Por Albert Caballé Marimón |
Apesar dos EUA terem divulgado novas fotografias que confirmariam o envolvimento da IRGC (Islamic Revolutionary Guard Corps, Guarda Revolucionária Islâmica iraniana) na remoção de uma mina não detonada do casco do petroleiro Kokuka Courageous, na visão de analistas da Rússia é cedo para chegar a essa conclusão.
Para Elena Suponina, analista do RISS (Russian Institute for Strategic Studies, Instituto Russo de Estudos Estratégicos), começa a parecer que há uma pequena “guerra de petróleo” em formação no Golfo Pérsico. “Claro, não é a guerra Irã-Iraque dos anos 80. Mas a situação atual é muito perigosa. Washington imediatamente culpou Teerã pelo ataque aos petroleiros. Mas uma guerra desse tipo é absolutamente inconveniente para o Irã”, afirmou ela.
Segundo o chefe do RISS para o Oriente Médio, Vladimir Fitin, por trás dos ataques há forças que procuram impelir os EUA a um conflito armado direto com o Irã. O especialista acredita que poderiam ser as monarquias árabes ou agências de inteligência israelenses. No entanto, ele não descartou a ação de piratas, tais como os que atuam na costa da Somália e no Golfo de Aden.
Com a economia sob sanções, o Irã tem muita necessidade de exportar petróleo. Assim, atos de sabotagem como os ocorridos no Golfo de Omã na última semana não ajudam Teerã. Suponina acredita que Donald Trump quer levar o Irã às cordas antes de iniciar negociações. Segundo ela, os aliados regionais dos EUA (Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) representariam uma ameaça; ela lembra que no Oriente Médio os eventos geralmente se desenvolvem de maneira inesperada.
Suponina também chama a atenção para o fato de que mais de 20% do tráfego global de petróleo passa pelo Golfo Pérsico. “Há uma probabilidade de bloqueio nessas rotas comerciais. Por isso, é muito perigoso encurralar o Irã. A Europa está interessada em neutralizar as tensões na região. A Rússia poderia agir como mediadora na solução do conflito. Isso seria muito importante às vésperas da reunião do G20 no Japão”.
De acordo com o jornal russo Izvestia, os navios que passarem pelo Estreito de Ormuz terão segurança adicional, e as patrulhas marítimas na região serão reforçadas. O jornal citou fontes na companhia norueguesa Frontline, cujo petroleiro Front Altair sofreu um ataque na quinta-feira.
Áreas marítimas onde há risco para a navegação civil são protegidas por grupos internacionais e envolvem navios de vários países, disse Michael Kofman, especialista do US Center for Naval Analysis (Centro de Análises Navais dos EUA). Ele explicou que vários navios, incluindo americanos e britânicos, são enviados para a zona onde ocorreu o ataque. Sua tarefa é combater a pirataria e prestar assistência a navios em perigo. Kofman acrescentou que os petroleiros contam com pessoal de empresas militares privadas contratadas pelos armadores, observando que esses mercenários são capazes de frustrar ataques de piratas a bordo de barcos leves, armados com lançadores de granadas portáteis e fuzis AK, mas não poderiam detectar sabotadores embaixo d’água.
O Vedomosti, jornal russo especializado em negócios, observou que no ano passado, em meio a crescentes tensões com os EUA, o Irã ameaçou bloquear o Estreito de Ormuz. No entanto, de acordo com Maria Belova, da consultoria estratégica Vygon Consulting, desta vez não seria razoável suspeitar do Irã. Ela apontou que em maio passado quatro petroleiros se incendiaram do lado esquerdo do estreito e ninguém reivindicou a responsabilidade pelo incidente. “Hoje, dois navios estão em chamas no lado direito do estreito e não há informações sobre as causas. Faria mais sentido para os iranianos instalar artilharia na área do estreito e nas ilhas próximas para impedir a passagem de navios”, disse ela.
O professor Vladimir Sazhin, pesquisador do Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências, acredita que o incidente não deve ser atribuído a agências estatais iranianas ou árabes, mas a organizações militantes. Em sua opinião, os terroristas procuram aumentar ainda mais as tensões na área do Golfo Pérsico.
Vladimir Shamanov, presidente da Comissão de Defesa do parlamento russo, disse ao Izvestia que Moscou não pretende reforçar sua presença militar no Estreito de Ormuz. Segundo ele, os navios russos não estão em perigo e não há motivos para reforçar a segurança. Apesar da importância do Estreito de Ormuz para o mercado de petróleo, a Rússia tem outros canais de exportação, portanto, para Moscou, Ormuz é menos importante, explicou ele.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Arábia Saudita desdobraram forças adicionais no Golfo de Omã para proteger seus navios da ameaça iraniana, mas outros países não responderam da mesma forma. Rússia e China consideram essas medidas apressadas. O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, expressou dúvidas sobre as evidências apresentadas pelos EUA sobre o suposto envolvimento de Teerã na explosão.
De acordo com Fitin, do RISS, a posição de Berlim mostra que a Europa Ocidental não está disposta a abandonar sua parceria com o Irã. Bastante incisivo, ele afirmou que “a declaração dos EUA sobre o envolvimento de Teerã nos ataques é a mesma falsa retórica sobre o uso de armas químicas pelo governo de Bashar Assad”. Segundo ele, a UE não aplicará sanções a Teerã até que se conclua uma investigação internacional sobre o incidente.
*Imagem de capa: embarcação iraniana tenta controlar incêndio a bordo do petroleiro norueguês Front Altair, um dos dois navios mercantes danificados por explosões no Golfo de Omã na última quinta-feira (Foto: STR / Shutterstock)
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Os terroristas é que ganham com isso, a queda do governo do irão era porta aberta para eles subirem o poder e nada impedia de espalhar a sua influência para os países vizinhos. Claramente o estados unidos está a brincar com o fogo, num paiol de pólvora.
“É precisamente nos assuntos mais urgentes que não devemos precipitar”, D João Vi
No Oriente Médio tudo pode acontecer. Vamos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos. Grato por comentar!
Dane-se a opinião dela. Cada palavra, cada sílaba passou pelo filtro do que deve ser a opinião do governo russo.