Por Albert Caballé Marimón |
Se preferir, ouça esta história no Podcast do Velho General.
Um marine, pilotando um F-15C da USAF, planejou e liderou a primeira missão diurna de superioridade aérea do primeiro ataque aéreo maciço da Guerra do Golfo, derrubando um MiG-29 no processo.
As forças armadas americanas tem vários programas de desenvolvimento para seu pessoal, um deles é o PEP (“Personnel Exchange Program”, Programa de Intercâmbio de Pessoal, em tradução livre). Esse intercâmbio se dá entre as Forças dos EUA ou com as Forças de países aliados.
Em 17 de janeiro de 1991, na Guerra do Golfo, o capitão dos marines Charles “Chuck” Magill (codinome “Sly”), piloto de F/A-18 Hornet formado na Top Gun, fazia intercâmbio na USAF e estava lotado no 58º Esquadrão de Caças Táticos da 33ª Ala de Caças Táticos (Provisória) da USAF. O Capitão Chuck Magill pilotava o F-15C Eagle matrícula 85-0107.
A MISSÃO
No início da Guerra do Golfo, o alto comando das forças da coalizão planejou um ataque contra os aeródromos iraquianos de Al Taqaddum e Al Assad. O comando tinha claro que a superioridade aérea total seria fundamental para o sucesso da operação; portanto, decidiu enviar uma “parede de Águias” (“wall of Eagles”) à frente do pacote de ataque principal como forma de abrir caminho e garantir o total domínio dos céus. Se a “parede de Águias” falhasse, a missão seria abortada.
Devido à sua reconhecida liderança e habilidades de combate, o capitão Chuck “Sly” Magill, pilotando o F-15 líder, foi responsável pelo planejamento e execução de toda a missão de superioridade aérea. À frente da força atacante, o único objetivo dos Eagles era dominar os céus e estar prontos para eliminar quaisquer caças interceptadores enviados pela Força Aérea Iraquiana.
Magill liderava uma formação de oito aeronaves. Após reabastecer com um KC-135, um E-3 Sentry o alertou sobre duas aeronaves inimigas aproximando-se de seu alvo, à 150km de distância. Tratava-se de um par de MiG-29 Fulcrum, de fabricação soviética, um dos caças mais temidos da época.
Magill dividiu sua formação em duas, com quatro Eagles cada, usando, respectivamente, os “callsigns” ZEREX e CITGO. A CITGO prosseguiu na missão de cobertura aérea primária em direção a Al Taqaddum e Al Assad, enquanto a ZEREX, liderada pelo próprio Magill, partiu à caça dos Fulcrums.
Os Fulcrums, que se preparavam para atacar um F-14 Tomcat da US Navy, sem saber passaram de caçadores a caçados. Imediatamente após fazer contato de radar com os MiGs, avisos de SAM (“surface-to-air missile”, míssil terra-ar) começaram a soar no cockpit dos F-15, obrigando Magill e sua formação a, imediatamente, tomar ações evasivas e empregar contramedidas. Travados nos radares dos mísseis, eles alijaram seus tanques sub-alares, manobraram e liberaram chaffs e flares. Foram bem sucedidos e os mísseis perderam seus alvos, então eles reagruparam retomaram a caçada.
Ao localizar novamente os MiGs, o Capitão Magill e seu ala, o Capitão Rory “Hoser” Draeger, da USAF, manobraram para posição de tiro, com os outros dois Eagles da ZEREX dando-lhes cobertura. De repente, os MiGs se viraram para eles e aceleraram bruscamente. Draeger avançou para atacar os MiGs que se rapidamente se aproximavam, travou o MiG-29 líder no radar e disparou um AIM-7 Sparrow.
Logo em seguida, Magill travou o segundo MiG e também disparou um Sparrow, mas o míssil pareceu seguir diretamente para o solo. Magill achou que o míssil falhou e de imediato disparou um segundo Sparrow. De repente, o primeiro míssil reapareceu e acertou a asa direita do MiG; o segundo atingiu-o na fuselagem. Enquanto isso, o Sparrow disparado por Draeger atingiu o canopy do MiG-29 líder, destruindo-o.
Enquanto procuravam por outros inimigos que pudessem surgir, Magill percebeu que o terreno mudava de deserto para uma área mais verde: estavam voando baixo sobre o Eufrates, em direção a Bagdá, provavelmente a cidade mais fortemente defendida do mundo naquele momento.
Ordenou uma subida rápida à ZEREX e, nesse momento, foi novamente travado por SAMs. Havia pelo menos três deles, em rotas de interceptação que tentavam antecipar sua posição. Como Magill foi o primeiro a subir, eles travaram apenas nele, obrigando-o a fazer muitas manobras evasivas, indo de 30.000 pés para cerca de 10.000 pés na tentativa de evitar os mísseis.
Conseguiu escapar dos SAMs mais uma vez, mas o temido aviso “Fuel Low” (alerta de combustível) começou a soar. Felizmente, Magill e Draeger encontraram um KC-135, reabasteceram e rumaram para a base. A tripulação do KC-135 percebeu que eles tinham usado alguns mísseis, e avisaram a base para que todos soubessem.
Quando a dupla se aproximava da base, notaram a aglomeração de tropas esperando-os, e Draeger disse: “Sly, temos que fazer um show aéreo para as tropas.” Magill respondeu: “Não, vamos voltar direto.” Draeger, que era persistente, insistiu: “Sly, nós só temos que fazer um show aéreo. Isso vai ser legal para o pessoal.”
Eles passaram a cerca de 50 pés de altura com o pós-combustor à toda e rolaram ao passar por cima das tropas. O comandante ficou tão bravo que quis impedi-los de voar, mas para as tropas foi realmente um show sensacional.
Naquele dia, Magill fez história no Corpo de Fuzileiros Navais, tornando-se o primeiro e único aviador dos marines desde a Guerra do Vietnã a registrar uma vitória ar-ar.
Assista ao Vídeo 591 do CANAL ARTE DA GUERRA: UM JATO F-15 PILOTADO POR FUZILEIRO NAVAL NA GUERRA DO GOLFO?
CHUCK MAGILL
Charlie “Chuck” Magill entrou para os Fuzileiros depois de se formar em Administração de Empresas pela Universidade do Arizona. Foi piloto e instrutor de F-18 do USMC, oficial de armas de esquadrão e suboficial de operações. Na Guerra do Golfo, voou mais de 50 missões. Passou às reserva como Tenente-Coronel e em 1993 foi trabalhar como piloto na Southwest Airlines, onde ficou até 2016, chegando ao cargo de Vice-Presidente de Coordenação e Garantia Operacional.
O F-15C 85-0107
De acordo com o Aviation Geek Club (a informação mais recente que consegui, datada de setembro de 2018), o F-15C 85-0107 pilotado por Magill está no 44º Esquadrão de Caça da Base Aérea de Kadena, no Japão. É uma dos sete F-15 do 44º e 67º Esquadrões de Caça baseados em Kadena com vitórias ar-ar durante a Operação Tempestade no Deserto que ainda atuam na linha de frente.
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Airpower Advantage: Planning the Gulf War Air Campaign 1989-1991
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The McDonnell Douglas F-15 Eagle
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Excelente artigo, feito de forma brilhante! Parabéns!!!
Muito obrigado Luiz! Vindo de você, é uma honra!
Que grande história! Mais um artigo emocionante, que faz o leitor viver a batalha a cada linha escrita!
Muito obrigado, Sinclair!
Seus artigos são ótimos, não são grandes demais nem pequenos de mais, parabéns!!!
Muito obrigado! Agradeço por acompanhar o blog!