traduzido e adaptado por Albert Caballé Marimón* |
Este Relatório de Inteligência da CIA, de janeiro de 1975, faz uma análise da doutrina, forças e possíveis ações das marinhas soviética e dos países do Pacto de Varsóvia num eventual cenário de guerra contra as forças da OTAN. Parece ter sido produzido com base em documentos confidenciais do Pacto de Varsóvia obtidos pela inteligência americana. Foi liberado em junho de 2017 através da FOIA (Freedom of Information Act, a lei de liberdade de informação dos EUA). Partes não liberadas estão marcadas como trechos ou parágrafos suprimidos.
Relatório de Inteligência – Janeiro de 1975
Principais Conclusões
Durante a última década, os estrategistas navais soviéticos tornaram-se mais flexíveis em sua visão do possível curso de desenvolvimento de uma guerra com a OTAN. Eles agora veem as operações navais numa guerra evoluindo em até cinco estágios:
- Um período de crescente tensão durante o qual as operações de vigilância começariam;
- Possivelmente um período de hostilidades convencionais (não nucleares);
- Um possível um período de operações nucleares limitadas na Europa, que provavelmente seria acompanhado por operações nucleares generalizadas no mar (atualmente a guerra nuclear no mar concomitante a um conflito convencional na Europa não é um elemento da estratégia soviética);
- Guerra nuclear em todo o TO (Teatro de Operações);
- Uma fase final durante a qual o lado vencedor consolidaria seus ganhos.
As forças navais soviéticas e outras do Pacto de Varsóvia estão organizadas em vários comandos para uma guerra contra a OTAN. Cada comando naval tem várias missões de guerra às quais as forças devem ser alocadas. Os planejadores soviéticos provavelmente acreditam que as forças atualmente reservadas para cada teatro são adequadas para defender o território do Pacto contra ataques marítimos e para limitar os danos causados por ataques de aeronaves baseadas em porta-aviões. Eles provavelmente consideram que suas forças ASW (Anti-Submarine Warfare, Guerra Antissubmarina) e de interdição são inadequadas para realizar suas missões em todos os teatros.
Prováveis desenvolvimentos futuros da estratégia naval soviética para a guerra contra a OTAN incluem:
- Maior ênfase na guerra antissubmarina em mar aberto;
- Maior uso de mísseis balísticos lançados por submarinos no teatro de guerra;
- Desenvolvimento de maiores capacidades para a guerra convencional no mar.
Os soviéticos também podem adotar uma doutrina que permita operações nucleares no mar durante hostilidades convencionais em terra na Europa. Isso poderia ser feito em reação às discussões ocidentais de tal estratégia ou por reconhecer as vantagens que ataques nucleares selecionados no mar teriam sobre ataques nucleares limitados em terra – por exemplo, a ausência do problema de danos colaterais.
Essas considerações provavelmente estimularão a produção soviética de submarinos de ataque, navios de superfície de longo curso e aeronaves ASW e de ataque, além de providências para apoio logístico.
Prefácio
Desde meados dos anos sessenta, a estratégia soviética para empregar forças navais em um cenário de guerra OTAN-Pacto de Varsóvia sofreu mudanças importantes. Essas mudanças foram discutidas em documentos classificados soviéticos e do Pacto de Varsóvia escritos no final dos anos sessenta. Os documentos, obtidos recentemente pela CIA, forneceram informações importantes sobre os planos soviéticos para operações navais em tempo de guerra e formam a base para as principais conclusões deste estudo.
Este relatório discute a evolução da estratégia naval soviética na era pós-Kruschev, o cenário soviético para ações navais em uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia e a provável visão soviética da adequação dos recursos navais para operações em tempo de guerra. Ele fornece uma estimativa – consistente com os documentos soviéticos [TRECHO SUPRIMIDO] – dos tipos e números de forças navais do Pacto de Varsóvia que podem ser atribuídas a várias tarefas de guerra em mar aberto e em áreas costeiras. O estudo termina com uma discussão sobre os prováveis desenvolvimentos da estratégia naval soviética nos próximos cinco anos e suas implicações para os programas navais soviéticos. Ele não discute o emprego soviético de forças navais em uma guerra nuclear intercontinental decorrente de um conflito entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia.
LIVRO RECOMENDADO:
Soviet Navy: Intelligence and Analysis During the Cold War
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Nota: este relatório foi preparado pelo Escritório de Pesquisa Estratégica [TRECHO SUPRIMIDO] com consultas a analistas da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, Defense Intelligence Agency) e do Escritório de Inteligência Naval, mas sem a participação formal dos escritórios de inteligência fora da CIA. Comentários e consultas podem ser direcionados para [TRECHO SUPRIMIDO].
Evolução da Estratégia Naval Soviética
O Período Pós-Kruschev
No início dos anos sessenta, a estratégia naval soviética para uma guerra contra a OTAN se baseava num conflito nuclear breve e decisivo. Essa doutrina defendia o uso maciço e precoce de armas nucleares para impedir ataques inimigos a partir do mar. As principais forças a serem empregadas eram submarinos de mísseis de cruzeiro e torpedos e aeronaves de ataque equipadas com mísseis. Eles deveriam estabelecer uma defesa profunda contra as forças-tarefa de porta-aviões ocidentais que tentariam penetrar dentro da impressionante área da URSS. A defesa contra submarinos de mísseis balísticos ocidentais seria realizada por uma combinação de barreiras submarinas e buscas conduzidas por submarinos e aeronaves. Os principais navios de superfície deveriam desempenhar um papel secundário nas buscas ASW e na defesa contra porta-aviões. A interdição das linhas marítimas de comunicação da OTAN recebeu baixa prioridade, uma vez que os estrategistas soviéticos acreditavam que a guerra seria concluída com sucesso antes que o reforço da Europa por via marítima tivesse impacto.
Meados dos Anos 1960 – Reação à “Resposta Flexível”
Em meados dos anos sessenta, a visão soviética sobre a natureza e o curso de uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia começaram a mudar. Um fator importante para a mudança foi a estratégia de “resposta flexível” introduzida nos planos e exercícios dos EUA e da OTAN. Em resposta a essa mudança na estratégia ocidental, os teóricos militares soviéticos deram maior atenção à importância de forças armadas equipadas e treinadas para operações convencionais e nucleares.
Os documentos classificados da [TRECHO SUPRIMIDO], incluindo palestras sobre estratégia ministrada em cursos para oficiais não-soviéticos do Pacto, indicam que, em meados dos anos sessenta, os planos de guerra na Europa incluíam um possível breve período de hostilidades convencionais anteriores às operações nucleares. Previa-se que a campanha toda seria breve, no entanto, com a maior parte da ação concluída em poucas semanas. Os estrategistas navais compartilhavam dos pontos de vista de outros analistas militares soviéticos. Em um documento classificado escrito em 1966, o contra-almirante Kruchenykh, instrutor da Academia de Estado-Maior, argumentou que a doutrina flexível da OTAN obrigava a Marinha Soviética a estar pronta para a guerra convencional e nuclear no mar.
Um problema específico para os estrategistas navais era determinar a combinação adequada de armas nucleares e convencionais. Kruchenykh recomendou que a maioria das unidades carregasse os dois tipos de armas: ele observou, no entanto, que submarinos equipados com mísseis antinavio, mas com poucos tubos de mísseis, poderiam ser armados apenas com armas nucleares. Ele provavelmente estava se referindo à classe J (quatro lançadores) e às classes W modificadas (dois ou quatro lançadores).
Mudanças Recentes no Conceito Soviético de Guerra Naval
A estratégia naval soviética continuou a evoluir no final dos anos sessenta, e os textos navais [TRECHO SUPRIMIDO] daquele período enfatizaram a flexibilidade no emprego das forças navais.
As missões das forças navais soviéticas – exceto alguns submarinos de mísseis balísticos – foram reexaminadas no contexto de guerra nuclear convencional, limitada e em todo o TO. Vários autores navais enfatizaram a necessidade de atacar submarinos Polaris durante uma possível fase convencional. Essa visão também se refletiu em palestras classificadas do Pacto de Varsóvia no final dos anos sessenta (ver box abaixo).
Em 1969, o marechal Zakharov, então chefe do Estado Maior, discutiu num artigo classificado a possibilidade de uma guerra que incluísse fases convencionais, táticas nucleares e nucleares de larga escala. O conceito de operações nucleares limitadas na Europa pode ter sido avaliado [TRECHO SUPRIMIDO], mas operações nucleares limitadas no mar não foram discutidas explicitamente nos textos soviéticos disponíveis [TRECHO SUPRIMIDO].
Um artigo classificado, escrito em 1968 pelo Captain First Rank1 Vyunenko e o contra-almirante Tuz, discutiu a possibilidade de um período de hostilidades nucleares limitadas em uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia, na qual haveria amplo uso de armas nucleares táticas no mar. Eles defendiam que as forças navais soviéticas usassem todos os meios nucleares à sua disposição durante operações nucleares limitadas na Europa, com exceção de alguns mísseis balísticos lançados por submarinos destinados a serem usados contra alvos terrestres estratégicos. Outros mísseis balísticos lançados por submarinos – aqueles de menor rendimento – deveriam ser usados como armas táticas contra alvos no teatro europeu: concentrações de tropas inimigas, portos, bases navais, aeródromos, sistemas de detecção de submarinos e estações de navegação e comunicação de apoio a submarinos de mísseis.
A mudança de conceitos trouxe um interesse renovado na interdição das linhas de comunicações marítimas da OTAN. Zakharov observou em seu artigo de 1969 que a interdição poderia se tornar importante nos estágios finais de uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia, para impedir o reforço marítimo das forças terrestres da OTAN. Um artigo de 1974 observou a importância para a OTAN das linhas de comunicação marítima para o apoio militar e econômico da Europa. No entanto, atacar o transporte marítimo da OTAN ainda tinha prioridade mais baixa do que a guerra antissubmarina e contra porta-aviões, e os estrategistas soviéticos ainda enfatizavam uma guerra relativamente curta – a qual provavelmente terminaria antes que a OTAN pudesse montar um grande reforço por via marítima.
Desenvolvimento de Força
Os novos sistemas navais soviéticos que entraram em operação no início dos anos setenta refletiram o conceito estratégico desenvolvido nos anos sessenta. Classes mais recentes de combatentes de superfície foram construídas com melhores condições de vida para a tripulação e maior alcance do que as classes anteriores, permitindo que os navios permanecessem no mar por períodos mais prolongados. Eles foram equipados com sistemas de defesa aérea aprimorados para aumentar sua eficácia em combate em áreas fora da cobertura da aviação terrestre. O apoio logístico naval também recebeu maior atenção e duas novas classes de navios auxiliares foram introduzidas, embora poucos desses navios tenham sido construídos, sugerindo que os planejadores soviéticos viram pouca urgência em fornecer apoio logístico para operações de combate prolongadas. Uma nova aeronave ASW de longo alcance – o TU-142, uma modificação do bombardeiro pesado TU-95 Bear – foi desenvolvida e desdobrada em pequenas quantidades, em reconhecimento à necessidade de realizar operações ASW em mar aberto.
Estratégia Naval para a Guerra na Europa: Conceitos Soviéticos Atuais
Cenário Geral
Os documentos soviéticos classificados [TRECHO SUPRIMIDO] refletem um cenário flexível para uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia. O artigo de Zakharov, de 1969, descreveu cinco estágios possíveis nessa guerra:
- Um período de alerta, com tensões crescentes e deterioração das relações políticas, durante as quais os dois lados se preparariam para o conflito;
- Uma fase de operações convencionais. O foco principal das operações do Pacto nesta fase está em romper as defesas avançadas da OTAN e interromper sua capacidade de ataque nuclear, incluindo as forças navais;
- Um possível período de operações nucleares limitadas. A escala da atividade nuclear nesta fase não está bem definida. O uso limitado de armas nucleares na Europa pode ter sido avaliado [TRECHO SUPRIMIDO], mas não há evidências de que operações nucleares limitadas no mar tenham sido tratadas em exercícios. Alguns estrategistas navais soviéticos sustentaram que operações nucleares limitadas na Europa sinalizariam guerra nuclear generalizada no mar;
- Guerra nuclear em todo o TO, considerada um período de “ação nuclear decisiva”. Durante essa fase, ataques nucleares maciços seriam realizados. O cenário mais discutido e praticado envolve um ataque nuclear preventivo, lançado ao receber o alerta de um iminente ataque nuclear em larga escala da OTAN. Essa fase pode coincidir com o início de uma guerra nuclear intercontinental, mas os soviéticos podem não ver mais uma conexão necessária entre os dois, como no início dos anos sessenta;
- Uma fase final durante a qual as forças do Pacto consolidariam seus ganhos territoriais, eliminariam bolsões de resistência inimiga e avaliariam os requisitos para operações adicionais.
Os analistas soviéticos apontam que essa progressão não é inevitável e que uma guerra na Europa poderia começar não apenas com operações convencionais, mas também com uma guerra nuclear limitada ou em larga escala. No entanto, continuam a enfatizar a probabilidade de escalada para uma guerra nuclear generalizada.
Operações Navais em um Teatro de Guerra com a OTAN
Durante a última década, a Marinha Soviética praticou [TRECHO SUPRIMIDO] todas as tarefas de combate aplicáveis a uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia, mas as ensaiou em fragmentos – nunca integradas num cenário de guerra completo. Textos classificados e palestras especialmente classificadas sobre estratégia de guerra na Europa, ministradas a oficiais do Pacto de Varsóvia no final dos anos sessenta, deram estrutura [TRECHO SUPRIMIDO] aos planos de guerra soviéticos. Segundo essas fontes, as ações navais numa guerra OTAN-Pacto de Varsóvia seguiriam o cenário básico da guerra na Europa e a escalada do conflito naval seria essencial para o curso das operações no continente. A evidência documental [TRECHO SUPRIMIDO] indica que os soviéticos esperam que as ações navais se desenvolvam conforme descrito abaixo.
Período de Alarme: durante o Período de Alerta, os soviéticos aumentariam a prontidão das forças navais do Pacto e enviariam unidades navais para estações próximas da costa soviética e para mar aberto para o início das operações de vigilância, concentrando-se em porta-aviões e submarinos de mísseis balísticos. As forças normalmente empregadas durante o período de paz seriam suficientes para realizar a vigilância nas águas domésticas do Pacto de Varsóvia e nos mares Negro e Báltico. O esquadrão naval soviético do Mediterrâneo tem força suficiente para conduzir a vigilância de rotina dos navios de superfície da OTAN, mas sua força ASW exigiria reforço adicional mesmo para operações limitadas. O reforço do esquadrão do Mediterrâneo para o nível necessário à guerra total provavelmente exigiria cerca de duas semanas. As forças navais destacadas rotineiramente no Atlântico e no Pacífico são apenas uma fração dos requisitos estimados de guerra, e o reforço a essas áreas provavelmente exigiria de uma semana a dez dias.
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Fase Convencional: os soviéticos acham provável que uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia logo se torne nuclear e, portanto, planejam operações convencionais para enfraquecer a capacidade nuclear do inimigo. As forças navais do Pacto (incluindo elementos aeronavais), auxiliadas por alguns bombardeiros da Aviação de Longo Alcance provavelmente tentariam destruir unidades navais inimigas no mar e em suas bases na Europa no início da fase convencional, concentrando-se novamente em porta-aviões e submarinos lançadores de mísseis balísticos2. [TRECHO SUPRIMIDO] esses ataques seriam coordenados com a Operação Aérea conduzida pelas forças aéreas táticas do Pacto e por elementos da Aviação de Longa Distância contra os sistemas de entrega nuclear da OTAN baseados na Europa [TRECHO SUPRIMIDO]. De acordo com as palestras estratégicas do Pacto de Varsóvia, os ataques anfíbios começariam nos primeiros dias do conflito e seriam feitos esforços para controlar o Mar Báltico e o Mar Negro. As forças ASW da OTAN seriam atacadas num esforço para facilitar o desdobramento de submarinos soviéticos.
Operações Nucleares Limitadas: Não há evidência direta nos textos [TRECHO SUPRIMIDO] que indique que a Marinha Soviética planeja realizar operações nucleares limitadas no mar, mesmo que suas forças tenham capacidade de fazê-lo. Segundo um artigo classificado soviético, operações nucleares limitadas no continente europeu podem desencadear uma guerra nuclear generalizada no mar, mas outros artigos [TRECHO SUPRIMIDO] não refletem esse conceito. A doutrina soviética também não parece sancionar a guerra nuclear no mar enquanto a guerra na Europa for convencional. Se os soviéticos empregassem armas nucleares no mar durante uma fase nuclear limitada, provavelmente alocariam alguns bombardeiros pesados da Aviação de Longa Distância para aumentar os ataques navais contra porta-aviões usando mísseis nucleares [TRECHO SUPRIMIDO]. Houve pouca discussão nos textos militares soviéticos sobre o uso de mísseis balísticos terrestres contra navios [TRECHO SUPRIMIDO]. É possível – mas improvável – que alguns submarinos de mísseis balísticos façam ataques nucleares seletivos contra alvos terrestres.
Guerra Nuclear em todo o Teatro de Operações: Com a transição para a guerra nuclear em todo o teatro, as forças navais soviéticas iniciariam o uso quase ilimitado de armas nucleares táticas, se já não o tivessem feito antes. Alguns submarinos antigos de mísseis balísticos das classes G e H provavelmente lançariam ataques nucleares contra alvos europeus. As notas das palestras do Pacto indicam que seus alvos seriam instalações navais, concentração de tropas e aeródromos. Mísseis estratégicos transportados por submarinos das classes Y e D provavelmente seriam retidos como dissuasão estratégica, desde que o conflito permanecesse confinado à Europa e aos mares e oceanos vizinhos.
Fase Final: Elementos da força submarina soviética provavelmente tentariam interditar reforços marítimos da OTAN durante a fase final de uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia. À medida que essa fase avançar – assumindo um resultado favorável ao Pacto – as forças navais ajudariam as forças terrestres a estabelecer controle sobre o território ocupado e eliminariam a resistência das unidades navais inimigas.
Teatros de Operações
Um artigo classificado, escrito em 1970 pelo comandante-chefe da Marinha Soviética, almirante S. G. Gorshkov, indicou que as operações navais do Pacto de Varsóvia seriam organizadas em base regional, com forças alocadas em vários “Teatros de Operações Militares” no teatro de guerra europeu. Dois tipos de teatros de operações – continentais e oceânicos – são citados em textos soviéticos classificados. Esses textos [TRECHO SUPRIMIDO] indicam que as forças navais seriam atribuídas aos dois tipos, mas seus relacionamentos de comando (vide organograma) e suas tarefas seriam diferentes.
Em uma guerra com a OTAN, a Europa e os mares vizinhos provavelmente seriam divididos em três teatros continentais de operações militares – o norte, centro e sul da Europa. Os oceanos Atlântico e Pacífico seriam designados como teatros oceânicos. O Mediterrâneo pode ser designado como teatro oceânico ou se tornar parte do teatro do sul da Europa, dependendo da maneira como o conflito evoluir. As operações navais soviéticas no Mediterrâneo em tempo de guerra seriam semelhantes às do Atlântico, portanto o Mediterrâneo é tratado neste artigo como um teatro oceânico independente. Outras áreas distantes, como o Oceano Índico, também podem ser designadas teatros oceânicos, mas as operações navais soviéticas nessas áreas provavelmente seriam extremamente limitadas, a menos que a OTAN tivesse forças navais consideráveis ali.
Teatros Oceânicos
Os documentos soviéticos [TRECHO SUPRIMIDO] indicam que a tarefa de destruir as forças navais com capacidade nuclear da OTAN e impedir o reforço marítimo da Europa caberiam principalmente aos comandantes dos teatros oceânicos – do Atlântico, Pacífico e provavelmente do Mediterrâneo.
Teatro do Oceano Atlântico: Durante um período de tensões crescentes – o Período de Alerta – as unidades navais da Frota Soviética do Norte designadas para o Teatro do Oceano Atlântico quase certamente se deslocariam das bases domésticas e tentariam localizar porta-aviões e submarinos de mísseis balísticos da OTAN. As unidades de superfície e submarinas atribuídas às estações no Mar da Noruega poderiam alcançá-las em dois ou três dias. Aquelas designadas para operações em áreas mais distantes precisariam de uma semana a dez dias para chegar a seus postos. (Vide mapa na página 11).
Provavelmente, algumas aeronaves de reconhecimento Bear D de longo alcance seriam desdobradas em aeródromos avançados na URSS e, possivelmente, para Cuba e a Guiné, uma vez que participaram de grandes exercícios da frota nos últimos anos. A aeronave provavelmente iniciaria varreduras de reconhecimento no início do período de tensão. No Mar da Noruega, elas provavelmente seriam reforçadas por bombardeiros médios navais e da Aviação de Longo Alcance. Aeronaves ASW – Bear F e IL-38 May – provavelmente seriam desdobradas em bases avançadas para varreduras no Mar da Noruega e ao sul rumo ao Atlântico.
As embarcações de coleta de informações provavelmente fariam surtidas para suplementar continuamente as que estavam operando em tempo de paz. As estações ocupadas por esses navios [TRECHO SUPRIMIDO] geralmente incluíam duas na costa leste dos EUA, duas ou três no eixo Groenlândia – Islândia – Reino Unido, e duas nas bases Polaris americanas em Holy Loch, na Escócia, e em Rota, na Espanha.
Alguns submarinos de ataque nuclear – principalmente das classes V e U – provavelmente patrulhariam as bases Polaris na tentativa de detectar e rastrear o desdobramento de submarinos americanos. [TRECHO SUPRIMIDO] As unidades movidas a energia nuclear provavelmente seriam apoiadas por vários submarinos movidos a diesel e navios ASW. Outros submarinos de ataque movidos a energia nuclear provavelmente fariam buscas em áreas adequadas à operações dos Polaris no Atlântico Norte e no Mar da Noruega, em conjunto com aeronaves ASW. Essa estratégia foi defendida por vários analistas navais na década de sessenta [TRECHO SUPRIMIDO]. Outros provavelmente escoltariam o desdobramento de submarinos de mísseis balísticos para impedir que as forças da OTAN os rastreassem. [TRECHO SUPRIMIDO].
Vários exercícios – “Norte” em 1968, “Oceano” em 1970 [TRECHO SUPRIMIDO] apresentaram uma imagem bastante completa dos planos soviéticos de usar seus outros submarinos no Atlântico. Os submarinos de mísseis de cruzeiro, apoiados por grandes combatentes de superfície equipados com mísseis, provavelmente estabeleceriam várias barreiras de defesa contra porta-aviões no Mar da Noruega e no Atlântico Norte. Provavelmente um submarino de mísseis de cruzeiro classe C seria designado para cada porta-aviões. Submarinos mais antigos de ataque nuclear e unidades movidas a diesel provavelmente estabeleceriam barreiras submarinas e antinavio – dirigidas em parte contra submarinos ocidentais de mísseis balísticos – no Mar da Noruega.
[TRECHO SUPRIMIDO] as unidades de longo alcance classe F provavelmente seriam empregadas nas barreiras mais distantes e na entrada do Mar da Noruega, enquanto as classes de menor alcance W e R formariam a maioria das unidades designadas para estações fora da Noruega ou nas entrada para o Mar de Barents. Ao estabelecer essas barreiras, os soviéticos procurariam dividir as potenciais áreas operacionais em zonas de vigilância – como preconizado em um artigo classificado escrito pelo contra-almirante Gonchar em 1968. As forças de vigilância submarina, de superfície e aérea procurariam nessas zonas e as barreiras submarinas alertariam sobre os movimentos inimigos de uma zona para outra.
Mais longe no Atlântico, patrulhas submarinas provavelmente seriam estabelecidas para alerta antecipado de movimentos inimigos. Os soviéticos completariam seus esforços de vigilância oceânica nesta fase usando satélites de reconhecimento – ELINT (Electronic Intelligence, Inteligência Eletrônica), radar e presumivelmente fotográfico – para escanear as áreas oceânicas. [TRECHO SUPRIMIDO]
Outras forças navais destinadas a um eventual uso em combate no Teatro do Atlântico quase certamente poderiam ser colocados em prontidão de combate durante esse período. Para isso, pequenos reparos em navios e submarinos de superfície seriam concluídos e munições e estoques seriam carregados. As aeronaves de ataque naval da Frota do Norte provavelmente estariam em estado de prontidão ampliada e algumas unidades de aviação de outras frotas provavelmente seriam transferidas para a área da Frota do Norte. O contra-almirante Brezinskiy sugeriu essa mudança em um artigo classificado publicado em 1968, [TRECHO SUPRIMIDO].
Com o início das operações convencionais, neste estágio as forças navais soviéticas no Teatro do Atlântico quase certamente tentariam ataques maciços e coordenados contra porta-aviões – [TRECHO SUPRIMIDO] usando mísseis de cruzeiro lançados da superfície, do ar e de submarinos e provavelmente também torpedos lançados por submarinos. Bombardeiros navais médios provavelmente seriam empregados em força regimental – cerca de 20 aeronaves lançadoras de mísseis e unidades de apoio – contra cada grupo de ataque de porta-aviões. Alguns bombardeiros da Aviação de Longo Alcance também podem participar dessas missões. Os ataques iniciais [TRECHO SUPRIMIDO] provavelmente seriam feitos em coordenação com a Operação Aérea na Europa. Após os primeiros ataques, as forças soviéticas anti-porta-aviões provavelmente se reagrupariam e conduziriam ataques repetidos até que as forças inimigas fossem colocadas fora de ação ou as hostilidades passassem a um estágio nuclear.
Artigos classificados e notas de palestras do Pacto de Varsóvia indicam que as forças ASW soviéticas não se absteriam de atacar submarinos de mísseis balísticos durante uma fase convencional, mas provocariam ataques convencionais contra qualquer submarino inimigo sendo rastreado3. As buscas de área e as patrulhas de barreira provavelmente continuariam pelos mares de Barents, da Noruega e no Atlântico Norte. Unidades ASW operando perto das bases Polaris em Holy Loch provavelmente engajariam desdobramentos de submarinos de mísseis.
A doutrina soviética, conforme refletida num livro sobre ASW escrito em 1968 e num artigo em uma conceituada revista militar em 1973, preconiza ataques contra quaisquer forças ASW inimigas detectadas em mar aberto durante esse período.
As outras grandes defesas ASW da OTAN – sistemas de vigilância sonora (SOSUS, Sound Surveillance Systems) e bases de aeronaves de patrulha na Islândia, na Noruega e no Reino Unido – também podem ser atacadas durante esta fase, mas poucos recursos navais soviéticos estariam disponíveis para tais missões no início das hostilidades. [TRECHO SUPRIMIDO]
Se houver um período limitado de operações nucleares na Europa, as forças navais soviéticas no Atlântico continuarão sua principal tarefa de combater as forças navais de ataque nuclear da OTAN. A marinha estaria livre para usar pelo menos algumas armas nucleares e poderia realizar operações nucleares em uma escala bastante grande. Além disso, bombardeiros pesados da Aviação de Longo Alcance equipados com mísseis nucleares podem ser disponibilizados para aumentar as forças navais contra porta-aviões, [TRECHO SUPRIMIDO] Isso poderia liberar alguns ativos navais – particularmente submarinos – para outras tarefas, especialmente ASW.
Outra opção aberta aos soviéticos nesse período seria o uso de aeronaves navais ou da Aviação de Longo Alcance para ataques nucleares a instalações SOSUS e bases de aeronaves de patrulha marítima no Teatro do Atlântico. Alguns mísseis balísticos lançados por submarinos – provavelmente os SS-N-4 e SS-N-5 transportados pelas classes G e H – também podem ser empregados contra esses alvos. Isso seria consistente com as opiniões de Vyunenko e Tuz, que defendiam o uso de alguns submarinos de mísseis balísticos no papel de ataque, [TRECHO SUPRIMIDO]
A escalada para uma guerra nuclear em todo o TO permitiria que as forças navais soviéticas no Atlântico empregassem quase todos os seus sistemas de armas nucleares, se já não o tivessem feito antes. Se o conflito permanecesse confinado ao teatro de guerra europeu e não tivesse se espalhado para incluir ataques nucleares contra a URSS, eles continuariam retendo mísseis balísticos lançados por submarinos destinados a ataques intercontinentais. Nesta fase, os soviéticos podem destinar submarinos de ataque adicionais para proteger seus submarinos de mísseis balísticos.
Na fase final de uma guerra na Europa, as unidades navais soviéticas no Atlântico provavelmente continuariam as operações destinadas a destruir as forças navais inimigas. Eles provavelmente também conduziriam um esforço de interdição submarina para impedir o reforço da OTAN pelos Estados Unidos. Artigos do Comandante em Chefe da Marinha Gorshkov e outros autores navais indicam que as barreiras de interdição submarina seriam reforçadas por aeronaves de reconhecimento naval de longo alcance.
Teatro do Mediterrâneo: Os textos soviéticos [TRECHO SUPRIMIDO] indicam que as ações navais em tempo de guerra no Mediterrâneo seriam semelhantes às do Atlântico. O esquadrão naval mediterrâneo soviético normalmente possui de 12 a 15 grandes combatentes de superfície e um número semelhante de submarinos – o suficiente para iniciar operações de combate. As ações soviéticas em várias crises no Oriente Médio [SUPRIMIDA] indicam, no entanto, que num período de tensão crescente o esquadrão seria reforçado. Provavelmente seria aumentado tanto por submarinos da Frota do Norte quanto por combatentes de superfície do Mar Negro. Levaria pelo menos uma semana para os submarinos nucleares da Frota do Norte e cerca de duas semanas para os submarinos a diesel chegarem ao Mediterrâneo. Provavelmente seriam necessários três a sete dias para aumentar as forças da superfície do esquadrão.
A força aumentada quase certamente tentaria manter contato contínuo com as principais unidades americanas, especialmente os porta-aviões, durante o período de tensões crescentes, como foi feito durante a crise da Jordânia em 1970 e a guerra no Oriente Médio em 1973. As operações ASW do esquadrão mediterrâneo durante o Período de Alerta provavelmente incluiriam vigilância intensiva da base submarina Polaris dos EUA em Rota, Espanha, por uma força combinada de navios de coleta de informações, submarinos e navios ASW.
Barreiras submarinas e de superfície adicionais provavelmente seriam estabelecidas no Mediterrâneo. [TRECHO SUPRIMIDO]
[TRECHO SUPRIMIDO] Submarinos nucleares de ataque provavelmente conduziriam buscas ASW na área no Mediterrâneo oriental, central e ocidental. [TRECHO SUPRIMIDO] um ou dois grupos ASW de superfície – compostos por um cruzador porta-helicópteros classe Moskva e vários destróieres – também varreriam as prováveis áreas operacionais dos Polaris.
Os ataques iniciais ASW e contra porta-aviões no Mediterrâneo, assim como no Atlântico, provavelmente seriam realizados no início da reação soviética – sejam convencionais ou nucleares4. Um artigo classificado de um oficial tático da força aérea soviética indicou que as aeronaves da Aviação Estratégica tentariam neutralizar as defesas aéreas da OTAN no sul da Europa e que os bombardeiros médios navais soviéticos poderiam sair do Mar Negro para participar de ataques contra porta-aviões. Os ataques antinavio que se seguiriam – convencionais ou nucleares – provavelmente seriam realizados pelos navios e submarinos que conseguissem sobreviver aos contra-ataques da OTAN e por aeronaves navais de ataque baseadas em terra. Se os soviéticos pudessem obter superioridade aérea sobre o Mediterrâneo, eles poderiam implantar um destacamento de aeronaves ASW para operar lá.
Se os soviéticos adotassem uma política de operações nucleares limitadas no mar, poderiam empregar mísseis antinavio nucleares contra porta-aviões americanos no Mediterrâneo, enquanto as hostilidades em outras áreas oceânicas continuassem convencionais. Os porta-aviões que operam no Mediterrâneo central ou oriental estão ao alcance de alvos na URSS e na Europa Oriental e, portanto, são alvos mais urgentes para as forças antinavio soviéticas do que os porta-aviões do Teatro do Atlântico, que devem passar por vários escalões de defesas antes que possam chegar ao alcance de ataque de objetivos no território do Pacto de Varsóvia. O uso de armas nucleares contra porta-aviões no Mediterrâneo aumentaria bastante as chances da Marinha Soviética de desabilitar a força de porta-aviões da Sexta Frota no início do conflito [TRECHO SUPRIMIDO] Com uma transição para a guerra nuclear em todo o TO, a Força Naval Soviética do Mediterrâneo poderia empenhar todos os seus mísseis nucleares antinavio e armas ASW.
Teatro do Oceano Pacífico: Embora as principais ações de uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia ocorram no teatro europeu, os soviéticos também esperam uma ameaça dos porta-aviões e submarinos de mísseis balísticos dos EUA no Pacífico. As tarefas atribuídas às forças navais soviéticas no Teatro do Oceano Pacífico [TRECHO SUPRIMIDO] são as mesmas do Atlântico. Elas incluem vigilância intensificada no Período de Alerta, concentrando-se em porta-aviões e em possíveis áreas de operação de submarinos de mísseis balísticos e, uma vez iniciadas as hostilidades, ataques convencionais ou nucleares contra forças navais dos EUA, especialmente às unidades com capacidade nuclear. Os soviéticos podem ser mais cautelosos ao atacar submarinos de mísseis balísticos dos EUA no Pacífico do que no Atlântico, já que não representam uma ameaça direta às operações do pacto de Varsóvia na Europa.
Teatros Continentais
De acordo com as palestras classificadas do Pacto de Varsóvia, as forças navais atribuídas aos teatros de operações continentais têm a tarefa de estabelecer controle sobre mares fechados e áreas costeiras, realizar ataques anfíbios em apoio às operações do Pacto na Europa e proteger a navegação costeira. Essas missões exigem uma estreita coordenação com as forças terrestres e aéreas. As operações seriam semelhantes seja numa guerra convencional ou nuclear. As operações navais para estabelecer o controle dos mares nos teatros continentais poderiam ser iniciadas com pouco aviso prévio. No entanto, os ataques anfíbios exigiriam vários dias de preparação, e seriam necessários mais um a três dias para as forças anfíbias se movimentarem até suas áreas de ataque.
Teatro do Norte da Europa: As forças [TRECHO SUPRIMIDO] designadas para o Teatro do Norte da Europa têm a missão de defender o norte da URSS contra ataques vindos da Noruega ou pelo mar e possivelmente conduzir operações ofensivas na Escandinávia, através da Finlândia ou diretamente na Noruega. O objetivo de tais operações não é claro, mas pode ser a neutralização das capacidades de vigilância da OTAN na área. As unidades navais no Teatro do Norte da Europa incluiriam elementos da Frota do Norte e possivelmente algumas unidades da Frota do Báltico5.
Durante um período de tensão, as forças de defesa da Frota do Norte quase certamente estabeleceriam patrulhas ASW de superfície, por submarinos e elementos aéreos no Mar de Barents e tentariam detectar e rastrear submarinos ocidentais nas águas domésticas soviéticas. No final do período, provavelmente seriam estabelecidos campos minados defensivos próximos da costa soviética.
Com a abertura das hostilidades, as forças da Frota do Norte atacariam todos os submarinos ocidentais detectados no Mar de Barents. A doutrina do Pacto de Varsóvia preconiza ataques aéreos contra instalações navais da OTAN e postos de vigilância no norte da Noruega. Conforme o cronograma estabelecido nas palestras do Pacto de Varsóvia, forças anfíbias com força de regimento (1.800 homens) da infantaria naval soviética provavelmente deixariam suas bases logo após o início dos combates. Os desembarques começariam no segundo ou terceiro dia da guerra. As operações para manter o controle das águas costeiras e para proteger a navegação provavelmente continuariam por toda a campanha, e ataques anfíbios adicionais em pequena escala poderiam ser realizados.
Teatro da Europa Central: as forças navais do Pacto de Varsóvia designadas para o Teatro da Europa Central provavelmente incluem a Frota Soviética do Báltico e as marinhas da Polônia e da Alemanha Oriental. Os documentos do Pacto [TRECHO SUPRIMIDO] confirmaram que essas forças formam um comando naval integrado com duas tarefas principais – controlar o Báltico e apoiar as operações ofensivas do Pacto com o objetivo de capturar a Dinamarca e a costa báltica da Alemanha Ocidental.
Segundo essas fontes, as marinhas do Báltico conduziriam operações de assalto anfíbio, provavelmente utilizando o equivalente a até três regimentos, para ajudar na captura do estreito dinamarquês em coordenação com as tropas e forças aéreas do Pacto. Eles também realizariam operações antinavio e ASW contra as forças navais da OTAN operando no Báltico ou tentando penetrar no estreito e ataques aéreos contra os portos e bases navais da OTAN. As forças navais do pacto provavelmente também defenderiam as linhas de comunicação marítima no Báltico, portos e bases navais. [SUPRIMIDA] A Frota Soviética do Báltico também pode fornecer unidades de superfície, submarinas e aéreas para operações com a Frota do Norte no Teatro do Oceano Atlântico, como fizeram num grande exercício da Frota do Norte em 1971.
Teatro do Sul da Europa: as forças navais no Teatro do Sul da Europa são encarregadas de defender as costas soviética, búlgara e romena, estabelecendo o controle sobre o Mar Negro e conduzindo desembarques anfíbios utilizando até dois regimentos de 1.800 homens cada para ajudar na captura do Estreito da Turquia e outros objetivos na Turquia e na Grécia. Os planos do Pacto – conforme revelado por documentos classificados [TRECHO SUPRIMIDO] exigem operações combinadas de elementos da Frota do Mar Negro e das marinhas búlgara e romena. Contudo, a cooperação entre as marinhas do Pacto não é tão desenvolvida aqui como no Báltico. Os romenos tentaram manter um maior grau de controle nacional sobre suas forças. É provável que os planejadores soviéticos tenham criado planos de contingência para operações no Mar Negro, caso a Romênia não participasse.
Áreas Distantes
O pequeno número de unidades navais soviéticas desdobradas em áreas distantes como o Mar do Caribe ou o Oceano Índico provavelmente tem missões de contingência no caso de uma guerra OTAN-Pacto de Varsóvia. Essas unidades provavelmente tentariam rastrear as forças navais ocidentais em suas áreas durante uma crise e engaja-las com armas convencionais ou nucleares. Devido ao seu pequeno tamanho e capacidade limitada, essas forças seriam extremamente vulneráveis a contra-ataques. Se elas puderem realizar suas tarefas e sobreviver, provavelmente tentariam se juntar às forças soviéticas nos teatros oceânicos ou – se pudessem ser reabastecidas – perturbar o transporte marítimo ocidental.
Disposição de Forças
A variedade de tarefas atribuídas às forças navais soviéticas e do Pacto de Varsóvia e a exigência – ditada pela geografia – de manter frotas amplamente separadas e independentes exigem que os planejadores navais soviéticos definam prioridades para a alocação de forças entre as várias missões e teatros. A mudança de conceitos estratégicos – especialmente a necessidade de se preparar para a guerra convencional e nuclear – agravou o problema soviético.
Alocação de Forças de Combate aos Teatros
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Alocação de Forças para Missões
Os comandantes dos teatros soviéticos provavelmente têm planos de contingência para alocação de suas forças navais para atender aos requisitos de missões concorrentes. No início das hostilidades, os comandantes dos teatros oceânicos teriam que dividir suas forças para enfrentar as ameaças dos porta-aviões e submarinos, além de realizar tarefas complementares, tais como reconhecimento de áreas distantes. Nos teatros continentais, embora a tarefa de alocação fosse mais fácil, os comandantes teriam que fornecer forças para o controle de mares fechados, escolta de navios e ataques a alvos navais em terra.
Os documentos soviéticos indicam que, nos teatros oceânicos, quase todos os principais combatentes de superfície e submarinos equipados com mísseis antinavio seriam designados para missões contra porta-aviões. Essas unidades provavelmente seriam apoiadas por vários outros grandes combatentes de superfície, por vários regimentos de aeronaves de ataque e reconhecimento e por um ou dois regimentos de bombardeiros pesados e médios da Aviação de Longo Alcance. A maioria dos outros grandes navios de superfície e submarinos nucleares, e alguns submarinos a diesel, provavelmente seriam designados para ASW, juntamente com todas as aeronaves ASW. Os submarinos restantes movidos a diesel, e possivelmente algumas unidades de ataque com torpedos movidos a energia nuclear, provavelmente seriam usados em patrulhas de barreira ou de alerta precoce, onde poderiam atacar unidades inimigas, sejam navios de superfície ou submarinos.
Uma alocação ilustrativa de forças no Teatro do Oceano Atlântico – com alerta de 30 dias – atribuiria à guerra contra porta-aviões cerca de 15 grandes combatentes de superfície, 20 submarinos, 60 aeronaves de ataque naval, 40 aeronaves de reconhecimento e 50 bombardeiros da Aviação de Longo Alcance; à guerra antissubmarina, cerca de 25 combatentes de superfície grandes e 10 menores, 25 submarinos e 35 aeronaves; e para patrulhas de alerta antecipado ou barreira, cerca de 5 combatentes de superfície e 25 submarinos.
No Mediterrâneo, a provável alocação inicial para a guerra contra porta-aviões seria de cerca de 15 combatentes de superfície, 15 submarinos, 50 aeronaves de ataque e 5 aeronaves de reconhecimento; à guerra antissubmarina, cerca de 20 combatentes de superfície e 10 submarinos; e patrulhas de alerta, vários submarinos e combatentes de superfície.
Para operações contra porta-aviões no Pacífico, os soviéticos podem designar cerca de 15 grandes combatentes de superfície, 15 submarinos, 70 aviões de ataque navais e 45 aeronaves de reconhecimento, e talvez 30 bombardeiros da Aviação de Longo Alcance. As forças ASW no Pacífico podem incluir cerca de 25 grandes combatentes de superfície, 10 submarinos e até 50 aeronaves. Alguns combatentes menores de superfície e 20 submarinos provavelmente seriam enviados inicialmente para estações de patrulha de alerta nas proximidades da costa do Pacífico soviético.
Percepções Soviéticas sobre as Restrições nos Níveis das Forças
Os planejadores soviéticos provavelmente acreditam que suas forças têm uma boa capacidade de combater a ameaça dos porta-aviões ocidentais. Um artigo classificado do contra-almirante Brezinskiy calcula que são necessários de 6 a 10 ataques de mísseis antinavio com ogivas convencionais para pôr fora de ação um porta-aviões, mas os soviéticos aparentemente acreditam que pelo menos quatro vezes mais mísseis devem ser lançados para alcançar este objetivo.
Os lançadores navais de mísseis antinavio – navios, submarinos e aeronaves – disponíveis para os comandantes dos teatros oceânicos no início de uma guerra provavelmente totalizariam cerca de 200 no Atlântico e no Pacífico e 150 no Mediterrâneo. Todos esses mísseis provavelmente não estariam disponíveis para um ataque inicial em um conflito envolvendo apenas armas convencionais. Provavelmente cerca da metade seria usada em ataques convencionais iniciais e o restante seria retido para um segundo ataque convencional ou como proteção contra a escalada para a guerra nuclear. Assim, usando metade de seus recursos antinavio disponíveis, os soviéticos poderiam alocar cerca de 25 mísseis convencionais no primeiro ataque contra cada um dos seis a oito porta-aviões da OTAN que eles esperam que operem no Atlântico e no Mediterrâneo. Um número semelhante poderia ser empregado contra quatro porta-aviões no Pacífico. Sua confiança provavelmente é reforçada pela capacidade de coordenar ataques de torpedos com ataques de mísseis, utilizar recursos da Aviação de Longo Alcance para reforçar as forças navais e de realizar ataques de mísseis subsequentes.
Os planejadores soviéticos provavelmente estão menos confiantes sobre as capacidades de sua força ASW. Um oficial aéreo naval soviético, o major-general Nevzorov, em um artigo classificado publicado em 1966, calculou que seriam necessárias 500 missões de submarinos ou 1.000 surtidas de aeronaves para varrer as prováveis áreas operacionais de Polaris. Outro oficial da marinha, o major-general Sukhanov, forneceu números que sugerem que milhares de submarinos ou aeronaves seriam necessários para esta missão. Os níveis atuais das forças soviéticas comportam apenas uma pequena fração desses números.
Esses autores estavam escrevendo antes da entrada em operação das forças ASW soviéticas de última geração. As novas forças melhoraram suas capacidades de busca ASW, mas essa melhoria ainda não reduziu os requisitos de nível de força soviética a proporções gerenciáveis. Mesmo assumindo uma busca e detecção bem-sucedidas, os soviéticos não possuem o número de submarinos necessários para rastrear continuamente todos os submarinos de mísseis balísticos da OTAN. Documentos soviéticos classificados estimam que cerca de 23 submarinos dos EUA e vários submarinos aliados de mísseis balísticos operariam nos teatros do Atlântico e do Mediterrâneo, mas a Marinha Soviética provavelmente poderia desdobrar no máximo 20 submarinos de ataque de torpedos movidos a energia nuclear nessas áreas.
De forma similar, eles provavelmente poderiam implantar apenas cerca de seis submarinos nucleares de ataque no Pacífico para combater os cerca de sete submarinos Polaris.
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The Soviet Navy in the Cold War: a Declassified CIA Analysis 1970-1980
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Além disso, os submarinos soviéticos disponíveis são muito mais barulhentos do que os submarinos Polaris [FRASE SUPRIMIDA] Para ajudar a compensar esse desequilíbrio nas capacidades de detecção, os planejadores soviéticos provavelmente gostariam de ter um inventário de submarinos de ataque a energia nuclear suficiente para atribuir várias unidades para cada submarino Polaris em patrulha.
A Marinha Soviética provavelmente gostaria de ter mais flexibilidade para usar seus submarinos para interdição. Nos estágios finais de uma guerra com a OTAN, os planejadores soviéticos podem se deparar com um requisito de interdição e transferir alguns submarinos para essa tarefa. A menos que concluíssem com êxito sua campanha ASW – uma situação altamente improvável –, provavelmente não poderiam poupar mais de 20 submarinos no Atlântico e 15 no Pacífico para interdição. A maioria destes provavelmente seria movida a diesel.
Perspectivas
Os próximos cinco anos, sem dúvida, verão uma continuação das tendências recentes da estratégia naval soviética. As tarefas de guerra da Marinha Soviética provavelmente permanecerão praticamente as mesmas de hoje, mas os estrategistas soviéticos provavelmente darão mais atenção à ASW, à flexibilidade no emprego de armas nucleares e às forças de guerra convencional no mar.
Guerra Antissubmarina e o Equilíbrio Estratégico
Tendo concordado, no Tratado ABM (Anti-Ballistic Missiles Treaty, Tratado de Mísseis Antibalísticos) de 1972, em renunciar à implantação de uma rede nacional de defesa antimísseis que ajudaria a limitar os danos causados por um ataque de míssil balístico lançado por submarinos ocidentais, os soviéticos agora têm duas alternativas no planejamento de suas forças ASW. Eles poderiam renunciar a um intenso esforço anti-Polaris – alegando que a eficácia limitada de suas forças ASW contribuiria pouco para limitar os danos de um ataque nuclear intercontinental dos EUA – e dependeriam de sua própria capacidade de ataque nuclear intercontinental para impedir o Ocidente de usar seus submarinos de mísseis. Ou poderiam prestar mais atenção à ASW, não apenas para compensar a perda da opção de implantar uma rede ABM nacional, mas também para limitar a capacidade da OTAN de usar submarinos de mísseis balísticos para ataques nucleares no teatro europeu.
[TRECHO SUPRIMIDO] evidências nas pesquisas em guerra antissubmarina sugerem que a Marinha Soviética optou por intensificar seus esforços ASW – especialmente contra submarinos de mísseis balísticos. Documentos classificados indicam que os estrategistas navais soviéticos consideram a ASW como seu principal problema estratégico não resolvido. [TRECHO SUPRIMIDO]
Os soviéticos ainda enfrentam grandes obstáculos, no entanto, na tentativa de desenvolver uma defesa ASW eficaz. Eles teriam que encontrar um método confiável de detecção e provavelmente precisam de melhores maneiras de distinguir submarinos de mísseis balísticos de outros tipos de submarinos. Eles também teriam que programar mais forças operacionais – submarinos, navios de superfície e aeronaves – para missões ASW. Eles provavelmente desenvolverão e empregarão mais forças capazes de conduzir uma guerra antissubmarina, mas não há evidências de que serão capazes de resolver os problemas críticos de detecção e identificação na próxima década.
Forças Navais no Teatro de Guerra Nuclear
A evolução recente nas forças soviéticas sugere que eles vem tomando medidas para melhorar a capacidade do Pacto de Varsóvia de conduzir uma guerra nuclear na Europa com menor dependência de sistemas de entrega baseados na URSS e em reduzir a possibilidade de que ataques nucleares soviéticos contra as forças da OTAN resultassem em retaliação nuclear ocidental contra a União Soviética.
O aumento da dependência de sistemas nucleares marítimos complementaria esses esforços. Os submarinos de mísseis balísticos – com a sua relativa invulnerabilidade e isolamento geográfico não apenas da URSS, mas também de centros populacionais europeus – poderiam ser destinados a alvos no TO. Para explorar plenamente essas vantagens, os soviéticos teriam que melhorar ainda mais suas comunicações com [TRECHO SUPRIMIDO]
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submarinos de mísseis em patrulha e precisão e flexibilidade de mísseis balísticos lançados por submarinos.
Guerra Nuclear no Mar
Fontes documentadas [TRECHO SUPRIMIDO] indicam que os estrategistas do Pacto de Varsóvia provavelmente acreditam que sua capacidade de conduzir uma guerra convencional no continente europeu é superior à da OTAN. Os estrategistas navais dos anos sessenta acreditavam que aceitar a opção de uma guerra convencional enfraqueceria a capacidade da marinha de realizar todo o seu amplo e complexo leque de missões. A solução soviética mais provável para esse dilema seria melhorar as capacidades de guerra convencional da marinha para estar mais de acordo com as capacidades das forças terrestres do Pacto de Varsóvia. Outra possibilidade seria desenvolver uma estratégia que permitisse o uso de armas nucleares no mar mesmo que a guerra na Europa continuasse convencional. [TRECHO SUPRIMIDO]
Não há evidências diretas de que os soviéticos tenham adotado – ou mesmo que estejam considerando –, estas estratégias, embora ataques nucleares seletivos no mar tenham vantagens sobre ataques nucleares limitados em terra. Todos os alvos seriam claramente militares, portanto não haveria o problema dos danos colaterais. A guerra nuclear no mar vem sendo discutida abertamente pelos estrategistas ocidentais e isso pode estimular a adoção soviética de conceitos semelhantes. O míssil balístico tático SS-NX-13, em desenvolvimento, poderia melhorar as capacidades da Marinha Soviética contra porta-aviões numa guerra nuclear no mar.
Implicações na Força
Possíveis evoluções futuras na estratégia naval provavelmente estimularão alterações nas políticas de compras da Marinha Soviética. Essas mudanças serão reforçadas pelos requisitos – provavelmente reconhecidos pelos planejadores soviéticos – de substituir muitos dos navios, submarinos e aeronaves adquiridos nos anos cinquenta e que ainda compõem a maior parte da força naval soviética.
As dificuldades das missões ASW provavelmente exigirão maior produção de submarinos nucleares de ataque. Se o acordo de limitação de armas estratégicas de Vladivostok for implementado com sucesso, serão necessárias algumas reduções no tamanho e possivelmente mudanças no mix de forças estratégicas soviéticas. Não está claro como isso afetaria a força submarina, mas uma opção seria manter a força submarina de mísseis balísticos nas 62 unidades permitidas pelo Acordo Provisório (ou pouco abaixo disso) e transferir mais recursos dos estaleiros para os programas de submarinos de ataque.
Diante do interesse renovado pela interdição das rotas marítimas, os soviéticos também podem intensificar a produção de submarinos movidos a diesel. Esses submarinos seriam eficazes contra comboios ocidentais levemente defendidos e seriam muito mais baratos do que submarinos movidos a energia nuclear. Os requisitos de guerra convencional provavelmente resultarão em maior interesse em navios de superfície flexíveis e de longo curso, como o cruzador classe Kara e o porta-aviões ASW classe Kiev em construção, em navios de apoio logístico, como o navio-tanque de reabastecimento da classe Boris Chilikin; e no acesso a bases no exterior.
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Provavelmente, será buscada uma maior flexibilidade no poder aeronaval baseado em terra com a implantação do bombardeiro Backfire nas unidades aeronavais soviéticas. O Backfire melhorará a capacidade da Marinha de atingir alvos navais a grandes distâncias e penetrar as defesas da OTAN ao atacar alvos marítimos e terrestres relacionados à marinha. Provavelmente também será dada mais atenção ao desenvolvimento e produção de aeronaves ASW de longo alcance – muito mais do que as pouco mais de doze atualmente no inventário.
Sumário
Durante o início dos anos sessenta, a estratégia naval soviética para uma possível guerra contra a OTAN se baseava na probabilidade de que a guerra fosse um conflito nuclear breve e decisivo. Em meados dos anos sessenta, essa visão havia mudado e a Marinha Soviética estava planejando e desenvolvendo forças para a guerra convencional e nuclear. No final dos anos sessenta e início dos anos setenta, o uso seletivo de armas nucleares táticas na guerra naval provavelmente foi considerado pelos estrategistas soviéticos. Eles continuaram a acreditar, no entanto, que uma guerra com a OTAN seria breve, com a campanha principal não excedendo várias semanas e que havia uma alta probabilidade de escalada para uma guerra nuclear em todo o TO.
Na visão soviética atual, as operações navais do Pacto de Varsóvia contra a OTAN estariam relacionadas às hostilidades na Europa e sua duração dependeria do curso da guerra terrestre. As operações navais podem se desenvolver em várias etapas:
- Um período de tensões crescentes e deterioração das relações políticas, durante o qual as forças navais seriam mobilizadas para as estações de combate e iniciariam operações de vigilância;
- Um possível período de hostilidades convencionais em que as marinhas do Pacto de Varsóvia tentariam estabelecer controle sobre os mares Báltico e Negro, conduziriam desembarques anfíbios nos estreitos dinamarquês e turco e possivelmente no norte da Noruega e tentariam destruir as forças navais da OTAN – especialmente os sistemas com capacidade nuclear como porta-aviões e submarinos de mísseis balísticos – usando armas convencionais6;
- Possivelmente um período de amplas operações nucleares marítimas, desencadeado por operações nucleares limitadas na Europa. A atual doutrina soviética não parece apoiar uma guerra nuclear no mar enquanto a guerra na Europa permanecer convencional;
- Guerra nuclear em todo o TO, incluindo o uso ilimitado de armas nucleares no mar e provavelmente ataque contra alvos da OTAN na Europa por submarinos mais antigos de mísseis balísticos soviéticos;
- Uma fase final da guerra durante a qual as marinhas do Pacto de Varsóvia ajudariam as forças terrestres no controle do território ocupado e tentariam interditar reforços da OTAN na Europa por via marítima.
Para realizar essas tarefas, as marinhas do Pacto de Varsóvia seriam organizadas em comandos regionais chamados “Teatros de Operações Militares”. As tarefas de destruir as forças navais com capacidade nuclear da OTAN e impedir o reforço marítimo da Europa recairiam principalmente sobre as forças dos teatros oceânicos – o Atlântico, o Pacífico e provavelmente o Mediterrâneo. As forças navais designadas para os três teatros continentais de operações militares na Europa – Europa do Norte, Central e do Sul – teriam a tarefa de controlar mares fechados, realizar ataques anfíbios e apoiar as forças terrestres do Pacto de Varsóvia. O Pacto provavelmente levaria de uma a duas semanas para aumentar as forças navais em todos os teatros aos níveis necessários para uma guerra, embora operações limitadas de combate em algumas áreas provavelmente possam começar quase que imediatamente.
Devido à grande variedade de tarefas navais em tempo de guerra, à separação geográfica das frotas do Pacto de Varsóvia e à crescente exigência de preparação para a guerra convencional e nuclear, os planejadores soviéticos tiveram que estabelecer prioridades na alocação de forças para as missões em tempo de guerra. Eles provavelmente estão confiantes de que as atuais forças de defesa costeira e contra porta-aviões – convencionais ou nucleares – podem impedir uma invasão da OTAN ao território do Pacto e limitar significativamente os danos causados por ataques aéreos baseados em porta-aviões. No entanto, eles certamente consideram inadequado o nível de sua força ASW e acreditam que seus requisitos de ASW limitam severamente sua capacidade de designar forças para missões de prioridade mais baixa, como a interdição das comunicações marítimas da OTAN.
Os próximos cinco anos provavelmente verão uma continuação das tendências recentes da estratégia naval soviética. A ênfase em ASW em mar aberto provavelmente aumentará, mas não há evidências de que os soviéticos possam resolver os problemas críticos de detecção e identificação de submarinos na próxima década [TRECHO SUPRIMIDO] Os submarinos de mísseis balísticos podem ter um papel maior numa guerra nuclear, e os estrategistas soviéticos podem considerar a possibilidade de uma guerra nuclear no mar mesmo enquanto as hostilidades na Europa permanecerem convencionais. Os soviéticos provavelmente tentarão aumentar o poder de fogo, alcance e capacidade de sobrevivência da Marinha numa guerra convencional. Essas considerações, bem como a necessidade de modernizar sua força, provavelmente estimularão o aumento da produção de submarinos de ataque, navios de superfície de longo curso, navios de apoio logístico e aeronaves ASW e de ataque. Provavelmente também induzirão a URSS a tentar obter maior acesso a portos e aeródromos no exterior para suas forças aeronavais.
Notas
1 Captain 1st Rank (“Capitão de 1º Escalão”): posto da Marinha Soviética equiparado ao OF-5 da OTAN. Para efeito de comparação, seria equivalente a Capitão de Mar-e-Guerra na Marinha do Brasil.
2 É possível que, se os soviéticos enxergassem uma oportunidade de conter o conflito em nível convencional e houvesse uma probabilidade muito baixa de que eles poderiam realmente destruir um submarino inimigo de mísseis balísticos, que a liderança soviética se abstivesse de atacar os SSBN para reduzir as chances de escalada. Uma política de proibição de ataques aos SSBN traria problemas para a Marinha Soviética, uma vez que suas forças seriam incapazes de distinguir em mar aberto submarinos de mísseis balísticos de submarinos de ataque que representariam ameaça para submarinos e navios de superfície soviéticos.
3 Ver nota 2.
4 Ver nota 2.
5 A frota do Báltico normalmente funcionaria como parte do Teatro da Europa Central. Suas operações em tempo de guerra são discutidas a seguir.
6 Os ataques convencionais a porta-aviões e submarinos de mísseis são justificados na doutrina soviética como necessários para melhorar a posição do Pacto na provável fase nuclear. É possível que, se os líderes soviéticos achassem possível conter o conflito com sucesso no nível convencional, evitassem atacar submarinos de mísseis balísticos inimigos a fim de reduzir a chance de escalada.
*Albert Caballé Marimón possui formação superior em marketing, é fotógrafo profissional e editor do blog Velho General. Já atuou na cobertura de eventos como a Feira LAAD, o Exercício CRUZEX e a Operação Acolhida. É colaborador do Canal Arte da Guerra e da revista Tecnologia & Defesa. Pode ser contatado através do e-mail caballe@gmail.com.
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