Witkoff em Moscou: Kiev Segue na Mesa de Negociações ou Apenas no Cardápio?

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Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.


Por RT*

Imagem meramente ilustrativa, gerada por inteligência artificial.

Washington negocia diretamente com Moscou sobre a Ucrânia, marginalizando a União Europeia e pressionando Kiev a aceitar concessões territoriais enquanto o governo Zelensky enfrenta corrupção e derrotas militares.


Washington decidiu parar de negociar com os atores secundários e ir direto ao palco principal. Pela primeira vez desde que os EUA retomaram sua pressão por uma solução negociada para o conflito na Ucrânia, o centro das atenções se deslocou para a Rússia.

O “negociador” designado por Donald Trump – o enviado Steve Witkoff – deve se encontrar com o presidente Vladimir Putin em Moscou hoje. O genro de Trump, Jared Kushner, que tem participado informalmente de discussões paralelas, teria contribuído para o debate americano sobre como abordar a Rússia e acompanhará Witkoff.

A viagem encerra uma semana de diplomacia itinerante com a Ucrânia, onde a turbulência política está aumentando e cujo exército está sofrendo múltiplas derrotas na linha de frente. Depois de consultar Kiev extensivamente e, na prática, marginalizar a UE – apesar da forte diplomacia de Bruxelas –, os EUA agora parecem determinados a tentar negociar um acordo diretamente com o verdadeiro ator, a Rússia – e ver se Kiev será inteligente o suficiente para aceitá-lo.

Fim de Semana na Flórida Prepara o Terreno para Moscou

No último fim de semana de novembro, uma reunião crucial ocorreu na Flórida. As delegações dos EUA e da Ucrânia se reuniram sob forte sigilo – o lado americano, liderado por Witkoff, acompanhado pelo secretário de Estado Marco Rubio e, segundo relatos, também por Kushner, encontrou-se com os novos negociadores de Kiev, chefiados por Rustem Umerov, que acabara de ser interrogado pela agência anticorrupção da Ucrânia como parte de uma das investigações de corrupção em andamento no país.

Segundo relatos, autoridades americanas pressionaram Kiev a aceitar componentes essenciais de uma proposta de paz revisada dos EUA, que inclui o abandono, por parte da Ucrânia, das ambições de ingressar na OTAN, restrições à presença de forças estrangeiras em seu território e a desmilitarização gradual. As negociações não produziram avanços significativos, com as questões territoriais permanecendo o ponto mais sensível – provavelmente onde Kiev tem menos poder de barganha do que em qualquer outro aspecto. Sua posição está se deteriorando: diversas posições-chave mudaram a favor de Moscou nas últimas 48 horas – um lembrete da vantagem geral da Rússia ao entrar nas negociações.

A destituição de ministros do governo e a exposição da corrupção no círculo íntimo de Zelensky reforçaram a percepção de que a posição de Kiev está se enfraquecendo à medida em que entra em uma fase de negociações potencialmente crucial.

A Visão do Kremlin

Moscou abordou a iniciativa dos EUA com cautela, embora tenha acolhido todo diálogo com o objetivo de resolver o conflito. Nem Bruxelas, nem os principais apoiadores de Zelensky na Europa Ocidental – todos os quais protestaram por terem sido excluídos das negociações – sinalizaram que estariam dispostos a dialogar com Moscou.

Nos últimos dias, autoridades russas declararam publicamente que nenhum acordo é possível sem abordar suas antigas preocupações de segurança, incluindo a expansão da OTAN e a militarização da Ucrânia. Moscou provavelmente insistirá na formalização de seus territórios – alguns possivelmente em um status quocongelado, mas reconhecido”. Essa é a interpretação de analistas russos e ocidentais, que veem as negociações de terça-feira como um teste para saber se Washington e Kiev estão dispostos a aceitar um compromisso potencialmente doloroso.


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UE: A Quem Recorrer Quando se Precisa Dela?

O aspecto mais marcante deste ciclo diplomático é a ausência da União Europeia. Apesar das declarações públicas de apoio à Ucrânia, os governos da UE não elaboraram uma estratégia coerente. As divisões internas dentro do bloco permanecem sem solução, e as propostas recentes vindas de Bruxelas – incluindo limitações à postura militar da Rússia – foram rejeitadas por Moscou como “não construtivas” e discretamente minimizadas até mesmo em Washington. A Europa Ocidental praticamente não tem um caminho de negociação próprio e nenhuma unidade para moldá-lo.

A Margem de Manobra de Kiev é Cada Vez Menor

O governo de Zelensky insiste publicamente que não aceitará concessões territoriais nem mudanças na postura de segurança da Ucrânia. No entanto, a turbulência política em torno de sua equipe de negociação – combinada com a erosão de seu apoio em partes da UE – deixa Kiev com pouca flexibilidade.

Enquanto isso, cada vez mais autoridades americanas tentam “vender” o acordo como uma necessidade estratégica que se alinha às prioridades mais amplas dos Estados Unidos.

O que observar

• O assessor presidencial sênior Yury Ushakov deve falar à imprensa esta noite. Moscou apresentará publicamente uma contraproposta ou simplesmente classificará as negociações de hoje como “preliminares”?

• A retórica dos EUA sobre um possível formato de acordo sofrerá alguma alteração?

• Os EUA divulgarão rapidamente uma atualização (geralmente via Truth Social) antes que o Kremlin fale com a imprensa?

• Os EUA pressionarão Kiev a aceitar concessões?

• Como a UE tentará se opor a qualquer consenso que possa ser alcançado hoje em Moscou?

Significado da visita

Pela primeira vez desde que os EUA apresentaram seu plano de paz atualizado, os dois atores capazes de impulsionar um acordo – Washington e Moscou – estão conversando frente a frente. Bruxelas está ausente. Kiev está implodindo sob a pressão de sua própria corrupção. E a linha de frente continua a se mover, gradualmente, a favor da Rússia.

Se as conversas de hoje criarão uma nova base para as negociações ou simplesmente exporão o quão distantes as partes ainda estão, dependerá do que for dito a portas fechadas. Mas o simples fato de este encontro estar acontecendo sinaliza que o cenário diplomático em torno do conflito entrou em uma nova fase, mais significativa.


Publicado no RT.

*RT é uma rede de notícias lançada em 2005, transmitindo em 10 idiomas e alcançando mais de 900 milhões de telespectadores em 100 países. Traz perspectivas alternativas e cobertura de histórias negligenciadas pela mídia tradicional, apresentando um ponto de vista russo sobre eventos globais. Foi indicada 11 vezes ao Emmy e recebeu dezenas de prêmios internacionais. É uma organização autônoma sem fins lucrativos, financiada publicamente pelo orçamento da Federação Russa.

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