Entrevista: Tenente-Coronel Marcelo Pimentel

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Por Albert Caballé Marimón* e Cap Fr (FN) RM1 Robinson Farinazzo*

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Tenente-coronel Marcelo Francisco Silva Pimentel.

Formado pela AMAN em 1989, o Tenente-coronel Marcelo Pimentel1 comandou o 3° Contingente Brasileiro da Força de Manutenção de Paz no Timor Leste nos anos 2000/2001, além de servir em diversas unidades do Exército Brasileiro e em comissões no exterior. Oficial da arma de Infantaria e autor do livro “Três Missões de Resgate: Son Tay, Mayaguez e Irã”, em pré-lançamento pela Amazon.com, ele concedeu a seguinte entrevista ao Canal Arte da Guerra e ao Blog Velho General.


Velho General / Canal Arte da Guerra: O Senhor escreveu sobre três operações militares que tiveram muito impacto na mentalidade americana. Gostaria que falasse sobre o que o motivou a abordar cada um desses temas.

Tenente-coronel Pimentel: A expedição a Son Tay era uma operação que eu sempre quis aprofundar, pelo extremo risco envolvido, pela natureza da missão (resgatar irmãos de armas mantidos em péssimas condições por seus captores), pela alta dose de coragem requerida de seus participantes e, principalmente, pela ousadia demonstrada, ao agir no coração do território inimigo, ante o então mais bem defendido espaço aéreo do mundo.

O resgate do Mayaguez me atraiu por ter sido uma resposta imediata e contundente a um ato de pirataria e, acima de tudo, pela coragem e capacidade de adaptação a condições extremamente adversas demonstradas por fuzileiros navais e pilotos dos helicópteros naquele incidente.

Quanto à Operação Eagle Claw, sem dúvida foi a audácia de se tentar uma operação de resgate no centro de Teerã, seguindo um plano que tinha tudo para dar errado, pela complexidade envolvida e pelas inúmeras contingências que poderiam surgir na ação, com a possibilidade real de se perderem tanto os reféns como a força de resgate. Era um plano absolutamente temerário que, segundo o próprio Estado-Maior Conjunto, tinha 60% de chances de sucesso.

VG/ADG: A operação Eagle Claw foi um divisor de águas nas Operações Especiais dos EUA?

TC Pimentel: Sim. Eu avalio que ela foi o estágio final do amadurecimento que levou os Estados Unidos a criarem um comando específico, o USSOCOM (US Special Operations Command, o Comando de Operações Especiais dos EUA), dentro do Departamento de Defesa, para o emprego das unidades de Forças Especiais de seus quatro ramos: Exército, Marinha, Marines e Força Aérea. Isso veio a corrigir os erros cometidos, no nível de comando e controle, desde a Operação Kingpin, que foi o reide a Son Tay, em 1970.

VG/ADG: Son Tay: o que deu errado?

TC Pimentel: Os prisioneiros haviam sido removidos meses antes do lançamento da operação. As medidas de contra-inteligência e o isolamento dos planejadores da operação impediram que a informação, já de conhecimento de agências de inteligência, fosse disseminada a tempo. Também a ansiedade de Nixon em capitalizar politicamente o eventual sucesso da operação militar, e a obstinação dos chefes militares em salvar seus compatriotas há anos encarcerados sob as piores condições, limitaram sua percepção da realidade, e os levaram a decidir pela tentativa, mesmo contra as evidências disponíveis, que indicavam que a prisão fora evacuada.

LIVRO RECOMENDADO:

Três Missões de Resgate: Son Tay, Mayaguez e Irã

  • Marcelo Pimentel (Autor)
  • Em português
  • Versões eBook Kindle e Capa Comum

VG/ADG: O senhor acha que era possível adotar providências que diminuíssem as baixas americanas no resgate do Mayaguez?

TC Pimentel: Eu procuro não criticar as decisões de campo tomadas sob o calor dos acontecimentos e face aos fatores da decisão: missão, terreno, inimigo, meios disponíveis, tempo e opinião pública. Credito o excesso de baixas na operação ao não compartilhamento oportuno das informações sobre o inimigo. O escalão de assalto dos marines esperava entre vinte a trinta inimigos, quando, na realidade, enfrentaram cerca de 150 combatentes, em posições fortificadas e dotados de armas automáticas, RPG e morteiros.

VG/ADG: Agora falando das FA brasileiras: o Senhor teve muito contato com militares americanos e de outros países. Como eles veem o Brasil e como o Senhor os enxerga?

TC Pimentel: Avalio que eles veem o Brasil com muito respeito e nos enxergam como militares dotados de um elevado espírito de cumprimento de missão, responsabilidade e profissionalismo. Essa visão, na minha opinião, deve-se ao excelente trabalho desenvolvido por militares brasileiros em operações de paz sob organismos internacionais, sejam em missões coletivas (de tropa) ou individuais (observadores e elementos de Estado-Maior). Quanto à minha visão pessoal sobre eles, em particular os pertencentes a Forças Armadas de países mais desenvolvidos que o nosso, penso que podemos aprender muito com eles nos quesitos planejamento e inteligência de combate, mas, no quesito capacidade de improvisação, que é muito importante em operações militares, ficamos bem à frente deles.

VG/ADG: Dada a sua grande experiência na aérea de inteligência, pode dissertar sobre a importância da mesma para as OpEsp?

TC Pimentel: A busca, coleta e análise de dados e informações é vital para qualquer operação militar e reveste-se de importância ainda maior tratando-se de Operações Especiais. Uma simples patrulha de quatro militares, feita na véspera do ataque inglês ao Monte Longdon, no Conflito das Malvinas, por exemplo, foi fundamental para levantar dados sobre campos de minas e sobre o dispositivo argentino naquele objetivo, possibilitando a montagem de um ataque bem-sucedido e com reduzidas baixas. Se numa operação convencional como a guerra anglo-argentina a Inteligência bem conduzida foi um fator contribuinte imprescindível, em Operações Especiais, por sua natureza, a Inteligência constitui a chave para o sucesso. Exemplifico com a operação para eliminar Osama Bin-Laden. As operações de Inteligência que a precederam foram complexas, extensas e custaram anos de trabalho e vidas de agentes.

VG/ADG: O Senhor já tem projetos para novos livros?

TC Pimentel: Sim, estou trabalhando em um novo projeto, “Guerra Fria no Caribe”, que pretendo lançar no primeiro trimestre do próximo ano. Ele irá tratar dos reflexos daquele período histórico na região, culminando com as operações Urgent Fury e Just Cause.

Aproveito para agradecer pela oportunidade e dizer que sou assinante, membro e entusiasta do Canal Arte da Guerra e do Blog Velho General, por sua credibilidade, pela riqueza dos temas apresentados, abordagem profissional e patriótica, o que lhes confere a condição de veículos disseminadores da cultura militar e vetores para a boa educação e formação da nossa juventude.


O Tenente-coronel Marcelo Pimentel e o Comandante Robinson Farinazzo são da mesma turma da EsPCEx (1983-1985), batizada de Collecchio Fornovo. Foi uma turma muito unida. O vídeo abaixo, publicado no CANAL ARTE DA GUERRA, mostra um pouco da história desses guerreiros.


O Tenente-coronel Marcelo Francisco Silva Pimentel foi declarado aspirante-a-oficial da arma de Infantaria em 09 de dezembro de 1989 na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Serviu em diversas unidades no Brasil e em comissões no exterior, com destaque para unidades de Infantaria Blindada, Infantaria Leve, de Polícia do Exército e de Inteligência. Foi instrutor da Escola Preparatória de Cadetes do Exército e comandante do 3° Contingente Brasileiro da Força de Manutenção da Paz em Timor Leste, em 2000/2001.


*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.

*Robinson Farinazzo é Capitão de Fragata (FN) RM1, expert em tecnologia aeronáutica e articulista de Defesa. Com mais de trinta anos de carreira militar, extensa experiência de campo e formação superior em Administração de Empresas, é Editor do Canal Arte da Guerra. E-mail: robinsonfarinazzo@gmail.com


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