Hoje, o Dia do Soldado, data magna do Exército, homenageia o nascimento de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, em 25 de agosto de 1803. Conhecido como “O Pacificador” e “Duque de Ferro”, tornou-se patrono do Exército Brasileiro em 13 de março de 1962. É tido por muitos historiadores como o mais destacado oficial da história do Brasil. Em sua homenagem e à data, publicamos este artigo de autoria do coronel Cláudio Moreira Bento.
Em 9 de novembro de 1842, precedido da justa fama de pacificador do Maranhão, Minas Gerais e São Paulo, o Barão de Caxias assumiu a presidência e o comando das Armas da Província do Rio Grande do Sul com a missão de pacifica-la, depois de oito anos de luta fratricida.
Tomou as medidas necessárias para apoiar sua campanha e sair em campo, conforme abordamos no livro O Exército Farrapo e os seus Chefes, Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1993, 2º volume (baixe os livros nos links abaixo).
O exército que iria comandar encontrava-se no Passo São Lourenço, no rio Jacuí, a montante de Cachoeira do Sul e a pé. Para remontá-lo executou ousada, incruenta e feliz manobra ao transportar, por terra, desde o Rincão dos Touros em Rio Grande, passando por Pelotas, São Lourenço, Camaquã e Tapes, 7.000 cavalos para reconquistar a mobilidade daquele exército que lhe caberia comandar.
Ao iniciar, em 19 de março de 1843, sua marcha de Cachoeira a São Gabriel, seus soldados divisaram nos céus um fenômeno jamais visto. Era um enorme cometa que os soldados logo batizaram: “É a boa estrela do nosso general Barão de Caxias! É a Estrela de Caxias!”
E o imaginário popular entrou em cena. A nova se espalhou pelo exército como rastilho de pólvora. E foi sendo passada ao povo gaúcho, pelo caminho, não demorando a chegar aos acampamentos dos farrapos em Alegrete, onde haviam se reunido em Constituinte, e o fenômeno os levou a crer ser um mau presságio à sua causa!
O cometa possuía uma enorme cauda apontando justamente para Alegrete. Foi vista enquanto durou a marcha de Caxias, de 16 a 30 de março de 1843, no itinerário Cachoeira – São Sepé – São Gabriel – Alegrete – Santana. E neste local chegaram, em 30 de março, Caxias, seu exército e sua “estrela”.
Sobre este fenômeno pedimos ao grande astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, cientista pela Sorbonne de renome internacional e nosso confrade no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que fizesse uma comunicação ao NEPHIM (Núcleo de Estudos e Pesquisas de História Militar), do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB), que coordenávamos, no que fomos prontamente atendidos.
Sintetizando sua elucidativa explicação científica da “Estrela de Caxias”, que os soldados e o povo gaúcho tomaram como um sinal de sorte e fortuna para Caxias, e alguns Farrapos como mau presságio para a causa que há oito anos defendiam.
O que no Rio Grande foi denominado “Estrela de Caxias” em realidade foi designado nos anais da astronomia como o Cometa Brilhante de 1843. Ele foi um dos mais notáveis que apareceram entre 1800 e 1899. Tão intenso era seu brilho que ele foi observado à luz do dia em diversos pontos do globo terrestre. Foi descoberto em 5 de fevereiro de 1843 e observado na Europa em 17 e 18 de março de 1843. Nos EUA, sua última observação foi em 19 de abril de 1843. No Rio de Janeiro, astrônomos o observaram de 8 fevereiro a 3 de abril de 1843.
O coronel Pedro de Alcântara Bellegarde, diretor da Escola Militar do Largo do São Francisco, o estudou do observatório astronômico da escola. Ele estimou sua cauda de tamanho igual ou maior do que a distância Terra à Lua, mas em realidade era o dobro desta distância, ou 323 milhões de quilômetros. Bellegarde previu até a colisão da Terra com a cauda do cometa, cujos efeitos seriam inapreciáveis por ser constituída de gases.
O cientista Dom Pedro II também o observou e afirmou que a cauda quase atingia o zênite.
O Cometa Brilhante de 1843, ou a “Estrela de Caxias”, foi pintada por José dos Reis Carvalho, mestre de Desenho da Escola Naval. Esta pintura encontra-se em mau estado no Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na Lapa, no Rio de Janeiro. E na mesma dependência da invicta espada de seis campanhas de Caxias e do seu binóculo, com o qual acompanhou impressionado no Rio Grande do Sul o cometa que passou à tradição e ao folclore gaúchos como a “Estrela de Caxias”.
Decorridos quatro anos do aparecimento de sua “estrela”, o Barão de Caxias foi admitido, em 11 de maio de 1847, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) como sócio honorário. A entidade, desde 1925, abriga como sua maior relíquia a espada de campanha de Caxias, a partir da qual o hoje Espadim de Caxias, arma distintiva do cadete do Exército, criada em 1931 pelo então coronel José Pessoa, é cópia fiel reduzida.
Sobre o Cometa Brilhante, ou “Estrela de Caxias”, Dutra Mello escreveu:
“Oh! quem diz que não são núncios do Eterno!
Oh! quem me diga que um tal astro um ser não possa,
O anjo do Sistema que passeia,
Visitando os domínios que dirige?”
Indiscutivelmente, durante e após o aparecimento da “Estrela de Caxias”, este teve muita sorte. Conseguiu consolidar a Unidade Nacional em 1º de março de 1845, com a Paz de Dom Pedrito[1] em condições honrosas.
Foi eleito pelos gaúchos senador vitalício, cargo que exerceu por cerca de 30 anos não por méritos políticos, mas por reconhecimento e gratidão dos gaúchos, cuja psicologia e valores apreendeu e com eles bem se comunicou, ao ponto de certa feita dizer a seu grande amigo general Osório, até de certo modo seu confidente, ao lhe encarregar de mobilizar o 3º Corpo de Exército no Rio Grande, para a Guerra do Paraguai em 1866:
“– Fale a estes guascas (bravos, destemidos, intrépidos) naquela linguagem que nós dois sabemos falar!”
Seu mandato de senador pelo Rio Grande lhe assegurou condições para chefiar o governo do Brasil por mais de quatro anos, como Chefe do Gabinete de Ministros; ser Ministro da Guerra por mais de seis anos e comandante-em-chefe dos brasileiros em duas guerras externas em que estiveram em jogo a soberania e integridade do Brasil.
Foi um brasileiro providencial! Se pode até afirmar sem erro que o século XIX foi o Século de Caxias no Brasil!
Falou-nos o ilustre astrônomo sobre a “Estrela de Caxias!”: O que teriam a dizer-nos sobre ela os astrólogos? Aguardemos!
[1] Nota do autor: a paz foi assinada em Ponche Verde pelos Farroupilhas e no dia seguinte, 1º de março, no acampamento de Caxias, próximo a Dom Pedrito, daí denominarmos a pacificação de Paz de Dom Pedrito.