Por Jason Sherman, do jornal israelense The Times of Israel, publicado em 18 de janeiro de 2019. Tradução de Albert Caballé Marimón.
Sistemas a ser implantados no próximo ano; compra de US$ 373 milhões pode levar a um acordo muito maior se o sistema israelense se mostrar capaz de derrotar ameaças mais complexas do que as que foi originalmente projetado.
NOVA YORK – O Exército dos EUA planeja comprar duas baterias Iron Dome desenvolvidas por Israel e implantá-las no próximo ano como um primeiro passo em um novo projeto de US$ 1,7 bilhão para fornecer às tropas americanas uma defesa provisória contra mísseis de cruzeiro e também explorar a adoção de longo prazo de componentes do Iron Dome para uso num sistema de defesa de mísseis e ar dos EUA.
Essa decisão, que não foi anunciada pelo Pentágono ou pelo Ministério da Defesa israelense, ocorre depois que as forças armadas americanas realizaram no ano passado uma revisão interna de suas necessidades de defesa aérea de curto alcance para avaliar se o Iron Dome ou um sistema desenvolvido pela Noruega ou EUA seria mais adequado para resolver uma lacuna nas defesas contra potenciais ameaças de mísseis de cruzeiro russos e chineses.
Em 31 de outubro, o chefe de aquisições do Exército dos EUA, Bruce Jette, notificou o Congresso sobre os resultados dessa revisão interna, que se centrava num programa chamado Indirect Fire Protection Capability Increment 2-Intercept program (Programa de Incremento de Capacidade de Proteção contra Fogo Indireto 2 – Interceptação, numa tradução livre do editor do blog). O IFPC, como é chamado o programa, ainda está em desenvolvimento e tem por objetivo fazer muitas das coisas que o Iron Dome demonstrou em mais de 1.700 interceptações, incluindo abater veículos aéreos não tripulados, morteiros, foguetes e artilharia.
“Com base numa análise de custo, cronograma e desempenho, o Exército decidiu: colocar em campo duas baterias IFPC provisórias de Iron Dome no [ano fiscal] de 2020, ao mesmo tempo em que compõe uma solução de lançador e interceptador que sejam interoperáveis e integrados com o Integrated Air and Missile Defense Battle Command System (Sistema de Comando Integrado de Batalha e Defesa Aérea e de Mísseis, em tradução livre do editor do blog) do Exército pelo ano de 2023”, afirma o relatório de 15 páginas que Jette enviou ao Congresso. O IBCS é um programa de desenvolvimento em separado de US$ 7,8 bilhões, um esforço complexo para criar um guarda-chuvas abrangente para conectar e coordenar todos os sensores e interceptadores de defesa aérea e de mísseis de curto e longo alcance do Exército dos EUA.
O Exército dos EUA agora planeja gastar US$ 373 milhões para comprar os dois sistemas de defesa desenvolvidos por Israel.
Como a decisão de comprar o Iron Dome foi tomada após o Congresso ter fechado o plano de gastos do Exército em 2019, o serviço buscará permissão dos legisladores para desviar US$ 289 milhões apropriados em 2019 de outros projetos para o Iron Dome e procurar financiar o saldo, US$ 83,9 milhões, na proposta do orçamento do Pentágono para o ano fiscal de 2020, de acordo com o relatório.
As duas baterias Iron Dome que o Exército dos EUA vai comprar consistem em 12 lançadores, 2 radares, 2 centros de gerenciamento e 240 interceptadores. No momento da publicação, uma fonte do Congresso disse ao The Times of Israel que o Exército dos EUA ainda não havia apresentado uma solicitação para transferir os fundos entre contas.
Além disso, o Exército dos EUA propõe gastar US$ 1,6 bilhão até 2024 para “componentizar” o lançador e os mísseis Iron Dome, a fim de integrar o sistema com o radar do exército Sentinel e o IBCS.
Questionado sobre os planos de comprar o Iron Dome, relatado pela primeira vez na semana passada pela Inside Defense, Jette se recusou a abordar detalhes do relatório de outubro do exército ao Congresso, mas sugeriu que o serviço não vê uma solução perfeita e pronta para sua necessidade atual.
“Queremos ter algo que nos forneça alguma proteção imediata”, disse Jette em 10 de janeiro, quando questionado sobre a decisão do Exército dos EUA de adquirir o Iron Dome. “Então, o que isso vai fazer é analisar as coisas prontamente disponíveis. As coisas prontamente disponíveis podem atender a alguns de nossos requisitos, mas não a todos os nossos requisitos. Mas podemos ser capazes de lidar com coisas que são, eu não quero chamá-las necessariamente de deficiências, elas são, porque algo não é uma falha se você nunca planejou fazer isso.”
Desde 2011, o Congresso forneceu a Israel mais de US$ 1,4 bilhão para as baterias Iron Dome, desenvolvidas pela Rafael Advanced Defense Systems. Em agosto de 2011, a norte-americana Raytheon e a Rafael – parceiras do David’s Sling, um programa de desenvolvimento de defesa antimísseis cooperativa EUA-Israel – anunciaram um acordo para permitir à Raytheon comercializar o Iron Dome nos Estados Unidos. E em 2014, os governos dos EUA e de Israel assinaram um acordo de co-produção para permitir que algumas partes do sistema Iron Dome fossem produzidas nos Estados Unidos.
Chris King, diretor de programas israelenses da Raytheon, disse ao The Times of Israel: “A Raytheon está pronta para apoiar o Exército, ao realizar as capacidades completas do Iron Dome no ambiente operacional dos EUA. A equipe da Raytheon trabalhou no programa Iron Dome por mais de cinco anos – construindo, testando e implantando com sucesso o sistema com a Rafael, nosso parceiro em Israel.”
King disse que a Raytheon atualmente constrói 70% do míssil Iron Dome Tamir em 26 estados dos Estados Unidos.
“Estamos aqui para colocar nossa extensa experiência para trabalhar e apoiar as necessidades de integração do Exército”, disse King.
A Raytheon e a Rafael demonstraram o Iron Dome durante testes no White Sands Missile Range, no Novo México.
Um porta-voz de Rafael se recusou a comentar sobre os planos do Exército dos EUA de comprar o Iron Dome. Da mesma forma, uma porta-voz do Ministério da Defesa de Israel se recusou a comentar.
A perspectiva de uma venda para o Exército dos EUA marca uma grande vitória para a Rafael, que travou uma campanha durante a maior parte desta década para encontrar uma maneira de vender o Iron Dome aos militares dos EUA.
“O governo e o contribuinte dos Estados Unidos têm apoiado o desenvolvimento e a produção do programa Iron Dome há muitos anos e, portanto, não se trata de um estranho, mas de um parceiro próximo”, disse Tom Karako, especialista em defesa antimísseis do Center for Strategic and International Studies (Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), em Washington, DC.
Karako disse que a escolha do Iron Dome pelo Exército dos EUA para atender a uma defesa imediata contra mísseis de cruzeiro precisará ser seguida por uma demonstração de que o sistema pode derrotar de forma confiável ameaças mais desafiadoras do que foi originalmente projetado para resolver.
“O sistema Iron Dome foi desenvolvido para uma necessidade israelense muito particular e geografia única”, disse Karako ao The Times de Israel em 17 de janeiro. “Portanto, será importante, à medida que o exército siga esse caminho, que eles realmente adaptem qualquer sistema de defesa de mísseis de cruzeiro para os requisitos muito mais globais e móveis que os Estados Unidos têm. Somos uma força global, não estamos operando apenas numa pequena região. Portanto, os requisitos para os Estados Unidos provavelmente serão muito mais exigentes.”
No início do ano passado, o Exército dos EUA começou a explorar formas de acelerar o uso de um recurso provisório para o IFPC. A National Defense Strategy (Estratégia Nacional de Defesa) de 2018 enfatizou a importância da defesa de mísseis de cruzeiro contra possíveis ameaças russas e chinesas. Os legisladores determinaram, então, que o Exército fizesse planos para colocar em campo uma capacidade provisória de defesa contra mísseis de cruzeiro até setembro de 2020.
O serviço considerou três opções: o Iron Dome, o Norwegian Advanced Surface to Air Missile System, construído pela Kongsburg e Raytheon, e uma variante aprimorada do IFPC Increment 2, que ainda está desenvolvendo de forma competitiva três novos interceptadores.
Somente o Iron Dome poderia atingir a meta de 2020, segundo o relatório do Exército dos EUA, com o sistema norueguês atrasando para 2021 e a variante IFPC Increment 2 não esperada antes de 2023. O lançador da unidade NASAMS tem preço de US$ 12 milhões e cada míssil AIM-120, US$ 800 mil e pode interceptar mísseis de cruzeiro e aeronaves não tripuladas, mas não foguetes, artilharia e morteiros, segundo o relatório.
Em comparação, o lançador Iron Dome custou US$ 1,37 milhão, o centro de gerenciamento de batalha custou US$ 4 milhões, o radar construído pela Israel Aerospace Industries, US$ 34,7 milhões e cada interceptador Tamir, US$ 150 mil.
“O sistema Iron Dome tem capacidade contra mísseis de cruzeiro, sistemas de aeronaves não tripuladas e foguetes, artilharia e morteiros”, segundo o relatório. “Além disso, o Exército avaliou os principais benefícios do sistema Iron Dome, como seu paiol para 20 interceptadores por lançador e as capacidades comprovadas do míssil Tamir. O interceptador é testado em batalha e qualificado por Israel. Com base na simulação recente e em resultados limitados de demonstração, o Exército concluiu que o sistema Iron Dome suporta os requisitos de capacidade provisória.”
Olhando para 2023, o Exército dos EUA planeja explorar a “viabilidade de um lançador e interceptador para uma solução IFPC duradoura que alavanca estudos conjuntos e experimentação entre o Exército e o Corpo de Fuzileiros Navais”, afirma o relatório.
“O Exército planeja experimentar com sensores do Exército e IBCS para determinar a complexidade da integração do lançador componentizado e da solução de interceptação antes de tomar uma decisão final sobre a solução duradoura”, afirma o relatório. “O sistema Iron Dome oferece o melhor valor para o Exército com base em sua programação, custo por abate, volume de fogo (rounds) do lançador e efetividade contra ameaças especificadas.”
Confira o vídeo do Canal Arte da Guerra sobre este assunto.