Em 15 de outubro de 2020 a ROTA (Rondas Ostensivas “Tobias de Aguiar”) comemora 50 anos de seu surgimento. Para entender como se deu este processo é preciso recuar no tempo, até a fundação da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Origem da Polícia Militar do Estado de São Paulo
Após o conturbado período da declaração da Independência do Brasil em 1822, da Guerra da Independência contra tropas portuguesas em território brasileiro até 1824, e da abdicação de D. Pedro I em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho de apenas cinco anos, que viria a tornar-se, posteriormente, D. Pedro II, o Brasil entrou em uma complicada situação política na fase conhecida como período regencial, quando uma junta governou o país aguardando que o príncipe atingisse a maioridade.
A instabilidade institucional estava instaurada. Segundo o historiador, coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Edilberto de Oliveira Melo, em seu livro Raízes do Militarismo Paulista (1982), o Padre Diogo Antônio Feijó, que havia assumido o Ministério da Justiça em 5 de julho de 1831, criou, rapidamente, em 18 de agosto do mesmo ano, a Guarda Nacional, para defender a Constituição, a Liberdade, a Independência e a Integridade do Império, auxiliando o Exército Brasileiro na defesa das fronteiras e das costas. Seus integrantes, civis sem formação militar, recebiam postos e graduações semelhantes às do Exército Brasileiro de acordo com a sua situação social e econômica. Recebiam treinamento básico, armamento e fardamento muitas vezes custeados por eles mesmos.
Mas a criação da Guarda Nacional não trouxe, como esperado, o sentimento de segurança de que a Regência e a Monarquia precisavam para manter a coesão nacional e o Império do Brasil. Para ajudar o Exército e a Guarda Nacional, a Regência autorizou, em 30 de agosto de 1831, a criação da Guarda Municipal Permanente que, na prática, seria uma força militar estadual.
Seriam soldados profissionais, treinados como o exército, mas organizados, equipados e pagos pelas províncias, na época equivalentes aos atuais estados. Esse foi o embrião das atuais Polícias Militares Estaduais (Malvásio, 1967). Uma das forças criadas nessa época foi o Corpo de Guardas Municipais na província de São Paulo, por seu presidente (como era chamado na época o governador), o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, em 15 de dezembro de 1831.
O Corpo era composto por 100 homens a pé, comandados pelo capitão PM José Gomes de Almeida, e 30 homens a cavalo, comandados pelo capitão PM Pedro Alves de Siqueira, e deu origem à atual Polícia Militar do Estado de São Paulo (Camara, 1982).
O brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar
Rafael Tobias de Aguiar nasceu em Sorocaba em 4 de outubro de 1794 e foi um grande político e militar paulista, tendo governado a província de São Paulo por duas vezes, de 17 de novembro de 1831 a 11 de maio de 1835 e de 6 de agosto de 1840 a 15 de julho de 1841.
Recebeu o título de brigadeiro da Guarda Nacional. Faleceu no Rio de Janeiro em 7 de outubro de 1857 (Irmão, 1992).
Após mudar de nome algumas vezes e participar de eventos como a Guerra do Paraguai (1864-1870), a milícia paulista, com a lei Nº 17 de 14 de novembro de 1891, foi reorganizada como a Força Pública do Estado, composta por 3.940 homens distribuídos em quatro corpos militares de polícia, uma companhia de cavalaria, um corpo de urbanos e um corpo de bombeiros (Camara, 1982).
O 1º Batalhão
Além dessa reorganização, em 1º de dezembro de 1891 foi inaugurado um novo quartel na Avenida Tiradentes, no bairro da Luz, na cidade de São Paulo, construído especificamente para a Força Pública, com projeto do conceituado arquiteto Ramos de Azevedo. Lá foram sediados os 1º e 2º Corpos Militares (batalhões). O 1º Corpo Militar atualmente é o 1º Batalhão de Polícia de Choque “Tobias de Aguiar”, sede da ROTA. O 2º Corpo Militar atualmente é o 2º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano “Herculano de Carvalho e Silva”, o “Dois de Ouro”.
Em 1º de dezembro de 1951, através do decreto 20.986, o 1º Batalhão de Caçadores da Força Pública passou a denominar-se “Batalhão Tobias de Aguiar”, ostentando, a partir de então, o nome do patrono da Milícia Bandeirante. Este 1º Batalhão participou de vários momentos históricos do Brasil e do Estado de São Paulo: as campanhas do Paraná, Revolta da Armada e Revolução Federalista entre 1893 e 1894, a campanha contra a Revolta de Canudos em 1897, a Revolta de Vacina em 1904, a Revolta dos Marinheiros em 1910, o combate ao levante do Forte de Copacabana em 1922, a Revolução Paulista de 1924 com intensos combates na região do Quartel da Luz, campanhas do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso em 1924-25 e Goiás em 1926, e a Revolução de 1930.
Teve participação destacada na Revolução Constitucionalista de 1932, além de missões de proteção de instalações vitais do estado de São Paulo contra sabotadores durante a 2ª Guerra Mundial (Malvásio, 1967).
Terrorismo e roubos a bancos
Um exemplo desses roubos a banco ocorreu em 9 de maio de 1969 em uma ação liderada pelo ex-capitão do Exército Brasileiro, Carlos Lamarca, que havia desertado em janeiro do mesmo ano do quartel em que servia, em Osasco, ingressando na VPR e levando várias armas para a guerrilha.
Nesse roubo na cidade de São Paulo, simultâneo a dois bancos bem próximos, uma agência do Banco Mercantil de São Paulo e outra do Banco Itaú, um grupo de dezesseis guerrilheiros bem organizados e treinados, equipados com armas automáticas e granadas, fechou a rua Piratininga e realizou o ataque. O guarda civil Orlando Pinto Saraiva, que estava em serviço na rua em que se situavam os bancos, se aproximou para intervir e foi morto por Lamarca com dois tiros na cabeça. Os guerrilheiros conseguiram fugir, levando uma grande quantidade de dinheiro.
Poucos dias depois, em 5 de junho de 1969, na Avenida Penha de França nº 434, zona leste da cidade de São Paulo, o soldado da Força Pública Boaventura Rodrigues da Silva, do 2º Batalhão Policial, o “Dois de Ouro”, que fazia a guarda de uma agência do Banco Tozan, foi atacado por quatro terroristas que atiraram contra ele e tomaram sua metralhadora INA calibre .45. Mesmo ferido, Boaventura sacou um revólver calibre .38 e atirou contra os bandidos, possivelmente ferindo dois. O veículo com os terroristas evadiu-se do local e o soldado Boaventura Rodrigues foi socorrido ao hospital, mas faleceu.
A “Ronda Bancária”
Ainda no segundo semestre de 1969 aumentaram os casos de roubos a banco praticados por grupos subversivos. Desta forma, a Força Pública e a Guarda Civil do Estado de São Paulo (criada em 1926 e unificada com a Força Pública em janeiro de 1970, formando assim a Polícia Militar do Estado de São Paulo), passaram a intensificar as rondas e a colocar mais policiais próximos aos estabelecimentos bancários.
Esta atividade passou a ser conhecida como “Ronda Bancária”, executada pelos batalhões da Força Pública, por exemplo o 2º Batalhão Policial na zona leste da cidade de São Paulo, o 9º Batalhão em parte da zona norte e o 11º Batalhão responsável por parte da área central da cidade. O 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar”, devido à sua localização, foi encarregado de realizar a “Ronda Bancária” em parte do centro de São Paulo, pois havia grande concentração de bancos nessa região.
A atividade de patrulhamento ostensivo motorizado da Força Pública era uma certa novidade nessa época, pois devido à escassez de viaturas, a maior parte do patrulhamento era realizado por policiais a pé. Havia um serviço novo, de Rádio Patrulha, com uma viatura pequena (Volkswagen Fusca laranja e preto) com dois homens. Alguns batalhões contavam com a Ronda Ostensiva Especial (ROE, com viatura Ford Corcel, também nas cores laranja e preto, com dois ou três policiais, precursora do Tático Móvel), mas isso era insuficiente para enfrentar os grandes grupos de guerrilheiros, bem armados e treinados, que assaltavam os bancos.
O 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar” (1º BP), conforme documentação pesquisada pelo coronel PM Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada em seu livro Quartel da Luz, a Mansão da ROTA (2011), segundo o Boletim Geral nº 7 da Força Pública do Estado de São Paulo, de 10 de janeiro de 1969, passou a ser uma Unidade de Choque, com uma Companhia de Comando, um Canil, o Departamento de Polícia Militar (DPM, embrião da atual Corregedoria da Polícia Militar), e duas Companhias de Policiamento Auxiliar (CPA, companhias de choque encarregadas de controle de distúrbios civis).
O comandante do Batalhão Tobias de Aguiar, de 23 de fevereiro de 1967 até 11 de setembro de 1969, foi o então tenente-coronel PM Altino Magno Fernandes. No começo de 1969 encontrava-se como subcomandante da unidade o então major PM Salvador D’Aquino.
O Batalhão “Tobias de Aguiar”, como tropa de choque, era equipado com veículos blindados de controle de distúrbios civis, para transporte de tropas e equipados com canhão de água, os “Tatus” e os “Brucutus”, além de viaturas de transporte pesadas (caminhões), médias (pick-ups) e leves (jipes).
A 1ª Companhia de Policiamento Auxiliar (1ª CPA) era destacada no prédio da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), no Largo General Osório nº 66 e a 2ª Companhia de Policiamento Auxiliar (2ª CPA) era sediada no “Batalhão Tobias de Aguiar” (BTA), no Quartel da Luz.
As CPA eram compostas por homens selecionados e treinados constantemente. Cada pelotão tinha seu próprio tenente comandante e o efetivo era reforçado. A Tropa de Choque tinha fama de ser aguerrida, disciplinada e preparada. Possuíam as melhores armas e equipamentos disponíveis na Força Pública, embora já fossem tecnologicamente ultrapassadas se comparadas, por exemplo, com o armamento usado pelas forças armadas brasileiras naquela época.
No segundo semestre de 1969, a 1ª CPA, comandada pelo então capitão PM Iser Brisolla, permaneceu responsável pelo controle de distúrbios civis e a 2ª CPA, comandada pelo então capitão PM Milton Silva Calciolari e depois pelo capitão PM Edmundo Zaborski, foi encarregada de realizar a “Ronda Bancária” na área de responsabilidade do 1º Batalhão “Tobias de Aguiar”, no centro de São Paulo.
Para realizar essa “Ronda Bancária”, a tropa do BTA utilizou, inicialmente, dois jipes Willys e duas pick-ups Chevrolet C15 de capota aberta. Estas viaturas C15 possuíam, além dos bancos para o motorista e o passageiro da frente, dois bancos de madeira na carroceria, cada um com capacidade para transportar quatro militares.
Além dos revólveres calibre .38 marcas Colt e Taurus, as armas eram fuzis alemães Mauser mod. 1908 calibre 7 mm Mauser, metralhadores de mão brasileiras da Industria Nacional de Armas (INA) mod. M953 calibre .45, metralhadoras de mão alemãs Schmeisser MP28 II calibre 7,63 mm Mauser e algumas pistolas-metralhadoras alemãs Mauser C96 calibre 7,63 mm Mauser, chamadas, equivocadamente, de “Parabellum”. É importante ressaltar que algumas dessas armas eram muito antigas, de modelos que começaram a ser produzidos antes do início da 2ª Guerra Mundial em 1939.
O uniforme adotado foi o padrão da Força Pública na época para atividades operacionais: botas de couro de cor preta, calça de tergal de cor cinza, camisa de tergal de cor bege, cinto de lona cinza com fecho de metal, cinturão de lona marrom com coldre e capacete de fibra de vidro na cor preta, coberto por uma capa com estampa semelhante à pelagem de um leopardo, que foi apelidado de “capacete cor de tigre”.
Assim, mais bem equipada e treinada do que o restante do efetivo regular da Força Pública, estas equipes patrulhavam, com seus veículos e guarnição reforçada, as ruas e avenidas com grande concentração de agências bancárias, principalmente no centro de São Paulo, visando inibir a ação dos grupos de guerrilheiros.
Realizando esta “Ronda Bancária”, o efetivo do BTA passou a ser conhecido, de forma natural e não oficial, como a “Ronda do Tobias de Aguiar”, visto ser este o nome do batalhão e o mesmo estar escrito nos para-choques e na lataria das viaturas.
O surgimento da ROTA
Em 12 de novembro de 1969 assumiu o comando do 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar” o tenente-coronel PM Salvador D’Aquino, permanecendo no comando até 12 de janeiro de 1975. Tendo passado grande parte de sua carreira no BTA, o coronel D’Aquino era conhecido por ser disciplinado e disciplinador e um profissional zeloso e muito capaz.
Ciente da situação social e política pela qual o Brasil passava na época, das transformações pelas quais a própria Força Pública passava, com sua unificação com a Guarda Civil e passando a ser a Polícia Militar do Estado de São Paulo, com o aumento da violência praticada pelos guerrilheiros nos ataques e reconhecendo que a “Ronda Bancária “ do BTA havia surtido efeito para inibir roubos a banco na área onde atuava, o coronel D’Aquino resolveu melhorar e ampliar esse serviço, oficializando a Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar.
Desta forma, segundo documentação coletada pelo coronel Telhada (2011), em 27 de janeiro de 1970, por ordem do tenente-coronel PM D’Aquino, o capitão PM José Vicente Marino, Oficial S3 (encarregado do planejamento) da unidade e o auxiliar S3, o primeiro-tenente PM Milton Ferreira de Souza, elaboraram o documento chamado de “Plano de Execução: ROTA – Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar”.
Este documento descrevia a SITUAÇÃO: “Como é do conhecimento geral, a denominada região da ‘Grande São Paulo’ vem sendo alvo de vários grupos que aperfeiçoam seus métodos criminosos diuturnamente e praticam assaltos, saques e atentados cada vez mais audaciosos. Necessário se faz que a polícia se modernize e se equipe para fazer frente a essa situação.
Em termos de eficiência, não se pode dispensar qualquer dos elementos da trindade homem-viatura-comunicação, que é fundamental ao êxito de qualquer serviço policial.
O atual tipo de policiamento a pé, executado por homens isolados ou em dupla, urge ser substituído por patrulhas motorizadas, bem armadas e dotadas de rádio comunicação.
O tipo de policiamento proposto objetiva impressionar a população, inspirando-lhe segurança, e àqueles que desejam violar as leis, para que sintam a certeza da repressão imediata, através da onipresença da polícia e de seu aparelhamento para o combate do crime.”
Quanto a MISSÃO, o documento traz que a MISSÃO GERAL é “durante o dia e às primeiras horas da noite, patrulhar as zonas de maior concentração bancária e comercial, como lugares de possível reunião de marginais. Durante a noite e na madrugada, realizar batidas em bares da periferia e locais suspeitos”.
A MISSÃO PARTICULAR seria: “Auxílio a policiais e ao público em geral, captura de bandidos ou terroristas, perseguição a veículos roubados, atendimentos de ocorrências policiais de modo geral, inclusive prestação de primeiros socorros a vítimas de acidentes ou delitos. As equipes poderão, em conjunto, executar, diariamente, a ‘Operação Arrastão’, porém com planejamento variando de local após uma hora ou duas.”
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Quartel da Luz, Mansão da Rota: Histórias do Batalhão “Tobias de Aguiar”
- Coronel PM Paulo Adriano L. L. Telhada (Autor)
- Em português
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A EXECUÇÃO, com relação à ÁREA DO POLICIAMENTO: “Mediante levantamentos dos S2 (serviço de inteligência) das Unidades, em ligação com o F2 do QG, dos locais de maior incidência de criminalidade, bem como de concentração comercial e bancária, serão periodicamente estabelecidos os setores a ser patrulhados com maior intensidade. Inicialmente o policiamento restringir-se-á à Zona Central da Capital, podendo após estender-se pela ‘Grande São Paulo’.”
A COMPOSIÇÃO DOS MEIOS, seria realizada por PESSOAL: “Tropa da 2ª CPA e da 3ª CPA, constituída por dois pelotões, devidamente enquadrados por oficial, sendo um no policiamento e o outro, como reserva, na sede do 1º BP.
O pelotão de policiamento será composto de seis equipes, constituídas de um motorista; quatro cabos ou soldados e um sargento, comandante da equipe.
O oficial fará a fiscalização das demais equipes e executará também o patrulhamento, devendo dirigir-se aos locais de ocorrências mais graves. Na sede do 1º BP funcionará um Rádio Operador, com a função de controlador, devendo transmitir as ordens especiais ao pessoal das equipes, bem como dar informações e anotar as ocorrências atendidas.”
Com relação ao ARMAMENTO E MATERIAL: “Todos os homens portarão armas de defesa (pistola ou revólver) e cassetete. A equipe deverá contar com duas metralhadoras, uma arma de tiro preciso (fuzil ou carabina), algemas, munição química, máscaras contra gases, faroletes, estojo de primeiros socorros, guia da cidade, talão de ocorrência, extintor de incêndio e cones de isolamento.”
Os meios de VIATURAS E COMUNICAÇÕES: “Nove viaturas tipo perua, capacidade para seis pessoas, dotadas de rádio comunicação, sendo seis para o policiamento e três na reserva. Um veículo tipo furgão para transporte de pessoas. Na sede do 1º BP, deverá haver um aparelho de rádio para escuta da cabine centro da Rádio Patrulha, para que as viaturas sejam informadas das ocorrências mais graves.”
Nas PRESCRIÇÕES DIVERSAS: “Metade das viaturas, durante o dia e primeiras horas da noite, ficará estacionada em pontos estratégicos, devendo ser substituídas cada três horas, para descanso dos veículos, pelas que estejam rondando.
Em princípio, as viaturas não levarão as partes aos distritos, providenciando a presença de Rádio Patrulha no local, para que o policiamento não fique desfalcado, devido à demora comum na liberação dos condutores.
Quando uma equipe estiver atendendo a ocorrência de pouca gravidade e for solicitada para fato mais grave, o comandante da patrulha deixará um homem no local, para resolver a primeira, e dirigir-se-á ao local da segunda com o restante do pessoal.
A seleção dos homens para a execução do serviço é fator importante para o desempenho da missão.
As viaturas em policiamento correrão em auxílio das Rádio Patrulhas que se defrontem com ocorrências que necessitem de reforço, quando solicitado.”
Com relação às viaturas, no mês de fevereiro de 1970 o 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar”, recebeu cinco novas viaturas Chevrolet mod. C14, depois conhecidas como “Veraneio” e que seriam utilizadas no patrulhamento da ROTA.
Ao analisar com a devida atenção este Plano de Execução, vemos que, há 50 anos, a ROTA surgiu como uma inovação em vários aspectos, revolucionária para aquela época e atual até os nossos dias.
A análise da situação da segurança pública, na época ameaçada pelos grupos terroristas que agiam com muita violência e poder de fogo e o aparecimento de grupos de marginais comuns que passaram a se organizar, exigiram a criação de um grupo policial mais bem treinado, armado e equipado.
Como vemos nas Prescrições Diversas, a preocupação com o capital humano, com o homem, era a base, levando em conta a importância da seleção para compor a nova modalidade de policiamento.
Outro ponto importante, ao qual foi dado ênfase neste Plano de Execução, foi a questão das comunicações, sendo que, além do rádio nas viaturas, havia outro na sede do Batalhão “Tobias de Aguiar” e o monitoramento das outras frequências para ouvir sobre informações a respeito de ocorrências graves.
Uma das principais atribuições da ROTA, desde seu surgimento, é o apoio as Rádio Patrulhas, ao Policiamento de Área. A ROTA não é autônoma, ela sempre trabalhou integrada às demais unidades da PM do estado de São Paulo, apesar do péssimo comportamento de alguns de seus integrantes ao tentar criar animosidades, se imaginando “superiores” aos demais policiais. O objetivo da ROTA não é “aparecer” ou “tomar ocorrências” dos outros, mas apoiar, sempre que necessário, os patrulheiros dos batalhões de policiamento de área.
Uma das características da ROTA, que não é tão vista ou percebida por quem não a conhece mais de perto, já estava presente em 1970. Trata-se do uso da atividade de inteligência intimamente ligada ao planejamento. O levantamento de informações, utilizando-se as mais diferentes fontes, identificando os criminosos, seus modos de operação e os locais onde atuavam e se encontravam, subsidiava o planejamento dos locais e horários onde a ROTA iria atuar. Este é um dos diferenciais mantido até os dias de hoje.
Este “Plano de Execução para a Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar”, de 27 de janeiro de 1970, foi encaminhado ao Comandante Geral da Polícia Militar para aprovação. Em 9 de março de 1970, a Ordem nº 24-210, do Chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Estado de São Paulo, assinada pelo coronel PM Altino Magno Fernandes (que havia sido comandante do Batalhão “Tobias de Aguiar” até alguns meses antes), continha o seguinte texto:
“De ordem do Exmo., Sr. Cmt. Geral, essa Unidade deverá, a partir de 12 do corrente, 5ª feira, dar início ao sistema de policiamento apresentado ao Estado Maior, utilizando-se das viaturas de que dispuser de momento. Manter o Estado Maior informado do resultado das ações.”
Mas, se como vimos, já existia um planejamento para a execução do patrulhamento chamado oficialmente de Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA, em 27 de janeiro de 1970 e uma autorização do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, para que a ROTA começasse a operar, a partir do dia 12 de março de 1970, por que comemoramos o aniversário da ROTA em 15 de outubro? Infelizmente os acontecimentos de abril de 1970 tiveram influência sobre isso.
A guerrilha do Vale do Ribeira
Os movimentos subversivos no Brasil, além dos atentados a bomba, sequestros e roubos a banco na área urbana, pretendiam implantar focos de guerrilha rural, seguindo o exemplo de movimentos revolucionários de orientação marxista, como na China e em Cuba. Já no final de 1969, a VPR, após reunir armas roubadas do Exército Brasileiro e de ter conseguido uma boa soma em dinheiro com os roubos a banco, começou a treinar seus “quadros” em técnicas de guerrilha rural em uma área de treinamento, além de tentar estabelecer uma base de operações segura, longe dos grandes centros urbanos (Telhada,2011).
A região escolhida pela VPR foi uma área a cerca de 190 km da cidade de São Paulo, próxima da cidade de Registro, na região conhecida como Vale do Rio Ribeira. É uma região muito carente e esparsamente habitada até os dias de hoje, pois se encontra entre o litoral de São Paulo e o Rio Ribeira, em plena Serra do Mar, com muita vegetação e topografia íngreme.
Para chefiar este centro de treinamento, A VPR escolheu o ex-capitão e desertor Carlos Lamarca, que chegou à região em novembro de 1969. Em um pequeno sítio da região, cerca de 17 guerrilheiros se reuniram para os treinamentos. Em 18 de abril de 1970 um dos guerrilheiros que havia ajudado a organizar a área do Vale do Ribeira foi preso no Rio de Janeiro, revelando a existência do local, mas não a localização exata dos guerrilheiros.
Forças do Exército começaram a vasculhar a área, fazendo algumas prisões. Alguns guerrilheiros conseguiram fugir da região, mas Lamarca e alguns outros permaneceram escondidos na mata.
Assim, o 2º Exército montou uma grande operação de busca com efetivos do Exército, Força Aérea, Marinha e da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Além do efetivo da região (7ª Companhia Independente, em Registro), a PMESP reuniu efetivo de batalhões da capital para a operação. Entre estes, estavam homens do 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar”. E parte desse efetivo pertencia à Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA (Telhada,2011).
Em 28 de abril o efetivo do BTA seguiu para a região do Vale do Ribeira com um capitão, quatro tenentes e 80 praças. Alguns dias depois, em 1º de maio de 1970, foi seguido de outra tropa do BTA, sob comando do capitão PM Carlos de Carvalho, com dois pelotões comandados por tenentes. Um deles era o primeiro-tenente PM Dalmiro Gomes e o outro, o segundo-tenente PM Alberto Mendes Júnior.
Alberto Mendes Júnior
O tenente Mendes Júnior nasceu em 24 de maio de 1947 na cidade de São Paulo, filho de Alberto Mendes e de dona Angelina Plácido Mendes. Ingressou na Força Pública por concurso público em 15 de fevereiro de 1965, no Curso Preparatório de Formação de Oficiais (CPFO), concluindo o Curso de Formação de Oficiais (CFO) em 21 de abril de 1969.
Em 2 de julho de 1969 foi classificado no 15º Batalhão Policial e, após o estágio como Aspirante a Oficial, foi promovido por merecimento em 15 de novembro de 1969. Foi apresentado no 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar” em 6 de fevereiro de 1970, por conveniência do serviço. Trabalhou efetivamente como comandante de pelotão, na 2ª Companhia de Policiamento Auxiliar, onde foi um dos oficiais responsáveis pela implantação da Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA.
Contam os oficiais que lá estavam à época que, em 1º de maio de 1970, devido à falta de oficiais disponíveis para a missão em Registro, uma viatura foi chamar o tenente Mendes em sua casa, na Vila Galvão, em Guarulhos, para ir com a tropa. Ele havia trabalhado no dia anterior no patrulhamento de ROTA, estando de folga.
Perto de 1.500 homens das Forças Armadas e da PMESP participaram dessa operação de cerco e busca aos guerrilheiros nas matas do Vale do Ribeira. Os homens da PMESP faziam bloqueios nas estradas e guarneciam pontos estratégicos, tais como pontes, enquanto as tropas do exército se embrenhavam nas matas e revistavam sítios e chácaras e os fuzileiros navais patrulhavam, em botes, os rios da região. Com o passar dos dias, o comandante da operação, julgando que todos os guerrilheiros haviam deixado a região, passou a recolher a tropa e a diminuir o efetivo.
É preciso destacar que, apesar de toda a dedicação e entusiasmo dos homens da PMESP e em especial do efetivo do BTA-ROTA com a operação, a tropa não estava preparada para aquele tipo de missão. Não tinham treinamento adequado para a guerra de guerrilhas em ambiente de selva e não possuíam o equipamento necessário para isso. A comunicação era precária, não existindo equipamentos de rádio suficientes e em condições. O fardamento também pouco ajudava contra a chuva e o frio que castigavam constantemente o Vale do Ribeira. As armas, por sua idade, precariedade e falta de manutenção, logo começaram a apresentar problemas. A munição era muito pouca e a que havia disponível era velha e mal conservada, sendo que, quando precisou ser usada durante trocas de tiros, houve muitas falhas. O comando e planejamento do exército também deixaram muito a desejar, deixando a tropa esparsa e não tomando importantes medidas de segurança.
O tenente Mendes Júnior e alguns homens do BTA ainda permaneciam na operação apoiando as tropas do Exército e o efetivo da PMESP de Registro. Quando parte da tropa do BTA recebeu ordens de regressar a São Paulo, em 8 de maio de 1970, Mendes se apresentou voluntariamente para ficar.
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Nesse mesmo 8 de maio os oito guerrilheiros restantes que ainda se encontravam escondidos na mata, Yoshitani Fujimori, Diógenes Sobrosa de Souza, Ariston de Oliveira Lucena, José Lavechia, Darci Rodrigues, Edmauro Gopfert e José de Araújo Nobrega, liderados por Carlos Lamarca, notando que o cerco estava se abrindo e que parte da tropa já tinha deixado a região, alugaram uma caminhonete Ford F350 e se prepararam para fugir. No entanto, o homem que alugou o veículo a eles avisou a polícia sobre suas intenções e características.
Homens do destacamento da PMESP na cidade de Eldorado, alertados, abordaram a caminhonete com os guerrilheiros quando eles pararam para abastecer no posto de gasolina da cidade. Além de estar em pequeno número (cerca de seis homens), os policiais estavam armados somente com revólveres calibre .38 com pouca munição, enquanto os guerrilheiros dispunham de modernas armas automáticas. No tiroteio, metade dos policiais ficaram feridos e os demais foram rendidos.
As informações sobre o tiroteio chegaram via rádio ao posto do Exército em Jacupiranga que, alertado, enviou um pelotão para Eldorado. Também foi acionado o capitão PM Expedito de Oliveira e Silva, comandante da 7ª Companhia Independente (7ª CIPM), que enviou alguns de seus homens e mais um reforço de 13 Policiais do Batalhão “Tobias de Aguiar” comandados pelo tenente Mendes Júnior, totalizando 20 homens embarcados em um caminhão, mais uma viatura C14 descaracterizada ocupada por homens da 7ª CIPM comandados pelo segundo-tenente PM José Correia Neto, daquela unidade.
No deslocamento para Eldorado, próximo a cidade de Sete Barras, a patrulha da PMESP foi emboscada pelos guerrilheiros na estrada enlameada. Depois de uma curva, os guerrilheiros pararam a caminhonete com os faróis ligados e, assim que a C14 e o caminhão entraram na zona da emboscada, foram atingidos por vários tiros. Os guerrilheiros tinham fuzis automáticos FAL modelo M964 calibre 7,62 mm, metralhadoras INA calibre .45, revólveres calibre .38 e pistolas Colt .45. Os PM, além dos revólveres calibre .38, tinham alguns fuzis de ferrolho Mauser modelo 1908 calibre 7 mm e talvez duas metralhadoras INA calibre .45, mas pouca munição. Uma das armas, por exemplo, que normalmente comportava 30 cartuchos, só tinha 20.
No tiroteio que se seguiu, mais da metade dos policiais militares foi ferida e o tenente José Correia Neto fugiu mata adentro. O guerrilheiro Lamarca mandou então que os policiais se rendessem e ordenou que o comandante da patrulha se apresentasse. O sargento PM Lino, mesmo ferido e acreditando que os tenentes houvessem sido mortos ou fugido, apresentou-se como comandante, ao que Lamarca retrucou que um efetivo daquele porte era para ser comandado por um oficial. O tenente Mendes Júnior então se apresentou como comandante da tropa.
Lamarca mandou os guerrilheiros desarmarem os policiais e, após solicitação do tenente Mendes Júnior, permitiu que os feridos com mais gravidade fossem socorridos na cidade de Sete Barras, não muito distante. Lamarca e outro guerrilheiro, juntamente com o tenente Mendes Júnior, colocaram três feridos na C14 e se dirigiram para Sete Barras, deixando os outros policiais militares como reféns guardados pelos demais terroristas.
Pouco antes de chegarem a Sete Barras, Lamarca e o outro guerrilheiro desembarcaram e se esconderam no mato, alertando o tenente Mendes Júnior que, se após socorrer os feridos ele não voltasse, os outros reféns seriam mortos.
Ao encontrar uma patrulha da PM em Sete Barras, Mendes Júnior entregou os feridos e informou sobre o que tinha ocorrido, dizendo que precisava voltar. Os PMs pediram para ele não fazer isso, pois já estavam chegando reforços. O tenente Mendes Júnior, mesmo com a chance de se salvar, disse que tinha que voltar senão seus companheiros seriam mortos.
No entanto, os guerrilheiros já tinham roubado um caminhão civil que passava pela estrada e, após colocarem as suas armas e equipamentos dentro dele, abandonaram os policiais da patrulha e seguiram adiante, encontrando no caminho o tenente Mendes Júnior, que voltava para se entregar. Imediatamente o colocaram no caminhão como refém, para passar pelas tropas que eles já sabiam que estavam montando barreiras pela estrada.
As tropas do exército que vieram em apoio, por falta de coordenação e comunicação, quase trocaram tiros entre si, pensando que os do outro lado fossem guerrilheiros. Uma patrulha do exército chegou a trocar tiros, na escuridão da noite, com uma patrulha da PM, restando feridos de ambos os lados.
Os guerrilheiros, vendo que a qualquer momento poderiam ser emboscados na estrada, abandonaram o caminhão e se embrenharam na mata, levando como refém o tenente Mendes Júnior, sendo iluminados por holofotes pelas patrulhas do exército. Isso acabou com a organização que eles estavam mantendo até o momento, sendo que dois dos guerrilheiros, Gopfert e Nóbrega, acabaram se desgarrando e posteriormente foram presos por tropas do exército.
Assim que foi recebida a informação de que a patrulha do tenente Mendes Júnior havia sido emboscada, nas primeiras horas do dia 9 de maio de 1970, véspera do Dia das Mães, foi acionado o “plano de chamada” no Batalhão “Tobias de Aguiar”. Algumas horas depois, um efetivo comandado pelo major PM Roberto Salgado, subcomandante do BTA, com um capitão, quatro tenentes e cerca de 80 praças, se dirigia para a região do Vale do Ribeira.
O efetivo da PMESP participou ativamente das atividades de cerco e busca aos guerrilheiros na mata, ainda mais empenhados em localizar o tenente Mendes Júnior, mantido como refém. Após alguns dias receberam ordens de permanecer em postos fixos nas cidades da região; as patrulhas do exército continuariam as buscas nas matas.
O destino do tenente Mendes Júnior e seu martírio só seriam conhecidos meses depois, com a prisão de guerrilheiros que participaram da ação. Ao se ver cercados e caçados, logo no dia 10 de março, Dia da Mães, os guerrilheiros, escondidos no mato e temendo ser atrasados e denunciados pelo tenente Mendes Júnior, decidiram, após um “julgamento”, mata-lo. Para que não fossem ouvidos tiros, visto que as forças de segurança estavam bem próximas, decidiram executar o oficial com coronhadas de fuzil na cabeça. Após ter o crânio esmagado, Mendes Júnior foi enterrado em uma cova rasa.
Os guerrilheiros então continuaram escondidos na mata, deslocando-se e fugindo das tropas até que, em 31 de maio, roubaram um caminhão do exército que rebocava uma cisterna de água e conseguiram furar o cerco, dirigindo-se para a cidade de São Paulo, onde se dispersaram.
Em 19 de agosto de 1970 um dos guerrilheiros que havia conseguido fugir, Ariston de Oliveira Lucena, foi preso e, ao ser interrogado, contou o que havia acontecido com o tenente Mendes Júnior. Em 8 de setembro, este terrorista conduziu um grupo de policiais até o local onde o corpo do tenente teria sido enterrado. Com muita relutância por parte do guerrilheiro e muito esforço por parte dos policiais, por ser uma região muito inóspita e de difícil localização, encontraram o local onde poderia estar enterrado o corpo. Após cavar, encontraram o cadáver, já em avançado estado de putrefação.
Finalmente, após tanta espera angustiante, os familiares e amigos poderiam prantear e enterrar o corpo do tenente PM Alberto Mendes Júnior, herói da Polícia Militar do Estado de São Paulo. No dia 11 de setembro de 1970 o cortejo fúnebre, com o caixão levado em um caminhão do Corpo de Bombeiros, deixou o Quartel da Luz, sede do 1º Batalhão “Tobias de Aguiar”, e dirigiu-se ao Cemitério do Araçá, sendo o funeral acompanhado, segundo os jornais da época, por quase cem mil pessoas.
Conclusão
Por estes motivos, embora oficialmente autorizada a funcionar desde 12 de março de 1970, a Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA necessitou ser reorganizada e em 15 de Outubro de 1970. Foi elaborada a Nota de Instrução Nº 01-010, assinada pelo major PM Roberto Salgado, subcomandante do Batalhão “Tobias de Aguiar” e pelo primeiro-tenente PM Albino Carlos Pazelli, oficial P3 interino. Esta nota, em seu conteúdo, praticamente repetia o que havia sido planejado na documentação anterior, de 27 de janeiro de 1970. Desde modo, a data escolhida como aniversário da ROTA foi o 15 de Outubro (Telhada,2011).
Assim, as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – ROTA, comemoram seus 50 anos em 15 de outubro de 2020. Como acontece com algumas pessoas ou instituições, podem existir diferenças entre o seu efetivo nascimento ou criação e o registro “oficial”, com alguns dias, meses e até anos de diferença.
Não se pretende aqui fazer um revisionismo histórico sobre a data oficial de aniversário da ROTA, até porque foram explanados os motivos de haver sido escolhido o dia 15 de outubro.
Não foram utilizados os termos “criação” ou “fundação”, por sugestão de alguns dos pioneiros que serviam no 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar” nos anos de 1969 e 1970 e acompanharam pessoalmente o “surgimento” da “Ronda Bancária” e sua evolução natural para Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA.
Segundo eles, a ROTA “surgiu” pela necessidade de fazer frente à caótica situação em que se encontrava a sociedade brasileira naquele período: as atividades terroristas no âmbito urbano e os roubos à banco, praticados por guerrilheiros bem armados e treinados, em grande número e organizados, aos quais as patrulhas normais da Força Pública e, posteriormente, da Polícia Militar, tinham grandes dificuldades para enfrentar.
Certamente, o coronel Salvador D’Aquino foi, como comandante do 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar”, o responsável por oficializar o patrulhamento de ROTA. Entretanto, não há como dizer que exista um fundador ou criador da ROTA, pois foi resultado do esforço, empenho e sacrifício de vários oficiais e praças que viveram aqueles tempos difíceis e procuraram, com os limitados recursos de que dispunham, criar uma resposta que é inovadora até os dias de hoje e tão forte, que perdura por 50 anos e durará ainda mais tempo.
Com relação aos pioneiros da ROTA, evitou-se citar nomes para não cometer injustiças, pois, para prestar-lhes uma justa homenagem, deveriam ser citados, um a um, todos os oficiais e praças que viveram aqueles momentos de 1969 e 1970. Além disso, temos os casos de algumas pessoas que chegaram ao Batalhão “Tobias de Aguiar” meses, e até mesmo anos depois, e se declaram “fundadores” da ROTA.
Não foram feitos muitos comentários sobre outras marcas icônicas da ROTA, como a boina negra, utilizada a partir de 1º de dezembro de 1970, assim como o “R” de ROTA estilizado, símbolo do policiamento de ROTA e o braçal de couro negro e letras douradas, pois foram criados depois de 1970.
Mas um ponto importantíssimo que deve ser reconhecido e divulgado de forma ostensiva, como fato histórico, é que o segundo-tenente PM Alberto Mendes Júnior, morto no cumprimento do dever e promovido postumamente a capitão PM, além de ter sido oficial do 1º Batalhão Policial “Tobias de Aguiar”, foi um dos pioneiros da Ronda Ostensiva “Tobias de Aguiar” – ROTA. Este reconhecimento é necessário em honra à sua memória e dos que serviram com ele.
Este trabalho procurou seguir um padrão de pesquisa historiográfica baseado nas pesquisas bibliográfica, documental e em entrevistas com pessoas que viveram aquele período.
Na pesquisa bibliográfica devemos registrar a importância de historiadores na Polícia Militar do Estado de São Paulo, como os coronéis PM Edilberto de Oliveira Melo e Sebastião Malvásio, com as várias obras por eles produzidas e que conseguiram registrar várias passagens, eventos e episódios históricos da Milícia Bandeirante. Entretanto, cabe registrar também que, infelizmente, a produção histórica sobre a PMESP caiu muito de 1980 em diante, com raras e honrosas exceções, como os trabalhos realizados pelo tenente-coronel PM Sérgio Marques junto ao Museu de Polícia Militar.
Nesse sentido, agradecemos ao auxílio e orientação do coronel PM Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, que comandou o 1º BPChq “Tobias de Aguiar” de 7 de maio de 2009 a 18 de novembro de 2011 que, além de todas as funções de um comandante de unidade centenária como o BTA, cumpriu também a pesquisa e preservação histórica através de seu livro Quartel da Luz: Mansão da ROTA.
Com relação aos documentos, muita coisa foi perdida no incêndio que atingiu o Quartel da Luz em 2004 e, apesar de nossos esforços em buscar o depoimento de pessoas que serviam no BTA em 1969 e 1970, infelizmente vários já faleceram e muitos estão com a saúde muito debilitada para ser entrevistados.
Agradeço profundamente ao coronel PM Antonio Chiari, presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (AOPM), um dos pioneiros da ROTA, tendo chegado ao Batalhão “Tobias de Aguiar” como Aspirante a Oficial em 1968 e acompanhado o surgimento da “ronda bancária” e da ROTA, além de ter se deslocado para o Vale do Ribeira, vivendo pessoalmente os fatos aqui narrados. Além disso, o coronel Chiari foi comandante do 1º Batalhão de Polícia de Choque “Tobias de Aguiar” de 4 de novembro de 1991 até 5 de outubro de 1992. Este trabalho foi desenvolvido graças ao seu incentivo.
Agradecemos também ao coronel PM Walter Criscibene e ao coronel PM Carlos de Carvalho, que foram capitães em 1970 no Batalhão “Tobias de Aguiar”, aos coronéis PM Milton Ferreira de Souza e Américo Tognetti, que foram tenentes em 1970 no BTA e que, atendendo a uma solicitação do coronel Chiari, se reuniram na sede da AOPM para conversarmos e coletar seus depoimentos, muitas vezes emocionados, sobre os fatos que viveram naquela época.
Devemos também citar, como colaboradores, o capitão PM Paulo Benedito da Silva Filho, que foi Soldado no BTA em 1969 e 1970, tendo feito parte da “ronda bancária” e um dos pioneiros da ROTA, e aqueles, que, mesmo tendo chegado ao Batalhão “Tobias de Aguiar” alguns anos depois do surgimento da ROTA, nos ajudaram com a pesquisa, como o tenente-coronel PM Antônio Bezerra da Silva, um dos fundadores e presidente do Grêmio “Boinas Negras”, o major PM Luiz Carlos de Oliveira, com sua larga sabedoria e experiência, e ao sargento PM Maciel, sempre solícito.
A ROTA precisa estar sempre na vanguarda, se preparando e modernizando. Hoje utiliza viaturas modernas, inovações como a Base Tática Avançada (BTA), centro de comando, controle e comunicações móvel para operações e ocorrências de gravidade. Emprega drones para vigilância e monitoramento em tempo real em suas operações.
Utiliza veículos modernos, alguns blindados. O uniforme mudou para o padrão camuflado digital. O colete tático, à prova de balas, pode resistir até mesmo a tiros de fuzil. A boina, dependendo da situação, cede lugar ao capacete à prova de balas.
O armamento está entre os melhores do mundo, como a consagrada pistola Glock modelo 22 calibre .40, os fuzis belgas FN SCAR calibre 5,56 mm e as espingardas semiautomáticas Benelli calibre 12 e até mesmo metralhadoras leves israelenses Negev da IMI, calibre 7,62mm com capacidade de 700 tiros por minuto. Além disso, a ROTA está treinando Atiradores Designados com fuzil de precisão calibre 7,62 mm com luneta para neutralizar ameaças a até 500 metros de distância.
As Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – ROTA, enfrentam hoje desafios tão ou mais complexos do que aqueles que levaram ao seu surgimento, em 1970. O crime organizado emprega a organização e as técnicas aprendidas com os movimentos terroristas subversivos nos anos de 1970.
Grupos de 20, 30 e até 40 marginais se organizam para atacar carros fortes, empresas de transporte e até mesmo aterrorizar cidades do interior de São Paulo, atacando quartéis e delegacias, incendiando carros, atacando até quatro agências bancárias ao mesmo tempo e causando pânico na população. Utilizam coletes à prova de balas, rádios, veículos blindados, explosivos, granadas, metralhadoras calibre .50, enfrentam as guarnições de policiamento de área e, infelizmente, às vezes causam baixas fatais entre nossos irmãos patrulheiros.
A ROTA chega aos 50 anos atendendo a necessidade para a qual foi criada: servir e proteger a sociedade paulista, mesmo com o sacrifício da própria vida.
ROTA!!!
Referências
CAMARA, Hely F. da. A Força Pública Paulista. Esboço Histórico. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1982.
DALARI, Dalmo de Abreu. O Pequeno Exército Paulista. São Paulo, Editora Perspectiva, 1977.
IRMÃO, José Aleixo. Rafael Tobias de Aguiar. O homem, o político. Sorocaba, Fundação Ubaldino do Amaral, 1992.
MALVÁSIO, Luiz Sebastião. História da Força Pública. São Paulo, Força Pública do Estado de São Paulo, 1967.
MELO, Edilberto de Oliveira. FILHO, José Canavó. Asas e Glórias de São Paulo. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1978.
MELO, Edilberto de Oliveira. O Santo na Amazônia e outras narrativas. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1979.
TELHADA, Paulo Adriano L. L. Quartel da Luz, Mansão da ROTA. Histórias do Batalhão “Tobias de Aguiar”. São Paulo, Just Editora, 2011.
Ufa, uma verdadeira historia. E muitas conquistas.
Instituição de muito respeito, com muitas tradições, Jonas! Grato por comentar, forte abraço!
Eu tive a Honra de Servir na ROTA 10 ANOS ..
COM OS HERÓIS Q LÁ PASSARAM
“SALVE A MANSÃO DA VIÚVA NEGRA”…
TEN RES. JONAS
Parabéns! É uma honra ler seu comentário. Forte abraço!
A ROTA é de fato “reservada aos heróis,” pois tem como lema “dignidade acima de tudo.”
Conheci a ROTA através do CAPITÃO CONTE LOPES, pois este bravo Oficial foi meu instrutor junto à Academia de Segurança do Banco Itaú, juntamente com outro herói da ROTA, o então TENENTE BEZERRA.
Estes dois bravos e honrados OFICIAIS DE ROTA foram os responsáveis pelo treinamento dos seguranças do Banco Itaú, onde trabalhei como Coordenador Equipe de Segurança (cargo idealizado e criado pelo Capitão Conte Lopes) por sete anos. Vale ressaltar que quando a ROTA, através do Capitão Conte e do Tenente Bezerra, passou a treinar a segurança do Itaú, nos idos de 1978, o Itaú tinha em média sete assaltos por semana. Porém, após a formação de um corpo de Segurança treinado pelo Capitão Conte Lopes e pelo Tenente Bezerra, os assaltos reduziram a zero por ano, pois tão logo os marginais tomaram conhecimento que a ROTA era responsável pelo treinamento dos seguranças do Itaú, não mais se atreviam assaltarem referido Banco.
A ROTA é realmente diferenciada! Grato pelo relato. Forte abraço!
Obrigado Márcio Higashi Couto, pelo excelente artigo histórico e Caballé, por nos trazer esta publicação!
Nilton, nós é que agradecemos pela leitura. Forte abraço!
Excelente matéria, muito detalhada!
Parabéns a todos os pesquisadores envolvidos na pesquisa histórica!
Williams, os méritos são do autor, o cel Santiago Higashi. Agradeço por comentar! Forte abraço!
Trabalhei com o ten JOAO ROBERTO DO NASCIMENTO na penitenciaria do Estado ,15 B P M ,quando o mesmo era aspirante,otimo comt ,pessoa amiga dos subordinados e de muito respeito aoser promovido ,foi para o Tobias de Aguiar e na despedida fez questao de nos cunprimentar um a um realmente um senhor oficial de policia militar que deixou saudades.
Valdemar, obrigado por compartilhar conosco! Forte abraço!
É sempre bom conhecer um pouco mais sobre a historia da Polícia Militar.
Adorei a matéria
O cel Santiago realmente fez um excelente trabalho, com muita pesquisa. Grato por comentar, forte abraço!
Que orgulho poder ter feito curso com a ROTA. Em todos os nossos Cursos de formação RONE, levamos os policiais para conhecer a ROTA. Já dizia a música “São Paulo tem a ROTA, Curitiba tem a RONE”
Jamcoski, Instituições gloriosas e de respeito! Grato por comentar, forte abraço!
Saudações à equipe do Blog “Velho General”, sou o Coronel R/1 José Benedito Cruz Junior, Assessor de Doutrina da Academia Militar das Agulhas Negras; desejo parabenizar o Coronel PM Santiago por este artigo sobre a história da ROTA; este foi um dos melhores artigos que eu já li sobre o assunto, além do Coronel PM Santiago ter evidenciado um poder de síntese admirável.
Apesar da excelência do artigo, eu tenho algumas observações a fazer sobre um parágrafo específico, que transcreverei na sequência: “Após o início do governo militar no Brasil, em 31 de março de 1964, movimentos de orientação socialista e comunista passaram a promover ações contra o regime, entre 1965 e 1967. Mas foi após o governo baixar, em 13 de dezembro de 1968, o Ato Institucional nº 5, que endureceu algumas medidas de restrição de direitos, que surgiram vários grupos subversivos como a ALN (Aliança Libertadora Nacional), o PC do B (Partido Comunista do Brasil) e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), entre outros, que, além de focos de guerrilha rural, passaram a realizar ações de guerrilha e terrorismo urbano, como ataques a alvos militares para conseguir armas e ataques com bombas, sequestros e roubos a banco para obter fundos para financiar suas atividades”.
ALN é a sigla para AÇÃO Libertadora Nacional e não ALIANÇA Libertadora Nacional; a confusão é muito comum, pois em fevereiro de 1935 foi criada uma “organização de frente” chamada ALIANÇA Nacional Libertadora (ANL), que reunia, sob o controle do Partido Comunista, todos os grupos que se opunham ao Governo Vargas (ORVIL, pág 71 e 248).
No ano de 1956 ocorreu o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), no qual o Premier Nikita Khrushchev denunciou os expurgos de Stalin e o culto à sua personalidade… Uma das principais consequências deste discurso e da posterior adoção, por parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), da “Política de Coexistência Pacífica”, foi o “racha” no Movimento Comunista Internacional (MCI), em que a China Popular distanciou-se da URSS. Este afastamento entre os comunistas soviéticos e chineses refletiu nos diversos partidos comunistas ao redor do Mundo; aqui no Brasil ocorreu o primeiro “racha” no Partido Comunista Brasileiro (PCB), o qual seguia as ordens de Moscou, dando origem ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), o qual seguia as orientações de Pequim, em outubro de 1962 (ORVIL, pág 101 e 102). Portanto, o PC do B surgiu em 1962 e não após a decretação do AI-5.
A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi uma organização de luta armada que se originou da união entre elementos dissidentes da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-POLOP), mais conhecida como POLOP, e do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), sendo criada em MARÇO de 1968, portanto antes da edição do AI-5 (ORVIL, pág 304).
Mesmo a ALN, que adotou este nome em 1969, já existia como Agrupamento Comunista de São Paulo desde 1967, sendo que a origem deste remonta a formação da chamada “Ala Marighella” dentro do grupo de dissidentes do PCB denominado Corrente Revolucionária (ORVIL, pág 247 e 248).
Estas observações são importantes uma vez que os políticos de esquerda, principalmente os que integraram as organizações de luta armada, tentam emplacar a narrativa de que foi a decretação do AI-5 que os empurrou para a o enfrentamento, já que as vias democráticas de diálogo teriam sido cortadas pelo governo da Revolução de 64… Entretanto, como pode-se depreender dos registros históricos, as diversas organizações de luta armada, que surgiram no período, tinham como ponto em comum a discordância da linha de ação adotada pelo PCB, portanto defensoras de ações mais efetivas e concretas contra o governo instalado em 64. Eu utilizei o livro “ORVIL-Tentativas de Tomada do Poder” para pesquisar estas informações.
Cel Cruz Junior, muito obrigado pelas pertinentes considerações. Vou repassa-las ao cel Santiago Higashi. Agradeço também por acompanhar o site, ficamos honrados com tão seleta audiência. Um forte abraço!
Excelente artigo, mais uma vez temos a oportunidade de ler informações de qualidade escritos por especialistas que realmente conhecem do assunto no Velho General.
Meus parabéns!
Além dos fatos históricos e melhorias recentes que demonstram o quanto a ROTA contribuiu e contribui para a segurança de nosso estado de São Paulo e Brasil, eu também gostaria de destacar a importância da doutrina na atuação dos operadores da ROTA, pois não adianta nada ter equipamentos, não saber operá-los de forma plena. É evidente que uma doutrina que foca no aperfeiçoamento e aprendizado contínuo possibilitará antecedermos e adaptarmos aos novos desafios de hoje e de amanhã.
Obrigado!
Paulo, nós é que agradecemos por nos acompanhar! Muito obrigado pelo comentário e um forte abraço!
desde quando descrobri que a ROTA existia sempre admirei o trabalho da Rota, na minha época a Rota para os Banditos era sinal de morte na certa, infelizmente hoje em dia tudo é discriminação e todo mundo é inocente , e a criminalidade a solta em SP.
Entra Governo e sai Governo ninguem faz nada
A verdade na politica é uma so , entra uma quadrilha sai outra
E a Policia criticada por proteger o Cidadão
Vida longa para a Rota e a Policia Militar
Não moro no Brazil a mais de 30 anos mas sempre acompanho as noticias
EU AMO MEU PAI, QUE FEZ E FAZ PARTE DA HISTÓRIA DA FORÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. HOJE 2 TEN José Nalesso.
Gostei da Matéria super interessante a História da Policia e da Rota
É uma história muito rica, Marcos. Grato por comentar. Forte abraço, Albert.
A história da PMESP é muito rica, Marcos. Grato por comentar! Forte abraço, Albert.