Por Albert Caballé Marimón |
Por David Rodman, publicado no Air & Space Power Journal em Jun/2000, traduzido e adaptado por Albert Caballé Marimón
Qual o papel tradicionalmente ocupado pelo poder aéreo na doutrina operacional das Forças de Defesa de Israel (IDF, Israeli Defense Forces)? Esse papel foi expandido ou contraído com a evolução dessa doutrina? O poder aéreo cumpriu as tarefas atribuídas a ele no passado? Poderia cumprir as tarefas atribuídas a ele no presente? Essas questões são de interesse prático por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar, Israel freqüentemente empregou o poder aéreo para defender seus interesses vitais. De fato, talvez mais do que qualquer outro estado na era pós-Segunda Guerra Mundial, ele se baseou no poder aéreo para proteger sua segurança nacional. O caso israelense, portanto, é uma fonte potencialmente rica de dados que poderiam ajudar a validar (ou invalidar) várias proposições sobre a utilidade geral do poder aéreo. Em segundo lugar, Israel poderia ver-se envolvido em uma guerra futura, mesmo que o conflito árabe-israelense hoje pareça estar se movendo, embora em trancos e barrancos, em direção a uma solução abrangente. A IDF, portanto, dedicou um pensamento substancial ao papel do poder aéreo na guerra do século XXI. Dada a considerável eficácia do poder aéreo israelense nos campos de batalha do século XX, as instituições militares de outras nações fariam bem em levar em conta a atual perspectiva da IDF sobre o papel do poder aéreo.
O objetivo deste artigo não é contemplar a exatidão de várias hipóteses sobre o poder aéreo à luz do caso de Israel, nem propor as lições que as instituições militares de outras nações deveriam extrair do pensamento contemporâneo da IDF. É melhor deixar essas tarefas para os especialistas em poder aéreo, um grupo em que o autor certamente não merece ser incluído. Em vez disso, os objetivos deste artigo são mais modestos: eles são (1) descrever o papel do poder aéreo dentro das doutrinas operacionais passadas e presentes da IDF; (2) analisar (muito brevemente) o desempenho do poder aéreo sob o primeiro e especular (novamente, muito brevemente) sobre o seu desempenho sob o segundo; e (3) argumentar que uma mudança gradual, mas crucial, está em andamento há algum tempo no pensamento da IDF sobre o poder aéreo. Para esses fins, a primeira parte do artigo examinará o lugar do poder aéreo na doutrina tradicional da IDF, enquanto a segunda parte explorará seu lugar na “nova” doutrina da IDF. Mas deve ser feita uma ressalva antes de prosseguir: este artigo trata apenas do campo de batalha convencional. O papel do poder aéreo israelense em conflitos de baixa intensidade, para não falar num cenário de guerra nuclear, biológica ou química, está fora do escopo do artigo.
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Poder Aéreo na Doutrina Operacional Tradicional da IDF
A doutrina operacional tradicional da IDF tomou forma como resultado do ambiente e da experiência de Israel antes da Guerra dos Seis Dias de 19671. As fronteiras longas e vulneráveis do país, sua falta de profundidade estratégica, sua mão-de-obra e recursos materiais escassos em relação aos inimigos árabes, e a incapacidade de assegurar aliados formais que viessem em seu auxílio em uma hora de necessidade, eram as restrições ambientais fundamentais que influenciavam o pensamento militar israelense. A IDF concluiu que, como conseqüência dessas restrições, Israel não podia se permitir envolver-se em uma guerra de desgaste, nem permitir a realização de combates pesados em seu território. Qualquer uma dessas ocorrências poderia significar o fim da existência do estado, e qualquer uma delas indubitavelmente prejudicaria seriamente seus interesses vitais. No início de sua história, portanto, a IDF adotou o princípio de que as guerras de Israel não devem ser apenas curtas, mas também devem ser combatidas em território árabe. A guerra de manobra ofensiva, decidiu a IDF, constituía a doutrina operacional mais adequada para atingir esses fins2. A experiência de combate anterior da IDF confirmou esse julgamento. A Guerra da Independência de 1948-49 e a Guerra de Suez de 1956 demonstraram a qualidade superior da IDF em relação aos exércitos de seus inimigos árabes – não em termos de seus equipamentos, que na sua maioria se revelaram inferiores, mas sim em termos de seu fator humano, que provou ser melhor educado, mais fisicamente apto, mais altamente motivado, melhor treinado e melhor liderado. E, como a IDF reconheceu, a guerra de manobras ofensivas é bem adequada para o lado com fator humano superior. Os esforços de guerra ofensiva da IDF nas guerras de 1948-49 e 1956, na verdade, foram grandes sucessos.
Inicialmente, a doutrina operacional da IDF atribuiu um papel muito limitado ao poder aéreo. A IAF (Israeli Air Force, a Força Aérea de Israel) surgiu durante a guerra de 1948-49. Como a IDF não podia dedicar tempo nem recursos no meio de uma guerra para ponderar sobre como o poder aéreo deveria se encaixar em sua doutrina operacional, a IAF era empregada de maneira estritamente ad hoc, para atender às necessidades do campo de batalha do momento. Em 1956, a própria IAF havia pensado sobre o papel do poder aéreo na doutrina operacional da IDF, argüindo que uma frota de aeronaves de múltiplos propósitos deveria primeiro obter superioridade aérea através de um ataque inicial contra aeródromos inimigos e depois apoiar as forças terrestres; mas a IDF ainda considerava o poder aéreo como marginal à segurança nacional de Israel, concentrando-se em forjar uma doutrina ofensiva de guerra de manobras construída em torno de forças mecanizadas terrestres. Somente após o forte desempenho da IAF na Guerra de Suez, a IDF reconheceu a importante contribuição que o poder aéreo poderia oferecer à segurança nacional de Israel. Para seu crédito, uma vez que despertou para o valor do poder aéreo, a IDF imediatamente pensou cuidadosamente em como a força aérea poderia ser melhor integrada à sua doutrina operacional.
A IDF atribuiu à IAF duas tarefas centrais3. Primeiro, e mais importante, a IAF tinha que ganhar superioridade aérea sobre Israel e sobre o campo de batalha4. A superioridade aérea não apenas protegeria a população civil e os ativos industriais do país de ataques aéreos, mas também permitiria mobilizar rapidamente suas forças e suas grandes reservas, que sempre formaram a maior parte de suas formações de combate. Em segundo lugar, uma vez que essa tarefa tenha sido cumprida, a IAF apoiaria as forças terrestres da IDF na interdição aérea do campo de batalha e em missões de apoio aéreo, e poderia então assumir tarefas adicionais, como missões de ataque de longo alcance contra alvos militares e industriais sensíveis no coração do inimigo5. Durante a fase de superioridade aérea do esforço de guerra da IAF, a IDF esperava sobreviver com pouco ou nenhum apoio aéreo. Mesmo depois de a superioridade aérea ter sido estabelecida, no entanto, a IDF ainda sentia que suas forças terrestres, por si mesmas, deveriam ser capazes de superar as forças terrestres inimigas. O sabor dessa linha de raciocínio é bem captado pelas observações do ex-Chefe de Estado Maior da IDF, David Elazar, em um simpósio dedicado às lições da Guerra do Yom Kippur em 1973.
“O principal objetivo da força aérea é proteger os céus em todo o país e acima das forças de combate… Eu sempre acreditei que as forças terrestres, protegidas da atividade aérea do inimigo, deveriam derrotar as forças terrestres inimigas sem ajuda6.”
Sob a doutrina operacional tradicional da IDF, em suma, a IAF tinha que eliminar a ameaça representada pelo poder aéreo inimigo, mas não tinha que intervir decisivamente na batalha terrestre, embora certamente tivesse que dar uma mão nessa batalha.
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Superioridade Aérea
A IAF adquiriu superioridade aérea em todas as guerras entre árabes e israelenses travadas desde 19677. Em todas essas guerras, teve superioridade aérea virtualmente inconteste sobre Israel, possivelmente sua contribuição histórica mais significativa para a segurança nacional do país. O poder aéreo árabe não conseguiu infligir danos à população civil de Israel ou à sua infraestrutura industrial. Tampouco foi capaz de impedir, de forma alguma, a rápida mobilização das forças ou das reservas da IDF.
A extensão da superioridade aérea da IAF sobre o campo de batalha, ao contrário, variou de guerra para guerra. Na Guerra dos Seis Dias, a IAF rapidamente assegurou a superioridade aérea sobre o campo de batalha através de um ataque devastador contra as forças aéreas árabes. Durante o primeiro dia da guerra, a IAF destruiu grande parte das forças aéreas do Egito, da Síria, da Jordânia e do Iraque em uma série de ataques bem planejados e bem executados contra as bases aéreas árabes. Ela destruiu muitas das aeronaves árabes remanescentes em combate ar-ar nos dias seguintes. Essa combinação de ação ar-solo e ar-ar tornou as forças aéreas árabes essencialmente impotentes. Em nenhum momento elas representaram uma séria ameaça às forças terrestres da IDF, muito menos afetaram o curso da guerra. Na guerra de atrito de 1969-70, a IAF inicialmente obteve superioridade aérea ao infligir perdas inaceitáveis à Força Aérea Egípcia em combates ar-ar e destruindo a rede egípcia de baterias de mísseis terra-ar (SAM, Surface to Air Missile) e de artilharia antiaérea (AAA, Anti Air Artillery) na zona do Canal de Suez . Mas, mais tarde, a IAF tornou-se vítima de seu próprio sucesso, à medida que ataques incontestes de “penetração profunda” contra alvos militares em torno do Cairo provocaram uma enorme intervenção soviética na guerra. Durante os meses finais de combate, as forças egípcias-soviéticas acharam possível construir uma rede sofisticada de SAM e AAA que contestou vigorosamente a superioridade aérea israelense. A Guerra de Atrito, sugerem muitos observadores, terminou em um impasse entre a IAF e as defesas antiaéreas soviético-egípcias. Na Guerra do Yom Kippur, a IAF finalmente estabeleceu superioridade aérea sobre o campo de batalha, mas não antes de sofrer pesadas perdas, particularmente durante os primeiros dias de combate, para baterias SAM e AAA egípcias e sírias. Depois de três semanas de combates pesados, as forças aéreas egípcias e sírias haviam sido varridas dos céus, principalmente como resultado de enorme sucesso da IAF no combate ar-ar, e ela havia penetrado, embora com considerável ajuda das forças terrestres da IDF, especialmente na frente egípcia, as defesas SAM e AAA árabes. Além disso, como na Guerra dos Seis Dias, devido principalmente à persistência da IAF, o poder aéreo árabe não representou uma séria ameaça às forças terrestres da IDF, muito menos afetou o curso da guerra. Na Guerra do Líbano de 1982, a IAF ganhou superioridade aérea rapidamente, e de maneira tão espetacular quanto na Guerra dos Seis Dias. Ela destruiu completamente a rede de defesa antiaérea da Síria no vale de Bekaa num ataque extremamente bem orquestrado; em seguida, abateu dezenas de aeronaves da Força Aérea da Síria enviadas para defender as forças terrestres sírias. Em poucos dias, os sírios abandonaram qualquer esperança de desafiar a superioridade aérea da IAF sobre o Líbano. Com as exceções de parte da Guerra de Atrito e parte da Guerra do Yom Kippur, portanto, a IAF manteve a superioridade aérea sobre o campo de batalha.
Ataque ar-solo
A eficácia dos esforços ar-solo da IAF, como a extensão de sua superioridade aérea sobre o campo de batalha, variou de guerra para guerra. Na Guerra dos Seis Dias, as forças terrestres da IDF venceram as cruciais batalhas contra o exército egípcio no Sinai sem apoio aéreo. Da mesma forma, venceram a principal batalha noturna em Abu Agueila sem apoio aéreo. Coletivamente, essas batalhas determinaram o destino da guerra na frente egípcia. A interdição aérea do campo de batalha e os ataques de apoio aéreo podem ter tido um impacto mais significativo na derrota dos exércitos sírio e jordaniano, mas mesmo nessas frentes, a maior parte do crédito pela vitória foi das forças terrestres da IDF. No máximo, os ataques ar-solo da IAF podem ter tornado a guerra um pouco menos custosa para Israel e um pouco mais cara para seus inimigos árabes. Na Guerra de Atrito, os ataques ao solo da IAF, apesar de todas as suas conquistas indiscutíveis em nível tático, não obrigaram o Egito a terminar os combates, embora possam ter impedido uma intensificação da guerra. De fato, em nenhuma guerra árabe-israelense o poder aéreo israelense ocupou um papel tão proeminente, e em nenhuma o resultado foi tão inconclusivo sob a perspectiva israelense. Na Guerra do Yom Kippur, os ataques ar-solo da IAF tiveram um efeito menor que o desejado no campo de batalha, particularmente durante os primeiros dias de combate, quando as forças terrestres da IDF estavam na defensiva8. Mais tarde na guerra, especialmente na frente egípcia, a interdição aérea do campo de batalha da IAF e os ataques de apoio aéreo aproximado provaram ser mais eficazes, mas não foram responsáveis pela bem-sucedida ofensiva da IDF nessa frente. O eficiente esforço de ataque de longo alcance da IAF contra alvos militares e industriais no coração da Síria tampouco foi responsável pela bem-sucedida ofensiva da IDF naquela frente. Na Guerra do Líbano, a interdição aérea do campo de batalha da IAF e o ataque aéreo aproximado aparentemente infligiram danos consideráveis às forças da Síria e da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). No entanto, as forças terrestres da IDF merecem o crédito por derrotar as forças sírias e da OLP, assim como obrigar estas últimas a evacuar o Líbano. O ponto essencial sobre os esforços ar-solo da IAF em guerras árabes-israelenses no passado, em suma, é que eles simplesmente não tiveram um impacto decisivo nos resultados dessas guerras, o que não é muito surpreendente, já que a IAF não foi construída para ter esse impacto.
Poder Aéreo na Nova Doutrina Operacional da IDF
A nova doutrina operacional da IDF não se afasta inteiramente de sua doutrina operacional tradicional9. A nova doutrina, na verdade, compartilha muito em comum com a doutrina tradicional; é o produto de um processo evolucionário, em vez de revolucionário, que na verdade começou na esteira da Guerra do Yom Kippur, mas que, na última década, adquiriu um tremendo impulso. Externamente, a IDF ainda permanece comprometida com o conceito de guerra de manobras ofensivas. Interiormente, no entanto, começou a reconhecer que esse estilo de guerra por si só pode não mais representar uma solução ideal no moderno campo de batalha do Oriente Médio. Em outras palavras, a IDF começou a pensar seriamente em termos do campo de batalha “saturado”, onde a capacidade de empregar poder de fogo – particularmente poder de fogo de longo alcance de precisão – pode ser mais importante que a capacidade de manobrar. Segue-se dessa linha de pensamento que, se a IDF for convocada a travar uma guerra futura, pode bem optar por adiar a guerra ofensiva de manobras terrestres para um estágio posterior da guerra, até que as forças terrestres inimigas tenham sido severamente enfraquecidas por meio de um intenso esforço de atrito com uso extensivo de PGM (Precision Guided Munition, Munições Guiadas de Precisão) disparadas por via aérea. Em uma guerra futura, o plano diretor da IDF poderia ter grande semelhança com o plano da Coalizão Aliada na Guerra do Golfo.
Um dos resultados dessa nova doutrina operacional é um papel aprimorado para a IAF. Suas tarefas centrais, com certeza, permanecem as mesmas atribuídas sob a doutrina tradicional da IDF: (1) ganhar superioridade aérea sobre Israel e o campo de batalha e (2) ataques ar-solo em apoio às forças terrestres. A ênfase da segunda tarefa, no entanto, foi substancialmente aumentada. Doutrinariamente falando, a IDF de hoje começa a contar com um impacto muito maior da IAF na batalha terrestre do que no passado, e começa a contar com esse impacto muito mais cedo do que no passado10. A IDF pode até esperar que a IAF auxilie as forças terrestres antes mesmo de ter atingido plenamente a superioridade aérea. A questão, portanto, passa a ser, pode a IAF cumprir essas tarefas no moderno campo de batalha do Oriente Médio?
Superioridade Aérea
Não há dúvida de que, em uma futura guerra, iniciada pela IDF ou por forças inimigas, a IAF alcançaria superioridade aérea sobre Israel. A vantagem maciça da IAF no combate ar-ar sobre seus inimigos tem crescido constantemente na última década, com a introdução de melhores sistemas de inteligência e gerenciamento de batalha, bem como melhores aeronaves e mísseis. Além disso, as capacidades de SAM e AAA da IAF foram significativamente melhoradas no mesmo período. É muito improvável, portanto, que as aeronaves inimigas sejam capazes de penetrar no espaço aéreo israelense em números significativos. Durante a Guerra do Golfo, pode-se lembrar, o Iraque nem sequer considerou a idéia de usar sua força aérea contra Israel, pelo menos em parte porque não acreditava que suas aeronaves pudessem sobreviver para alcançar os alvos pretendidos. Da mesma forma, as decisões de vários estados árabes de construir seus arsenais de mísseis balísticos, a fim de apresentar uma ameaça crível ao interior do território de Israel, dizem muito sobre sua percebida incapacidade de contestar a superioridade aérea israelense11.
Também não há dúvida de que, em uma guerra futura, seja iniciada pela IDF ou por forças inimigas, a IAF ganharia superioridade aérea sobre o campo de batalha. Somente a velocidade com que a IAF iria cumprir esse objetivo estaria em questão: se a IDF começasse uma guerra, e a situação no solo permitisse lutar pela superioridade aérea antes de intervir pesadamente na batalha terrestre, então a superioridade aérea seria provavelmente alcançada bastante cedo na guerra. Por outro lado, se a IAF for forçada a participar pesadamente na batalha terrestre desde o início de uma guerra, seja porque as forças terrestres da IDF foram pegas de surpresa ou porque simplesmente não estavam tendo um bom desempenho, então levaria mais tempo para a IAF alcançar a superioridade aérea sobre o campo de batalha. Aeronaves inimigas, mesmo que não pudessem mais ser destruídas em grande número pelos ataques ao estilo de Guerra dos Seis Dias em suas bases, não seriam capazes de sobreviver no campo de batalha devido ao domínio da IAF no combate ar-ar. Da mesma forma, a capacidade da IAF de suprimir e destruir baterias SAM e AAA inimigas é inegável. Tão impressionante quanto a IAF mostrou a esse respeito durante a Guerra do Líbano, sua capacidade atual se estende muito além de suas proezas anteriores, especialmente dada a introdução, desde aquela guerra, de sistemas de inteligência e gerenciamento de batalha muito mais sofisticados, bem como aeronaves e PGM muito mais avançados, incluindo veículos aéreos não tripulados especialmente dedicados à missões de ataque anti-SAM e anti-AAA.
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Ataque ar-solo
A atual capacidade de ataque ar-solo da IAF é muito superior à sua capacidade passada. Em uma guerra futura, sua relativamente grande frota de helicópteros anti-blindados avançados seria capaz de fornecer apoio aéreo imediato e eficaz 24 horas por dia às forças terrestres da IDF, mesmo em um ambiente que ainda não esteja totalmente livre de defesas SAM e AAA. Além disso, as aeronaves de asa fixa da IAF, com sua ampla gama de PGMs de última geração, também seriam capazes de fornecer apoio aéreo efetivo e aproximado, particularmente depois que a superioridade aérea sobre o campo de batalha tivesse sido garantida. Mas é talvez nos domínios da interdição aérea do campo de batalha e do ataque de longo alcance que a capacidade da IAF tenha testemunhado seu crescimento mais impressionante. Nas guerras dos Seis Dias, do Yom Kippur e do Líbano, a IAF ocasionalmente infligiu perdas muito pesadas ao avanço ou recuo das forças árabes nos ataques aéreos no campo de batalha. Ainda assim, não poderia impedir genuinamente a chegada dos reforços árabes, nem impediria que as forças árabes saíssem do campo de batalha. Em uma guerra futura, no entanto, a IAF seria capaz de selar o campo de batalha, esmagando os reforços inimigos que tentassem chegar a ele por meio de ataques ininterruptos (24 horas por dia), e imobilizando outros reforços longe da zona de guerra. Forças inimigas tentando sair do campo de batalha teriam o mesmo destino. Quanto à missão de ataque profundo, a IAF já realizou no passado alguns ataques bem sucedidos de longo alcance, particularmente durante a Guerra de Atrito e a Guerra do Yom Kippur. No entanto, esses ataques foram esporádicos e em pequena escala, e não tiveram o impacto desejado no comportamento dos inimigos de Israel. Mas, em uma guerra futura, a IAF seria capaz de realizar ataques contínuos e em grande escala contra todos os alvos fixos militares e industriais – centros de comando e controle, instalações POL, acampamentos do exército, centros de transporte, fábricas e assim por diante – no interior do território inimigo. Ela também pode envolver alvos móveis, como baterias de mísseis superfície-superfície (SSM, Surface to Surface Missile, Míssil Superfície a Superfície), embora sejam consideravelmente mais difíceis de localizar e desativar. Esses ataques de longo alcance certamente degradariam substancialmente, se não minassem completamente, a capacidade de um inimigo de controlar e apoiar suas forças no campo de batalha. O poder aéreo israelense, em suma, poderia ter um impacto decisivo na batalha terrestre em uma futura guerra árabe-israelense.
Conclusão
O papel do poder aéreo israelense na nova doutrina operacional da IDF é ao mesmo tempo semelhante e diferente do seu papel na doutrina operacional tradicional da IDF. Por um lado, a tarefa principal da IAF é garantir superioridade aérea sobre Israel e o campo de batalha. Nesse sentido, existe continuidade entre o papel do poder aéreo nas doutrinas operacionais passadas e presentes. Mas, por outro lado, espera-se que a IAF desempenhe um papel muito maior na batalha terrestre sob a nova doutrina operacional da IDF. À primeira vista, o papel reforçado do poder aéreo pode parecer equivocado, já que a IAF não teve impacto decisivo na batalha terrestre em guerras árabes-israelenses passadas. Um olhar mais atento, no entanto, revela que a IAF de hoje, em contraste com a IAF de ontem, foi deliberadamente construída para realizar essa tarefa. Além disso, como a sociedade israelense – como as sociedades ocidentais em geral – tornou-se menos disposta a aceitar os custos humanos da guerra, faz sentido depender em maior grau de um “multiplicador de forças” como a IAF. O perigo aqui, é claro, é que Israel poderia contar demais com a IAF, esquecendo que o poder aéreo por si só não pode vencer guerras. Israel já aprendeu esta lição durante a Guerra de Atrito; espera-se que não tenha que reaprender no futuro.
*Albert Caballé Marimón é fotógrafo profissional, analista de defesa, editor do Blog Velho General e colaborador do Canal Arte da Guerra. E-mail: velhogeneral2018@gmail.com
Notas
1 Para a doutrina operacional tradicional da IDF, ver o seguinte: Yoav Ben- Horin and Barry Posen, Israel’s Strategic Doctrine (Santa Monica, CA: The Rand Corporation, 1981); Michael Handel, The Evolution of Israeli Strategy: The Psychology of Insecurity and the Quest for Absolute Security, in Williamson Murray, MacGregor Knox, and Alvin Bernstein (eds.), The Making of Strategy: Rulers, States, and War (New York: Cambridge University Press, 1994), 534-78; Ariel Levite, Offense and Defense in Israeli Military Doctrine (Boulder, CO: Westview Press, 1989); Bard E. O’Neill, Israel, in Douglas J. Murray and Paul R. Viotti (eds.), The Defense Policies of Nations (Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press, 1994), 497-541; e Avner Yaniv, Deterrence Without the Bomb: The Politics of Israeli Strategy (Lexington, MA: Lexington Books, 1987).
2 Algumas vezes, para que se tenha certeza, a IDF se engajou em outros tipos de guerra. Durante a Guerra de Atrito de 1969-1970, a IDF travou literalmente uma guerra de atrito com seu inimigo egípcio, enquanto durante a primeira etapa da Guerra do Yom Kippur em 1973, travou uma defesa móvel contra os exércitos egípcio e sírio. A IDF, em suma, teve que se acomodar às realidades militares e diplomáticas do Oriente Médio, que nem sempre permitiram que ele se envolvesse em guerra de manobras ofensivas.
3 Richard Hallion, o famoso especialista em guerra aérea, identificou as quatro tarefas essenciais do poder aéreo: (1) conquistar a superioridade aérea; (2) envolver-se em ataque ar-solo; (3) ajudar a mover forças terrestres para, de e ao redor do campo de batalha; e (4) fornecer dados de inteligência. Para seu esquema de classificação, ver Richard P. Hallion, Air Power Past, Present and Future, em Richard P. Hallion (org.), Air Power Confronts an Unstable World (London: Brassey, 1997), A IAF, naturalmente, realizou todas as quatro funções nas guerras árabe-israelense, mas este artigo examina apenas as duas primeiras, porque estas foram de longe suas tarefas mais importantes.
4 Para simplificar, este artigo não faz distinção entre supremacia aérea e superioridade aérea. Para ser preciso, no entanto, a IDF pretendiam que a IAF atingisse a supremacia aérea sobre Israel e a superioridade aérea sobre o campo de batalha. Para a distinção entre supremacia aérea e superioridade aérea, ver ibid, 5.
5 Para a distinção entre interdição aérea no campo de batalha e missões de apoio aéreo aproximado, ver Richard P. Hallion, Battlefield Air Support: A Retrospective Assessment, Airpower Journal 4, No. 1 (Primavera de 1990), 8-28.
6 Louis Williams (ed.), Military Aspects of the Israeli-Arab Conflict (Tel Aviv: University Publishing Projects, 1975), 249.
7 Para relatos profissionais da IAF nas guerras árabe-israelenses desde 1967, ver Anthony Cordesman e Abraham R. Wagner, The Lessons of Modern War (Vol. 1): The Arab-Israeli Conflicts, 1973-1989 (Boulder, CO: Westview Press, 1989); Trevor N. Dupuy, Elusive Victory: The Arab-Israeli Wars, 1947-1974 (New York: Random House, 1978); Trevor N. Dupuy and Paul Martell, Flawed Victory: The Arab-Israeli Conflict and the 1982 War in Lebanon (Fairfax, VA: Hero Books, 1986); Chaim Herzog, The Arab-Israeli Wars: War and Peace in the Middle East from the War of Independence through Lebanon (New York: Random House, 1982); Edward N. Luttwak and Dan Horowitz, The Israeli Army (New York: Harper and Row, 1975); e Martin van Creveld, Steven L. Canby, e Kenneth S. Brower, Air Power and Maneuver Warfare (Maxwell Air Force Base, AL: Air University Press, 1994). Para considerações populares úteis, consulte Eliezer Cohen, Israel’s Best Defense: The First Full Story of the Israeli Air Force (New York: Orion Books, 1993); Robert Jackson, The Israeli Air Force Story (London: Tom Stacy, 1970); Lon Nordeen, Fighters over Israel: The Story of the Israeli Air Force from the War of Independence to the Bekaa Valley (New York: Orion Books, 1990); e Ehud Yonay, No Margin For Error: The Making of the Israeli Air Force (New York: Pantheon Books, 1993).
8 Alguns especialistas militares concluíram depois que, se a IAF tivesse sido autorizada a lançar um ataque preventivo, isso poderia ter prejudicado gravemente as defesas antiaéreas egípcias e sírias que causaram tantos problemas nos primeiros dias da guerra a um custo pequeno para si mesma. Especialistas americanos, por exemplo, calcularam que a IAF poderia ter destruído 90% das baterias de SAM egípcias e sírias “em um período de três a seis horas com a perda de menos de dez aeronaves”. Uma vez que as defesas antiaéreas árabes foram penetradas, esta linha de raciocínio diz que a IAF teria rapidamente alcançado a superioridade aérea sobre o campo de batalha, permitindo-lhe empreender uma interdição aérea eficaz no campo de batalha e ataques aéreos próximos. “Alguns autores qualificados argumentaram que a IAF poderia ter entregue três mil toneladas de bombas em alvos inimigos antes que o ataque árabe atingisse sua força total”. Para este cenário, veja Steven J. Rosen e Martin Indyk, The Temptation to Pre-empt in a Fifth Arab-Israeli War, Orbis 20, No. 3 (Summer 1976), 271-2. Para uma visão diferente sobre os resultados potenciais de um ataque preventivo da IAF, ver John R. Carter, Airpower and the Cult of the Offensive (Base Aérea de Maxwell, AL: Air University Press, 1998), 52-65.
9 Para a nova doutrina operacional da IDF, ver Eliot A. Cohen, Michael J. Eisenstadt e Andrew J. Bacevich, Knives, Tanks, and Missiles: Israel’s Security Revolution (Washington, DC: Instituto Washington para o Oriente Próximo Policy, 1998) e David Rodman, The Doctrine and Force Structure of the Israel Defense Forces: Past, Present, and Future, Israel Affairs (a ser publicado).
10 Devido à necessidade percebida de campo de batalha, deve-se notar que a IDF ocasionalmente se desviou de sua doutrina operacional tradicional com relação à utilização da IAF. Na Guerra de Atrito, para citar um exemplo, a IAF foi chamada a arcar com o ônus da guerra em um grau muito maior do que a prevista pela doutrina tradicional da IDF. Na Guerra do Yom Kippur, para citar outro exemplo, a IAF foi chamada para ajudar as forças terrestres muito mais cedo do que aquela estipulada pela doutrina.
11 No momento, os mísseis balísticos árabes não representam uma ameaça muito grande para a própria IDF, porque a maioria não é precisa o bastante para atingir alvos pontuais. Por outro lado, eles representam uma verdadeira ameaça para a população civil e a infra-estrutura industrial de Israel, especialmente se equipados com ogivas químicas ou biológicas, razão pela qual a IDF se esforçou muito para reforçar seus sistemas de defesa anti-mísseis balísticos, tanto ativos quanto passivos, incluindo a capacidade de ataque de longo alcance da IAF.
Interessante observar como foi relativamente harmônica a evolução da doutrina da IAF, em sintonia com a experiência, evolução tecnológica e o cenário geográfico-político à volta de Israel.
Em um primeiro momento têm-se o foco mais exclusivo na superioridade aérea defensiva e na interdição do espaço aéreo. Depois vai-se evoluindo cada vez mais para o apoio das tropas em terra, para então partir para o desenvolvimento de doutrinas de ataques pontuais em profundidade.
Isto foi gerando uma consistente e inconteste dissuasão das forças inimigas à volta sobre um combate de forças formais em guerra convencional contra o país.
Sr. Albert, este foi um dos melhores artigos seus que li. Parabéns!
Muito obrigado! Agradeço pelo comentário e por acompanhar o Blog!
Show de bola, Albert!
Muito obrigado, Renato!
Excelente artigo!! Parabéns..
Obrigado Givanildo!