O treinamento dos policiais é essencial, já que todos são potenciais primeiros intervenientes em incidentes SPP, para que os protocolos e procedimentos sejam implementados de forma rápida, correta e decisiva.
Primeiro devemos compreender o que significa a expressão “Suicídio por Policial” (SPP): ela advém da tradução do termo utilizado nos Estados Unidos da América: Suicide by Cop. Refere-se ao indivíduo que deseja acabar com a própria vida de maneira imediata, mas na ausência da determinação de cometer o suicídio, cria-se um cenário para que a Polícia seja pressionada a reagir à agressão e responder com força letal.
O Protocolo Básico torna-se uma ferramenta para que os primeiros intervenientes em incidentes críticos respondam com segurança as ocorrências onde o indivíduo decide terminar com a própria vida pelas mãos de policiais. Esses são os encontros chamados de incidentes SPP.
Segundo especialistas do tema nos Estados Unidos, estima-se que a cada ano, ocorrem 100 ou mais incidentes fatais de SPP.
No Brasil, por ser um tema ainda desconhecido pelas Polícias, não temos os dados, mas em uma análise recente das ocorrências atendidas nos últimos cinco anos pelo Batalhão de Operações Especiais, através do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), 17% apresentam indícios claros de tal natureza.
No momento em que o primeiro interveniente se deparar com um incidente SPP, deve considerar algumas atitudes do indivíduo que denotam a indícios reais de ser um SPP e devem ser tratados de forma diferente de outros tipos de chamados, a fim de proteger a segurança de todos. São indicadores de um possível incidente de SPP:
- O indivíduo diz “atire em mim” ou de outra forma expressa o desejo de morrer;
- Parece estar deprimido ou em crise de saúde mental;
- Não se comporta como um criminoso. Por exemplo, não tenta fugir do local da ocorrência;
- Apresenta comportamento agressivo com a polícia sem motivo aparente;
- Exibe comportamento estranho, como cometer atos aleatórios de vandalismo, agressão sem causa aparente ou danos a bens materiais.
O protocolo para policiais que respondem a um potencial incidente de Suicídio por Policial de uma forma simples e objetiva passa por de três (três) etapas:
1ª Etapa
Os primeiros intervenientes devem se proteger e garantir a segurança pública antes de fazer qualquer outra ação. Devem proteger-se imediatamente, tendo extremo cuidado e avisar as unidades que estão chegando. Se a pessoa tiver uma faca: Manter uma distância segura e usar a cobertura disponível, como um veículo ou outro objeto grande, cerca etc.
Se o alvo não parecer ter uma arma: Não dar ordens diretas, fazer pequenos pedidos, um de cada vez. Por exemplo, se a pessoa estiver com as mãos atrás das costas, não grite “Mostre-me suas mãos!” Diga: “Você pode se virar, para que eu possa ver se você tem alguma arma nos bolsos de trás? Assim, saberei que ambos estamos seguros aqui.” Somente depois de estabelecer uma posição que garanta sua segurança, você poderá iniciar um processo de fazer perguntas ao sujeito e procurar maneiras de diminuir a situação.
Deve ser solicitado o apoio de unidades especializadas. Incidentes SPP são críticos e devem ser atendidos com os recursos e técnicas apropriadas de especialistas.
2ª Etapa
Os policiais devem estar cientes de que apontar uma arma para uma pessoa potencialmente suicida aumentará sua ansiedade e agravará a situação.
“Apontar uma arma de fogo eleva o nível de ansiedade do suspeito.”
3ª Etapa
Os policiais devem compreender que suas habilidades de comunicação são a ferramenta mais eficaz em incidentes de SPP.
Pesquisa recente indica que a comunicação eficaz consegue amenizar a situação nos momentos iniciais da ocorrência buscando um resultado satisfatório. Se um policial disser: “Estou aqui para ajudá-lo”, mas estiver apontando uma arma de fogo para a pessoa suicida, está transmitindo mensagens conflitantes.
“E as pessoas sempre acreditarão na mensagem não verbal”, diz o psicólogo policial americano dr. John Nicoletti. Pessoas suicidas permitem que os policiais resolvam a maioria dos incidentes de forma pacífica, sem necessidade de usar armas menos letais ou outro uso de força.
Conclusão
Nos casos de SPP, os primeiros intervenientes devem manter o foco no cumprimento do dever legal, cujo objetivo principal é a preservação da vida de todas as pessoas envolvidas, inclusive a dos causadores do incidente.
Torna-se essencial o treinamento de todos os policiais, uma vez que todos são potenciais primeiros intervenientes, a fim de ampliar o conhecimento para que os protocolos e procedimentos operacionais sejam implementados de forma rápida, correta e decisiva.
As melhores referências bibliográficas da internet estão aqui. Parabéns a todos os envolvidos! ???
Muito obrigado, uma honra! Forte abraço!
Levando a matéria deste post para o caso baiano recente, vimos q o Gate baiano não está treinado para tal situação. Não evitou q seus membros apontassem armas, tampouco insistiu na conversa. No final , com um tiro letal, encerraram a situação de maneira vexaminosa e covarde com um dos seus.
Sou profissional de saúde mental e achei muito esclarecedor o texto. Deus te abençoe e te proteja. Gratidão ?
Muito obrigado Adriana, vou repassar ao autor. Um abraço!
Como faz falta que a tropa seja preparada p isso, tanto para c os seus qto para c os civis… evitaria muita coisa ruim, muita dor, revolta e vergonha. Esperenos que se torne realidade para as políticas nacionais de segurança e difundida para todas as forças de segurança deste país. Pra ontem. Parabéns Albert pela ótima reportagem e pelo tema de real relevância.
Obrigado Beto! Méritos ao autor, TC Racorti. Grato por comentar, forte abraço!