado do original publicado pela Reuters.
An Israel Chai.