
A Ofensiva Brusilov, maior sucesso militar russo da Primeira Guerra, salvou a França em Verdun e mudou os rumos do conflito, mas permanece esquecido no Ocidente.
Introdução
A Frente Oriental da Primeira Guerra Mundial é consideravelmente menos mencionada pela mídia do que a Frente Ocidental ao se analisarem esses assuntos, seja por meio de livros, filmes, documentários ou trabalhos acadêmicos. A participação da Rússia neste conflito é especialmente minimizada, como se fosse algo secundário e de pouca importância, e como se a Grande Guerra tivesse sido definida apenas na Frente Ocidental.
Não é bem assim. A Frente Ocidental teve, desde dezembro de 1914, características muito diferentes da Oriental. A partir de 1915, a primeira transformou-se em uma guerra de atrito em linhas defensivas de trincheiras que se estendiam do Canal da Mancha até a fronteira suíça.
Por outro lado, a Frente Oriental sempre teve mais mobilidade e fluidez nas frentes de batalha, sendo estas muito mais extensas, já que iam do Báltico até o Mar Negro. Na verdade, foi graças à aliança da França com a Rússia, por meio da Entente em 1894, que se conseguiu cercar e isolar o Império Alemão pelos dois lados, leste e oeste. Com a Grã-Bretanha somando-se à Entente em 1905, foi possível isolar a Alemanha por terra e mar, sendo a Rússia uma peça decisiva nesta aliança.
Por isso, quando a guerra começou, as Potências Centrais tiveram que combater em duas frentes contra a Entente, que, desde o início, tinha mais recursos humanos, materiais e matérias-primas, o que significava que a Alemanha e seus aliados precisavam de uma vitória rápida. Ela não aconteceu: o Plano Schlieffen1 fracassou em 1914 no oeste e, apesar de os generais alemães Hindenburg e Ludendorff obterem duas vitórias na Frente Oriental (Tannenberg e as duas batalhas dos Lagos Masurianos), que conseguiram frear a ofensiva russa, destruindo grande parte dos exércitos dos generais Samsonov e Rennenkampf, a Rússia, apesar da derrota, conseguiu retirar parte de seus exércitos e, assim, continuar na guerra. Nessa ocasião, a Alemanha perdeu a chance de aniquilar totalmente as forças russas.
Em 1915, a Alemanha fez o oposto, defendendo-se no oeste e atacando no leste, já que as Potências Centrais não podiam atacar em duas frentes ao mesmo tempo. Essa situação se agravava cada vez mais com o bloqueio naval da Marinha Real Britânica no Mar do Norte e no Canal da Mancha, limitando seu acesso a alimentos e matérias-primas.
Hindenburg2 lançou uma ofensiva de duas pontas, norte e sul, na região de Gorlice (próximo à atual Cracóvia, Polônia) para envolver e destruir totalmente o Exército Russo. Os alemães entraram em Varsóvia, mas o exército do general Radko Dimitriev conseguiu escapar, iniciando assim a Grande Retirada de 1915, por meio da qual, apesar da grande derrota, a Rússia conseguiu continuar na guerra. Ou seja, a ofensiva de Gorlice foi uma vitória tática, mas um fracasso estratégico para as Potências Centrais.
Nenhum dos dois lados do conflito estava conduzindo a guerra conforme o que haviam planejado, já que ambos contavam com uma vitória rápida sobre o inimigo, o que não estava acontecendo. Em dezembro de 1915, representantes das quatro potências da Entente – Rússia, França, Grã-Bretanha e Itália – reuniram-se em Chantilly (norte da França) e se comprometeram mutuamente a realizar quatro ofensivas simultâneas contra as Potências Centrais em 1916, para assim aliviar a pressão do Exército Alemão no oeste.
Os franceses se comprometeram a fazer uma ofensiva na região de Champagne. Os britânicos, na área do Rio Somme. Os italianos se comprometeram a atacar os austro-húngaros na área do Isonzo. Finalmente, os russos se comprometeram a fazer um ataque na Frente Oriental, a enviar uma força expedicionária para a Frente Ocidental (da qual pouco se comentou na mídia do ocidente) e a enviar reforços (a contragosto) para seus aliados na frente de Salônica3, tudo a fim de receber armamentos e munições dos aliados ocidentais.
Das quatro ofensivas, somente duas se concretizaram: a dos britânicos no Rio Somme, em 1º de julho de 1916, e a dos russos com a Ofensiva Brusilov, em 4 de junho do mesmo ano. Os franceses, devido ao ataque alemão em Verdun, cancelaram sua ofensiva em Champagne, e os italianos, devido ao ataque austro-húngaro em Asiago, cancelaram sua ofensiva no Isonzo. Assim, os russos iniciaram seus preparativos para uma ofensiva em 1916 na Frente Oriental.
Preparativos Russos
O alto comando militar russo (Stavka) tinha que lidar com um grave problema político interno: por um lado, os partidários da monarquia e do czar defendiam a continuidade da Rússia na guerra até a vitória final contra a Alemanha e seus aliados. Por outro lado, e de forma crescente, aumentava entre a população a impopularidade da guerra, da monarquia e do czar, e defendia-se a paz e a saída da Rússia do conflito o quanto antes, sendo isto defendido por revolucionários como Vladimir Lenin, que estava exilado na Suíça, promovendo a mudança de regime e o estabelecimento de uma república socialista soviética. Estes são fatores que dificultavam cada vez mais o esforço de guerra russo e o planejamento da logística.
Em 21 de fevereiro de 1916, o general Falkenhayn iniciou sua ofensiva em Verdun. Diante desta situação e para cumprir o prometido a seus aliados ocidentais, os russos iniciaram um ataque no Lago Naroch (atual Bielorrússia) no dia 18 de março de 1916. Os exércitos russos de Aleksei Evert (frente oeste) e Aleksei Kuropatkin (frente norte) somavam 750.000 tropas e 887 canhões contra os 500.000 alemães e 720 canhões do general Hermann von Eichhorn.
A ofensiva foi um fracasso pela ineficácia do bombardeio da artilharia russa, que deixou as defesas alemãs intactas. Havia falta de coordenação entre a infantaria e a artilharia russas, com ataques em ondas humanas, clássicos dessa fase da guerra em ambos os lados. Também houve piora nas deficiências logísticas russas, chegando a faltar alimentos e munições na frente. No dia 30 de março, devido a cerca de 80.000 baixas do lado russo, a ofensiva foi cancelada. Os alemães tiveram 40.000 baixas.
Apesar do fracasso, os franceses em Verdun aproveitaram para ganhar tempo e assim habilitar o que chamaram de “Voie Sacrée” (Estrada Sagrada), o que lhes permitiu enviar quase 200.000 tropas para essa frente em momento oportuno, ajudando a dificultar e desacelerar os avanços alemães, sendo isto não reconhecido nas mídias ocidentais. O fracasso foi de tal magnitude que, no mês de abril de 1916, houve uma reunião da Stavka, comandada pelo general Alekseyev, com o czar Nicolau II, o general Aleksei Brusilov e outros altos comandantes do Exército.
Nessa ocasião, Brusilov apresentou um plano ofensivo no lado sudoeste da Frente Oriental, defendido pelo Exército Austro-Húngaro na região da Galícia (atual oeste da Ucrânia). O objetivo do plano era aliviar a situação dos aliados franceses e britânicos na Frente Ocidental e dos aliados italianos no fronte alpino do Isonzo.
O principal era colapsar as defesas austro-húngaras, aniquilar os seus exércitos e, dentro do possível, tirar a Áustria-Hungria da guerra. Esse interesse de Brusilov não era apenas para ajudar seus aliados ocidentais. Havia outros motivos: se os alemães vencessem o Exército Francês em Verdun, se as forças francesas fossem destruídas, então a França sairia da guerra e os alemães enviariam suas tropas contra a Rússia; isso não podia acontecer, portanto era preciso agir antes.
A situação era a mesma na frente alpina: se os austro-húngaros derrotassem os italianos (a guerra não era popular), eles também enviariam todas as suas forças para a Frente Oriental contra a Rússia. Por isso, Brusilov insistiu com a ofensiva, enquanto os generais Evert e Kuropatkin eram contrários e sustentavam uma postura defensiva na frente, exigindo grandes quantidades de tropas, artilharia e munições, e, sabendo que a Stavka não podia enviá-las por não dispor das quantidades exigidas, justificavam a imobilidade, tentando assim salvar suas próprias carreiras, que estavam em perigo.
Havia no Império Russo uma divisão social quanto à guerra: parte defendia que a Rússia devia seguir combatendo até a rendição das Potências Centrais. Outra parte da sociedade russa dizia que era impossível a Rússia ganhar e que devia pedir a paz o quanto antes. Esta última postura ia aumentando com o decorrer da guerra. Por esse motivo, Brusilov insistia que essa ofensiva precisava de:
1. Logística adequada quanto a suprimentos, artilharia e munições;
2. Reconhecimento aéreo sincronizado com a artilharia;
3. Treinamento intensivo das tropas e capacitação dos oficiais em comando;
4. Uso de unidades especiais de tropas de assalto para aproveitar a ruptura das posições vulneráveis dos austro-húngaros;
5. Inteligência militar: uso de mensagens falsas para confundir o inimigo, ocultando os verdadeiros objetivos do ataque.
A Ofensiva Brusilov consistia num ataque inicial das próprias forças de Brusilov contra as duas linhas defensivas austro-húngaras para recuperar as cidades de Kovel, Lutsk e Lemberg, que haviam sido perdidas em 1915. Brusilov queria que o general Evert fizesse outro ataque mais ao norte, uma vez que as reservas alemãs tivessem acudido em ajuda dos austro-húngaros, flanqueando pelo norte e finalmente cercando-os pela retaguarda. No entanto, Evert se negou, sob os pretextos já mencionados. A Stavka aprovou o plano de Brusilov, mas lhe negou autorização para fazer outras ofensivas em frentes vizinhas.
Ao todo, Brusilov tinha à sua disposição os exércitos VII, VIII, IX e XI, que totalizavam 61 divisões (1.730.000 tropas) e 1.300 peças de artilharia.
Preparativos das Potências Centrais
Devido ao fracasso da ofensiva do general Evert no Lago Naroch, ao fato de os alemães sofrerem menos baixas e derrotarem o ataque russo com relativa facilidade, criou-se no Alto Comando Alemão uma sensação de complacência e arrogância, considerando que os exércitos russos estavam destruídos e que não teriam capacidade de fazer uma ofensiva nessa frente. No entanto, os desentendimentos entre os alemães e os austro-húngaros eram enormes, já que cada um queria fazer sua própria guerra.
Os alemães pretendiam que os austro-húngaros se encarregassem da Frente Oriental para que eles mesmos se concentrassem na Ocidental. Ao contrário, os austro-húngaros queriam se concentrar na frente italiana e que os alemães se encarregassem da Frente Oriental. Como se isso não bastasse, os alemães sentiam um profundo desprezo e desconfiança com relação aos austro-húngaros e, quando Falkenhayn iniciou o ataque a Verdun, nem sequer os consultou e não levou em consideração que os austro-húngaros estavam quase sem reservas na Frente Oriental, o que traria graves consequências.
Ao todo, os austro-húngaros, comandados pelo general Franz Conrad von Hötzendorf, tinham no sudoeste da frente cerca de 39 divisões de infantaria e 10 de cavalaria, com 800 peças de artilharia, sendo aproximadamente 1.000.000 de tropas agrupadas em três linhas defensivas em uma frente de 480 quilômetros.
Batalhas
Em 4 de junho, os russos iniciaram um bombardeio maciço ao longo dos 480 quilômetros da frente, não ficando claro, a princípio, onde seria o ataque principal dos russos, o que confundiu o alto-comando austro-húngaro. Do lado russo, a mudança foi a maior acurácia do bombardeio de artilharia, já que contava com informações mais precisas dos reconhecimentos aéreos russos na retaguarda inimiga.
Como os austro-húngaros não sabiam de onde viria o ataque, dispersaram suas tropas ao longo da frente, inevitavelmente descuidando-se de muitos pontos da linha, devido ao sucesso da inteligência militar russa em manter sigilo sobre seus próprios movimentos e confundir o inimigo com mensagens falsas. Os russos aproveitaram a barreira de fogo e fumaça nos avanços e se posicionaram a cerca de 90 metros, ou menos, das primeiras linhas inimigas.
Outra inovação foi o uso de tropas de assalto para aproveitar as brechas e pontos de ruptura para se infiltrar nas primeiras linhas austro-húngaras, sendo seguidas pelo resto do Exército, que realizava manobras envolventes pelos flancos e pela retaguarda, tendo sucesso nas táticas de infiltração. Assim, caíram as primeiras linhas defensivas austro-húngaras na Batalha de Kostiuchnówka (atual Volhynia, oeste da Ucrânia), colapsando as defesas inimigas.
Em 8 de junho, os russos tomaram a cidade de Lutsk (atual Ucrânia), fazendo assim cerca de 200.000 prisioneiros austro-húngaros, sendo que um de seus comandantes, o arquiduque José Fernando, escapou por muito pouco de ser capturado.
A outra parte do plano, o ataque do general Evert, do qual dependia o sucesso da ofensiva, não aconteceu, porque Evert permaneceu relutante por duas semanas, o que deu tempo ao general Falkenhayn, que, por sua vez, persuadiu Hötzendorf a retirar tropas da frente alpina para combater os russos na Galícia. As Potências Centrais enviaram, no total, cerca de 400.000 efetivos, sendo estes compostos por 30 divisões de infantaria e quatro de cavalaria, o que implicou que os alemães ficassem na defensiva em Verdun, acabando a ofensiva em um rotundo fracasso, e, para os austro-húngaros, no fracasso da ofensiva na frente italiana.
Somente em 18 de junho, o general Evert iniciou uma ofensiva mal preparada e demorada de duas semanas em direção a Baranovichi, oeste da Bielorrússia, sem efeito surpresa, a qual foi facilmente desbaratada pelo general alemão Alexander von Linsingen, próximo da cidade de Kovel, que teve tempo suficiente para identificar o ponto principal do ataque e trazer reforços.
Finalmente, Brusilov teve que continuar sua ofensiva sem o apoio do general Evert, e continuou avançando com mais dificuldades logísticas, como se fosse a ofensiva principal e sem ataques diversionistas. Em 28 de julho, Brusilov chegou às proximidades dos Cárpatos, o que provocou a entrada da Romênia4 na guerra ao lado dos aliados da Entente.
No final de setembro, com as tropas russas com muitas baixas e em estado de exaustão, Brusilov deu por encerrada a ofensiva, tendo que transferir as tropas russas para a Romênia, que estava sendo invadida pelos alemães e austro-húngaros. Além disso, com esta ofensiva, o Exército Alemão perderia 400.000 efetivos entre mortos, feridos e prisioneiros.
Resultados
A Ofensiva Brusilov conseguiu:
1. Frear a ofensiva alemã em Verdun, obrigando-os a enviar divisões para auxiliar os austro-húngaros na Galícia. Ao mesmo tempo, permitiu ao Exército Francês enviar reforços para consolidar suas posições defensivas e conseguir frear o avanço alemão. A partir do mês de julho na Frente Ocidental, a Alemanha ficou na defensiva e, a partir de outubro, no início do contra-ataque francês, o Exército Alemão terminou perdendo o território que havia conquistado no início da ofensiva.
2. O Exército Austro-Húngaro teve quase 1.000.000 de baixas entre mortos, feridos e prisioneiros. Jamais os austro-húngaros voltariam a fazer uma ofensiva por si mesmos, precisando sempre da ajuda dos alemães, o que pioraria o desgaste e os levaria, finalmente, a perder a guerra em 1918.
3. Alívio da situação dos italianos na frente alpina, porque os austro-húngaros tiveram que retirar divisões dessa frente para reforçar a Frente Oriental, devendo encerrar a ofensiva de Asiago e não conseguindo tomar essa cidade do Vêneto. Em resumo, os russos tiveram quase 1.000.000 de baixas, e as Potências Centrais, mais de 1.400.000 baixas.
Apesar disso, a Ofensiva Brusilov foi a operação mais bem planejada pela Rússia na Primeira Guerra Mundial e a mais bem-sucedida até aquele momento. Foi o ponto máximo do esforço de guerra russo nesse conflito, que, até hoje, passado mais de um século, nunca foi devidamente reconhecido pelo Ocidente.
Erros do Exército Russo
1. Falta de coordenação entre os generais Brusilov, Evert e Kuropatkin, além das hesitações do chefe do Estado-Maior da Stavka, general Mikhail Alekseyev, que deu tempo aos alemães para enviar reforços.
2. Outro detalhe era que o comandante-em-chefe do Exército Russo era alguém que não tinha a mínima experiência em assuntos militares: o czar Nicolau II.
3. Os oficiais russos eram promovidos mais por seus vínculos pessoais ou políticos com a realeza do que por seus méritos e qualificações profissionais. Por isso, os suboficiais e oficiais mais capazes do Exército Imperial Russo, que não tinham conexões com a aristocracia czarista, tinham poucas chances de serem promovidos.
4. Nas fases finais da ofensiva, deixaram de lado o planejamento de Brusilov e voltaram a realizar ataques diretos, sem preparação e sem coordenação, aumentando suas baixas.
Erros dos Exércitos Alemão e Austro-Húngaro
1. Falhas na inteligência militar: não conseguiram avaliar com precisão o verdadeiro estado do Exército Russo e sua capacidade de realizar ofensivas. Nunca tiveram ideia dos planos operacionais de Brusilov.
2. Falhas no reconhecimento: nunca conseguiram saber com precisão a quantidade de tropas e de artilharia que os russos tinham comprometido nessa ofensiva, e muito menos chegaram a saber a distribuição e os pontos de concentração das forças inimigas. Ou seja: subestimaram completamente o Exército Russo e terminaram combatendo às cegas, sem saber onde o inimigo estava posicionado. Os russos chegaram a estar a 80 metros das primeiras linhas austro-húngaras.
3. Falha no posicionamento de tropas nas linhas defensivas: por não saberem dos pontos de concentração de tropas russas para os ataques, dispersaram as poucas reservas que lhes restaram ao longo dos 480 quilômetros da frente, sem conseguir se concentrar em lugar algum.
4. Conflitos entre as várias nacionalidades das tropas austro-húngaras: havia tchecos, eslovacos, eslovenos, poloneses, croatas, bósnios e ucranianos, além dos austríacos e húngaros, o que aumentava as divisões políticas, dificultando a coesão do exército austro-húngaro e dando lugar, em 1918, à sua dissolução junto com seu Império. O movimento pan-eslavista, incentivado pelos russos desde antes do início da guerra, contribuiu com as revoltas internas das tropas eslavas e os movimentos nacionalistas posteriores que fariam surgir novos países dos restos do Império Austro-Húngaro: Tchecoslováquia, Iugoslávia, Áustria, Hungria e Polônia.
5. Falta de coordenação entre os aliados das Potências Centrais (alemães, austro-húngaros, otomanos e búlgaros, em menor medida). Cada um fazia a sua própria guerra, com interesses que nunca conseguiram conciliar. Inclusive, a Áustria-Hungria tentou fazer a paz com os aliados da Entente, sem sucesso, em 1916. Os crescentes desentendimentos entre alemães e austro-húngaros sobre como continuar a guerra na Frente Oriental terminaram por facilitar a ofensiva de Brusilov.
Consequências
Para a Rússia: A Rússia não conseguiria realizar outra ofensiva do mesmo tipo. O esforço de guerra para continuar no conflito chegou ao limite, tendo como consequência crises econômicas e falta de alimentos para a maioria do povo, principalmente nas grandes cidades, onde cresceram os movimentos revolucionários que pediam a renúncia do czar e o estabelecimento de uma república socialista, formando-se os “sovietes” ou governos locais autônomos em desobediência à monarquia czarista, tornando a situação insustentável com greves e sabotagens em fábricas, portos e ferrovias. A impopularidade da guerra só aumentava, até mesmo entre as fileiras do Exército, principalmente entre soldados e suboficiais. Em fevereiro de 1917, começaram os protestos e posteriores motins armados em unidades do Exército em Petrogrado (São Petersburgo). Em 3 de março de 1917, o czar renunciou ao trono, sendo substituído pelo governo provisório de Alexander Kerensky, que insistiu em continuar a guerra, lançando uma ofensiva em junho de 1917 (Ofensiva Kerensky). Esta foi um fracasso devido às imensas deserções e às negativas das tropas russas de seguir combatendo, abandonando seus postos. A maior parte do Exército já estava tomada pela revolução. Em 27 de outubro, o soviete de Petrogrado levantou-se em armas contra Kerensky e tomou o Palácio de Inverno, dando fim assim ao seu governo provisório e iniciando a Revolução Russa.
Para a Alemanha: Apesar dos avanços na Frente Oriental e da Revolução Russa de 1917, a Alemanha teve que manter cerca de 1.200.000 tropas para segurar o território conquistado, o que a impediria de transferir todos esses efetivos para a Frente Ocidental para a ofensiva de março de 1918 (Operação Michael). O desgaste alemão nessa frente por quase quatro anos seria uma causa importante para que a Alemanha perdesse a guerra, forçando-a sempre a combater em duas frentes, apesar do Acordo de Brest-Litovsk (março de 1918), no qual a Alemanha ganhou territórios, mas que não pôde manter, tendo finalmente que se retirar de todos eles pela rendição no Armistício de Compiègne em 11 de novembro de 1918. Se a Primeira Guerra Mundial teve como consequência o fim e a desintegração do Império Russo, também teriam fim os impérios Alemão, Austro-Húngaro e Otomano.
Para a Áustria-Hungria: Como consequência da Ofensiva Brusilov, o Exército Austro-Húngaro entrou em colapso, não podendo mais combater por si mesmo, precisando sempre da ajuda do Exército Alemão para continuar na frente até a desintegração do Império Austro-Húngaro em novembro de 1918.
Finalmente, apesar das imensas baixas sofridas pelo Exército Russo na Ofensiva Brusilov, este foi o maior sucesso militar russo da Primeira Guerra Mundial e a operação militar mais bem planejada de todas, se a compararmos com a ofensiva franco-britânica do Somme de 1916, por exemplo.
Esta ofensiva ganharia um tempo importante para os aliados da Entente e, mais ainda, daria tempo para os Estados Unidos se prepararem militar e economicamente para entrarem oficialmente em guerra contra as Potências Centrais em 6 de abril de 1917, sendo isto minimizado pelos historiadores ocidentais.
O aprendizado das novas táticas e estratégias de Brusilov, apesar da Revolução Russa e da posterior guerra civil (1917-1922), não se perderia, já que surgiriam generais como Zhukov, Malinovsky, Budyonny, Frunze, Tukhachevsky e Vasilevsky, entre outros, todos precursores da “Estratégia de Penetração Profunda”. Décadas depois, o Exército Soviético, como herdeiro e continuador do Exército Imperial Russo, as utilizaria novamente e as renovaria na Grande Guerra Patriótica (1941-1945) e, inclusive, na Operação Bagration de 1944.
Como detalhe final, o general Brusilov, apesar de seu sucesso, seria substituído pelo general Lavr Kornilov em 1917, por ordem do governo provisório de Kerensky, com resultados desastrosos.
Notas
1 O Plano Schlieffen foi idealizado pelo general alemão Alfred von Schlieffen como uma ofensiva rápida de flanqueio e ataque à França através da Bélgica, tirando a França rapidamente da guerra e evitando o combate em duas frentes. A mobilização rápida dos russos no leste e a resistência dos belgas e dos britânicos, entre outros fatores, causaram o fracasso do plano.
2 Foi a Ofensiva Gorlice-Tarnów, de maio a setembro de 1915, comandada pelo general alemão Paul von Hindenburg. Eliminou-se o saliente da frente, o Exército Russo conseguiu se retirar e a guerra continuou nessa frente.
3 A Frente de Salônica (atual norte da Grécia) foi uma tentativa dos aliados da Entente de ajudar a Sérvia no outono de 1915 contra o ataque conjunto dos exércitos da Áustria-Hungria, Alemanha e Bulgária. A expedição aliada chegou tarde e mal, não conseguindo evitar a derrota e a ocupação militar da Sérvia pelas Potências Centrais.
4 A Romênia acabou se rendendo em dezembro de 1917. Em novembro de 1918, apoiada pelos aliados da Entente a partir de Salônica, retornou à guerra e foi liberada por estes.
Fontes
StarMedia (YouTube Channel). World War One, Episodes 6, 7 e 8 (em russo). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lymm8TU900E&list=PLwGzY25TNHPAdEyAB5NwQsNC6ujpW90Pf&pp=iAQB.
The Great War (YouTube Channel). The Death of the Austro-Hungarian Army 1916 (em inglês). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lMUxtLaTFwI.
Eurasia1945 (YouTube Channel). Ofensiva Brusilov 1916, la Victoria Más Letal de la Historia de Rusia(em espanhol). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6GGEQs5sOqM.
Wikipedia. Brusilov offensive(em inglês). Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Brusilov_offensive.









